terça-feira, novembro 28

"QUEM TEM FAMA DEITA NA CAMA"


Guilherme Paccola


Ontem a mídia anunciou a morte de JECE VALADÃO, conhecido no filme mostrado ontem na GLOBO, denominado o CAFAJESTE, como sendo sua característica e ser tachado de machão. No Aurélio cafajeste significa ‘indivíduo de baixa condição’, ‘indivíduo sem maneiras, vulgar’, ‘indivíduo infame, desprezível’.

Coitado do JECE... pois anunciaram que ele participou de mais de 100 peças como ator, tanto no teatro, no cinema, como na televisão. Adoro ler e ver notícias e não me lembro de vê-lo envolvido em alguma confusão no dia-a-dia, muito menos alguma notícia de que agredira algum ser humano. Pelo contrário, fiquei até surpreso em saber que tivera 09 (nove) filhos.

Pelo seu histórico particular não senti cafajestada alguma. Pelo contrário, vi uma notícia que até se tornou evangélico e se redimiu ao assumir que foi ausente para com seus filhos. Ser ausente não é sinônimo de cafajeste. Nunca tive conhecimento nem o vi envolvido em nenhuma operação tipo sanguessuga, vampiro, muito menos com dinheiro sujo. O coitado ainda era portador de diabetes e sofria com problemas decorrentes do cigarro.

Não estou aqui para defendê-lo, pois todos temos telhado de vidro, mas apenas achei engraçado uma pessoa que não me parece ter feito mal algum à sociedade, a não ser a si mesmo (o que também não posso ter certeza disso), e ao morrer, ser intitulado ‘o cafajeste’. Vários reeleitos foram e são bem piores que ele, com certeza, e estão e estarão mais 04 anos nos representando como legisladores e punidores com suas metralhadoras denominadas CPIs.

segunda-feira, novembro 27

Transações monetárias na infância

Quando eu tinha 5 anos, meus irmãos mais velhos iam para a escola no período da tarde, e eu e minha irmã, de 4 anos, ficávamos em casa. Ainda havia um outro, de 2, que era muito pequeno para participar desse episódio.

Meu irmão de 10 anos tinha um cofrinho muito bonitinho. Era uma casinha. As moedas eram colocadas pela chaminé. Para tirar o dinheiro, era só abrir a portinha da casa com uma chave. Eu descobri essa chave.

Durante alguns dias, quando passava o sorveteiro na porta de casa, eu ia até o cofrinho, retivara umas moedas e comprava dois picolés: um pra mim e outro pra minha irmã. Até que chegou um dia em que o dinheiro só foi suficiente para um sorvete, que nós duas repartimos.

Era um sábado quando meu irmão descobriu que fora roubado. Ele chorou. E, inocentemente, contei que eu havia comprado sorvete com aquelas moedas. Minha mãe me deu um tapa rápido. Eu fiquei com pena do meu irmão. Mas eu tinha apenas 5 anos e não havia a menor possibilidade de ressarcimento.

Um tempo depois - eu devia ter uns 8 ou 9 anos, quando ganhei um maço de calendários. Hoje em dia não há mais calendários como aqueles. Eram pequenos. De bolso. De um lado, uma foto; do outro, a propaganda de alguma loja e um quadro com os meses do ano.

Era um maço grande. Acho que havia uns 50. Mostrei para meus dois irmãos, alguns anos mais velhos, e que colecionavam calendários. Logo eles fizeram uma proposta para comprar os meus. Eu aceitei.

Fui toda feliz mostrar para minha mãe o dinheiro que havia recebido com a venda. Ela olhou e disse: Esse dinheiro é antigo, não vale mais! (Provavelmente era dinheiro de alguma outra coleção dos meninos).

Eu fui lá reclamar meus direitos. Eles nem deram bola. Argumentaram que eu havia vendido e não tinha mais jeito.

Mais tarde um pouco, eu e minhas duas irmãs (com idades de 9 a 12, acredito) fomos convidadas pelo meu irmão, de 13, a participar de um clubinho que ele havia fundado. Tinha até uma musiquinha. Ele pegou uma música de um programa do Silvio Santos e colocou uma letra que dizia como o tal clubinho era bom.

Nós nos associamos e, obviamente, tínhamos que pagar uma mensalidade pra ele, que era o presidente. Devia ser uma mensalidade compatível com a nossa renda - algumas moedas. De qualquer modo, isso durou pouco. Nós percebemos a tempo que aquele clubinho era uma enganação e ficamos inadimplentes.

Ainda bem que nós crescemos e paramos de fazer esses negócios...

domingo, novembro 26

Cremes, cores e cheiros


Ao lado da cama, uma penteadeira. Ali, vários potes e tubos de cremes. De todas as formas, cores e cheiros. Uns, terapêuticos; outros, com funções estéticas. Todos os dias, após o banho, ela me pede para passar os cremes em seu corpo. Tem uma seqüência que eu nunca decoro, e que ela pacientemente repete a cada ritual.


Começamos pelo rosto, pote branco, cheiro de erva doce. Percorro a testa, as bochechas, o queixo, nariz e o pescoço. Depois, vamos para as pernas. Creme para circulação. Aproveito para massagear. Ela gosta.


Em seguida, os pés. Faço movimentos firmes. Começo pelos calcanhares, peito do pé, sola, dedos. Me detenho um pouco. Sei como é bom quando alguém nos massageia os pés.


Na hora dos braços, peito e costas, há duas opções: creme rosa, de morango, e marrom, de chocolate. Durante o dia, chocolate; antes de dormir, morango. Não é uma escolha aleatória. Ela explica: tem medo de dormir com o cheiro de chocolate no corpo e atrair algum bicho. Eu dou risada. Digo que os cremes não têm açúcar. Ela também ri. Acredita em mim. Mas prefere não arriscar.


Hoje temos um novo creme: arnica com mentol. Para pernas e pés. Eu sugiro aguardar que os outros acabem para começar este. Ela pergunta: Será? Eu cedo ao seu apelo: Afinal, por que resistir àquele gel, de um verde claro translúcido tão refrescante?

(Imagem: Lúcia Marques - título Figura Feminina)

sábado, novembro 25

Niemeyer X Liberdade


Depois dessas manifestações chamando o Niemeyer de stalinista, fui conferir se existem declarações dele sobre o regime de Stalin. Confesso que fiquei estarrecida porque realmente, por trechos de entrevista que encontrei na internet, vi que ele concorda com as execuções levadas a cabo tanto por Stalin, como por Fidel. Ele chegou a declarar que Stalin foi um homem fantástico e que os fuzilamentos que ordenou foram necessários... O mesmo disse com relação a Fidel. Estou boquiaberta! Sinceramente, eu achei que quando diziam que Niemeyer era stalinista fosse uma forma de ofendê-lo. Quero deixar claro que considero abominável qualquer forma de violência contra quem quer que seja, simplesmente por pensar diferente. E, portanto, discordo totalmente de Niemeyer. Caramba! Mas eu continuo gostando dos prédios da Catedral, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional...

domingo, novembro 19

"A vida é um sopro"



Leio na Folha que Niemeyer, às vésperas de completar 99 anos, acaba de se casar com sua secretária, de 60 anos, que trabalha pra ele há 30. O jornal conta ainda que o casamento de Oscar Niemeyer com sua primeira mulher durou 76 anos, até a morte dela.

Então me lembrei do documentário A vida é um sopro, sobre a vida de Niemeyer, que foi o filme escolhido para a abertura do Festival de Cinema de Brasília no ano passado.

No documentário, Niemeyer conta com muita simplicidade como concebeu alguns de seus vários projetos que viraram grandes monumentos no mundo todo: as inúmeras obras de Brasília, a sede da ONU em Nova York e muitos outros. Rascunhava num papel as curvas, as colunas, os arcos que marcam seu trabalho. Ele contava tudo, que idéias tinha quando pensava num projeto. Falava de um jeito que dava até a impressão que aquilo tudo era muito fácil.

O documentário revela um homem que conseguiu ao longo de sua vida colocar no concreto, literalmente, idéias que uniam estética e funcionalidade. O seu modo de ver o mundo se faz presente em cada projeto que desenha. Ele vê seu ofício como função social, quer projetar espaços que aproximem os homens.

Reconhecido mundialmente como um dos maiores arquitetos modernos, o Niemeyer que se mostra no documentário é um homem simples, fiel às suas crenças, muito lúcido diante dos problemas que afligem a humanidade. Reconhece que não passou de um sonho uma Brasília, sem muros, que integrasse ricos e pobres. No entanto, para ele, o sonho é fundamental para a vida, apesar da fragilidade do ser humano.

Ateu e comunista, concebeu vários templos religiosos. Numa entrevista, disse que ao projetar uma igreja sempre pensa nos que crêem em Deus e ali se recolhem cheios de esperança. Quando desenhou a Catedral de Brasília - belíssima, na minha opinião - imaginou que os espaços transparentes entre os vitrais que cobrem a igreja deveriam servir para que os mais devotos sentissem ali a presença de Deus.

Quando saí da sessão no Teatro Nacional, fiquei pensando na frase dita por Niemeyer e que dá o título ao documentário: "A vida é um sopro". Além do domínio técnico sobre seu trabalho, Niemeyer é movido pela paixão pela arquitetura, pela busca da beleza. "Minha paixão é criar. Desfruto da arquitetura e faço o que gosto. Não concebo nem busco uma arquitetura ideal. O dia em que existir uma só arquitetura, será o reino da monotonia e da repetição. Não quero saber a opinião dos outros sobre meu trabalho. Eu creio na intuição, minha arquitetura é uma proposta baseada na intuição".

terça-feira, novembro 7

Barbeiragem 3: A Lembrança


Este post é dedicado ao Rafael, que me deu a primeira frase para contar essa história:

Lá pelos idos de 2005, mais precisamente no mês de maio, eu andava exausta de tanto trabalhar. Todos os dias, eu ultrapassava em muito a minha jornada de 8 horas. O motivo era um relatório que minha equipe tinha que terminar num prazo apertadíssimo. Num final de semana, extrapolamos. Trabalhamos sexta até as 23h; sábado e domingo, de manhã, de tarde e de noite.

Na segunda-feira, logo cedo eu já estava a caminho do trabalho. O trânsito de Brasília, para quem mora no Plano Piloto, é muito tranqüilo. Raramente há congestionamentos. O trajeto da 109 Norte, onde eu morava, para o Conic, prédio do meu ex-emprego, era percorrido em sete ou oito minutos.

Eu estava saindo da quadra e aguardava uma brecha para entrar na via W, chamada de eixinho, que é preferencial. Quando vi que o trânsito estava liberado, acelerei e... o carro não andava. Imediatamente eu pensei: Nossa, será que estou com o freio de mão puxado? Verifiquei e estava tudo certo. Acelerei de novo, sem sucesso. Isso tudo ocorreu em segundos.

Quando olhei adiante, vi que havia um carro parado bem na minha frente, que também ia pegar o eixinho. Aí eu percebi que as tentativas de fazer meu carro andar foram frustradas porque aquele bendito veículo estava segurando o meu. Ou seja, a cada acelerada, eu empurrava o carro da frente.

Olhei para a cara do motorista, que estava muito bravo. Com toda razão. Então, eu fiz aquela expressão de "sinto muito" e fiz alguns gestos pedindo desculpas. O homem estava enfurecido. Eu juntei as mãos implorando desculpas. Ele gesticulava me mandando à merda (eu acho).

Aí ele deu um espacinho, eu o ultrapassei e entrei no eixinho. Entendi essa atitude dele como: Sua louca, está com pressa? Então, pode ir! Fiquei observando pelo retrovisor. Ele entrou na via e, logo que apareceu um recuo, parou o carro para observar se havia algum estrago.

Eu sabia que não. Afinal, foram só uns empurrõezinhos. Mas, então, caiu minha ficha que quando ele deu aquele espaço era para que nós dois descêssemos para verificar o que tinha acontecido. Ele deve ter me xingado muito. E eu caí no choro.

Quando contei no trabalho, todo mundo riu muito. Eu nunca consegui descrever que carro era. Só sei que era preto e importado. Uns queriam saber a marca e o modelo. Mas, caramba, se eu não fui capaz nem de ver que havia um carro à frente, imagine se eu vou saber esses detalhes...

quarta-feira, novembro 1

Barbeiragem 2: O Retorno!

Fui com meu filho à rodoviária comprar passagem. Aí, tava ali mesmo, resolvemos tomar suco lá naquela casa de suco que é famosa. Depois de 22 minutos contados no relógio - e uma reclamaçãozinha pra atendente que não me deu a mínima - o suco ficou pronto.


Como eu sou uma mulher que gosta de reclamar fui até o balcão formalizar a queixa, uma vez que saquei que a mocinha não ia transmitir meu recado. Repeti: "Olhe, eu fiquei 22 minutos esperando. Acho que é tempo demais para um suco ficar pronto."

A outra mocinha, que anota os pedidos, justifica: "Ah, é que tinha muita gente na sua frente. Eu retruquei: Nesse caso, você deve avisar antes."

Pra piorar o meu humor, a dona do quiosque se defende: "O nosso suco demora mesmo e os nossos clientes já sabem disso". Eu, como sou chata, vou adiante: "Pois é. Mas numa rodoviária onde passa gente de tudo quanto é canto seria bom vocês avisarem da demora". E ela, mais chata ainda: "É, mas a maior parte de nossa clientela é da cidade mesmo e eles sempre sabem". Eu digo que também sou da cidade e vou embora – prometendo a mim mesma nunca mais beber daquele suco.

Na hora de pagar o estacionamento, faço confusão com o dinheiro e digo pro Nicolas: "Nossa, eu estou muito passada".

Vinte metros depois, enfio o carro naqueles obstáculos amarelos, fazendo um barulho estrondoso. 19h30. Rodoviária cheia. Todo mundo olha. Desço do carro, pneu estourado. Aparecem uns quatro taxistas para ajudar. Empurram daqui, dali, mas o carro não sai do lugar. E interditou a única pista de saída do estacionamento. Os funcionários da rodoviária arrumam um desvio.

Os taxistas me aconselham a chamar o guincho. E desaparecem. Lá vem o funcionário da rodoviária e me avisa: "Precisa tirar o carro. A senhora está vendo o transtorno que está causando?" Eu não o mando à merda, mas digo: "O senhor deve imaginar que não é de propósito, né?"

Aparecem outros dois ao lado dele. Enquanto eu tento, em vão, encontrar o telefone do corretor de seguros, eles pegam o macaco, o estepe e trocam o pneu. Fico agradecida pela gentileza. Peço desculpas pelo nervosismo.

Logo chega uma amiga a quem havia pedido socorro. Ela não faz idéia de como esse gesto é capaz de compensar as indelicadezas anteriores. Nem fico com raiva de mim mesma. Obrigada, Marília.