
Raramente assisto a jogos de futebol. Só em Copas do Mundo. Meu filho adora futebol. Ele nasceu durante a Copa de 1994, que foi nos Estados Unidos, quando o Brasil ganhou da Itália nos pênaltis. E a seleção brasileira era horrível. Jogou mal pra burro na Copa. Eu só sou capaz de me lembrar desses dados, sem dar nenhuma busca no
Google, justamente porque eu estava nos dias pra ganhar bebê. E como não se ganha bebê, assim, todos os anos, eu guardo com alguma precisão fatos que ocorreram naqueles meses.
Esse primeiro parágrafo foi puro exibicionismo. É que eu sempre acho o máximo como os rapazes guardam informações relacionadas a futebol. Eles sabem contar com detalhes um gol feito não sei quanto tempo atrás. Eles sabem dizer que a jogada começou por tal jogador, que passou a bola não sei de que jeito pra outro, que driblou não sei quantos outros ainda, até pegar o goleiro de calças curtas (bem, eles sempre estão de calças curtas...).
Na Folha de Londrina, quando eu editava uma seção do jornal que ia para as escolas, às sextas-feiras eu passava em todas as editorias para definir qual fato da semana havia sido mais interessante para mostrar pra garotada. E aí eu tinha que fazer alguns links entre a notícia e acontecimentos históricos para que a escola pudesse trabalhar os temas de forma mais contextualizada. Adorava fazer isso.
Sem dúvida, o mais divertido era conversar com o povo do Esporte. Aqueles meninos sabiam tudo, sobre todos os times, todas as escalações, todos os jogadores, todos os campeonatos, todos os resultados. Eles eram enciclopédias ambulantes sobre futebol.
Estou contando tudo isso só pra dizer que hoje de manhã meu filho me chamou para ver na tevê uma partida de futsal entre o Brasil e o Timor Leste. Eu não demonstrei nenhum interesse em ver tal jogo até ele me dizer que os brasileiros estavam ganhando de 61 a zero. Eu não acreditei e resolvi parar pra ver. E era verdade.
Os brasileiros golearam, sem dó nem piedade, os timorenses. O placar final foi de 76 a zero. Do momento em que me sentei no sofá até o encerramento da partida, eu passei por uma ampla variação de sentimentos e até agora eu não consegui definir qual foi minha opinião sobre esse jogo.
Primeiro, minha curiosidade inicial transformou-se em indignação. Afinal, como os brasileiros não deram trégua nenhum segundo, eu fiquei achando que eles estavam humilhando os timorenses. Eu disse ao meu filho que, se eu fosse jogador timorense, já teria deixado o campo havia tempo.
Mas, a cada gol marcado, o narrador brasileiro dizia que a equipe do Timor também marcava um ponto por seu espírito esportivo. Isso me causou certa irritação. Como assim: espírito esportivo? E deduzi que talvez “espírito esportivo” seja agüentar firme a derrota, sem sair correndo, nem derramar uma lágrima. Ou seja, talvez eu não tivesse esse espírito esportivo evocado pelo narrador.
Depois, comecei a reclamar que os brasileiros poderiam relaxar mais e deixar os timorenses fazerem um gol. Sempre me compadeço dos perdedores. Obviamente que, a essa altura, eu já estava torcendo pra eles. Fiquei imaginando que seria o gol mais comemorado da face da Terra. Meu filho explicou que os timorenses não iam gostar se o Brasil fizesse corpo mole porque, aí sim, se sentiriam menosprezados.
Passei, então, a ponderar que talvez, para os timorenses, jogar contra o Brasil fosse uma grande oportunidade de aprender mais sobre futebol, sobre dribles e sobre gols. E, no final, comecei a questionar se não deveria haver uma regra que determinasse que, quando o placar chegasse a 50 a zero, ou algo assim, poderia ser perguntado aos dois times se eles concordariam com o encerramento da partida. Isso acabaria logo com o sofrimento.
Ou seja, é muito difícil entender um jogo de futebol. É claro que eu não sou capaz de descrever como é que foi feito nenhunzinho dos gols a que assisti ou de dizer o nome de apenas um jogador nosso, o artilheiro, por exemplo. Eu queria é estar sentada ali ao lado da ilha de Esportes e ouvir os comentários dos meus colegas.
Foto publicada no site www.futsal.terra.com.br.