terça-feira, dezembro 22

Please, stop!

Tirinha em http://thethales.wordpress.com/2007/03/06/028-mais-ferias/
Meu nome é cansaço! Eu tento diminuir o ritmo de trabalho, mas a demanda é incrível. Não parece que estamos a poucos dias de acabar o ano. Para mim, esse período que antecede o Natal e a passagem do ano pede naturalmente uma pausa, mas não tem sido assim. Por isso eu amo entrar em férias em janeiro. Infelizmente não vou poder fazer isso agora. Será que eu vou aguentar?

quarta-feira, dezembro 9

CANÇÕES DO ESTÚDIO REALIDADE, com Rodrigo Garcia Lopes, domingo


Texto do blog do Rodrigo (http://estudiorealidade.blogspot.com) - Foto: Carlos Bozelli

O poeta, cantor, violonista e compositor Rodrigo Garcia Lopes apresenta, neste domingo, às 22 horas, dentro da programação do Cabarezinho, na Vila Cultural Cemitério de Automóveis, o show Canções do Estúdio Realidade. No espetáculo, músicas inéditas, como "Fugaz", "Quaderna", "Vertigem", "New York", "Betty Blue" e outras que farão farão parte de seu próximo disco, a ser gravado em 2010.

Acompanhado de Eduardo Batistella (bateria) e Marco Scolari (teclados, acordeon), Rodrigo (voz e violão) também tocará canções de seu primeiro CD, Polivox, firmando um diálogo entre a canção brasileira e experimentos sonoros e ritmos como blues, jazz e funk, que tem sido a marca de seu trabalho.

O show traz também uma variedade de estilos musicais como o flamenco ("Paradoxos do Tempo", reggae (“Ruído do Vidro”), e funk em (“Clique, Plugue, Ligue”), rap ("New York"), comprovando a capacidade absortiva e antropofágica da música brasileira contemporânea, bem como a força da música produzida em Londrina.

Como escreveu o cantor e compositor Vitor Ramil, um dos maiores artistas da musica brasileira contemporânea,: "Rodrigo Garcia Lopes, autor de Polivox, é mesmo um cara de muitas vozes. Vozes dele, vozes de outros. Não é toda a hora que se encontra gente múltipla assim, que escreve poesia e ensaios, faz entrevistas, toca violão, compõe, canta. Tudo bem feito, claro. Para o público em geral, ávido de cultura, uma personalidade criativa e livre dessas por perto, nesta época de especializações, de nichos de mercado, de repetições e limitações, é motivo para comemorar".

Conheça algumas músicas do show no Myspace: http://www.myspace.com/ogirdor2009

Canções do Estúdio Realidade

Rodrigo Garcia Lopes (voz, violão)

Eduardo Batistella (bateria)

Marco Scolari (teclados, acordeon e efeitos eletrônicos).

Dia 13 de dezembro - 22 horas
Vila Cultural Cemitério de Automóveis
R. João Pessoa, 103, Londrina (PR)
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00

terça-feira, novembro 24

Control Z

Uma das funções mais úteis do computador, na minha opinião, é a que permite você retornar ao passo anterior: o Control Z. De vez em quando eu queria que a vida também tivesse um Control Z para apagar algumas frases mal-ditas ou rever algumas ações impensadas.

segunda-feira, novembro 23

Mãos de cebola

Minhas mãos nunca se pareceram com as da minha mãe. Ela sempre teve mãos bonitas. As minhas não são bonitas, mas me são bastante úteis. Eu gosto delas. Hoje elas me fizeram lembrar das mãos da minha mãe. É que estavam cheirando a tempero. E fiquei com saudades da minha mãe, de suas mãos e da sua comida.

quarta-feira, novembro 18

Estilingadas


já fui adepta do estilingue e devo ter causado pequenos machucados
quando me lembro das pequenas dores que provoquei
às vezes me penalizo e sofro como se o machucado fora em mim
isso acontece quando vejo que a vítima de minhas lanças também era alvo de meu amor
outras vezes me parece que minha estilingada tinha motivo justo
e me parece mais como uma malcriação
se pudesse voltar no tempo acho que eu mostraria apenas a língua

terça-feira, outubro 27

Carro novo


Sonhei que tinha trocado de carro. Como não entendo de carros, não sei que carro era, mas era bonito e bem melhor que o meu. Eu estava feliz no sonho! E eu sabia que o carro tinha custado 30 mil. Eu dei o meu, valendo 15 contos, e financiei o resto. Quando acordei, pensei: Putz, que pobreza! Nem no sonho eu consigo comprar um carro à vista...

segunda-feira, outubro 19

Às armas!


A opção pela luta armada por um grupo de jovens alemães, na década de 1960, é o tema do filme O grupo Baader-Meinhof, baseado em história real. Baader-Meinhof é como ficou conhecida a Facção Exército Vermelho (RAF), organização de esquerda que partiu para atos de terror na Alemanha para protestar contra o capitalismo, o imperialismo norte-americano, guerra no Vietnã e todas as justas causas então em pauta.

Andreas Baader era um dos líderes guerrilheiros e Ulrik Meinhof, uma jornalista que se envolveu com o plano de fuga de Baader. Ela conseguiu autorização para entrevistar Baader fora da prisão e facilitou a sua fuga. Por isso, Ulrik passou a ser procurada pela polícia também como liderança do RAF.

Em alguns momentos do filme, o jovem Baader se comporta como um menino mimado que não aceita ser contrariado. Algumas vezes, os rebeldes parecem filhinhos de papai que se divertem roubando carros e dando tiros para o alto. Depois, entram numa espiral de violência que não tem mais volta. Eles passam a corresponder à imagem de violentos retratada pela mídia.

A impressão que eu tenho é que quando se lança mão da violência – sejam as guerras oficiais, as guerrilhas urbanas, as execuções de traficantes por parte da polícia, as brigas de trânsito e as brigas domésticas – turva-se o caminho e não se alcança o objetivo. A violência nunca é razoável, embora haja momentos em que nos parecem que é o único caminho.

A namorada de Baarden, Gudrun Ensslin, justifica o uso da violência dizendo que é a única resposta para a violência do Estado. Ela ainda lembra que os alemães sempre serão cobrados por terem se mantidos passivos diante do nazismo e, portanto, era preciso reagir diante de tantas situações de opressão.

Depois de provocar muitas mortes e atentados, os integrantes do RAF foram mortos ou capturados pela polícia. Os líderes permanecem mais tempo na prisão à espera de julgamento. Numa de suas falas para se defender, a jornalista Ulrik diz que o incêndio de um carro é um crime, o incêndio de vários carros é um ato político.

Ulrik era quem redigia os manifestos do grupo. Gudrun ridicularizava a jornalista porque seus escritos eram apenas discursos; os atentados eram ações de fato. No entanto, nem as ações nem os discursos produziram os efeitos revolucionários que eles pretendiam.

Antes de terminado o julgamento, Ulrik foi encontrada morta em sua cela. A versão da polícia foi de que ela se suicidou. Os três líderes que ainda amargavam a prisão acusaram o Estado por assassinato. Numa tentativa de libertá-los, outros integrantes da Facção chegaram a sequestrar um líder empresarial alemão e um avião com 86 passageiros. Não surtiu efeito.

Nas últimas cenas do filme, os três líderes aparecem mortos em suas celas. A versão oficial novamente é de suicídio. Mas eu entendi que eles foram mortos pela própria Facção, a quem não interessava mais gastar munição para salvar três ícones. A luta pela Revolução era maior do que as vidas de seus líderes.

terça-feira, outubro 13

Que sono!!

E esse soninho que me acompanha... Quando eu tinha 16 anos, foi o último ano em que morei na casa dos meus pais. Com exceção do meu irmão mais novo, todos os outros estudavam fora. Eu ia à escola de manhã; meu irmão, de tarde. Morávamos a cerca de 100 metros do colégio. Ele reclamava que, na hora do intervalo, corria em casa para comer um lanche e encontrava, invariavelmente, eu e minha mãe dormindo na sala. Cada uma em um sofá.

Esse hábito de dormir após o almoço me acompanha desde os primórdios. É claro que agora não disponho mais da tarde toda. Pelo menos 15 minutos já me ajudam. Eu até coloco despertador para acordar porque eu apago de fato.

Eu pensava que Morfeu fosse o deus do sono, mas ele é o deus do sonho. O pai de Morfeu, Hipnos, é o deus do sono, na mitologia grega. Eu sou praticamente uma Hipnas porque sofro de uma espécie de sono crônico. O meu estado normal é ter sono.

Sou capaz de dormir no meio de uma festa, haja o barulho que houver. Isso virou piada entre amigos em Brasília. Era muito comum, enquanto a festa rolava solta na casa de alguém, eu dormir no sofá por uns 40 minutos. Aí eu acordava e continuava na festa.

É algo incontrolável. Quando vou para a cama dormir, em menos de um minuto estou em sono profundo. Se eu viajo de ônibus à noite, as primeiras balançadas já me fazem dormir, antes mesmo de o ônibus deixar a cidade.

Se eu estou num bar, numa festa, ou em qualquer reunião social à noite, e o meu sono comparece – aliás, ele nunca falha – eu vou ficando quieta, calada e muda. Os mais chegados começam a rir porque já sabem que não há remédio. Só a cama. Ou melhor, não é preciso cama, não; para dormir, eu só preciso fechar os olhos.

segunda-feira, agosto 10

O vento

O vento soprou tanto, tão forte e tão ruidoso, que me perguntei o que ele queria tanto afastar do céu. Tenho medo de chuvas e ventos fortes. Mesmo protegida, não consigo dormir tranqüila. Acordo a todo instante, vou conferir pela janela se está tudo em ordem do lado de fora. Vejo as árvores balançando. Nenhuma alma viva pela rua.

Quando o dia clareia, parece que tive pesadelos a noite toda. Confiro novamente a janela. Vejo que o cavalinho vermelho do play-ground foi parar na quadra de esportes. Fico com dó do cavalinho. Separou-se dos irmãos e está ali, jogado, sozinho.

Na área de serviço, recolho as toalhas de banho esticadas no varal. Todas sequinhas. Apanharam do vento a noite toda. Recolho uma por uma e penso o que foi que o vento tanto gritou durante a noite. Imagino que as palavras do vento estão escondidas na trama das toalhas e nunca entenderei seu significado.

Fico pensando o que a natureza pode querer me dizer: que eu varra com a força dos ventos o que me faz mal? Seja lá o que for, a única mensagem compreensível é que está muito frio lá fora e é melhor eu me agasalhar

segunda-feira, agosto 3

Machucados



De vez em quando eu levo uns tombos – literalmente. Não sei o que me acontece que eu caio, prancho no chão. E levanto rapidinho. Claro que sempre tem gente por perto para eu morrer de vergonha. Dias desses levei um tombaço, machuquei o cotovelo. Fez um machucadão mesmo, desses de criar casquinha e tudo. Isso porque eu estava com um casaco.
Meio chorosa, mostrei o machucado pro meu filho. Ele não deu muita importância e perguntou: – Mãe, você nunca teve machucado?
Acho que eu tinha esquecido como é. A minha mãe falava que quando começa a coçar é porque está sarando. Quando a gente cresce, os machucados deixam de ser visíveis e doem por dentro. Demoram mais a cicatrizar e nem dá para mostrar para os outros. Não há band-aid que resolva, só o tempo.

Nada a ver com meus machucados, mas acabei lembrando de um filme chileno, Machuca, que retrata a amizade entre dois meninos na década de 70, bem na transição entre o governo de Allende e a ditadura. Um menino rico e um pobre que viram grandes amigos. O filme revela as contradições com que convivemos no dia-a-dia. Ah, essas contradições também me machucam.

segunda-feira, julho 27

Essa chuva que não para

"A Chuva", Oswaldo Goeldi
E essa chuva que não para.
Nunca os vizinhos conversaram tanto no elevador. Também, com tanta água caindo, não está faltando assunto.

Ainda não permitiram a falta ao trabalho por motivo de chuva que não para. Mas a máquina de lavar está trabalhando menos. Ninguém arrisca ficar com cheiro de cachorro molhado.

E eu tive que tomar chuva no meio da rua porque meu guarda-chuva alaranjado se desmontou quando eu mais precisei dele, o danado! Não tive saída a não ser atirá-lo na lata de lixo na calçada, afinal, não queria pagar mico me molhando com um guarda-chuva na mão.

E o medo de acordar cheio de escamas?
E o medo de a chuva revelar mofo onde não supúnhamos que existia?

Tanta água assim e me veio à mente Macondo, de Cem Anos de Solidão. Preciso reler este livro. E lembrei do filme “O Veneno da Madrugada” (uma adaptação de um outro livro de García Márquez que nunca li), onde também a chuva não para. Por que será que García Márquez põe tanta água em suas histórias?

E uma vez eu estava triste e estava chovendo. E eu via as gotas escorrendo pelo vidro da janela. E eu não sabia se chovia mais lá fora ou dentro de mim. As minhas lágrimas se confundiam com as lágrimas do céu.
E essa chuva que não para!

Jogo de sinuca

Na minha época de TV – há 20 anos – éramos eu, um cinegrafista, um operador de VT e um motorista. Ficávamos longe, numa cidadezinha pequena, e tínhamos que percorrer a região atrás de matérias. Havia um horário para enviar a matéria para Londrina, via malote. Então depois do expediente, a próxima parada era um boteco com uma mesa de sinuca.

Eu e o cinegrafista contra o operador e o motorista. Eu era café-com-leite. Mas havia boa vontade dos meus colegas. Eles me ensinavam como me posicionar, apontavam a melhor bola para mim e diziam até a intensidade com que eu devia jogar. Meu principal instrutor era o motorista, meu adversário. E todos comemoravam os meus acertos.

Às vezes eu errava tanto que meu parceiro perdia a paciência. Eu só ria. Uma vez, lá estávamos num botecão perto de uma grande empresa. Logo em seguida o bar encheu-se de operários. Naquele dia, especialmente, meu parceiro reclamava muito das minhas jogadas. Ele estava mesmo sem paciência.

Eu fui ficando constrangida porque quanto mais ele falava mais eu errava. Até que um dos operários me chamou para ser parceira dele. É claro que eu aceitei. O melhor é que o cara era tão bom que jogava por mim e por ele. Então, mesmo quando eu errava, ele salvava. A nossa dupla ficou imbatível. Ninguém nos tirava da mesa. Nem mesmo o cinegrafista. Eu estava vingada...

quinta-feira, julho 23

Cada coisa...

Quando chove assim, eu gosto só de ficar em casa. Pena que não posso. Eu li num jornal que o incêndio naquele prédio em Londres, onde morreram três paranaenses, foi causado por um aparelho de TV antigo. Fui ler a matéria e vi que o televisor (se é antigo tem que ser televisor, né?) tinha mais de dez anos. Hahaha. Agora, televisores com mais de 10 anos são antigos. Tenha dó, né? Notícia mal apurada... Imagino que com as instalações elétricas do tal prédio qualquer aparelho ligado na tomada poderia provocar um incêndio. Lembrei que quando meu computador tinha sete anos eu fui fazer um upgrade (é isto?) e um aluno meu disse: Nossa, professora, que computador antigo, hein? Pelo menos não causou nenhum incêndio.

Voltando às apurações de notícias. Li no Estadão de ontem (22) que em São Paulo haviam morrido seis pessoas de gripe A (a suína), entre elas uma grávida. Fui ler a matéria e lá estava que a grávida morreu dia 14 e ela havia tido o bebê no dia 9. Bem, então ela não estava mais grávida quando morreu, né?

E toda notícia que leio sobre alguém que morre de câncer, está lá: a fulana “lutava” contra um câncer fazia sete anos ou sei lá há quanto tempo. Por que não se diz apenas que a pessoa tinha câncer ou que a causa da morte foi um câncer? Como é que se luta contra um câncer? E se a pessoa não lutou, se entregou... O repórter foi lá e pegou informações sobre o tratamento? Se estava em tratamento então estava “lutando”? Não gosto disso.

Mas eu continuo achando que sem diproma tudo pode piorar...

E o Sarney, hein? A coisa tá podre mas não cai... Inda mais agora com o Lula sustentando...

Ah, eu queria ler uma entrevista com o Abílio Medeiros para ele contar como consegue acertar todas as fotos que são publicadas no JL às segundas. Eu nunca acertei nenhuma. Fico pensando se ele se reúne logo cedo com todos os corretores que trabalham na imobiliária dele e avisa: até as 10h, alguém tem que trazer a resposta pra ele. Ou será que é ele mesmo que acerta? O JL poderia fazer uma matéria, né? Tem um cara que trabalha comigo, o Gabriel, que agora está acertando também. Outro dia pedi pra ele me explicar como é que ele faz isso. E ele explicou, mas eu não vou contar aqui porque a explicação requer a presença da foto. Vou tentar usar a metodologia na próxima...

terça-feira, julho 7

O poncho vermelho

Eu tenho um poncho vermelho que ganhei da avó de um menino. Essa avó tem mãos hábeis que entrelaçam fios de lã até transformá-los em peças quentinhas e aconchegantes. É um poncho muito bonito.

Mas além de embelezar, ele protege contra o frio. E quando eu o visto tenho vontade de agasalhar nele o menino Nestor que vende oito pares de meias por dez reais, da marca que o freguês quiser: Nike, Adidas, Puma. Todas iguaizinhas. Só muda a logo. O menino tem 14 anos. Não sei se ele tem uma avó que lhe faria um poncho. Talvez ele só tenha as meias contra o frio e contra a pobreza.

No meu poncho, eu também queria abrigar aquela mulher que chora porque tem medo de que a sua mãe vá embora para sempre. A sua mãe nunca lhe fez um poncho. Pelo contrário. A sua mãe sempre lhe dirigiu palavras duras e frias. Mas ela é a sua mãe, e ela achou que sua mãe fosse eterna.

Acho que no meu poncho também cabe outra mulher, que lamenta todas as escolhas amorosas feitas até agora. Todas erradas. E se pergunta se a dor da solidão sozinha é a mesma dor da solidão acompanhada. Será que no poncho ela vai se sentir assim tão só?

Poderiam ser aconchegados no poncho alguns meninos adolescentes que vão para a escola e não aprendem o que os professores ensinam. Eles não sabem se eles não aprendem porque os professores não sabem ensinar ou se são eles que não sabem aprender. E quando eles lêem números e letras tudo se confunde e parece sem sentido. Eu queria aconchegá-los no meu poncho e dizer-lhes que há ainda muito tempo para aprender.

E eu ainda queria guardar no meu poncho, bem apertadinho, um homem de cabelos de anjo, olhar e fala doces. Este homem tem as mãos tão hábeis que são capazes de desenhar notas musicais e compor lindas canções, que poderiam embalar todos os habitantes do meu poncho.

domingo, junho 21

Diploma não foi "presente" dos militares


A mídia brasileira sempre manipula qualquer discussão acerca do funcionamento dos meios de comunicação no Brasil e também sobre a profissão dos jornalistas. Basta lembrar como os veículos trataram a questão do Conselho Federal dos Jornalistas e como eles abordam qualquer tema de interesse da categoria profissional.

Em relação ao diploma foi a mesma coisa. A mídia apresenta apenas seus argumentos, e de maneira falaciosa. Isso é só uma demonstração de que a tal propalada “liberdade de expressão” só vale para um lado.

Por exemplo, quando apresenta que a obrigatoriedade do diploma ocorreu com o decreto de 1969, a mídia fala que foi um “presente” dos militares na tentativa de amordaçar a imprensa, de limitar a liberdade de expressão.

A história não é bem essa. Bem antes do regime militar, os jornalistas brasileiros já lutavam por melhorias na nossa profissão e reivindicavam a regulamentação profissional e uma formação específica para trabalhar na área.

Num artigo do jornalista José Carlos Torves, que é diretor da Fenaj, ele lembra: “É bom voltarmos no tempo para que a história faça justiça com os jornalistas, que lutaram e lutam, há 70 anos, na defesa da regulamentação profissional e da formação, como forma de acesso ao exercício do jornalismo.” Aqui dá para ler o artigo completo do Torves, que está muito bem fundamentado. Foi publicado no site do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.

sexta-feira, junho 19

Ainda o diploma!




A decisão do STF foi um retrocesso para o país. Alguns amigos tentam me consolar dizendo que eu sou talentosa, que sou ótima profissional e que não preciso me preocupar. Sou formada há 21 anos, tenho pelo menos 15 anos de experiência em jornalismo diário, sou concursada numa empresa de economia mista e, sinceramente, não estou nem um pouco preocupada com o meu caso em particular. E, se eu sou uma profissional competente, eu devo à minha formação universitária.

Em 1991, quando concorri a uma vaga na Folha de S. Paulo, depois de uma peneirada, sobramos eu e um engenheiro (afinal a Folha sempre foi a precursora na luta contra o diploma, algo que eu repudio. E eu gostaria de saber, o que a Folha nunca divulga, é qual o percentual de jornalistas formados e não-formados dentro da redação do jornalóide paulistano. Eu imagino que os formados ganhem de goleada). Na época eu estava formada fazia três anos e tinha três anos de trabalho em jornal diário. É óbvio que eu passei no concurso da Folha e não o engenheiro.

É claro que os profissionais que passam por uma faculdade de jornalismo são melhor preparados do que qualquer outro profissional com formação em outra área. Eu desafio qualquer profissional (engenheiro, advogado, médico, professor de filosofia, de letras, de história, do escambau) a fazer um texto jornalístico. O meu vai ficar melhor. Não estou falando de artigo opinativo (cometo a redundância porque nem todos sabem que artigos são opinativos). E a matéria pode ser na área de atuação desse profissional. E é claro que todos esses profissionais têm espaço nos veículos de comunicação para expressarem suas opiniões. Isso já contraria a tese de que o diploma impede a liberdade de expressão.

Fico muito irritada com o uso deste argumento por aquela Corte de juízes (e nem vou entrar no mérito da integridade moral de alguns deles ali que dá até vontade de vomitar). A minha irritação aumenta quando eles citam Carlos Drummond de Andrade, Manoel de barros e outros grandes escritores e poetas que um dia exerceram o jornalismo, sem terem cursado uma faculdade.

Primeiro que eu imagino que o Drummond não fazia matéria de polícia ou buraco de rua. Se fazia, transformava em crônicas. O problema é que esses grandes talentos do mundo das letras são exceções. E, se existem as exceções, qual é o problema de esses iluminados irem para uma faculdade de jornalismo obter um diploma para ter o devido registro profissional, se eles quiserem trabalhar como repórter, editor ou outra função de jornalista?

Mesmo que uma pessoa extremamente talentosa chegue à redação, ela não sabe fazer jornalismo, pode até ter um ótimo texto, mas vai ter que aprender como é o jornalismo. E hoje em dia, qualquer repórter sabe, é praticamente impossível, contar com a ajuda do editor ou do colega do lado para aprender o jornalismo. Ah, vai aprender na prática, mas vai errar muito até aprender. Se ele passar por uma faculdade antes, com certeza, isso fica mais fácil.

E, na minha opinião, entre os que comemoram a decisão do STF há mais semi-letrados que não querem fazer faculdade e nunca devem ter lido um livro do que os virtuoses.

Se há 40 anos já era exigido o diploma, como pode a sociedade acreditar que agora, sem diploma, o jornalismo vai ficar melhor porque alcançamos a "liberdade". Está garantido o livre acesso de analfabetos, semi-analfabetos e todos à profissão de jornalismo. Nossa, que conquista, hein?

O Aguinaldo eu sei que defende a formação autodidata para qualquer profissão. Ora, em que país estamos? Somos um país que lê pouco, muito pouco, que as escolas já são fracas, e ele quer contar com a boa vontade e o desempenho individual? Se for na linha do raciocínio dele, essa abertura então deveria acontecer com todas as profissões, e não apenas com o jornalismo. Aquela Corte acataria a sugestão para os advogados?

Ah, mas então a minha defesa é corporativista? É, também é. Os salários pagos aos jornalistas são vergonhosos. Sem a obrigatoriedade do diploma, a tendência é piorar. Afinal, se eu vou contratar um profissional de nível médio ou até fundamental (como bem lembrou o ministro Marco Aurélio), o salário será mais baixo. Para que isso não acontece, os sindicatos terão que se fortalecer muito - isso significa a categoria se mobilizar.

O Paulo defende que um curso técnico daria conta de formar jornalistas. Mas jornalismo não é só técnica. Há outras áreas que complementam a formação. Como alguém pode imaginar que uma pessoa que não passou pela faculdade tenha as mesmas condições de trabalhar do que outra que tenha passado por essa formação, que tenha participado de discussões e debates dentro de uma faculdade, tenha recebido aula de ética?

Parece piada...

quinta-feira, junho 18

Quero ser Juiz de Direito (Sem exigência de diploma)


Gadelha Neto, jornalista

A decisão do STF, que dispensa o diploma de Jornalismo para o exercício da profissão, me abre um mundo novo: a possibilidade de ser Juiz de Direito e, quem sabe, até alçar voo rumo ao próprio Supremo.

Sim, porque a decisão deixou claro que a minha profissão não exige diploma porque não são necessários conhecimentos técnicos ou científicos para o seu exercício. Disse mais: que o direito à expressão fica garantido a todos com tal “martelada”.

Tampouco a respeitabilíssima profissão de advogado e o não menos respeitável exercício do cargo de juiz pressupõem qualquer conhecimento técnico ou científico. Portanto me avoco o direito (e, mesmo, a obrigação), já que assim está decidido, de defender a sociedade brasileira diante dos tribunais e na própria condução de julgamentos.

Além de ser alfabetizado e, portanto, apto a ler, entender, decorar e interpretar nossos códigos e leis, tenho 52 anos (o que me dá experiência de vida e discernimento sobre o certo e o errado) e estudei – durante o curso de jornalismo (!) – filosofia, direito, psicologia social, antropologia e ética – entre outras disciplinas tão importantes quanto culinária ou moda: redação em jornalismo, estética e comunicação de massa, radiojornalismo, telejornalismo, jornalismo impresso etc.

Com essa bagagem e muita disposição, posso me dedicar aos estudos e concorrer às vagas de juiz pelo Brasil afora, em pé de igualdade com os colegas advogados. Também posso pagar e me dedicar aos cursos especializados em concursos públicos para o cargo, se eu julgar necessário. E não é justo que me exijam, em momento algum, qualquer diploma ao candidatar-me ao cargo.

Afinal, se a pena de um jornalista não pode causar mal à sociedade (!!?), a de um juiz também não teria este poder de fogo. As leis – e elas são justas em si – existem para serem cumpridas e cabe a um juiz, tão somente – usando da simplicidade do STF – seguir a “receita de bolo” descrita pelos nossos códigos. Assim sendo, um juiz não pode causar mal algum a ninguém, se seguir, estritamente, o que determina a lei. Concordamos?

Data venia, meus colegas advogados, por quem nutro o devido respeito (minha mãe, cunhada, irmão e sobrinha – por favor, compreendam), quero ser juiz porque é um direito meu, assegurado pelo STF, e o salário de jornalista não está lá estas coisas.

terça-feira, junho 16

Diploma de Jornalista

Nesta quarta-feira, o STF vai finalmente julgar um recurso que questiona a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. No site da Fenaj, dá para conhecer melhor esta história.
Alguns argumentos da Fenaj, com os quais eu concordo:

1) Não será a ausência de diploma que irá garantir ao cidadão acesso às emissoras de rádio e TV, aos sites da internet, ou às colunas de “cartas do leitor” existentes nos enésimos cadernos de nossos diários impressos.

2) Tampouco será a inexistência de diploma que permitirá aos cidadãos e autoridades, acusados em manchetes espalhafatosas de primeira página, verem suas respostas ou suas razões publicadas, quando muito, em minúsculas notas de rodapé de páginas perdidas no interior dos cadernos;

3) É certo que o diploma, por si só, não evita a ocorrência de abusos. Contudo, mais certo é que a ausência de formação técnica e noções de ética profissionais potencializam enormemente a possibilidade de os abusos ocorrerem.

4) Efetivamente não é o diploma que impede o cidadão de exercer a liberdade de manifestação do pensamento e de imprensa nos veículos de comunicação social no País. Verdadeiramente não é. O que impede o exercício desses direitos fundamentais é a concentração da mídia em poucos grupos; é a orientação editorial dos veículos de comunicação; é a ditadura dos anunciantes ou a ditadura do mercado que privilegia a venda de jornais ou a obtenção de “pontos no ‘ibope’”, em vez da verdade, da informação isenta, ou do respeito às pessoas e autoridades.

5) Com a existência da internet, a possibilitar a qualquer cidadão expressar seu pensamento por intermédio dos infindáveis meios (páginas pessoais, blogs, orkuts, e-mails, e tantos outros), sem qualquer controle, também se torna absoltamente relativo, sem razoabilidade e desprovido de qualquer força o argumento de que a exigência de diploma para a obtenção do registro profissional impede a livre expressão do pensamento ou de imprensa.

E existem ainda os argumentos técnicos e legais que contestam que a obrigatoriedade seja inconstitucional.

quinta-feira, junho 4

O inverno e o Sol

Todo inverno eu reclamo do inverno. Todo verão eu me lembro do inverno para não reclamar do calor. Durmo pelo menos 15 minutos todos os dias após o almoço. Nesses dias frios, escolho um sofá exposto ao Sol. Cubro minha cabeça e durmo. Antes disso, minha memória vai até Piraju, na minha adolescência. Nos dias frios, depois do almoço, eu ia para o quintal, me deitava no chão duro: corpo no Sol, cabeça na sombra. Perto, um rádio à pilha cor de laranja sintonizado na Rádio Cultura AM de São Paulo. E essas ondas sonoras traziam meu sono.
Tela de Nela Vicente (Golden Feelings)

terça-feira, junho 2

Os desconhecidos2

Niquel Nausea









(tirinha enviada por Shahine)

segunda-feira, junho 1

Os desconhecidos

Na nossa pele convivem centenas de bactérias – é o que dizem os cientistas americanos, conforme matéria da Folha de S.Paulo. E elas estão no corpo todo. Na parte em que há mais – o antebraço! – são 44 de tipos diferentes. E na parte onde há menos, atrás da orelha, “apenas” 15. E os cientistas avisam que não adianta tomar mais banho porque elas não vão sair, afinal, nós sempre convivemos com elas.

Se nós sempre convivemos com elas, por que esses cientistas têm que divulgar esses dados? Eles deveriam manter essas informações restritas ao mundo científico. Afinal, a pesquisa é para entender melhor as doenças dermatológicas e nós, leigos, não podemos ajudar em nada. Eu não tenho esse tipo de curiosidade e prefiro continuar ignorante sobre esse mapeamento.

Tenho uma certa anti-curiosidade em relação aos mundos invisíveis. Eu me sinto melhor em não saber que sou hospedeira de bactérias e que o ar que eu respiro é povoado de micro-organismos.

Uma vez, um amigo meu, que é espírita, me disse que ao nosso redor existem centenas de espíritos. Em todos os lugares aonde vamos, lá estão eles. Essa ideia também me desagrada. Prefiro ignorar se ao meu redor há espíritos ou não. Afinal, estou ocupada tentando conviver melhor com os seres reais e concretos que estão ao meu lado. Invisíveis? Tô fora!

quinta-feira, maio 14

O desconhecido

(Imagem em: http://comocontrolarereduzircustos.files.wordpress.com/2009/02/labirinto.jpg)
Quando ouço alguém descrever algum lugar longínquo e que provavelmente eu nunca vou conhecer, fico imaginando o quanto de lindeza existe no mundo e que eu nunca nunca vou ver. Uma amiga que morou na França uma vez me contou de Toulouse, que é uma cidade linda, com telhados vermelhos, e eu nunca esqueci isso. Toulouse não é um lugarejo perdido no mundo, é um ponto turístico, quem sabe até um dia eu possa conhecer. Mas existem inúmeros outros lugares lindos e charmosos e bucólicos e exuberantes dos quais nunca ouvi falar e nunca vou conhecer porque o mundo é muito grande e a vida é muito curta – assim como o dinheiro que poderia me levar a vários lugares.

E mesmo que eu fosse riquíssima e desde muito criança viajasse todos os dias da minha vida ainda assim eu nunca descobriria todos os encantos de construções e mares e rios e vielas e vegetações e areias e cachoeiras e de tudo belo que há.

Assim também acontece com as pessoas. Existem muitas pessoas legais e interessantes e inteligentes e espirituosas e bem-humoradas em todos esses lugares que nunca conhecerei. Não conhecerei nem os lugares nem as pessoas que os habitam ou que passeiam por lá. E são pessoas com as quais passaria horas e dias conversando e rindo porque têm muitas histórias para contar. E eu ia me divertir e me emocionar ao lado dessas pessoas.

Eu já morei em 10 cidades diferentes – sem falar na cidade onde nasci porque lá é o único lugar em que não conheci ninguém porque eu saí de lá quando ainda era muito pequena – e em todas elas conheci ao menos uma pessoa legal. Em Brasília eu trabalhei num lugar onde havia o maior número de pessoas legais por metro quadrado que eu já vi em todas as minhas andanças. E só por isso valeu a pena morar em Brasília.

E eu nem vou entrar no mérito das obras produzidas pelo homem e que apenas uma única vida não me permite conhecer, como as artes plásticas, as músicas, os livros. E aí eu penso que tudo é mais desconhecido do que conhecido. E penso que eu também sou assim: deve haver em mim mais coisas que desconheço do que as que conheço sobre mim mesma.

quarta-feira, abril 29

Em defesa dos jornalistas e do jornalismo

Quando a gente entra na faculdade de jornalismo – e eu defendo o diploma de jornalismo para o exercício da profissão – , uma das coisas que nos ensinam é desconfiarmos sempre da primeira versão que nos oferecem sobre um fato. E aprendemos que temos que ser críticos.

Com o tempo e o treino, isso vai se tornando prática cotidiana. E é claro que esse senso crítico extrapola a atividade profissional. Às vezes eu me canso de ser assim tão crítica. Quando percebo, já estou apontando falhas e defeitos, como se quisesse denunciar tudo o tempo todo.

O salário de jornalista é muito baixo. O piso salarial no Paraná está pouco acima de R$ 1.900,00 por cinco horas diárias de trabalho, seis dias na semana. É o piso mais alto do país. No Rio de Janeiro, está em torno de R$ 800,00. No interior do Piauí, paga-se um salário mensal de R$ 700,00 para um jornalista. Sem falarmos nas inúmeras situações em que as empresas não pagam nem o piso.

Se compararmos com outras categorias profissionais, o nosso salário é sempre um dos mais baixos. Com o tempo, percebemos que é muito difícil aumentar nossos rendimentos. É só comparar os bens de um jornalista com os de qualquer outro profissional adquiridos ao longo de 20 anos de experiência profissional numa redação e fazer as contas.

Outra grande desvantagem em relação a outras profissões é que, com o passar dos anos, quanto mais experiente e melhor for o jornalista, menos chances de trabalhar em redação ele tem. Os patrões não titubeiam em demitir os jornalistas mais “velhos” de casa e que ganham um pouco a mais – por conta do anuênio garantido em convenção coletiva, uma vez que as empresas raramente têm planos de cargos e salários – e substitui-los por recém-formados. O problema não está em contratar recém-formados, mas em ter uma redação com perfil de recém-formados.

Tenho grandes amigos e colegas, ótimos profissionais, afastados de redação com chances cada vez mais reduzidas de novamente conseguirem uma vaga nesse mercado.

Essa disputa por um lugar na redação acaba agravando também a já complicada relação entre o Sindicato dos Jornalistas e as empresas. A cada investida do Sindicato, por melhores salários e condições de trabalho, a reação é grande, exagerada às vezes. As empresas acabam pressionando os jornalistas empregados a ficarem contra o sindicato, com ameaças de demissões e outras retaliações.

Ou seja, os jornalistas devem ser críticos somente em relação aos órgãos públicos e a outras instâncias da sociedade, não no local de trabalho. Se não, é chumbo na certa!

A nossa profissão, portanto, é uma das mais desvalorizadas: pelo patrão e pela sociedade, que agora quer permitir que qualquer pessoa, sem uma qualificação específica, possa exercer o jornalismo. E temos um papel muito importante a cumprir. Se com o olhar vigilante da mídia a corrupção corre solta neste país, sem a atuação desses profissionais seria ainda pior.

segunda-feira, abril 27

Leãozinho...

(Leão desenvolvido para o banco CAIXA pela Illusion Graphics - http://luizvieiragrillo.blogspot.com/2008/02/leo-lion.html)

Na hora de preencher a declaração de IR este ano percebi que vale mais a pena não trabalhar do que trabalhar para pagar imposto ao governo. Em 2008, além do meu atual emprego, estava dando aulas em uma universidade pública. Portanto, tinha duas fontes de renda. Além disso, prestei serviços para uma Fundação e para uma instituição particular de ensino. Com isso, somei quatro fontes de renda. Mas os rendimentos foram pífios. No entanto, para o leão faminto, isso significa que eu devo pagar muito imposto. E me fez decidir que, em 2009, vou me contentar com meus parcos rendimentos. Tá certo que minha renda fica a mesminha, mas para fazer os trabalhos extras, dediquei muito tempo e cérebro. Não vale o custo/benefício. É esta a lição do leãozinho!

sábado, abril 25

Febre amarela

Em Ribeirão Claro e em Maringá, no Paraná, foram encontrados macacos mortos nas últimas semanas, mas ainda não ficaram prontos os exames que comprovem que essas mortes tenham sido causadas por febre amarela. Por precaução, está fechado para visitação o Parque Ingá. As prefeituras de Maringá e de Londrina iniciaram campanha de vacinação.

No Estado de São Paulo já foram confirmadas 11 mortes causadas por febre amarela. É uma incidência cinco vezes maior do que a registrada em 2008, quando ocorreram dois óbitos pela doença. Todos os casos são considerados silvestres.

Com 29 mil habitantes, Piraju, no vale do Rio Paranapanema, é a cidade que registra o maior número de mortes pela doença no Estado. Foram oito entre os dias 23 de março e 3 de abril. Entre essas mortes, estão as dos irmãos Saulo e Gustavo do Val. A suspeita é que eles tenham morrido porque não poderiam ter tomado a vacina, por terem doença auto-imune. A Vigilância Epidemiológica ainda investiga os dois casos.

Histórias das vítimas

A primeira vítima fatal no interior paulista este ano foi Márcia Maria, de Sarutaiá, cidade vizinha a Piraju. A confirmação veio do hospital da Unesp em Rubião, na região de Botucatu, onde ela estava internada. “Era sexta-feira, 13, e a notícia caiu como uma bomba porque nunca tivemos a doença na cidade”, diz o diretor de saúde do município, Osmar Soares Freschi. Outras cinco pessoas que tiveram a doença em Sarutaiá se recuperaram.

Conforme informações de Freschi, foi montada uma força-tarefa na cidade com auxílio da Vigilância Epidemiológica de Botucatu e equipes de São Paulo, Botucatu, Avaré e Piraju. Em uma semana de trabalho, das 8h às 22h, foi feita vacinação de casa em casa. “Aplicamos 4.100 doses da vacina na cidade e na zona rural. Como o IBGE aponta uma população de 3.789, consideramos que todos foram vacinados”, diz Freschi.

Mortes em Piraju

No dia 23 de março, morreu a primeira vítima em Piraju, o pedreiro Flávio Teles, de 47 anos. Ele sentiu os primeiros sintomas no domingo de Carnaval, 22 de fevereiro. A coordenadora da Vigilância Epidemiológica da cidade, Neide Maria Silvestre, considera que este caso fugiu às regras. “Foi um período longo até o óbito, levando-se em conta que a febre amarela é aguda e súbita”, explica.

Conforme conta a dona-de-casa Rita Batista de Souza (foto), que vivia com Teles havia 14 anos, naquele domingo ele amanheceu passando mal, com dor de cabeça. “No hospital, foi medicado com remédio para sinusite”, conta. Depois disso, foram dias de via-sacra de casa para o posto de saúde e o hospital, com febre, vômito e dores. “Ele passava um período internado, era medicado com soro, voltava para casa e só piorava. Ele emagreceu muito, se acabou”, diz.

A última internação de Teles foi no dia 17 de março. Nesse mesmo dia, o filho dele, Flávio Teles Júnior, de 14 anos, começou a sentir febre. Ele seria a segunda vítima fatal da doença. Rita lembra que foi difícil ter que socorrer o pai e o filho, que era seu enteado. “Quando o menino chegou da escola na hora do almoço, ele reclamou de febre. Eu disse a ele: ‘Eu vou internar seu pai e já volto pra cuidar de você’. Quando eu voltei, ele já estava com dor de cabeça. Chamei a ambulância e o levei também para o hospital. Lá ele tomou soro e recebeu alta”.

No dia seguinte, com a piora do estado do rapaz, o médico que já estava cuidando do pedreiro solicitou exames de Teles Júnior e o transferiu para o hospital da Unesp em Botucatu. “Antes, o médico não pensava que meu marido estava com febre amarela por causa do tempo que ele estava doente. O pior foi que contaram para ele que seu filho também estava mal. Ele ficou muito nervoso”, fala Rita.

No dia 19, o pai também foi transferido para Botucatu e, naquela noite, entrou em coma. Com a confirmação de que Teles estava com febre amarela, começou a campanha de vacinação em Piraju.

Flávio Teles pai morreu na segunda-feira, dia 23. O filho dele quatro dias depois, em 27 de março. Segundo Rita, o marido costumava andar pela mata na região, fazendo serviços gerais, e o menino o acompanhava. “Sinto muita falta dele. Eu sonho com ele, mas no sonho ele está forte”, diz Rita. Agora, ela vive sozinha com a neta do marido, Maria de Fátima, de oito anos. “A guarda da menina é nossa”, diz. Rita agora vai ter de trabalhar. A família mora na Vila São Pedro, um dos bairros mais pobres de Piraju.

Doença não conhece idade

No número 12 da rua Sebastião do Val, mora dona Francisca dos Santos (foto ao lado), de 87 anos, que perdeu a filha Rosana, de 42 anos, no dia 29 de março. “Ela começou a reclamar de dor na perna e de frio. Ela sentia muito calafrio. Foi internada num domingo, mandaram pra Rubião e ela morreu no outro domingo”, lembra a mãe. Dona Francisca agora mora com seu outro filho, de 56 anos, e os três netos, deixados por Rosana.

“Rosana era uma moça muito trabalhadeira, era minha companheira. A gente trabalhava na colheita de café”, diz. A suspeita é que a moça tenha sido picada pelo mosquito da febre amarela numa mata onde costumava buscar banana e milho. Foi na companhia de Rosana que a vizinha dos fundos, Jovina de Souza, de 30 anos, que estava grávida de nove meses, entrou na mata para catar bananas no final da sua gravidez.

Jovina conta que na véspera de dar à luz sentiu dor de cabeça e estava com febre. O bebê, Evelyn Gabrieli, nasceu de parto normal no dia 16 de março e as duas logo receberam alta. Dois dias depois, por volta das 22 horas, Jovina e o bebê voltaram à Santa Casa de Piraju porque a menina estava com 39 graus de febre. “O médico receitou Tylenol”, lembra Jovina. No dia seguinte pela manhã, ela levou a filha ao Posto de Saúde porque a menina continuava com febre. “O médico do posto mandou internar eu e a menina porque nós duas estávamos com febre”.

Durante cinco dias de internação, Jovina foi melhorando e a filha só piorava. “Ela até parou de mamar. Aí mandaram a gente pra internar em Rubião com suspeita de febre amarela”. Evelyn Gabrieli morreu dia 28, com 12 dias de vida. Jovina ainda esperou mais quatro dias até receber alta.

Ela ainda sente dor de cabeça e precisa fazer repouso. Toda semana tem de voltar ao hospital em Rubião para fazer exames. “Minha cabeça está um balaio. O pai dela ainda não sabe (da morte da filha) porque ele está preso perto de São Paulo. “Vou mandar uma carta pra contar. Vai ser um baque”, diz Jovina, que também é mãe de Everson, de oito anos.

Jovina trabalha na roça. Parou de trabalhar três meses antes de ter o bebê. “Eu era muito amiga da Rosana. Sou madrinha de uma filha dela. Agora eu perdi uma amiga e minha filha. A gente andava muito pro meio do mato pra catar milho, banana. A médica diz que eu posso ter passado febre amarela pro bebê pela placenta”, afirma.

Na fazenda onde Jovina e Rosana iam catar milho morreram no dia 27 de março o administrador José Antônio de Freitas, de 51 anos, e outro funcionário de nome Flávio.

Vacinação em massa

Segundo a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Piraju, Neide Maria Silvestre, 98,07% da população já estão vacinados. Segundo ela, a primeira confirmação da febre amarela a deixou assustada. “Tinha dúvida se a população iria responder ao chamado, mas todo mundo se vacinou e fizemos mutirão de limpeza, retirada de lixo, orientação e nebulização pelo pessoal da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias)”, conta.

A nebulização é importante para eliminar os focos do Aedes aegypti, que é o vetor da febre amarela na área urbana, que está erradicada no Brasil desde 1942. Na área silvestre, o vetor é o mosquito Haemagogus.

Segundo Neide Silvestre, a investigação epidemiológica tem dois focos: o doente e o mosquito. “Fazemos um levantamento de todos os passos do doente até 15 dias antes dos primeiros sintomas. Em todos os casos até agora, as vítimas tinham ligação com a mata”, diz. Na investigação do mosquito, o trabalho é feito com a Sucen e Ministério da Saúde.

Foco desconhecido

De acordo com a Vigilância de Piraju, toda a área de mata da região foi investigada e não foi encontrado nenhum macaco morto, nem doente e nenhuma carcaça do animal, o que é muito diferente do habitual.

O professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Almério de Castro Gomes, médico especializado em doenças transmitidas por vetores, explica que o hospedeiro definitivo do vírus é o mosquito e não o macaco. Segundo ele, o vírus nasce no mosquito. Com a picada no macaco, há a multiplicação do vírus que vai infectar outros mosquitos. “O vírus existe em outros vetores na mata, mas o principal deles é o Haemagogus que é o que transmite para o homem”, afirma.

De acordo com o professor, no Brasil não existe mosquito que faça a ponte entre o campo e a cidade, uma vez que o Haemagogus só vive no mato e o Aedes aegipty só na cidade. “Mas existem mosquitos candidatos e é preciso que as autoridades de saúde estejam atentas, monitorando esses vetores”, diz.

Castro Gomes cita o Aedes albopictus que na Ásia faz esse elo de ligação entre as áreas silvestres e urbanas. No Brasil, este vetor já está presente em 23 estados. “Ele vive mais na periferia que são áreas mais arborizadas e é preciso monitorá-lo para não sermos surpreendidos”, afirma. Com relação à propagação geográfica da febre amarela, Castro Gomes afirma que não se sabe ainda como é o mecanismo de expansão do vírus.

Segundo o pesquisador, o surgimento de eventos da doença ocorre num período de cinco a dez anos, conforme a suscetibilidade da população. “A febre amarela tem uma taxa altíssima de letalidade, de 60%, por isso a vacinação deve ser prioridade para a saúde pública. A doença também deixa seqüelas e tem conseqüências econômicas. Um evento urbano de febre amarela tem forte repercussão internacional, por isso é preciso muita atenção das autoridades de saúde”.


Vítimas da vacina
O comerciante pirajuense Saulo do Val, de 34 anos, morreu no dia 29 de março, no Hospital Misericórdia, em Botucatu. O advogado Gustavo, de 30 anos, morreu cinco dias depois, em 3 de abril, na Santa Casa de São Carlos.

A família do Val não tem dúvidas de que os dois são vítimas da vacina, que seria contra-indicada para ambos por serem portadores de uma doença auto-imune.

Segundo a coordenadora da Vigilância, Neide Silvestre, o serviço de saúde do município teria negado as vacinas aos irmãos. “Num primeiro momento nós recusamos a vacina, mas eles voltaram com autorização do médico deles, por telefone”, disse, em entrevista.

A família contesta a informação. Segundo a esposa de Saulo, a professora de música Kelly Cristina de Oliveira do Val, 33 anos, ela e o marido foram ao Posto de Saúde da Vila Cantizani no primeiro dia de vacinação, em 21 de março, por volta das 11 horas. “Havia um cartaz escrito à mão com orientação sobre as contra-indicações da vacina. Como ele tomava corticóide, fui conversar com a enfermeira-chefe que disse que achava melhor ele não se vacinar. Então eu disse a ele para consultarmos antes o médico”, conta Kelly.

Enquanto Kelly perguntava à enfermeira qual seria a conseqüência se ele tomasse, Saulo foi se encaminhando para a fila da vacina. “Ela me explicou que ele poderia ficar depressivo e quando olhei para o lado ele já estava sendo vacinado”, afirma.

Kelly conta que, na segunda-feira, dia 23, ele sentiu-se mal e teve dor de cabeça. “Liguei para o médico dele, um endocrinologista de Botucatu, para marcar consulta, mas ele disse que não havia horário e era para consultarmos um clínico geral em Piraju mesmo. E me disse que eu estava apavorada à toa, que a vacina não traria problema”.

O clínico geral pediu exames de cálcio, potássio e urina que apontaram resultado normal. O médico disse que era uma “gripinha” e receitou antibiótico caso a febre persistisse. Na quinta-feira, Saulo estava com 40 graus de febre. Na sexta-feira, foi internado por volta das 17 horas para tomar soro e vitamina. À noite o médico pediu exames de sangue que ficaram prontos no sábado por volta das 11h e outros só às 16h. “As enzimas hepáticas estavam a mais de mil, quando o normal é até 35”.

Kelly conta que depois do almoço de sábado o marido já estava com os dedos dos pés e das mãos arroxeados. “Não havia médico no hospital, e um enfermeiro o transferiu para a UTI. Começamos então pedir que ele fosse transferido para Botucatu, o que só aconteceu por volta das 18 horas. Aí então o clínico geral disse que o quadro havia evoluído para o que havíamos previsto. Ele disse que não havia mais o que fazer”.

Uma das irmãs de Saulo, a cardiologista Valquíria do Val Roso, que mora em São Bernardo do Campo, afirma que ele foi transferido de forma inadequada para Botucatu. “Na situação em que o fígado dele estava, era preciso imobilizá-lo; e até então ele não havia recebido nada no hospital que fosse específico para suspeita de febre amarela, como plasma e plaquetas. Já havia casos na cidade, era preciso que a Vigilância enviasse um infectologista que ficasse de plantão na cidade para esses casos”, afirma.

Em Botucatu, Saulo passou a receber tratamento adequado, mas o quadro só foi piorando. Teve os rins paralisados, o pulmão comprometido e as enzimas hepáticas foram a mais de 12 mil. Teve parada cardíaca às 18 horas no domingo, 29. O atestado que aponta a febre amarela como causa do óbito foi assinado por seu médico particular Antônio Carlos Carneiro.

O irmão caçula da família do Val tomou a vacina contra a febre amarela na quinta-feira, 26, antes da morte de Saulo. O fato de Saulo ter uma plantação de eucalipto levantava a suspeita de que poderia ter sido picado pelo mosquito Haemagogus na mata. “O Gustavo tentou falar com o médico dele em São Paulo, mas não conseguiu e resolveu tomar a vacina”, conta a cunhada Kelly.

Gustavo foi a outro Posto de Saúde, o Postão, junto com sua mãe, dona Ondina. Ela conta que ninguém perguntou nada sobre se eles tomavam algum tipo de medicação. Gustavo, que não freqüentava nenhuma mata, começou a se queixar de dor de cabeça e dor de ouvido durante o velório do irmão, na segunda-feira, dia 30. Ajudou a carregar o caixão do irmão e prometeu à cunhada que ajudaria a cuidar das filhas de Saulo, Letícia, de 4 anos, e Maria Fernanda, de 2.

Na terça, ele já estava com febre de 40 graus. “À noite ele me telefonou e pediu para que eu o levasse de Piraju”, conta Valquíria. Ela, então, telefonou para o irmão mais velho, Nestor do Val Neto, que também é médico e trabalha em São Carlos. “Decidimos levá-lo para São Carlos onde ele poderia ser melhor atendido”, conta Valquíria.

Ele foi internado na Santa Casa de São Carlos antes das 8h, dia 1.o de abril. O quadro de saúde foi se agravando, mesmo com plaquetas, plasma e diálise. “A evolução foi muito rápida. Na quinta de manhãzinha ele já estava com insuficiência respiratória. Só foi piorando”, conta Valquíria. Na sexta-feira, Gustavo morreu por volta das 17 horas.

Desta vez o atestado foi assinado por Valquíria, uma vez que o hospital só forneceria o documento que atestasse a morte “por causas desconhecidas”. O hospital também se recusou a fazer biópsia do fígado do irmão. “Nós insistimos muito. Meu irmão Neto até se dispôs a fazer a biópsia, mas a direção do hospital disse que deveríamos procurar o SVO (Serviço de Verificação de Óbito) que fica em Ribeirão Preto. Eu não podia fazer isso com minha mãe, que tinha acabado de enterrar um filho”, explica Valquíria.

A doença
Doença febril aguda, com característica hemorrágica. Compromete o fígado, dá icterícia (por isso a cor amarelada). A definição é da médica infectologista responsável pelo Ambulatório de Viajantes do Hospital das Clínicas de São Paulo, Tânia Chaves.

Segundo ela, cerca de 40% a 60% das pessoas são imunes ao vírus da febre amarela, ou seja, podem ter a doença e passar despercebido, sem nenhum sintoma; 30% podem ter a doença de forma moderada, com febre, dor de cabeça, dor no corpo, mal estar e vômito; e 10% vão desenvolver a doença de forma greve. Pode chegar a 60% de letalidade.

A vacina é contra indicada para criança menor de seis meses; grávidas; pacientes em tratamento quimioterápico e com rádio; quem tem imunodeficiênia adquirida ou congênita, quem tem histórico de alergia a algum componente da vacina.

sexta-feira, março 27

A crueldade de Bahuan

Sentindo-se traído pela amada que se casou com o noivo indicado pela família, num momento de raiva Bahuan resolveu devolver a pulseira que havia ganhado de presente de Maya. A pulseira foi entregue por um emissário na frente de toda a família, sem remetente nem destinatário. Apenas Maya sabia do que se tratava. E sentiu-se humilhada. O sogro pensou tratar-se de um engano.

Sentindo o golpe, ela recolheu-se ao seu quarto. Foi duro demais. Para mim, Bahuan foi de uma crueldade descabida. Eu sempre torci para que Maya ficasse com Bahuan – mas é porque eu gosto mais do casal Raj-Duda. Então para dar certo Raj-Duda, Maya teria que ficar com Bahuan.

Mas esse gesto cruel me faz pensar que ela se livrou de um mal. Eu não confio nas pessoas que são capazes de gestos cruéis com a pessoa amada. A crueldade, para mim, deixa marcas que não se apagam jamais. E quem é capaz de ser cruel com quem ama é capaz de tudo. Eu até posso voltar a cumprimentar alguém que tenha sido cruel comigo, mas nunca mais vou confiar nessa pessoa. Não dá mais para acreditar em seus sentimentos.

A crueldade só se justifica se você quiser deixar claro para o outro o quanto ele lhe é indiferente e insignificante. E aí não se pode blefar. Porque não dá para ser cruel, e depois pedir desculpas, alegando que foi uma ação passional. Para mim, há limites até para a passionalidade.

Quando não existem limites, aí sim se mata por “amor”. Ou seja, quem acha possível agir com crueldade com o ser amado é até capaz de matá-lo. Não se mata por amor. Mata-se por egoísmo, por não admitir perder a pessoa amada. Porque quando se ama você é capaz de deixar o outro livre. Mesmo que isso doa bem fundo. Eu já perdi grandes amores. Já tive que arrancar a fórceps sentimentos de dentro de mim porque o outro não me queria mais. Mas esta grande dor que fica em quem é abandonado não lhe dá o direito de agir com crueldade ou de matar o ser amado.

Algumas pessoas costumam devolver presentes no final de uma relação. Eu não faço isso, mas acho aceitável. No entanto, quando ganhou a pulseira, Bahuan deu a ela um significado especial. Disse a Maya que aquela pulseira representava o elo de ligação entre eles. Com ela no pulso, ele nunca se sentiria longe de Maya. Se ele guardasse a pulseira na gaveta, ou até jogasse no lixo, eu entenderia. Ou então, numa discussão, que ele arrancasse a pulseira e jogasse em Maya, dizendo: “Nunca mais vou usar isso”. Eu também entenderia. Mas devolvê-la à casa da nova família da noiva foi muito humilhante. Isso não se faz.

Eu não acredito que haja coerência no perfil psicológico dos personagens da novela. Se houvesse, acredito que Bahuan ainda seria capaz de gestos piores. Mas como novela é novela, ele e Maya ainda serão muito felizes.

quinta-feira, março 26

O futebol verde

Ao chegar ao trabalho ontem, percebi que além de mim outras três colegas estavam com blusas de cor verde. Um dos chefes, que é corintiano, reclamou e disse brincando para trocarmos a roupa na hora do almoço. Eu pensei: ah, esses corintianos não suportam ver a cor do Palmeiras...

Meu chefe balbuciou alguma coisa sobre se o Londrina perdesse a culpa era nossa. Eu não entendi. De noite, meu filho voltou do jogo no VGD e contou que, apesar da vitória, o Londrina havia sido rebaixado para a terceira divisão.

Hoje, ao levá-lo para a escola, contei do comentário do chefe sobre o verde do Palmeiras. E meu filho, palmeirense: - Mãe, ele estava se referindo ao uniforme do Coritiba que rebaixou o Londrina!

Ai, essa minha ignorância futebolística não me permite entender algumas piadas...

segunda-feira, março 2

Idéias ou Ideias?

Putz, logo eu, que sempre fui boa aluna de português, agora tenho um blog mal acentuado. Demorei pra me tocar que agora tenho que ou trocar o nome do blog ou tirar o acento. Tenho até 2012 pra pensar...

Queria que todas as minhas dúvidas se resumissem a isso.

sexta-feira, fevereiro 27

Qual a medida do amor?

Imagem em http://www.erisson.com.br
Quando se ama alguém, a sensação é que os amores passados não chegam aos pés do novo amor.
E os futuros... Ah! Não existe amor possível no futuro quando se ama no presente.
É difícil medir o amor. Nos momentos arrebatadores, flutuamos, nada nos atinge...
Nos momentos de vazio, parece até que nem existe mais o amor!
E quando é preciso amar em silêncio?
Seguir em frente, assobiando, como se não amasse...
O melhor mesmo é amor com amasso!

terça-feira, fevereiro 17

De pertinho


Estava em Curitiba de passagem. Ia ficar apenas uma noite. Coincidentemente minha amiga Suzana também estava lá, já fazia alguns dias. Ela me avisou do show da Olivia byington, no Teatro da Caixa, a uma quadra do hotel onde eu estava.

Nos encontramos na porta. Ingressos esgotados. Mas eu sou tão cara-de-pau que o aviso de ingressos esgotados não me tira a esperança de ver o show. Tentei convencer o cara do Teatro a nos deixar entrar, se faltasse gente. Ele foi irredutível: - Quem comprou ingresso tem direito de chegar até a última hora...

Uma boa alma ouviu a conversa e ofereceu dois ingressos para nós. Ficamos numa felicidade! No palco, uma mulher linda, um cenário iluminado com velas, uma voz afinadíssima, um repertório maravilhoso. Tudo entremeado por histórias de sua vida que ela ia contando, assim como quem conversa com amigos. O nome do show é A Vida é Perto! E ela canta, assim, bem pertinho de cada um.

Eu assisti ao show sorrindo como quem recebe um presente. Os artistas são gentis! Compartilham com os outros suas dádivas e nos fazem mais felizes, mesmo que seja por alguns momentos. Obrigada!

segunda-feira, janeiro 26

Nur na escuridão

Emocionada, encerro a leitura de Nur na escuridão, do escritor catarinense Salim Miguel, que conta a história da família que veio do Líbano para o Brasil, em 1927, quando ele tinha três anos de idade. Nur é luz.

Salim Miguel é escritor premiado, reconhecido como grande pela crítica literária e autor de muitos outros livros. Este foi o primeiro dele que li. Fui fisgada logo nas primeiras linhas. Estava em uma livraria em São Paulo com alguns títulos de Salim Miguel. Tinha que escolher apenas um. Já não me lembro quais eram os outros - que ainda pretendo ler -, mas achei que devia começar com Nur na escuridão talvez porque aqui o escritor nos presenteia com sua origem.

Ele relata a linda história de amor de seus pais e a determinação de partir do Líbano, contrariando toda a família que fica, em busca de uma vida melhor. As dificuldades que enfrentam logo na viagem e durante toda a vida no Brasil me fazem pensar se a partida do Líbano os levou realmente a uma vida melhor. Mas foi o que escolheram. Nunca mais voltaram à terra natal.

Salim Miguel costura muito bem sua narrativa, num vaivém entre passado e presente. A história é apaixonante. Ele mostra como a vida é interessante mesmo nos cafundó. Revela o olhar de um menino atento que descobre personagens trágicos, engraçados, comuns, que talvez existem e não existem em qualquer lugar.

Os detalhes ajudam a compor personagens únicos, pessoas que às vezes nos parecem tão simples e tão comuns. Vai nos apresentando um a um aqueles que compuseram o universo de sua infância, sem fazer nenhum juízo de valor. Vamos descobrindo uma beleza intrínseca a cada um.

Nur na escuridão me fez voltar à minha infância, à convivência com tantos "turcos" que povoam Piraju até hoje. A leitura me fez visualizar a dona Latife, as famílias Cury, Sahyun, Assaf, José. Ah, as esfihas da dona Helena José. Tantos anos de convivência, tantos costumes repartidos e nunca me dei conta de imaginar quantas dificuldades talvez os antepassados dessas famílias passaram em busca de um mundo novo, tão distante no espaço e na cultura. O livro é realmente uma luz, que vai iluminando características de um povo tão presente entre nós.

Os pais de Salim Miguel poderiam ter aportado nos Estados Unidos - o primeiro destino sonhado - e com certeza teriam lá também construído sua família e sua história, mas teriam nos privado de um escritor tão fascinante.

quinta-feira, janeiro 15

As mulheres e os cabelos

Estava cinza a manhã na cidade grande. Desci no primeiro ponto após perceber que havia tomado um ônibus errado. Mas isso não fazia muita diferença porque eu não sabia ao certo que rumo tomar. Na verdade, queria era encontrar um rumo para o meu coração.

Caminhando a esmo, me deu uma vontade súbita de cortar os cabelos. Ignorei o fato de que não fazia ainda uma semana do último corte.

Quem sabe na cidade grande eu encontraria o corte ideal!

Entrei num salãozinho quase vazio. A cabeleireira começou a mexer nos meus fios, enquanto perguntava o que eu queria. Me mostrou aquelas revistas com cortes variados. A fala mansa me acariciava os ouvidos. Logo outra cabeleireira se aproximou e as duas fizeram uma avaliação do meu cabelo. Apontaram para mim duas alternativas.

Eu expliquei que na verdade estava com muita dúvida. Então, a primeira aconselhou: - Na dúvida, é melhor não cortar. E a outra, sábia, emendou: - Enquanto a gente não resolve o que se passa aqui (e apontou o próprio peito), não adianta mexer aqui (mostrou os cabelos). E ela deu exemplo: - Tem cada uma que chega aqui... Outro dia veio uma que havia cortado em casa a própria franja... Às vezes nem dá para arrumar.

Agradeci e saí com os mesmos cabelos com que havia entrado. E me senti um pouco mais confortada.