quarta-feira, dezembro 15

Os 103 anos de Niemeyer

Foto de Sérgio Lima/Folhapress
Antes que o dia termine, hoje Niemeyer completa 103 anos. No site do UOL, dá pra votar na obra favorita projetada pelo arquiteto. Eu gosto mais da Catedral de Brasília e gosto de ter morado lá só pra ter visto muitas vezes de perto algumas de suas obras.

sexta-feira, dezembro 10

Bits soltos pelo espaço

De novo do site http://punkjazz.tv/bologs/, de Mauro Dahmer

Depois de 7 anos no Congresso o PL 29 dificilmente será aprovado nesta legislatura e os telejornais estão fazendo um esforço danado para pressionar senadores e desinformar suas audiências. Para atender as Teles o governo liberou o mercado de TV à cabo aumentando ainda mais a barafunda mas provavelmente vamos continuar pagando caro por uma salada de canais sem muita graça. Não é à toa que o IBOPE cai… A estratégia da Mídia Clássica – usando a expressão de Caio Túlio Costa – foi acusar o governo de atacar a liberdade de imprensa e com isso conseguiram enrolar, além do peixe, até mesmo seus próprios jornalistas e leitores, deixando para Sarney – pergunte se ele é dono de televisão no Maranhão – o veredito final dos donos do bolicho. Nisso não se mexe neste ano! O caso é grave e devido à falta de informações termina provocando burrice. Tanto que um amigo publicitário quase me chamou de Chavista quando eu tentava explicar que na verdade nós é que vivíamos numa espécie de anacronismo cubano de poucas e mesmas empresas desde os anos 70 – apesar da revolução digital – e que isso era tão anticapitalista quanto uma única Telebrás vendendo telefones. Sem falar na bagunça de uma lei que nos obriga a pagar caro para zappear entre vendedores de tapetes persas e canais de religião … Putz! Lula é mais capitalista do que essa gente que só pensa em vender sabonetes!
Vale considerar que se mesmo tendo Hélio Costa como Ministro das Comunicações, a ABERT e a ANJ gastaram um estoque de paranoias gigante acusando o governo de disfarçar interesses autoritários, isso tende a funcionar menos com um Congresso mais independente e sem um ministro “da casa” no governo… Sei lá, pode estar acontecendo algo parecido com aquilo que aconteceu com a indústria fonográfica na década passada, que de tanto ver inimigos em todos os lados não conseguiu enxergar na web um transformação e desafio inevitável e desapareceu… Um cabo é apenas um cabo…

sexta-feira, dezembro 3

O fim do silêncio

“Não há silêncio que não termine” é o título do livro em que Ingrid Betancourt relata os quase sete anos em que ficou nas mãos das Farc, na selva colombiana. A brutalidade dos guerrilheiros, as condições desumanas na selva e a hostilidade de seus colegas no cativeiro, que chegavam a invejar o fato de Ingrid ser uma refém “ilustre”, são surpreendentes.

É admirável como essa mulher conseguiu manter a dignidade e sobreviver diante de tanta barbárie. Sua atitude de nunca se submeter irritava os guardas e os outros reféns, tão vítimas quanto ela. Ela nunca perdia de vista que estar ali, presa, era uma situação injusta contra a qual ela devia lutar o tempo todo. “Não sofri da Síndrome de Estocolmo”, diz, num dado momento. Mesmo sofrendo punições depois de ser recapturada em suas várias fugas, ela não deixava de arquitetar um modo de ser livre novamente.

Ingrid Betancourt relata o quanto procurava melhorar como ser humano e refletia o tempo todo para não se tornar um animal. Era constante o esforço dela em compreender os motivos das ações de cada um, mesmo daqueles que lhe faziam mal. Ela não se faz de vítima nem de heroína. É uma mulher que vê em cada situação um motivo para se tornar melhor, para se superar e continuar viva.

Não se pode ficar indiferente à narrativa. Há momentos em que vem um nó na garganta ou falta o ar só de imaginar a dor que a atinge, algumas vezes vem o riso por pequenas vitórias cotidianas e muitas vezes vem um sentimento de impotência e angústia por saber o quanto de crueldade existe. No capítulo em que ela narra sua liberação, não há como conter o choro. Apesar do final feliz, teria sido melhor se fosse apenas uma história de ficção.

sábado, novembro 20

Esta sou eu...

Mulher chefe de família é a que trabalha mais, em casa e no emprego, diz Ipea

Elas têm mais anos de estudo, se dividem entre o trabalho e os cuidados com a casa, ganham menos e trabalham mais. Este é o retrato das mulheres chefes de família traçado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), por meio do cruzamento de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) 2009, divulgados este ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo o estudo, de 2001 a 2009 a proporção de famílias chefiadas por mulheres no Brasil subiu de aproximadamente 27% para 35% do total. São 21.933.180 o número de famílias que identificaram como principal responsável uma mulher no ano de 2009.

Este é o início de matéria publicada no UOL dia 11 de novembro da jornalista Rosanne D'Agostino.

Quando eu era criança via a minha mãe dona de casa, tendo que cozinhar para marido e sete filhos, e pensava que eu não queria esse destino. Por isso, eu sabia que iria trabalhar fora e não seria dona de casa... Trinta anos depois, eu trabalho fora e sou dona de casa!!

segunda-feira, novembro 15

Vivendo e aprendendo

Na infância
- Filho, não é leite conlensado. É leite condensado.
- Condensado?
- Isso.
- Mãe, não tem palavra que criança fala errado que é melhor do que a palavra verdadeira?
- ...

Na adolescência
- Filho, chegou o livro com a biografia do Kurt Corbain...
- Mãe, é Cobain!
- É???
- É.
- Mas você não acha que Kurt Corbain combina mais do que Cobain?
- ...

terça-feira, novembro 9

São Longuinho, São Longuinho...

De reza ela entendia. Formada numa família católica, conhecia muitos santos e sabia dirigir o pedido daquilo que queria para o santo específico. A vela de Santo Antônio não apagava nunca na esperança de encontrar um namorado e depois um bom marido.

Rezou todas as novenas que lhe caíram nas mãos e misturou com simpatias feitas religiosamente a cada 13 de junho. Botou a imagem do Santo de ponta-cabeça num copo com água, escreveu o nome de possíveis amados em papeizinhos, contou sete estrelas, amarrou uma fita azul no pé do Santo e até chegou a colar a foto dela e a de um namorado atrás da foto de Santo Antônio. E nada aconteceu. Até aconteceu, mas nada que durasse pra sempre.

Chegou a experimentar outro santo. Afinal, Santo Expedito não é o santo das causas perdidas?

Depois passou por uma fase zen e entendeu que a mente também é poderosa e, enquanto entoava um mantra, passou a mentalizar o amado, envolto em todas as cores existentes.

Na fase tecnológica, repassou todas as correntes que recebeu por email, sempre pensando na chegada de um grande amor. Também não deu certo, mas ela não perdeu a fé.

E eis que um belo dia veio uma inspiração. Como não havia pensado nisso antes? Achou até que a ideia poderia ser fruto de todas as suas rezas. Agora, ela já prometeu alguns pulinhos para São Longuinho se ele lhe der o amor perdido. Afinal, se tem santo com credibilidade é o São Longuinho. Ele já a ajudou a encontrar o boleto do aluguel, o título de eleitor e a chave do carro...

sexta-feira, novembro 5

A Bolsa Família dos americanos

Do site http://www.viomundo.com.br
42.389.619 de americanos dependem do Bolsa Família para comer

By Sara Murray, Wall Street Journal

Um grande número de domicílios americanos ainda depende da assistência do governo para comprar comida, no momento em que a recessão continua a castigar famílias.

O número dos que recebem o cupom de comida [food stamps, a versão americana do Bolsa Família] cresceu em agosto, as crianças tiveram acesso a milhões de almoços gratuitos e quase cinco milhões de mães de baixa renda pediram ajuda ao programa de nutrição governamental para mulheres e crianças.

Foram 42.389.619 os americanos que receberam food stamps em agosto, um aumento de 17% em relação a um ano atrás, de acordo com o Departamento de Agricultura, que acompanha as estatísticas. O número cresceu 58,5% desde agosto de 2007, antes do início da recessão.

Em números proporcionais, Washington DC [a capital dos Estados Unidos] tem o maior número de residentes recebendo food stamps: mais de um quinto, 21,1%, coletaram assistência em agosto. Washington foi seguida pelo Mississipi, onde 20,1% dos moradores receberam food stamps, e pelo Tennessee, onde 20% dos residentes buscaram ajuda do programa de nutrição.

Idaho teve o maior aumento no número de recipientes no ano passado. O número de pessoas que receberam food stamps no estado subiu 38,8%, mas o número absoluto ainda é pequeno. Apenas 211.883 residentes de Idaho coletaram os cupons em agosto.

O benefício nacional médio por pessoa foi de 133 dólares e 90 centavos em agosto. Por domicílio, foi de 287 dólares e 82 centavos.

Os cupons se tornaram um refúgio para os trabalhadores que perderam emprego, particularmente entre os estadunidenses que já exauriram os benefícios do seguro-desemprego. Filas nos supermercados à meia-noite do primeiro dia do mês demonstram que, em muitos casos, o benefício não está cobrindo a necessidade das famílias e elas correm antes da chegada do próximo cheque.

Mesmo durante as férias de verão as crianças retornaram às escolas para tirar proveito da merenda, onde ela estava disponível. Cerca de 195 milhões de almoços foram servidos em agosto e 58,9% deles foram de graça. Outros 8,4% foram a preço reduzido. Este número vai aumentar quando os dados do outono forem divulgados já que as crianças estarão de volta às escolas. Em setembro passado, por exemplo, mais de 590 milhões de almoços foram servidos, quase 64% de graça ou com preço reduzido.

Crianças cujas famílias tem renda igual ou até 130% acima da linha da pobreza — 28 mil e 665 dólares por ano para uma família de quatro pessoas — podem ter acesso a almoços gratuitos. As famílias que tem renda entre 130% a 185% acima da linha da pobreza — 40 mil e 793 dólares para uma família de quatro — podem receber refeições a preço reduzido, não mais que 40 centavos de dólar de desconto.

quinta-feira, novembro 4

Minha vó Maria

Agora que me dei conta de que minha avó Maria, mãe da minha mãe, teria feito 100 anos em 2010. Faz 12 que ela se foi. Tinha 88 anos. E os olhos azuis.

Desta avó, só tenho boas lembranças. Quando meu avô ainda era vivo, eles moravam num sítio, em São Manoel, interior de São Paulo. Nós íamos lá com freqüência. Quando meu avô morreu, eu tinha seis anos, mas me lembro muito bem do sítio.

Eu e a Luciana ficávamos lá sozinhas com os dois. Criança não tem muita noção do tempo, mas para mim eram muitos dias. De manhã meu avô tirava o leite da vaca que nós bebíamos nuns copos grandes de plástico. Ela criava galinhas. E nós íamos com meu avô de carroça até uma venda onde ele nos comprava doces. Uma vez, perguntei a minha avó se ela estava grávida. Ela riu e disse que sim, que estava grávida. Esse meu tio nunca nasceu!

Nos meus aniversários, ela sempre me presenteava com um vidro de doce de leite feito por ela. Daqueles de comer de colher. Era muito bom, tanto que nunca esqueci. E uma vez ela fez umas roupinhas de crochê que transformavam em bonequinhos os potes de yakult.

Depois que nasceu meu filho, ela sempre me perguntava: – Cadê os outros cinco? É porque eu dizia que queria ter seis filhos. Ela sabia que eles nunca viriam. Depois que minha avó se foi, minha mãe sempre falava que estava com saudades da mãe dela. E agora eu tenho saudades das duas.

quarta-feira, novembro 3

Do nordeste, do preconceito e da eleição

Matéria da Gazeta do Povo do dia 2 mostra que, mesmo que não fossem computados os votos do Norte e do Nordeste do País, Dilma venceria só com os votos do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Os votos do Norte e Nordeste consolidaram a ampla vantagem de 12 milhões de votos que Dilma teve sobre Serra, segundo a matéria de Heliberton Cesca. Mas, os votos do Sul, Sudeste e Centro-Oeste dariam a vitória à petista que teve nessas regiões 50,21% contra 49,79%.

A democracia e a comunicação

O axioma tolo da Segunda-feira
(do blog http://punkjazz.tv/bologs/, de Mauro Dahmer)

Segundo Luiz Felipe Pondé publicou na FolhaSP desta Segunda-feira, a Democracia é uma palavra desgastada por TODO MUNDO e como TODO MUNDO é tolo, é um crime democratizar a mídia…Puff! Pondé não só é livre para dizer o que pensa quanto para não entender, não ler ou não comentar, que a vida e as opiniões numa república são menos maniqueístas e mais diversas que as guerras pessoais que cada um escolhe… Vale dizer que essa paranóia sobre uma possível ameaça à liberdade de imprensa é só paranóia. Tem gente querendo botar a mão na cumbuca mas isso é coisa da democracia. De resto, não há a mínima ameaça à liberdade de imprensa no Brasil. Existem sim leis ultrapassadas e concentração de players que provocam um anacronismo que ameaça o direito à informação mas sobre a opinião todo mundo é livre! Fica a impressão de que o autor escreve para agradar o dono da empresa em que trabalha…

sexta-feira, outubro 29

Quinzinho ou JR?

As primeiras eleições de que tenho memória foram as de 1972, para prefeito. Eu tinha seis anos de idade. Estava brincando no quarto, quando fui interrompida por uma pesquisa eleitoral Ibope-Lucila-Luciana, com sete e cinco anos.
– Você é Quinzinho ou JR? – me perguntaram
– O que é isso? – devolvi.
– Você tem que escolher, Quinzinho ou JR?
– Quinzinho – chutei.
Aí, elas riram muito e tiraram sarro de mim:
– A Carina é Quinzinho... A Carina é Quinzinho...
Em seguida, elas revelaram que eram JR e mostraram folhetos com a propaganda do candidato delas.
Imediatamente eu mudei meu voto. Eu também era JR. Com aqueles cabos-eleitorais, jamais o Quinzinho receberia um voto meu.
E foi assim que eu descobri que havia eleições e que havia prefeitos. Imagino que o JR, o médico José Ribeiro, fosse do MDB, e o Quinzinho Camargo, da Arena. Preciso me informar sobre quem ganhou aquelas eleições. Imagino que tenha sido o Quinzinho Camargo porque sei que ele foi prefeito de Piraju. José Ribeiro também foi prefeito, mais de uma vez, mas aí eu era mais velha.

Dois anos depois, em 1974, eu tinha então oito anos, e me lembro de que o Quércia era candidato ao Senado pelo MDB. E o candidato da Arena era o Carvalho Pinto. De manhã, na escola, ficamos sabendo que haveria um comício do Quércia em frente à Igreja. Os meus colegas contaram que os pais iam votar no Quércia. O meu pai ia votar no Carvalho Pinto. Bem, ele era funcionário público, o Carvalho Pinto havia sido governador e nós vivíamos ainda na ditadura militar. Imagino que meu pai não ia declarar se fosse votar na oposição.

Só sei que eu fui ao comício do Quércia e o achei lindo (argh!!). Em comparação com o Carvalho Pinto ele era realmente um pão (adjetivo mais apropriado para aquela época). E o meu candidato derrotou a Arena – foi uma das primeiras derrotas do regime militar nas urnas.

quarta-feira, outubro 27

Malacacheta

Enquanto isso, em Malacacheta (MG), uma mulher colocou veneno no café do marido por ter apanhado dele. Tá certo que ele merecia uma malacachetada, mas veneno mata, né? Poderia ter sido uma malacachetada mais leve. Ela poderia ter feito as malas (cachetas) e ter ido embora. Deixasse o homem malacachetando sozinho. Agora, ela vai dizer o quê pra polícia? Que as malacachetadas do marido encheram as malacachetas dela e ela não pensou direito? Acho que ela já se arrependou porque foi ela quem levou o homem para o pronto socorro quando ele começou a passar mal. Quem sabe agora tudo se resolve. Ele pensa direito e para de malacachetar a mulher. Há malacachetas que vem para o bemacachetas...

segunda-feira, outubro 25

As minhas vizinhas

Se existe anjo da guarda o meu tem sido generoso na escolha de minhas vizinhas. A primeira delas com mais de 70 anos foi a dona Odila. Viúva, morava sozinha. Éramos ela, o Ní e eu no último andar de um predinho, aqueles de quatro andares, sem elevador. Quando ela queria falar comigo, era bom ser rápida porque ela não tirava o dedo da campainha enquanto eu não a atendesse. Pelo menos eu já sabia que ela era e não me assustava mais.

O Ní tinha quatro-cinco anos e ela sempre tinha balas reservadas para ele. E avisava que não era para ele mostrar para as outras crianças do prédio. Quando fazia bolinhos, também gastava a campainha para nos chamar. O supermercado Jumbo-Eletro já não existia fazia tempo, mas ela ainda dizia que ia ao Jumbo para se referir ao supermercado perto de casa.

Nos últimos meses de sua vida, dona Odila estava fraquinha. Não saía mais da cama e tinha os cuidados de duas enfermeiras. Percebi que o caso era grave quando ela desceu de maca na primeira de suas internações. Fui ao seu velório. Finalmente ela ia se encontrar com seu finado marido, a quem sempre pedia para vir buscá-la. Uma vez ela me contou que perguntou ao padre se era pecado querer morrer. Ela tinha muitas saudades do marido, e até passou a vê-lo pela janela.

O apartamento ao lado ficou vazio e eu logo depois de mudei para outras bandas. Agora a vizinha era dona Iva, também viúva e mãe da minha amiga jornalista Karen. Quando havia festas familiares, nós éramos bem-vindos, e o Ní corria para lá nas noites em que eu saía para dar aulas. Ficavam os dois vendo tevê. Foi uma convivência curta porque logo eu também me mudei e fui para bem longe. E também senti saudades das coisas gostosas feitas pela dona Iva.

No meu retorno do cerrado, assim que me mudei fui saudada por outra vizinha, a dona Gilda, de 72 anos, que era separada do marido. Ela era enérgica, mas não menos generosa. Tinhas uns netinhos fofos que apareciam por lá. E dona Gilda me socorreu algumas vezes, com um aspersor de veneno, para matar as baratas que me aterrorizavam.

Depois de um intervalo de quase três anos, novamente sou agraciada por outro desses anjos. Agora é a dona Faryd, 81 anos, viúva e sem filhos. Mas a vida dela é agitadinha. É tia de muitos sobrinhos que a querem muito bem e fazem o papel de filhos. Talvez porque ela tenha feito o papel de mãe para eles.

Logo no dia da minha mudança, dona Faryd apareceu com água fresquinha para os rapazes que carregavam os móveis. Doce e acolhedora, ela já me ofereceu café quentinho e pão com manteiga muitas vezes. E eu gosto muito de ouvir as histórias que ela conta de seus pais, irmãos e do marido. Ela é muito alegre, risonha e prestativa.

Outro dia, fez questão que eu conhecesse sua irmã, Laura, de 91 anos, muito bonita, de olhos azuis e também muito sorridente. Cúmplices, elas riam a todo momento lembrando as histórias de infância e juventude.

Como a minha velhice também vai chegar, gosto de ter por perto essas vizinhas que me servem de inspiração.

(Ilustração de Mariana, publicada no blog ttp://manasedesenhos.blogspot.com/2007_08_01_archive.html)

terça-feira, outubro 19

Os meninos, o futebol e as meninas

Só sendo mãe de um filho menino homem para, na minha vida, eu assistir a um jogo de futebol americano. Não vou exagerar: assistir trechos muito esparsos de futebol americano. O comentarista pelo menos é engraçadinho na sua fala. Enquanto eu assistia, eu pensava (eu assisto sem me concentrar muito): o que as meninas mulheres poderiam estar assistindo na tevê? Perguntei então para o Ní o que as amigas dele assistem na tevê. Ele achou minha dúvida pertinente porque também não tinha resposta. Aos 16, as meninas não veem mais Superpoderosas nem High School Musical – que isso eu sei que são as de cinco anos que veem. Malhação não vale como resposta porque no horário do futebol americano não passa Malhação. Eu acho que as meninas estão estudando enquanto os meninos veem futebol e é por isso que elas são melhores alunas do que eles.

segunda-feira, outubro 18

Nossas prisões

Eu mais não li do que li nesta vida. Portanto, é muito fácil ser surpreendida por uma boa leitura. No mês passado, terminei o livro O Prisioneiro, de Érico Veríssimo, que estava esquecido na minha estante. A princípio, fiquei temerosa de que ele usasse uma linguagem difícil. Mas o livro é muito bom. Embora ele não dê os nomes, a história se passa na Guerra do Vietnan. São vários personagens, vítimas da guerra – os que estão do lado do dominador e os que estão sendo massacrados. E cada um carrega uma guerra interna, um conflito que o torna prisioneiro e do qual não consegue se libertar.

Veríssimo mergulha fundo na essência de cada personagem. Mostra como os militares americanos sofrem com seus dramas pessoais, e o tanto de sofrimento que causam nos nativos. Embora no final nos deparamos com O Prisioneiro, há muitos prisioneiros ao longo da história. Além da crítica que faz à guerra, Veríssimo nos faz pensar em nossas próprias prisões.

Poesia da mínima coisa

Mayumi Takahashi

No mínimo quero-te ao lado
Em passos curtos e leves
De mãos estendidas
à outra mão mutilada
Que a ansiedade fatia
pela pressa de viver.

No mínimo
quero a resistência dos bravos
A franqueza
e sinceridade dos derrotados
O vermelho de luta jamais esquecido.

No mínimo
A coisa é mínima.
E para além do mínimo
A urgência do delírio.
__________________________________________

(*) Mayumi Takahashi é professora do ensino fundamental em Foz do Iguaçu.

Peguei a poesia do site Guatá, do meu amigo e jornalista Sílvio Campana.

domingo, outubro 17

Tropa de Elite2

Eu já tinha gostado de Tropa de Elite, o primeiro. E hoje à tarde assisti o número dois. Gostei mais. No primeiro, muita gente achou que fosse apologia à violência da polícia. Eu não achei. Achei que era uma crítica. Agora, o Padilha "desenhou" e foi bastante explícito nessa crítica. Mas que dá medo, dá! Muito medo da polícia. É muita bandidagem! Os policiais querendo se livrar dos traficantes para eles poderem mandar! É o fim!
No Estadão de domingo, tem uma crítica de Luiz Zanin Oricchio. Não sei se o texto do blog dele é o mesmo publicado no jornal.

quinta-feira, outubro 7

A liberdade de expressão

No sábado, eu li a coluna da Maria Rita Kehl no Estadão e gostei muito. Acho que ela matou a pau as críticas que fazem aos programas sociais do governo. E hoje leio que ela perdeu o espaço que tinha no jornal justamente por manifestar sua opinião, que é diferente da do jornal. Ué, não é o governo Lula que é contra a liberdade de expressão? Ué, não cassaram a obrigatoriedade do diploma dos jornalistas porque o diploma representava o fim do direito da livre expressão? Esse fato só deixa mais claro aquilo que todos sabemos: a grande mídia defende a liberdade de expressão desde que essa expressão seja exatamente sobre o que ela pensa... Se alguém pensa diferente ou questiona o conteúdo dessa mídia é censura... Aqui, a entrevista da Maria Rita Kehl sobre sua demissão. E a tentativa do Estadão de se justificar...

O domingo

Inocente útil
Eu não votei no domingo porque estava viajando. Para presidente, meu voto iria para o Plínio de Arruda Sampaio. Eu não boto muita fé (já que a fé é o grande diferencial entre candidatos) na Marina Silva, assim como não acredito no Fernando Gabeira nem na Soninha Francine, e nem no PV. Eu imagino que a Marina saiba que o oba-oba que a grande mídia fez em torno da “onda verde” só aconteceu porque foi ela quem permitiu que o preferidinho da grande mídia, o Serra, fosse para o segundo turno. Se a Marina estivesse na posição da Dilma, ou seja, com condições de vencer o Serra, seria tão metralhada quanto a petista pela Veja, Estadão, Folha de S. Paulo e afins.

* *
Paulo Ubiratan
Em função da minha viagem, também não pude me despedir do jornalista Paulo Ubiratan. No domingo, na casa de um amigo, foi ele quem me disse ter ouvido no rádio sobre a morte de alguém da CBN de Londrina. Eu sabia que o Paulo estava na UTI, portanto, deduzi que era ele. No início de setembro, eu e a Benê fizemos uma visita ao Paulo que ainda estava em casa. Apesar de bastante debilitado, era o mesmo Paulo Ubiratan de sempre. Bravo, muito bravo, com sua doença. E ao mesmo tempo brincalhão.

No lançamento do livro dele, em dezembro de 2007, eu brinquei: - Sei não, hein, Paulo, gaúcho escrevendo poesia...Também fui à Câmara quando ele recebeu o título de cidadão honorário de Londrina. Ainda bem que pude compartilhar com ele esses momentos de alegria. E gostaria muito de ter ido ao seu velório no domingo.

Nos tempos de redação da Folha de Londrina, ele gostava de me provocar (o Nícolas ainda era pequeno): - Deixa comigo esse guri! Quando ele for maior, eu o levo pra conhecer as primas!
Eu respondia, brava: - Fique longe dele!!

Vou deixar o link pro texto que a Elsinha escreveu sobre o nosso amigo, e que foi publicado na Folha de Londrina de segunda e vale a pena ser lido.

quarta-feira, outubro 6

A caça nossa de cada dia!

Quando os homens viviam nas cavernas, o rango era garantido com a caça de algum animal. Com a agricultura, pecuária, geladeira, fogão e utensílios domésticos, ficou mais fácil se alimentar. Mas a caçada agora é outra. Caça ao dinheiro. Afinal, tudo custa dinheiro. E acho que eu sou mesmo comunista no coração. Porque eu acho o seguinte: seja lá no que você trabalha, todo dia você deveria ter direito a uma alimentação digna, à louça lavada e guardada, a uma sonequinha depois do almoço, sem distinção. Ou seja, todo mundo poderia comer o que quisesse sem se preocupar com o custo. Porque o simples fato de trabalhar lhe daria esse direito, fosse você um lixeiro ou um médico. Ah, mas são responsabilidades diferentes. Pois é, mas a sociedade precisa de todos os serviços e você pode escolher o que vai fazer – e eu duvido que quem quer ser médico ia escolher uma profissão mais fácil só porque ser médico não lhe garante ter mais direitos do que outro. Será que isso é papo de jornalista pobre?

segunda-feira, outubro 4

As mãos

Depois que desliguei o telefone percebi que, para ele, tanto fazia me ver ou não me ver, me ter ou não me ter, me agradar ou me desagradar. E fiquei com vergonha. Se tivesse alguém por perto, veria minhas faces vermelhas.

Então decidi ligar mais uma vez para desmarcar o encontro recém-marcado. Afinal, era preciso ter um pouco de dignidade. Me senti aliviada. E resolvi soltar minhas mãos das mãos dele. Pensei que se elas ainda estavam juntas era porque eu estava segurando as dele. E no dia seguinte eu senti que as minhas mãos estavam mais geladas do que sempre.

sexta-feira, setembro 24

A galinha de estimação

Na minha adolescência, havia uma galinha de estimação em casa. Não lembro bem como ela chegou. Era uma galinha pequenininha, de cor preta com um penachinho branco na cabeça. Era bem bonitinha. E era sozinha. Vivia pelo quintal, mas de manhã aparecia na porta da cozinha e falava “Cooooooo ca” meio baixinho. Então foi batizada de Coca.

Com a devida permissão da minha mãe, ela entrava na cozinha e caminhava pela casa. A minha mãe se afeiçoou a ela. E a Coca recebia um tratamento diferenciado. Minha mãe lhe dava banho de água quente e depois a secava com o secador de cabelos. Enrolada numa cobertinha, a Coca assistia TV no colo de minha mãe. E ainda havia os passeios de carro. Ela ia toda feliz...

Um tio meu, que é veterinário, quando tomou conhecimento da história, ficou indignado: Onde já se viu dar banho em galinha?

Quando meus pais resolveram se mudar, a Coca ficou com a vizinha. Com certeza, não recebeu o mesmo tratamento dispensado por minha mãe e morreu logo em seguida. Anos depois, já na faculdade, viajei para um evento em São José dos Campos. Ao ouvir meu sobrenome, um dos participantes veio me dizer que conhecia uns Paccola de Piraju e que já havia ido à minha casa. Eu tive a confirmação de que ele falava a verdade quando ele disse: A sua mãe tinha uma galinha...

segunda-feira, setembro 13

TRT suspende carteira de jornalista para quem não é jornalista

Na semana passada, a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, por unanimidade de votos, publicou acórdão tornando sem efeito a decisão em caráter liminar do juiz Rafael da Silva Marques, da 29ª Vara do Trabalho de Porto Alegre, que obrigava o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul a filiar duas pessoas não formadas em Jornalismo, o bacharel em Direito Edwin Rudyard Wolff Dick e a médica Elisete Pereira de Souza.

"É uma vitória para a categoria, e fortalece as PEC pró-jornalistas para chegarem ao plenário do Congresso Nacional", comemora o presidente do Sindicato, José Maria Rodrigues Nunes. "Segundo o Supremo Tribunal Federal, todos podem exercer a profissão de jornalista, mas no nosso entender nem todos são jornalistas - somente os diplomados. E a sindicalização e a carteira de jornalista jamais foram requisitos para exercer a profissão", explica.
O presidente da entidade viu o mandado de segurança como uma interferência jurídica dentro do associativismo, inadmissível em um país onde todos têm direitos sociais. "Conceder carteira a quem não é jornalista profissional banalizaria um documento civil com validade nacional, permitindo seu uso impróprio", aponta.

Para o advogado do Sindicato, Antonio Carlos Porto Junior, é a primeira decisão importante do TRT sobre um tema polêmico e problemático, que ajuda a desfazer a má interpretação entre trabalhar no Jornalismo e ser jornalista. "Foi decidido pelo STF que o Jornalismo pode ser exercido por quem não é bacharel, sendo possível trabalhar no Jornalismo sem ser jornalista, mas isso não faz a pessoa jornalista. Ao mesmo tempo, não pode haver sindicalização compulsória, e vale para ambos os lados. O Sindicato é de bacharéis em Jornalismo, e não pode ser obrigado a aceitar quem não é bacharel", explica Porto.

Agora, as carteiras expedidas para Dick e Elisete deverão ser recolhidas. "Ao conferir carteira de jornalista a quem não seja bacharel, está se cometendo uma ilegalidade brutal", declara o advogado.

Fonte: site do Sindicato dos Jornalistass do Rio Grande do Sul

quinta-feira, setembro 2

O fim do amor...

A Persistência da Memória, Salvador Dali

FUNERAL BLUES
de W.H. Auden

Pare os relógios, cale o telefone
Evite o latido do cão com um osso
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo.
Que os aviões voem em círculos, gemendo
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu.
Ponham laços pretos nos pescoços
brancos das pombas de rua
e que guardas de trânsito usem
finas luvas de breu.
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste
Meus dias úteis, meus finais-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite,
minha fala e meu canto.
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado
As estrelas não são mais necessárias;
apague-as uma por uma
Guarde a lua, desmonte o sol
Despeje o mar e livre-se da floresta
pois nada mais poderá ser bom como antes era.

Capital ecológica?

Gazeta do Povo, 2 de setembro: Pesquisa do IBGE mostra que cidades como São Paulo e Rio de Janeiro possuem as maiores concentrações médias de poluentes. Por outro lado, Curitiba tem o maior número de picos de poluição, apresentando grande número de violações dos limites tolerados.

quinta-feira, agosto 26

A Justiça do PR

A Folha de Londrina publica na edição de hoje (26 de agosto) matéria com o resultado da inspeção realizada na Justiça do paraná pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O corregedor Gilson Dipp disse que esperava que os problemas do Paraná fossem menores do que os encontrados em Estados pobres e menos organizados, como o Maranhão e o Piauí.

Ele destacou a falta de transparência nos pagamentos e as "gratificações que só existem no Paraná." E acrescenta: "A surpresa foi por ser um Estado rico, desenvolvido, do Sul do país, de imigração alemã, italiana. (...) há práticas consolidadas de pagamentos irregulares que já estão historicamente inseridos no patrimônio do servidor..."

quarta-feira, agosto 25

O drama dos mineiros chilenos

A história dos 33 mineiros chilenos que estão soterrados num espaço de 55 metros quadrados, desde o dia 5 de agosto, é uma das mais dramáticas que já ouvi. Eles ainda não sabem que a previsão de resgate é para o Natal quando será finalizado um túnel de 90 cm de diâmetro pelo qual serão içados. A mina é de ouro e cobre. Os trabalhadores estão recebendo alimentação e estão em contato com quem está na superfície, inclusive familiares, médicos, psicólogos. Disseram até que um especialista da Nasa se colocou à disposição porque eles têm experiência com confinamentos humanos.

Quando eu li a notícia, lembrei-me imediatamente dos 118 tripulantes do submarino russo Kursk que morreram após uma explosão no mar de Barents, em agosto de 2000. Da explosão, sobreviveram 23 homens que devem ter tido uma morte lenta e gradual nas 24 horas seguintes ou por afogamento ou por asfixia.

Entre os acidentes em minas da história, o máximo de tempo que ficaram até o resgate foi de 25 dias numa mina inundada na China. E eram três trabalhadores.

Eu desejo muito que todos sobrevivam!

quarta-feira, agosto 4

A letra C

No sonho, ele queria me provar que tinha me amado muito no passado. No momento, ninguém mais amava ninguém. Ou melhor, ele amava outra; e eu também não o amava mais fazia tempo, até tinha outro em meu coração, mas não era o caso de dizer. Ele chegou afetuoso e queria me mostrar um caderninho. Ali estaria a prova de seu amor no passado por mim. Ao olhar o caderno, vi o meu nome escrito numa caligrafia linda, muito bem desenhada. Reconheci a letra C da minha mãe. O C mais lindo que já vi era o da minha mãe. Eu até tentei e treinei bastante para copiar. Mas, incapaz de fazer aquelas voltinhas, adotei o meio círculo. Realmente a prova era contundente. Ele havia escrito meu nome muitas vezes no caderninho, sinal de que havia mesmo me amado. Mas a letra C, na caligrafia antiga, denunciava que era um amor passado.

Gentilezas

Chovia muito forte e meu carro estava estacionado próximo a uma área coberta do supermercado. Se ele estivesse parado de ré era só abrir o portamalas e eu não iria me molhar. Eu disse isso a dois homens que bebiam cerveja e conversavam perto do carro. Um deles se ofereceu então para entrar no meu carro e inverter a posição. Aceitei a gentileza. Para isso, ele se molhou bastante e eu fiquei bastante feliz. Afinal, minha alma estava precisando mesmo de um pouco de gentileza gratuita depois de receber algumas sovas verbais nas últimas semanas

segunda-feira, julho 26

Presentes e amores

No dia em que ele voltou para pegar o restante das roupas, ela já tinha secado as lágrimas. Por dentro era só dor, mas conseguiu se conter. Ele já tinha fechado a mala quando ela viu uma blusa esquecida. E mostrou para ele, que perguntou: - Essa blusa é minha? Passiva, ela respondeu: - Fui eu que comprei pra você. E imediatamente se sentiu uma idiota por ter gastado dinheiro com um presente que ele nem havia notado.

Essa cena lhe veio à memória cinco anos depois. Agora, esperava no carro enquanto o namorado subiu ao apartamento para se trocar. Ele havia dormido na casa dela e, quando saíam para almoçar fora, pediu para passar rapidamente no apartamento dele para trocar a camisa. Era uma camisa que ela havia comprado para ele seis meses antes. Mas ele já havia se esquecido disso. Ela percebeu quando ele comentou: - Sabe aquelas roupas que a gente não gosta muito...

E decidiu então que não ia mais comprar presente para namorado nenhum... Cada um que compre a própria roupa!!

segunda-feira, junho 28

Nossos vizinhos, os argentinos

Quando eu estava no colegial, houve a Guerra das Malvinas, e eu lembro que meu professor de História defendeu a Argentina. Por conta da análise dele, eu também fiquei “do lado” dos argentinos.

Depois, como boa brasileira, eu desenvolvi uma antipatia por nossos vizinhos, simplesmente por serem argentinos, e passei a classificá-los como arrogantes. Na disputa entre Pelé e Maradona, é claro que eu achava Pelé o máximo, e Maradona, o mínimo.

Quando estive a primeira vez em Buenos Aires, me surpreendi com a gentileza que encontrei nas ruas. Os argentinos eram muito atenciosos para passar informação. Teve um até que se ofereceu para completar os centavos que faltavam para comprar um bilhete de metrô, já que eu só estava com dólar no bolso e lá também não há “ônibus de graça”.

Também fiquei maravilhada com a possibilidade de andar pelas ruas portenhas à noite, com segurança, e encontrar muitos argentinos pelas ruas – senhoras simples, mas bem arrumadas, chegando aos teatros – e as livrarias abertas e sempre cheias.

Aos poucos, fui me simpatizando cada vez mais pela Argentina. Voltei a Buenos Aires uma segunda vez, e pretendo ainda voltar lá muitas vezes. As manifestações na Praça de Maio, o panelaço dos argentinos que, no final de 2001, derrubaram cinco presidentes em 12 dias e todos os protestos que levam o povo às ruas me fazem admirar cada vez mais os nossos vizinhos.

Maradona subiu no meu conceito. E confesso que, embora eu torça para que o Brasil ganhe esta Copa, eu gosto de ver os argentinos jogando.

Comecei a pensar nos nossos vizinhos depois de assistir “O Segredo dos Seus Olhos”, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro. É um drama que mistura crime e romance, ambientados na época da ditadura militar, e que tem bons momentos de humor. Uma história muito bem contada, surpreendente, com atores muito bons, principalmente Ricardo Darín, que já fez “O filho da noiva” e “Clube da Lua” – que já vi e gostei. O cinema argentino me parece mais centrado no homem e em seus dramas demasiadamente humanos do que o cinema brasileiro, mais focado nas questões sociais. Gosto de muitos filmes brasileiros, mas os argentinos me tocam mais.

domingo, junho 13

Eu odeio o frio!

O pior do frio é que todo ano ele volta. Estou com saudades de Brasília, onde o ar é até turvo de tão quente. Onde ninguém nunca pensa em comprar um aquecedor. O inverno nem começou oficialmente e eu já quero o verão. Eu não aguento mais o meu nariz escorrendo. E todo ano é a mesma coisa. Eu odeio o frio! Eu quero um Sol permanente sobre minha cabeça.

terça-feira, maio 25

Não existe ônibus de graça...

Quando era estudante, meu pai bancava todos os meus custos por aqui: moradia, alimentação, transporte e todas as necessidades básicas. Mas o orçamento era apertado. Para usar o dinheiro do ônibus com outras coisas – e também porque o ônibus era sempre apinhado e demorava muito – eu ia e voltava de carona todo dia da UEL. A não ser em dias de chuva. E quando havia greve no transporte coletivo, eu não ia à UEL, “afinal os ônibus estavam em greve” – o que era mais frequente naquela época, em meados de 1980.

Algumas vezes eu cheguei a pegar ônibus sem um tostão no bolso. A caminho da UEL, sempre encontrava um colega estudante que me cedia um passe. Por um período morei longe das rotas de carona, então pegava ônibus todo dia. Me lembro de um dia em que entrei no ônibus sem nenhum dinheiro e também não encontrei ninguém conhecido. Quando o busunga chegou no ponto do CCH, avisei o cobrador que eu ia pular a roleta porque estava sem dinheiro. Ele não gostou nada, nada. E eu, me achando a maior justa do mundo, disse: - Ah, o senhor não queria que eu faltasse à aula porque estava sem dinheiro, né?

Eu também já morei no prédio da Rádio Londrina, bem no centro, e o tanque da lavar roupas do apartamento estava com problema, então não podia ser usado. Um sábado de manhã eu precisava lavar umas peças de roupa e resolvi ir à república do meu irmão, que morava no Jardim Presidente. Mas eu só tinha o dinheiro de ida para o ônibus. Pensei: - Meu irmão financia a minha volta.

Naquela época as repúblicas não tinham telefone. Celular ainda não existia. Coloquei as roupas numa sacolinha e lá fui eu. Chegando na casa dele, não havia ninguém. Mas era livre o acesso aos fundos da casa. Entrei, lavei minha roupa, torci, dobrei e guardei de volta na sacolinha. Ia estendê-la no varal de casa que ficava numa sacada. Como eu já tinha know-how para pegar ônibus sem dinheiro, não tive dúvidas, entrei num amarelão da TCGL e não me lembro do final. Só sei que cheguei em casa sã e salva.

Alguns anos depois, já formada, eu trabalhava num jornal impresso. Numa sexta à noite fui a uma festa sem bolsa porque a que eu tinha não combinava com meu vestido. Deixei a carteira e a chave do apartamento – eu morava sozinha na av. Maringá – na bolsa de uma amiga. Ela foi embora antes e levou os meus pertences. Fiquei sem chave e sem dinheiro.

Acabei indo dormir na casa de outra amiga jornalista, que trabalhava numa rádio e morava com os pais. No dia seguinte, ela saiu antes de mim porque entrava mais cedo no trabalho e me emprestou uma roupa – porque afinal o meu vestido não combinava com o meu trabalho. Tomei café com a mãe dela, mas fiquei com vergonha de dizer que estava sem dinheiro para o ônibus.

E mais uma vez – a última – peguei o amarelão sem lenço nem documento – muito menos dinheiro. Ao chegar ao Terminal, falei para o cobrador que ia descer pela porta traseira porque estava sem dinheiro. Ele também não gostou nada, nada, mas não ia deixar isso assim. Falou que ia chamar o fiscal. Aí quem amarelou fui eu. Mas fui salva por uma senhora que havia ouvido a conversa e generosamente se ofereceu para pagar a minha passagem...

Quando lembro disso fico pensando que a minha cara-de-pau não tinha mesmo limite. Eu fiquei com vergonha de pedir dinheiro para a mãe da minha amiga, mas não tive vergonha do cobrador... É muita cara-de-pau!

segunda-feira, maio 24

Conselhos de mãe

Depois de falar pela terceira vez: – Filho, vai comer para não esfriar a comida!, ele respondeu me imitando, com voz feminina:
– Põe a blusa!
– Põe sapato!
– Põe a meia!
– Vai escovar os dentes!
– Passou fio dental?
– Desliga essa TV!
– Desliga o computador
– Vai dormir que já é tarde!
– Corta as unhas!
– Corta o cabelo!
E pra finalizar:
– Corta os pulsos!

terça-feira, maio 11

A Seleção

Já que não se fala em outra coisa neste País, eu vou dar o meu palpite. Nunca tinha ouvido falar em Felipe, que joga na Itália, mas como ele foi péssimo diante de uma pergunta-crítica de um repórter da ESPN acho que ele não deveria ter sido convocado.

Na minha Seleção, ia ter o goleiro Marcos, o Ronaldinho Gaúcho e também o Adriano – que na verdade eu nunca vi jogar, mas não gosto da ideia de o cara ser punido por mau comportamento. Eu sempre fico com pena daqueles jogadores que ficam na expectativa e não são chamados. Ainda bem que chamaram o Robinho, que é o único que eu conheço de fato. E assim a Seleção fica com pelo menos um jogador famoso - pelo menos para os ignorantes como eu.

quarta-feira, maio 5

Infância

Eu aprendi a ler aos cinco anos. E eu lia os gibis da Mônica. E eu tinha uma vizinha Mônica, que era um ano mais velha do que eu. E eu gostava muito de brincar com ela. Mas eu não entendia como o “menino” do gibi tinha nome de menina. É que como a Mônica do gibi batia nos meninos da rua, eu achava que era um menino com nome de menina.

E a minha irmã mais nova gostava muito de brincar comigo. Mas eu não queria brincar com ela. Queria só brincar com a Mônica. Então, um dia, enquanto minha irmã “batia a cara” no esconde-esconde, eu realmente me escondi na casa da Mônica e fiquei lá brincando a tarde inteira. Tudo para me esconder da minha irmã. E quando eu me lembro disso, mesmo depois de tanto tempo, me sinto bem culpada por ter feito isso com uma criança.

terça-feira, maio 4

Desilusão























Ilustração de Fero, do blog http://riscando7.blogspot.com

quinta-feira, abril 22

O gosto e o desgosto

(Ionut Dan Popescu 123RF)
O que é que nos atrai e o que é que nos repele?
Por que, com alguns, somos logo de cara simpáticos? O que vemos tão rapidamente no outro que já cria identidade? E o que é que, mal vemos, mas já sabemos que não dá liga?

Como é que nasce uma paixão? Por que é que com o tempo vai crescendo um gostar que parece não ter fim?
Como é que o pensamento pode ir tão longe para ficar tão perto de quem gostamos?
Até que ponto é um gosto gostado ou é um gosto construído?

E, depois, quando quebramos a cara, aí faz-se a história ao inverso. Pensa-se tudo ao contrário para inverter o gosto. O que é gosto deve virar desgosto. E isso dói. Porque tem que pegar tudo de bom e transformar em tudo de ruim para conseguir esquecer quem deve ser esquecido.

E em vez de olharmos só o que gostamos no outro, passamos a valorizar só o que é ruim. E aí a gente já nem entende como é que podíamos antes ter visualizado tanta coisa boa em quem parece que só tem coisa ruim.
E aí será que o desgosto é desgosto desgostado ou desgosto construído?
Uma coisa é certa: é mais gostoso gostar do que desgostar.

sexta-feira, abril 16

Se eu pudesse...

Faz muito tempo que eu não vejo um homem negro, que não tem as pernas, que se locomovia com a ajuda das mãos pelo Calçadão de Londrina. Ele praticamente se arrastava e dizia com uma voz bem forte: Se eu pudesse trabalhar eu trabalharia, mas como eu não posso... (não me lembro do fim da frase mas era um pedido de dinheiro).

Não sei onde ele não-anda não-trabalhando. Com aquela voz, ele teria potencial para ser locutor de rádio ou daquelas kombis tipo “pamonha, pamonha, pamonha...”

E eu tenho vontade de dizer: “Se eu pudesse não trabalhar, eu não trabalharia...”

quarta-feira, abril 14

Eu tenho muito medo...

Todas do site do UOL da tarde desta quarta-feira, 14 de abril:

“Subiu para 589 o número de mortos em decorrência do terremoto que atingiu nesta quarta-feira (14) a província ocidental de Qinghai, no noroeste da China, de acordo com balanço da agência estatal chinesa Xinhua.”

“Segundo o último balanço divulgado pelo Corpo de Bombeiros no início da tarde desta quarta-feira (14), subiu para 251 o número de mortes confirmadas em todo o Estado do Rio de Janeiro devido às chuvas da semana passada-- 165 mortes em Niterói, 66 no Rio, 16 em São Gonçalo, uma em Petrópolis, uma em Nilópolis, uma em Paracambi e uma em Magé. De acordo com os bombeiros, um corpo foi encontrado soterrado em um deslizamento ocorrido no bairro do Andaraí, no Rio, e o outro, também vítima de um deslizamento de terra, no bairro 340 em Niterói. O número de vítimas, entre mortos e feridos, chega a 412.”

“Pelo menos 110 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em uma tempestade que destruiu mais de 50 mil casas no estado indiano de Bengala e a limítrofe Bihar, informaram hoje fontes oficiais.
A tempestade começou ontem à noite de Dinajpur, com ventos de até 125 km/h que arrastaram grandes quantidades de areia. Mais tarde, a tempestade seguiu até os distritos de Araria e Purnia do estado contígua de Bihar, e afetou uma pequena área do estado de Assam, no nordeste indiano.”

“Uma erupção vulcânica na Islândia liberou fumaça preta e vapor branco nesta quarta-feira e derreteu parte de uma geleira, provocando uma forte inundação que ameaça danificar rodovias e pontes.
A nuvem de fumaça foi vista saindo da cratera abaixo de uma camada de 200 metros de gelo da geleira Eyjafjallajokull, próximo ao local de outra erupção que começou no mês passado e arrefeceu apenas na segunda-feira, segundo a rádio estatal islandesa.
A Autoridade de Defesa Civil Islandesa ordenou que 700 pessoas saíssem de suas casas e disse que o gelo que estava derretendo da geleira havia causado grandes inundações que ameaçavam danificar rodovias e diversas pontes, disse uma autoridade à Reuters.”

“Uma equipe de pesquisadores britânicos foi surpreendida por uma rachadura gigante no gelo logo abaixo de uma das barracas de seu acampamento, no Ártico. Os três integrantes da equipe Catlin Arctic Survey estão na região para uma pesquisa anual que avalia os efeitos das mudanças climáticas.
A pesquisadora Ann Daniels conta que os pesquisadores já tinham observado o gelo se movimentando. Na manhã seguinte, depois dos barulhos, o gelo começou a se abrir de repente.
A equipe de pesquisadores britânicos também está tendo que enfrentar outras dificuldades na região, como grandes extensões de águas abertas, gelo se movimentando rapidamente e placas de gelo deslizando umas sobre as outras.”

terça-feira, abril 13

A busca

Imagem de Fábia Belém em http://fabiabelem.blogspot.com/2009_09_01_archive.html
O marido não lhe dava o devido valor. Pelo contrário. Toda vez que podia a criticava sem dó nem piedade. Talvez para se autoafirmar. Talvez para esconder que na verdade ela era muito melhor do que ele. Talvez porque a competência dela realçasse a incompetência dele. E talvez porque se sentisse inferior por ser sustentado financeiramente por ela. Não por muito tempo.

Ele finalmente arrumou um emprego. Mas era bem longe de casa. E foi-se sozinho. Queria que ela o acompanhasse. Ela até pensou na hipótese. Chegou a visitá-lo na nova moradia. Mas não se enxergou naquele lugar. Aquele lugar não tinha nada a ver com ela. E, pensando bem, nem ele tinha mais nada a ver com ela. Mas, como estavam juntos havia muito tempo, resolveu segurar as pontas. Aí começaram as crises de ciúmes. Quando se encontravam, ela não podia mais nem cumprimentar antigos namorados que ele se corroía. Ela então passou a se sentir presa mesmo na ausência dele. Começou a perder a espontaneidade com medo das reações ciumentas. E viu que não valia mais a pena.

Libertou-se. Amou de novo. Mudou-se para o outro lado do mundo. Conheceu lugares e pessoas diferentes. Fez novos amigos. Mudou de novo para um lugar ainda mais longe. Uma cultura muito diferente da sua. Estava sozinha novamente. E voltou-se para dentro. Não no sentido egoísta. Mas para conhecer-se melhor. Para tentar entender as suas dores, angústias e tristezas e, quem sabe, encontrar momentos de felicidade.

sexta-feira, abril 9

As pulseirinhas do sexo

(foto de Albari Rosa, Gazeta do Povo)
Está cada vez mais ridícula a proibição do uso das “pulseirinhas do sexo” pelos Poderes Públicos. Primeiro, foi a Vara da Infância de Londrina, depois a Câmara, e agora estão querendo proibir em todo o Estado.

Ah, dá licença e faiz favor, como é que a Justiça pode proibir o uso de um adereço? Quem pode proibir uso de minissaia, pulseiras, piercing e etc. é pai e mãe. Como mãe, eu posso proibir meu filho de usar determinada roupa ou adereço. E não por muito tempo. Apenas enquanto ele estiver sob minha tutela. E escola também pode, sob a justificativa de que determinado objeto causa tumulto ou atrapalha as atividades de ensino. E só.

O pior é que a sociedade concorda com essas imposições. Até porque o significado que se dá às pulseirinhas pode ser transferido para qualquer outro objeto. Os adolescentes podem inventar que agora o significado de cada cor das pulserinhas vale também para as meias. Ou seja, se eu usar meia laranja é porque eu quero uma "dentadinha do amor". E aí? Vamos proibir as meias?

quinta-feira, abril 8

Onde isso vai parar?

Primeiro, eles aprendem a andar, depois transformam sons ininteligíveis em frases bem articuladas e passam a usar garfo e faca para comer. Não demora muito, ficam mais altos que você. E agora vêm com essa: vão votar pela primeira vez!

Então eu me pergunto: - Onde é que isso vai parar?

quarta-feira, abril 7

O reencontro




Rever meus amigos foi bem mais que divertido, foi emocionante. Eu não contava com isso. Não achei que fosse me emocionar. Depois de 20 anos, na verdade, mudamos pouco. Na essência continuamos os mesmos. Alguns engordaram, outros cortaram os cabelos, a barba, teve quem deixou de usar óculos, quem passou a usar, mas depois de 10 minutos de conversa dava para constatar: -Ah, realmente é ele mesmo!

A Vânia veio com a família. A filha é coisa de cinema de tão linda. A Vânia continua com o mesmo cabelo comprido, o mesmo estilo de se vestir, apenas a voz um pouco mais grave. Continua com uma visão esotérica do mundo, procurando sempre uma vida alternativa.

A Priscila trouxe as filhas num envelope: as fotos mostram que elas também são lindas. Moramos juntas numa república no Edifício Cínzia. Relembramos histórias, rimos muito. Toda vez que eu ouço “Ela vem toda de branco, toda molhada e despenteada....” me lembro da Prica. A Edra disse que é porque ela tinha um macacão branco. Deve ser, e também porque tem lindos cabelos enrolados.

O Luisinho veio com a esposa. Ele mais uma vez arrasou no palco com sua voz doce. Como pode depois de tanto tempo manter tanta doçura na voz e no jeito? Mostrei a ele uma foto em que estamos eu, ele e a Denise. Ele disse: - Meu filho se parece comigo.

Seu parceiro de palco, o Marco, continua magro e com cabelos pretos. Não sei porque, mas achei que ia encontrar o Marcão gordo e de cabelos grisalhos. Nada. Super moço ele está. E continua o mesmo querido de sempre.

A Ângela e o Tadeu trouxeram os filhos, dois rapazes que também são músicos.
O show de todos foi um grande presente. Tocaram Aurélio, Pedrinho, o Marcelo (irmão do Marco) e até o Ruizinho, que agora é médico. Também a Tetê, que canta, e o marido Jr., da bateria, que eram da Arquitetura.

Com a Sílvia Helena o encontro foi mais rápido. Mas não menos intenso.

O Ariel é sempre divertido. Passeando pela cidade, lembramos do Castelinho, do Café Set e do Sapo’s – bares da Higienópolis que não existem mais. Esqueci de falar pra ele do Jully Pop – que hoje virou loja de animais na esquina da JK com a Goiás.

E o Loyolla veio acompanhado de uma esposa linda e de um Loyollinha que é uma graça.
A filha da Carla se surpreendeu ao ver que todos nós temos a mesma idade. Alguns mais, ninguém menos. A Silvana comemorou o aniversário conosco. E quase chorou de emoção!
Teve ainda Cláudia, Mário Marins, Rogério, Horner, Sato, Ângelo, a Soniah Weill. Esqueço alguém?

Foi um reencontro muito legal. Às vezes até parecia um sonho reunir no mesmo tempo e espaço gente de outros tempos e que hoje ocupam outros espaços

terça-feira, março 30

As cores dos desenhos



Os mosaicos são coloridos. Uma cor mais linda que a outra. Depois de imaginar, tem que traçar o desenho. E escolher as cores. Para isso, é só brincar, colocar uma pedra colorida ao lado da outra e ver a combinação que mais te agrada. Depois, tem que cortar. Na forma do desenho. E colar. E colar. E recortar. E colar. É um trabalho lento. E enquanto você recorta e cola (e não é Control C Control V. É no braço!), mil imagens e pensamentos passam pela sua cabeça. E você sonha. E voa. E viaja. Pensa em mil desenhos e cores e em mil pessoas para quem você daria cada um daqueles vidrinhos coloridos em formatos de desenhos. E aí você pensa que gostaria de passar o resto da vida recortando e colando. Mas tem que parar para limpar a casa, fazer comida ou lavar a louça, ou para dormir porque já é tarde. E no outro dia, cedo, você tem que levantar para trabalhar. E não é nenhum trabalho colorido.

Eu sei o que você fez em 1984

Foto de autoria desconhecida e de domínio público: Graça, eu, Carla (camiseta preta),
Vânia (apoiada na árvore), Gelson (da Arquitetura, em pé), Loyola e Silvana

Faz 26 anos que vim para Londrina. Era 1984. Eu tinha 18 anos e vim pra cá fazer Jornalismo. Agora, no próximo final de semana, haverá um reencontro. “Eu sei o que você fez em 1984” é o nome da festa (se fosse o pessoal RP que estivesse organizando, seria evento), que pretende reunir colegas que se conheceram na UEL naquela época. Não precisa ser exatamente da turma 84/1. Até porque ao longo do curso havia uma mescla de turmas.

Não é por nada, não. Mas Páscoa eu gosto de passar em Piraju, com a minha família. E eu demorei pra sacar que a festa havia sido marcada bem no feriado. Reclamei. Mas aí já era tarde. E ouvi o seguinte argumento – que considero justo e convincente – é, difícil é organizar, criticar é fácil. Então cedi ao apelo do reencontro com velhos amigos e resolvi ficar.

Estou um pouco ansiosa. Tem os que nunca ficaram longe: Rogério Fischer, Dirceu Herrero, Aurélio Albano, Silvana Leão, Denise Gentil, Cláudia Romariz, Carla Sehn, Edra, Sílvia Duarte, o Alexandre Horner e o Rodrigo Garcia Lopes (acho que o Rodrigo não era 84/1, mas acabou sendo). Tem o pessoal de RP, a Stela Cavichioli, a Patrícia Urizzi.

Tem os que, mesmo longe, revi algumas vezes: Graça Milanez, Denise Sacco, Ariel Palacios, Cleuza. E tem a Marisa, com quem troquei email recentemente. O Luizinho também vi uma vez.
E há quem eu não veja há pelo menos 16 anos: Rose Castro, Vânia, Priscila, Marco Beato, Loyola, Pitágoras, Péricles e o César (nossa, este agora eu desenterrei).

E tem os que se foram logo no início do curso: Reinaldy, Carlos (o Massa) e o Mori. Desses, nunca mais tivemos notícia.
Não sei quantos virão, mas acredito que será divertido.

segunda-feira, março 29

Crimes e crimes

Como a maioria da sociedade brasileira, concordei com a condenação do casal Nardoni pela morte da menina Isabella. A versão deles sempre me pareceu inverossímel, e acredito que o trabalho da perícia foi convincente na produção de provas.

Mas o julgamento e a condenação – a poucos dias antes de o crime completar dois anos – me fizeram pensar que, se houvesse ocorrido em Londrina, muito provavelmente seria um crime sem solução – ou sem julgamento.

Basta lembrar que este ano faz 10 anos que a professora de música Estela Pacheco teve o corpo jogado pela sacada do apartamento de Mauro Janene, num prédio de alto padrão aqui em Londrina. Em sua versão, o agropecuarista disse que ela havia se jogado. Exames do IML mostraram que, quando o corpo de Estela foi jogado, ela já estava morta. Além de Mauro Janene, estavam no apartamento – dormindo – a mãe e a irmã dele. Nada aconteceu até agora.

Em 1993, a doméstica Cleonice Fátima Rosa foi degolada no corredor externo do apartamento da artista plástica Wanda Pepiliasco, que morava com o marido e dois filhos adolescentes. Este caso também nunca mais voltou à cena. Se fosse o contrário, se alguém da família Pepiliasco aparecesse morto, acredito que a Cleonice estaria presa até hoje – já julgada e condenada. Tanto é que, na época, a outra empregada que trabalhava e morava com Cleonice na casa dos patrões chegou a ser presa como suspeita. Depois verificou-se que ela havia sido torturada para confessar. Os suspeitos são da família...

E tem ainda o caso da enfermeira Suely que atirou em Jaqueline Lobo, que na época namorava o ex-marido da enfermeira, um médico ginecologista. A enfermeira foi presa em flagrante. A vítima morreu alguns dias depois. O crime foi cometido num escritório de advocacia ao lado da Folha de Londrina, onde a moça trabalhava. Isso foi há bem mais de 10 anos. A enfermeira aguarda até hoje o julgamento em liberdade.

O que os três crimes londrinenses têm em comum? Nos três casos, os acusados são mais ricos que as vítimas. Portanto, a chance dos Nardoni em Londrina de sair impune – imagine se eles seriam julgados em dois anos... – seria bem maior.

sexta-feira, março 19

Ai ai ai

Sobre o caso Bancoop: Vi o Mundo.

Hoje, 23/3, em resposta ao comentário do Rogério, faço o complemento:

No post do blog Vi o Mundo, há na íntegra a decisão do juiz Carlos Eduardo Lora Franco, do Departamento de Inquéritos Policiais e Corregedoria da Polícia Judiciária de São Paulo, em relação ao requerimento do promotor José Carlos Blat para bloqueio das contas do Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários).

Antes de apresentar sua decisão sobre o requerimento, o juiz argumenta:

“A manifestação apresentada pelo Ministério Público descreve uma série de fatos e circunstâncias, narrando como seria o suposto esquema de desvio de valores da Bancoop, inclusive para fins de financiamento ilícito de campanhas políticas.

Porém, não há em tal manifestação a indicação clara e precisa dos elementos de prova dos autos que sustentam tal narrativa, bem como os pedidos formulados.

E, sendo este um feito bastante complexo, já com 26 volumes (mais de 5.600 páginas), além de 59 anexos, como citado pelo próprio Ministério Público, é imprescindível que indique de forma discriminada e detalhada os elementos que sustentem cada uma de suas afirmações.

A manifestação cita, por exemplo, que “aproximadamente 40% da movimentação das contas correntes de titularidade da Bancoop tiveram recursos sacados em dinheiro na própria agência bancária” (fls. 5652), mas como base para tal alegação indica apenas um cheque, no valor de R$ 50.000,00, sem sequer citar em que volume ou apenso, e folha, consta tal informação. Cita, ainda, que numa avaliação, entre 2001 e 2008, teria constatado que os valores assim circulados chegariam a R$ 18.000.000,00, mas novamente não há indicação precisa da fonte de tais informações.

Tem-se, portanto, como imprescindível que os autos tornem ao Ministério Público para que indique com precisão quais os fundamentos de cada uma de suas afirmações que invoca como razões para os pedidos formulados.

E isso para que, como dito, fique bem claro para toda a sociedade que os pedidos e as decisões estão fundados apenas em elementos e razões contidas nos autos, e são efetivamente necessários e oportunos, neste momento.

E não é demais dizer que tal providência naturalmente incumbe ao órgão requerente. Os fatos, com respectivos fundamentos, devem ser apresentados pela parte ao Magistrado, para que então possa decidir.”

Antes de indeferir o pedido de bloqueio das contas, o juiz alerta sobre a importância do rigor e da cautela nos requerimentos do MP, principalmente em épocas eleitorais para que não haja exploração indevida do tema.

Na minha opinião, o Ministério Público tem feito muitas vezes mal sua lição de casa. Infelizmente, há situações em que o MP oferece denúncia sem ter feito a investigação devida, parecendo que suas manifestações são mais políticas do que bem fundamentadas. Tem sido comum promotores chamarem a imprensa, fazer barulho sem ter provas concretas sobre o que está denunciando. E a imprensa tem caído como um patinho (ou está mal-intencionada) – e às vezes até serve ao MP para a produção de provas.

O papel do MP é fundamental e houve um grande avanço com a Constituição de 1988 que passou a caracterizar o órgão como uma instituição permanente, autônoma, com as funções de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. No entanto, alguns integrantes do MP extrapolam seu poder. Disso eu tenho medo porque às vezes eles prendem e desprendem, sem a fundamentação devida. Muitas vezes apenas indícios de corrupção têm sido suficientes para condenar agentes públicos.

Depois, sem provas, não acontece nada contra os acusados – que já foram espinafrados publicamente. No caso do Bancoop, há vítimas, pessoas que pagaram o financiamento de imóveis que nunca foram entregues. Resta investigar – a fundo – para saber se são vítimas de gente que não sabe administrar ou se houve de fato desvio de dinheiro para favorecer gentes ou campanhas políticas.