quinta-feira, junho 21

O silêncio é de ouro

Da próxima vez que um homem te disser algo que a deixe sem palavras, permaneça sem palavras para não dizer besteiras.

Essa frase, de minha autoria, devia ser meu lema quando me interesso por alguém. Eu tenho uma grande capacidade de fazer comentários idiotas diante de quem eu quero impressionar – bem, a pessoa deve realmente ficar impressionada pela quantidade de asneiras que eu consigo proferir num curto espaço de tempo.

E quanto maior é o meu encantamento pelo ser em questão, pior é o meu comportamento. O índice de respostas erradas é estratosférico. Por que será?

O cara está lá, cheio de boa vontade, tentando me agradar. E eu estou sinceramente sendo agradada. Mas cada interferência minha é uma catástrofe. Eu já li que é melhor ficar calada e muda nessas situações. Mas eu também quero agradar, mostrar que eu sou engraçada e, pronto, só sai idiotice.

Parece que eu sofro um ataque da síndrome da infantilidade tardia (essa eu também inventei agora). Sabe quando chega visita em casa e a criança quer fazer graça? E desanda a falar besteira e a fazer micagem? Pode o pai e a mãe olhar torto que o infeliz não se toca. Até que a mãe manda pro quarto e a criança se sente a maior injustiçada do mundo.

No meu caso, o meu sensor de idiotice é acionado tarde demais. Eu até fico calada, ouvindo tudo com a maior atenção e interesse. Mas quando me dão a deixa...

Acho que vou transformar a lista abaixo em mantra. E, toda vez que eu quiser abrir minha boca, vou repeti-lo mentalmente:

A palavra é prata, o silêncio é ouro.
Bastante sabe quem não sabe, se calar sabe.
Em boca fechada não entra mosca.
Falar sem pensar é atirar sem apontar.
Mais vale não dizer nada, que nada dizer.
Pela boca morre o peixe.
Quem muito fala, pouco acerta.

terça-feira, junho 19

Eu e o Cão

Quando avistei o pastor alemão uns metros à minha frente, diminuí o ritmo da caminhada e pensei em como fazer para me desviar do cão. Não foi preciso. Ele quis desviar antes de mim. E começou a atravessar a rua. Uma rua movimentada.

O sinal estava fechado; os carros reduziram a velocidade e esperaram o cachorro passar. Aí eu vi que seus passos eram trôpegos. Dava a impressão de que as duas patas traseiras estavam vacilantes e que ele não agüentaria ir em frente. Alcançou a outra calçada e parou. Sentou-se.

Eu não conseguia tirar mais meus olhos dele. A sensação de medo transformou-se em comoção. Fiquei comovida com aquele cachorro. Um homem começou a conversar com ele. Eu fiquei estática.

É como se aquele cão representasse a fragilidade humana. Um pastor alemão: uma raça forte, que inspira medo, agora não inspirava mais do que piedade. E os meus olhos se encheram de água.

Eu me via naquele cão. Ali estava o sinal da deterioração inexorável. O tempo se encarregará de nos transformar em seres trôpegos, vacilantes, que vão despertar piedade e comoção.

sexta-feira, junho 8

Dois olhares sobre o nordeste (e sobre a vida)

Na última semana, vi dois filmes nacionais que têm como cenário o nordeste brasileiro: Árido Movie e O Céu de Suely (foto ao lado).

Com direção de Lírio Ferreira e com bons atores (Selton Mello, Matheus Nachtergaele, José Dumont, Giulia Gam, Guilherme Weber), Árido Movie se passa no sertão pernambucano. Detestei o filme. A história é mal amarrada. Um jornalista de São Paulo volta à terra natal para o enterro de seu pai que fora assassinado. A família paterna quer que ele vingue a morte do pai. Essa idéia lhe parece absurda.

O filme retrata a justiça feita pelas próprias mãos em lugares onde falta tudo; a escassez da água; o polígono da maconha. Um encontro com o místico, através do consumo de ervas indígenas. A mistura me deu enjôo. Pode ser que o meu conhecimento sobre cinema seja limitado, mas o filme não me tocou. Nem de leve. E o som estava horrível. A fotografia é muito bonita. Mesmo assim, não vale o investimento. Ainda bem que era dia de meia-entrada, mas perdi meu tempo. Eu não recomendo.

Em contrapartida, O Céu de Suely é um oásis. O filme, de Karim Aïnouz, conta a história de uma jovem cearense que volta para a casa da avó numa cidadezinha à beira de uma rodovia e marcada pela miséria. Com um filho pequeno nos braços, ela vem de São Paulo e aguarda a chegada do jovem marido para tocarem a vida lá naquela lonjura. Ele não aparece e ela decide fugir mais uma vez do sertão. Para comprar a passagem de volta, começa a fazer bicos. Até que tem uma idéia original: fazer uma rifa de si própria.

O filme emociona. Existe uma delicadeza na narrativa que toca a alma. As imagens também são lindas. Depois que acaba o filme, ao ler os créditos, você descobre que os nomes dos personagens são os nomes “de verdade” dos atores. Em DVD, os atores contam como foi essa experiência. Eu não conhecia a atriz Hermila Guedes, que faz o papel principal. Ela é linda e faz uma bela interpretação. Esse eu recomendo.

domingo, junho 3

As formigas

Toda vez que chega o inverno e as formigas desaparecem da cozinha eu lembro da fábula da cigarra e da formiga. Se a fábula fosse recontada hoje, ia ter que mudar a moral da história. Essas formigas modernas são umas folgadas, que passam o verão inteiro te atazanando na cozinha. Atacam qualquer vestígio de comida, invadem o açucareiro, o pote de mel. De fruta, elas não querem nem saber, né? Nunca vi nenhuma com um pedacinho de folha nas costas, carregando pro formigueiro. Elas querem é comodidade!

Agora que chegou o frio elas estão lá dentro de suas casinhas, com a despensa cheia de mantimentos. Tudo produto roubado. E elas são resistentes. Você passa veneno, elas desaparecem por um período e logo voltam, renovadas, prontas pro saque.

Eu prefiro as cigarras. Principalmente as que tocam violão. Pelo menos elas animam a vida da gente em qualquer estação do ano.