quarta-feira, dezembro 20

Jogo rápido

(foto de Piraju, minha cidade do coração)

Hoje eu fiquei com pena da Renata Sorrah. Além de ter o filho seqüestrado e um marido banana, teve que agüentar as palavras de consolo da Regina Duarte e daquela chata da personagem da Deborah Evelyn. Credo! Ninguém merece essa vizinhança.

Eu bem que me esforcei pra sair hoje. Afastei todos os pensamentos que tentavam me convencer a ficar em casa, caprichei no visual, passei perfume, mas quando eu cheguei à garagem notei que estava chovendo... Peguei o elevador de volta, sem o menor constrangimento. Insistir em sair seria ir contra a natureza. Eba! Adoro ficar em casa quando está chovendo...

Piraju é uma linda cidade. Perfeita pra descansar. Em três dias, três livros: Os Jornalistas (Balzac), chato de ler; O Segredo de Joe Gould (de um jornalista americano, que conta a história de um mendigo de Nova York - muito bem escrito); e Canto dos Malditos (que deu origem ao filme Bicho de 7 Cabeças).

Quando assisti ao filme, eu tinha a sensação de estar levando um soco no estômago. O livro parece que foi escrito numa sentada só, como se o autor estivesse contando oralmente o inferno que viveu nos manicômios. Tudo bem que cada um carrega suas dores na vida, mas algumas pessoas passam por situações de sofrimento tão grande que fogem à nossa compreensão.

Em Piraju, nadei dois dias seguidos no rio Paranapanema. Gelado de arrepiar. É o rio da minha infância. Lindo ele. Quando eu estava na quinta série, houve uma tentativa de uma fábrica de celulose, a Braskraft, se instalar na cidade. Lembro que na escola tomamos conhecimento de que aquela fábrica iria poluir o rio. Houve uma grande mobilização na cidade para impedir a vinda da fábrica. Fizemos cartazes. Só sei que a Braskraft teve que procurar outro lugar. Será que foi nesse episódio que aprendi a me rebelar?

Amanhã volto pra Piraju e pro Paranapanema. Londrina, só em 2007.

domingo, dezembro 10

Dois fimes e um comercial

Assisti esta semana ao filme Os Infiltrados, de Scorsese. Como eu não gosto de filmes com gente que mata e morre o tempo todo, confesso que fiquei surpresa. O filme é ótimo, mesmo que em algumas cenas de violência eu tenha fechado meus olhos. É infinitamente melhor do que Gangues de Nova York, do mesmo Scorsese, e do qual eu não gostei.


Em Os Infiltrados, você vê polícia e bandidos usando os mesmos métodos nojentos pra chegar onde se quer chegar. Como na vida real. E se dá conta de que as instituições, de modo geral, sempre consideram suas causas melhores que as dos outros para justificar suas ações. Vale tudo quando se está do lado certo. O final é inesperado.


Jack Nicholson, quase setentão, continua lindo e charmoso, além obviamente de ser ótimo ator. E Leonardo diCaprio está muito bem. Esse menino me surpreendeu já em Prenda-me se for capaz. Conseguiu se dissociar da imagem de bom moço, com cara de anjo (argh!), que arrancou suspiros e gritinhos das mocinhas em Titanic.


Também conferi Crash – No Limite, que ganhou Oscar de melhor filme em 2006. Perdi no cinema, mas vi em DVD. Adorei. Sem ser piegas, mostra o quanto a intolerância está impregnada nas vidas de todos nós, brancos, negros, árabes. E o quanto nos afastamos de nossa humanidade por conta dos medos que temos do que nos é estranho, embora esse estranho seja um igual. São várias histórias contadas de tal forma que é difícil prever o desenrolar de cada uma.


Para concluir, a propaganda da Schincariol que mostra uma mulher que vai consultar um guru para saber como agir diante da traição do marido (aquela do colarinho sujo de batom) é uma das mais idiotas que já vi nos últimos tempos. Fico cá pensando que um publicitário tem que ser muito idiota para “bolar” uma propaganda como aquela. É um atentado à inteligência e ao bom senso de qualquer pessoa. Talvez seja pra combinar com a cerveja Schincariol, que também é um atentado ao bom gosto. Ainda bem que no cinema não tem propaganda no meio dos filmes...

terça-feira, novembro 28

"QUEM TEM FAMA DEITA NA CAMA"


Guilherme Paccola


Ontem a mídia anunciou a morte de JECE VALADÃO, conhecido no filme mostrado ontem na GLOBO, denominado o CAFAJESTE, como sendo sua característica e ser tachado de machão. No Aurélio cafajeste significa ‘indivíduo de baixa condição’, ‘indivíduo sem maneiras, vulgar’, ‘indivíduo infame, desprezível’.

Coitado do JECE... pois anunciaram que ele participou de mais de 100 peças como ator, tanto no teatro, no cinema, como na televisão. Adoro ler e ver notícias e não me lembro de vê-lo envolvido em alguma confusão no dia-a-dia, muito menos alguma notícia de que agredira algum ser humano. Pelo contrário, fiquei até surpreso em saber que tivera 09 (nove) filhos.

Pelo seu histórico particular não senti cafajestada alguma. Pelo contrário, vi uma notícia que até se tornou evangélico e se redimiu ao assumir que foi ausente para com seus filhos. Ser ausente não é sinônimo de cafajeste. Nunca tive conhecimento nem o vi envolvido em nenhuma operação tipo sanguessuga, vampiro, muito menos com dinheiro sujo. O coitado ainda era portador de diabetes e sofria com problemas decorrentes do cigarro.

Não estou aqui para defendê-lo, pois todos temos telhado de vidro, mas apenas achei engraçado uma pessoa que não me parece ter feito mal algum à sociedade, a não ser a si mesmo (o que também não posso ter certeza disso), e ao morrer, ser intitulado ‘o cafajeste’. Vários reeleitos foram e são bem piores que ele, com certeza, e estão e estarão mais 04 anos nos representando como legisladores e punidores com suas metralhadoras denominadas CPIs.

segunda-feira, novembro 27

Transações monetárias na infância

Quando eu tinha 5 anos, meus irmãos mais velhos iam para a escola no período da tarde, e eu e minha irmã, de 4 anos, ficávamos em casa. Ainda havia um outro, de 2, que era muito pequeno para participar desse episódio.

Meu irmão de 10 anos tinha um cofrinho muito bonitinho. Era uma casinha. As moedas eram colocadas pela chaminé. Para tirar o dinheiro, era só abrir a portinha da casa com uma chave. Eu descobri essa chave.

Durante alguns dias, quando passava o sorveteiro na porta de casa, eu ia até o cofrinho, retivara umas moedas e comprava dois picolés: um pra mim e outro pra minha irmã. Até que chegou um dia em que o dinheiro só foi suficiente para um sorvete, que nós duas repartimos.

Era um sábado quando meu irmão descobriu que fora roubado. Ele chorou. E, inocentemente, contei que eu havia comprado sorvete com aquelas moedas. Minha mãe me deu um tapa rápido. Eu fiquei com pena do meu irmão. Mas eu tinha apenas 5 anos e não havia a menor possibilidade de ressarcimento.

Um tempo depois - eu devia ter uns 8 ou 9 anos, quando ganhei um maço de calendários. Hoje em dia não há mais calendários como aqueles. Eram pequenos. De bolso. De um lado, uma foto; do outro, a propaganda de alguma loja e um quadro com os meses do ano.

Era um maço grande. Acho que havia uns 50. Mostrei para meus dois irmãos, alguns anos mais velhos, e que colecionavam calendários. Logo eles fizeram uma proposta para comprar os meus. Eu aceitei.

Fui toda feliz mostrar para minha mãe o dinheiro que havia recebido com a venda. Ela olhou e disse: Esse dinheiro é antigo, não vale mais! (Provavelmente era dinheiro de alguma outra coleção dos meninos).

Eu fui lá reclamar meus direitos. Eles nem deram bola. Argumentaram que eu havia vendido e não tinha mais jeito.

Mais tarde um pouco, eu e minhas duas irmãs (com idades de 9 a 12, acredito) fomos convidadas pelo meu irmão, de 13, a participar de um clubinho que ele havia fundado. Tinha até uma musiquinha. Ele pegou uma música de um programa do Silvio Santos e colocou uma letra que dizia como o tal clubinho era bom.

Nós nos associamos e, obviamente, tínhamos que pagar uma mensalidade pra ele, que era o presidente. Devia ser uma mensalidade compatível com a nossa renda - algumas moedas. De qualquer modo, isso durou pouco. Nós percebemos a tempo que aquele clubinho era uma enganação e ficamos inadimplentes.

Ainda bem que nós crescemos e paramos de fazer esses negócios...

domingo, novembro 26

Cremes, cores e cheiros


Ao lado da cama, uma penteadeira. Ali, vários potes e tubos de cremes. De todas as formas, cores e cheiros. Uns, terapêuticos; outros, com funções estéticas. Todos os dias, após o banho, ela me pede para passar os cremes em seu corpo. Tem uma seqüência que eu nunca decoro, e que ela pacientemente repete a cada ritual.


Começamos pelo rosto, pote branco, cheiro de erva doce. Percorro a testa, as bochechas, o queixo, nariz e o pescoço. Depois, vamos para as pernas. Creme para circulação. Aproveito para massagear. Ela gosta.


Em seguida, os pés. Faço movimentos firmes. Começo pelos calcanhares, peito do pé, sola, dedos. Me detenho um pouco. Sei como é bom quando alguém nos massageia os pés.


Na hora dos braços, peito e costas, há duas opções: creme rosa, de morango, e marrom, de chocolate. Durante o dia, chocolate; antes de dormir, morango. Não é uma escolha aleatória. Ela explica: tem medo de dormir com o cheiro de chocolate no corpo e atrair algum bicho. Eu dou risada. Digo que os cremes não têm açúcar. Ela também ri. Acredita em mim. Mas prefere não arriscar.


Hoje temos um novo creme: arnica com mentol. Para pernas e pés. Eu sugiro aguardar que os outros acabem para começar este. Ela pergunta: Será? Eu cedo ao seu apelo: Afinal, por que resistir àquele gel, de um verde claro translúcido tão refrescante?

(Imagem: Lúcia Marques - título Figura Feminina)

sábado, novembro 25

Niemeyer X Liberdade


Depois dessas manifestações chamando o Niemeyer de stalinista, fui conferir se existem declarações dele sobre o regime de Stalin. Confesso que fiquei estarrecida porque realmente, por trechos de entrevista que encontrei na internet, vi que ele concorda com as execuções levadas a cabo tanto por Stalin, como por Fidel. Ele chegou a declarar que Stalin foi um homem fantástico e que os fuzilamentos que ordenou foram necessários... O mesmo disse com relação a Fidel. Estou boquiaberta! Sinceramente, eu achei que quando diziam que Niemeyer era stalinista fosse uma forma de ofendê-lo. Quero deixar claro que considero abominável qualquer forma de violência contra quem quer que seja, simplesmente por pensar diferente. E, portanto, discordo totalmente de Niemeyer. Caramba! Mas eu continuo gostando dos prédios da Catedral, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional...

domingo, novembro 19

"A vida é um sopro"



Leio na Folha que Niemeyer, às vésperas de completar 99 anos, acaba de se casar com sua secretária, de 60 anos, que trabalha pra ele há 30. O jornal conta ainda que o casamento de Oscar Niemeyer com sua primeira mulher durou 76 anos, até a morte dela.

Então me lembrei do documentário A vida é um sopro, sobre a vida de Niemeyer, que foi o filme escolhido para a abertura do Festival de Cinema de Brasília no ano passado.

No documentário, Niemeyer conta com muita simplicidade como concebeu alguns de seus vários projetos que viraram grandes monumentos no mundo todo: as inúmeras obras de Brasília, a sede da ONU em Nova York e muitos outros. Rascunhava num papel as curvas, as colunas, os arcos que marcam seu trabalho. Ele contava tudo, que idéias tinha quando pensava num projeto. Falava de um jeito que dava até a impressão que aquilo tudo era muito fácil.

O documentário revela um homem que conseguiu ao longo de sua vida colocar no concreto, literalmente, idéias que uniam estética e funcionalidade. O seu modo de ver o mundo se faz presente em cada projeto que desenha. Ele vê seu ofício como função social, quer projetar espaços que aproximem os homens.

Reconhecido mundialmente como um dos maiores arquitetos modernos, o Niemeyer que se mostra no documentário é um homem simples, fiel às suas crenças, muito lúcido diante dos problemas que afligem a humanidade. Reconhece que não passou de um sonho uma Brasília, sem muros, que integrasse ricos e pobres. No entanto, para ele, o sonho é fundamental para a vida, apesar da fragilidade do ser humano.

Ateu e comunista, concebeu vários templos religiosos. Numa entrevista, disse que ao projetar uma igreja sempre pensa nos que crêem em Deus e ali se recolhem cheios de esperança. Quando desenhou a Catedral de Brasília - belíssima, na minha opinião - imaginou que os espaços transparentes entre os vitrais que cobrem a igreja deveriam servir para que os mais devotos sentissem ali a presença de Deus.

Quando saí da sessão no Teatro Nacional, fiquei pensando na frase dita por Niemeyer e que dá o título ao documentário: "A vida é um sopro". Além do domínio técnico sobre seu trabalho, Niemeyer é movido pela paixão pela arquitetura, pela busca da beleza. "Minha paixão é criar. Desfruto da arquitetura e faço o que gosto. Não concebo nem busco uma arquitetura ideal. O dia em que existir uma só arquitetura, será o reino da monotonia e da repetição. Não quero saber a opinião dos outros sobre meu trabalho. Eu creio na intuição, minha arquitetura é uma proposta baseada na intuição".

terça-feira, novembro 7

Barbeiragem 3: A Lembrança


Este post é dedicado ao Rafael, que me deu a primeira frase para contar essa história:

Lá pelos idos de 2005, mais precisamente no mês de maio, eu andava exausta de tanto trabalhar. Todos os dias, eu ultrapassava em muito a minha jornada de 8 horas. O motivo era um relatório que minha equipe tinha que terminar num prazo apertadíssimo. Num final de semana, extrapolamos. Trabalhamos sexta até as 23h; sábado e domingo, de manhã, de tarde e de noite.

Na segunda-feira, logo cedo eu já estava a caminho do trabalho. O trânsito de Brasília, para quem mora no Plano Piloto, é muito tranqüilo. Raramente há congestionamentos. O trajeto da 109 Norte, onde eu morava, para o Conic, prédio do meu ex-emprego, era percorrido em sete ou oito minutos.

Eu estava saindo da quadra e aguardava uma brecha para entrar na via W, chamada de eixinho, que é preferencial. Quando vi que o trânsito estava liberado, acelerei e... o carro não andava. Imediatamente eu pensei: Nossa, será que estou com o freio de mão puxado? Verifiquei e estava tudo certo. Acelerei de novo, sem sucesso. Isso tudo ocorreu em segundos.

Quando olhei adiante, vi que havia um carro parado bem na minha frente, que também ia pegar o eixinho. Aí eu percebi que as tentativas de fazer meu carro andar foram frustradas porque aquele bendito veículo estava segurando o meu. Ou seja, a cada acelerada, eu empurrava o carro da frente.

Olhei para a cara do motorista, que estava muito bravo. Com toda razão. Então, eu fiz aquela expressão de "sinto muito" e fiz alguns gestos pedindo desculpas. O homem estava enfurecido. Eu juntei as mãos implorando desculpas. Ele gesticulava me mandando à merda (eu acho).

Aí ele deu um espacinho, eu o ultrapassei e entrei no eixinho. Entendi essa atitude dele como: Sua louca, está com pressa? Então, pode ir! Fiquei observando pelo retrovisor. Ele entrou na via e, logo que apareceu um recuo, parou o carro para observar se havia algum estrago.

Eu sabia que não. Afinal, foram só uns empurrõezinhos. Mas, então, caiu minha ficha que quando ele deu aquele espaço era para que nós dois descêssemos para verificar o que tinha acontecido. Ele deve ter me xingado muito. E eu caí no choro.

Quando contei no trabalho, todo mundo riu muito. Eu nunca consegui descrever que carro era. Só sei que era preto e importado. Uns queriam saber a marca e o modelo. Mas, caramba, se eu não fui capaz nem de ver que havia um carro à frente, imagine se eu vou saber esses detalhes...

quarta-feira, novembro 1

Barbeiragem 2: O Retorno!

Fui com meu filho à rodoviária comprar passagem. Aí, tava ali mesmo, resolvemos tomar suco lá naquela casa de suco que é famosa. Depois de 22 minutos contados no relógio - e uma reclamaçãozinha pra atendente que não me deu a mínima - o suco ficou pronto.


Como eu sou uma mulher que gosta de reclamar fui até o balcão formalizar a queixa, uma vez que saquei que a mocinha não ia transmitir meu recado. Repeti: "Olhe, eu fiquei 22 minutos esperando. Acho que é tempo demais para um suco ficar pronto."

A outra mocinha, que anota os pedidos, justifica: "Ah, é que tinha muita gente na sua frente. Eu retruquei: Nesse caso, você deve avisar antes."

Pra piorar o meu humor, a dona do quiosque se defende: "O nosso suco demora mesmo e os nossos clientes já sabem disso". Eu, como sou chata, vou adiante: "Pois é. Mas numa rodoviária onde passa gente de tudo quanto é canto seria bom vocês avisarem da demora". E ela, mais chata ainda: "É, mas a maior parte de nossa clientela é da cidade mesmo e eles sempre sabem". Eu digo que também sou da cidade e vou embora – prometendo a mim mesma nunca mais beber daquele suco.

Na hora de pagar o estacionamento, faço confusão com o dinheiro e digo pro Nicolas: "Nossa, eu estou muito passada".

Vinte metros depois, enfio o carro naqueles obstáculos amarelos, fazendo um barulho estrondoso. 19h30. Rodoviária cheia. Todo mundo olha. Desço do carro, pneu estourado. Aparecem uns quatro taxistas para ajudar. Empurram daqui, dali, mas o carro não sai do lugar. E interditou a única pista de saída do estacionamento. Os funcionários da rodoviária arrumam um desvio.

Os taxistas me aconselham a chamar o guincho. E desaparecem. Lá vem o funcionário da rodoviária e me avisa: "Precisa tirar o carro. A senhora está vendo o transtorno que está causando?" Eu não o mando à merda, mas digo: "O senhor deve imaginar que não é de propósito, né?"

Aparecem outros dois ao lado dele. Enquanto eu tento, em vão, encontrar o telefone do corretor de seguros, eles pegam o macaco, o estepe e trocam o pneu. Fico agradecida pela gentileza. Peço desculpas pelo nervosismo.

Logo chega uma amiga a quem havia pedido socorro. Ela não faz idéia de como esse gesto é capaz de compensar as indelicadezas anteriores. Nem fico com raiva de mim mesma. Obrigada, Marília.

terça-feira, outubro 31

Dê a resposta certa!

Nada como passar boa parte do horário comercial em casa para ser alvo de pesquisas. Nesses quase seis meses de volta a Londrina, já fui ouvida por três pesquisadores. Dois estavam interessados em saber para quem iriam meus votos.

E uma moça ligou com uma pauta sobre um determinado supermercado da cidade. Ficamos uns bons cinco minutos ao telefone: ela, com suas perguntas precisas, e eu, louca para dar minha opinião sobre disposição de produtos, atendimento, fila e falta de balança para pesar frutas no caixa.

Bem, foi a primeira vez que pude fazer muitas críticas sobre um determinado serviço sem ter que ouvir do outro lado pedidos de desculpas ou justificativas. E ela nem ficou ofendida.

Agora, estou terminando um frila (trabalho temporário) sobre uma pesquisa Top de Marcas. É por isso que ando sem tempo para escrever neste blog.

Fico pensando que a glória para um entrevistado é responder o Top de Marcas. São mais de 70 itens, entre produtos e serviços, em que você tem que dizer o primeiro nome que lhe vem à cabeça.

No começo, imagino que o alvo titubeie. Depois, ele acaba se rendendo, como se fosse um jogo. Antes que o outro termine a pergunta, ele já apresenta a resposta. E deve voltar pra casa se perguntando por que diabos citou aquela marca de cerveja que ele detesta ou então falou de um sabão em pó que ele nem compra por causa do preço?

O pior é que nunca vou poder participar da brincadeira. Se um dia um pesquisador me parar na rua com uma pesquisa dessas, eu vou ter que me considerar impedida porque agora eu já decorei todas as marcas vencedoras.

Imagem: www.verbo21.com.br

sexta-feira, outubro 13

A difícil arte de entender futebol

Raramente assisto a jogos de futebol. Só em Copas do Mundo. Meu filho adora futebol. Ele nasceu durante a Copa de 1994, que foi nos Estados Unidos, quando o Brasil ganhou da Itália nos pênaltis. E a seleção brasileira era horrível. Jogou mal pra burro na Copa. Eu só sou capaz de me lembrar desses dados, sem dar nenhuma busca no Google, justamente porque eu estava nos dias pra ganhar bebê. E como não se ganha bebê, assim, todos os anos, eu guardo com alguma precisão fatos que ocorreram naqueles meses.


Esse primeiro parágrafo foi puro exibicionismo. É que eu sempre acho o máximo como os rapazes guardam informações relacionadas a futebol. Eles sabem contar com detalhes um gol feito não sei quanto tempo atrás. Eles sabem dizer que a jogada começou por tal jogador, que passou a bola não sei de que jeito pra outro, que driblou não sei quantos outros ainda, até pegar o goleiro de calças curtas (bem, eles sempre estão de calças curtas...).


Na Folha de Londrina, quando eu editava uma seção do jornal que ia para as escolas, às sextas-feiras eu passava em todas as editorias para definir qual fato da semana havia sido mais interessante para mostrar pra garotada. E aí eu tinha que fazer alguns links entre a notícia e acontecimentos históricos para que a escola pudesse trabalhar os temas de forma mais contextualizada. Adorava fazer isso.


Sem dúvida, o mais divertido era conversar com o povo do Esporte. Aqueles meninos sabiam tudo, sobre todos os times, todas as escalações, todos os jogadores, todos os campeonatos, todos os resultados. Eles eram enciclopédias ambulantes sobre futebol.


Estou contando tudo isso só pra dizer que hoje de manhã meu filho me chamou para ver na tevê uma partida de futsal entre o Brasil e o Timor Leste. Eu não demonstrei nenhum interesse em ver tal jogo até ele me dizer que os brasileiros estavam ganhando de 61 a zero. Eu não acreditei e resolvi parar pra ver. E era verdade.


Os brasileiros golearam, sem dó nem piedade, os timorenses. O placar final foi de 76 a zero. Do momento em que me sentei no sofá até o encerramento da partida, eu passei por uma ampla variação de sentimentos e até agora eu não consegui definir qual foi minha opinião sobre esse jogo.


Primeiro, minha curiosidade inicial transformou-se em indignação. Afinal, como os brasileiros não deram trégua nenhum segundo, eu fiquei achando que eles estavam humilhando os timorenses. Eu disse ao meu filho que, se eu fosse jogador timorense, já teria deixado o campo havia tempo.


Mas, a cada gol marcado, o narrador brasileiro dizia que a equipe do Timor também marcava um ponto por seu espírito esportivo. Isso me causou certa irritação. Como assim: espírito esportivo? E deduzi que talvez “espírito esportivo” seja agüentar firme a derrota, sem sair correndo, nem derramar uma lágrima. Ou seja, talvez eu não tivesse esse espírito esportivo evocado pelo narrador.


Depois, comecei a reclamar que os brasileiros poderiam relaxar mais e deixar os timorenses fazerem um gol. Sempre me compadeço dos perdedores. Obviamente que, a essa altura, eu já estava torcendo pra eles. Fiquei imaginando que seria o gol mais comemorado da face da Terra. Meu filho explicou que os timorenses não iam gostar se o Brasil fizesse corpo mole porque, aí sim, se sentiriam menosprezados.


Passei, então, a ponderar que talvez, para os timorenses, jogar contra o Brasil fosse uma grande oportunidade de aprender mais sobre futebol, sobre dribles e sobre gols. E, no final, comecei a questionar se não deveria haver uma regra que determinasse que, quando o placar chegasse a 50 a zero, ou algo assim, poderia ser perguntado aos dois times se eles concordariam com o encerramento da partida. Isso acabaria logo com o sofrimento.


Ou seja, é muito difícil entender um jogo de futebol. É claro que eu não sou capaz de descrever como é que foi feito nenhunzinho dos gols a que assisti ou de dizer o nome de apenas um jogador nosso, o artilheiro, por exemplo. Eu queria é estar sentada ali ao lado da ilha de Esportes e ouvir os comentários dos meus colegas.

Foto publicada no site www.futsal.terra.com.br.

sábado, outubro 7

Simplesmente, a vida!

Tem dias que a vida é uma bosta. E tem outros que, mesmo sem motivo aparente, transcorrem de tal modo que quase te convencem de que a felicidade existe. Logo cedo já fiquei animadinha com o calor. Sempre acho que nasci para viver no verão. Até levei, sem reclamar, meu filho ao camelódromo. Como uma verdadeira Poliana, enquanto ele escolhia games, aproveitei e fui logo ali ao lado tomar a melhor vitamina de Londrina.

Mais tarde, nem o almoço feito por mim foi capaz de tirar o meu bom-humor. Resolvi ligar a tevê e estava começando o filme Bossa Nova, inédito para mim. O Antônio Faguntes (lindo como sempre) redescobre a paixão com a atriz americana Amy Irving. Pronto! Fiquei toda sorridente com o final feliz.

Às 16h, fui sozinha ao shopping ver O diabo veste Prada. De novo, adorei o filme. O meu lado Poliana me pegou mesmo hoje. Me identifiquei bastante com a mocinha e me lembrei de quando decidi pedir demissão da Folha de S. Paulo que, ainda no começo da profissão, julgava ser o melhor emprego do mundo. E fui repassando todas as escolhas feitas até agora que, muitas vezes, aos olhos dos outros, parecem insanas e, no entanto, fazem todo sentido para mim.

E não é que no céu ainda despontou uma linda e cheia lua? Há dias em que realmente a vida vale a pena!

segunda-feira, outubro 2

Segundo turno

Eu havia prometido a mim mesma não me manifestar sobre as eleições deste ano. Minha intenção era anular meu voto porque não queria fazer concessão a nenhum candidato. Uma viagem rápida resolveu meu problema. Justifiquei o voto.

Agora, o segundo turno. Eu vou de Lula. Acho o fim do mundo o PT ter botado a mão na botija, mas, para mim, o discurso de que votar no Alckmin é combater a corrupção não tem qualquer apelo. Não dá para ignorar a compra de votos pela turma do PSDB para a aprovação da emenda da reeleição, que assegurou o segundo mandato de FHC. Tampouco as manobras de Alckmin para abafar CPIs na Assembléia Legislativa paulista (foram 36 engavetadas). Portanto, se for para combater a corrupção, estamos novamente sem candidato.

Acredito que o debate é outro. São duas formas diferentes de governar. O PSDB é privatizante, entende que o Estado deve ser mínimo (embora boa parte do empresariado brasileiro tenha prosperado com a ajuda da mãozinha do governo). A pobrada que se vire. Afinal, quem mandou nascer pobre?

O PT, apesar de tudo, ainda tem um compromisso com a maioria da população brasileira. O Brasil tem que amassar muito barro para defender o livre mercado. Na minha opinião, o Estado não pode virar as costas para os desdentados e analfabetos, e voltar os olhos apenas para os interesses dos "vencedores" como se eles tivessem chegado lá por suas competências individuais. Não consigo pensar de outra forma.

Quanto à corrupção, ela deve ser duramente combatida. De todos os lados.

quinta-feira, setembro 28


Sem sacrifício!

De vez em quando me deparo com histórias em que o sacrifício é visto como algo nobre. Pessoas que se sacrificam por outras e sentem-se, por isso, grandiosas. Para mim, nenhuma vida é mais valiosa do que a outra. Portanto, acredito que ninguém merece o sacrifício de ninguém. Eu não estou disposta a me sacrificar por ninguém e por nenhuma causa, e dispenso qualquer sacrifício que se queira fazer em meu benefício.

É claro que nos deparamos, ao longo da vida, com situações que exigem um esforço maior e já fui - e sou - capaz de suportar momentos difíceis. Eu posso passar noites em claro ao lado do meu filho, se ele estiver doente e requerer esse tipo de cuidado, mas isso para mim não se configura como sacrifício. A partir do momento em que esse gesto ficar demasiado doloroso a ponto de me sentir mártir, eu vou procurar ajuda.

O que eu não agüento é ouvir o discurso-cobrança que sempre vem acompanhado do sacrifício: Ah, mas eu fiz tanto por ele/ela e agora é isso que recebo em troca! Ou então os lamúrios de auto-piedade: Ah! Só eu sei como é difícil cuidar dele/dela... Na verdade, não consigo me comover com essas atitudes.

Ou você está ali, ao lado, para cuidar e se solidarizar, sem ficar contabilizando a sua cota de sacrifício, ou caia fora! Porque depois é inevitável a cobrança. Quem se sacrifica sempre espera uma recompensa, nem que seja pós-morte. Como ninguém garante nada pra ninguém, eu sempre tento entender qual é a minha disposição e expectativa diante do que vai surgindo na vida para tomar minhas decisões. Como diz meu pai: Quem corre por gosto, não se cansa!

terça-feira, setembro 26


Hoje eu vou publicar um artigo escrito pelo meu irmão Guilherme, advogado que mora no Rio.

ISTO É DEMOCRACIA

Guilherme Paccola

Realmente quando ouço “vou anular meu voto”, “não vou votar” e “votarei em branco” não é de todo mal. Isto faz parte do processo político democrático brasileiro.

Os fluminenses que, segundo as pesquisas, estão declarando maior intenção de votos ao governo para um candidato do PMDB, partido que teve como destaques Anthony Garotinho e sua amada Rosinha Mateus, Orestes Quércia, Luiz Antonio Fleury Filho, entre outros, também têm como favorita ao Senado, representando o Estado do Rio de Janeiro, Jandira Feghali, do PC do B, partido este que defende a doutrina stalinista.

Li hoje (26/9), não me lembro se na FOLHA ou no ESTADÃO, que os deputados favoritos dos paulistas estão sendo Paulo Maluf e, em segundo, Clodovil, sendo que para a Presidência da República os paulistas estão confiantes no candidato do PSDB.

Li também hoje em O GLOBO que o candidato ao Senado pelo Estado de Alagoas, favorito, é nada mais, nada menos, que Fernando Collor de Mello, conhecido dos eleitores. Ele é aquele que confiscou todo o dinheiro dos brasileiros e também levou os louros do primeiro presidente a ser cassado, em decorrência de esquemas de corrupção.

Mesmo assim, como Paulo Maluf que chegou a ficar preso, com provas de desvios de dinheiro público para contas particulares em paraísos fiscais, essas pessoas voltarão ao cenário político através do voto popular e direto.

As reclamações e desilusões que virão não surtirão efeito algum, muito menos serão dignas, se assim os eleitores continuarem a votar.

Percebe-se, claramente, a incoerência e incongruência dos eleitores, o que é conseqüência do total desconhecimento político, pois os candidatos favoritos apontados nas pesquisas são totalmente opostos em seus princípios.

Conclui-se que os eleitos, necessariamente, continuarão a fazer coligações, trocas de cargos, pois pelo total desconhecimento político dos eleitores, se assim não for, a governabilidade é inviável.

Uma pena, mas a legislação eleitoral brasileira assim permite; tudo em nome da democracia. Só rindo mesmo.

sexta-feira, setembro 15

Os meus, os seus, os nossos...

Uma das coisas boas do desquite (para diversificar o vocabulário da nova geração) é a possibilidade de seu filho único ganhar um irmão sem que você tenha que engravidar. A uma certa alturinha da vida das crianças, elas começam a pedir um irmão. Eu explicava que o grande problema é que, para ele ter um irmãozinho, eu precisaria ter outro filho. Isso estava fora dos meus planos e ele nunca dirigia esse pedido ao pai dele, só a mim.

Meu filho fazia apelos dizendo que, sem irmão, ele nunca seria tio. Agradeci aos céus o fato de o Estatuto da Criança e do Adolescente não prever o direito de toda criança se tornar tio um dia. Contrargumentei que era só ele arrumar uma mulher que tivesse irmão que isso estaria resolvido.

No fundo, eu sabia que era legítimo o querer dele. Afinal, vinda de uma família grande, com seis irmãos, eu sei que é muito bom ter irmãos. E sobrinhos. (E sei também que às vezes é muito bom estar longe de todos eles).

Já crescidinha, quando a criança esquece um pouco esse assunto, eis que chega a notícia de que o pai acabou providenciando um irmão. O nascimento do bebê é tão bem-vindo pelo seu filho que você percebe que realmente ele estava precisando de um irmãozinho.

De cada encontro com o irmão, ele chega contando todas as gracinhas e manhas do bebê. E o melhor é que você também pode de vez em quando pegar no colo e dar aqueles apertões que os
bebês fofos merecem.

domingo, setembro 10

Saudades do França

A notícia da morte do França me pegou de surpresa. E me entristeceu. A notícia veio acompanhada de uma chuva fina que acinzentou a cidade. Comecei a puxar pela memória todos os meus encontros com esse grande cara, que nunca se deixou abater pelos graves problemas de saúde que sempre o acompanharam.

Eu trabalhava na Folha de Londrina quando a Patrícia Zanin, uma das amigas mais próximas do França, me mostrou um texto escrito por ele publicado em um jornalzinho. Ali, ele relatava como descobrira que tinha insuficiência renal, não lembro se na infância ou adolescência. Me chamou a atenção a leveza com que ele tratou a descoberta, contando que chegou a pensar: ah, será que é isso que falam de sangue azul? Nunca esqueci isso.

Algum tempo depois, ele também começou a trabalhar na Folha e nos tornamos amigos. A falta de espaço na redação fazia com que alguns repórteres de Economia (eu) invadissem a ilha da Cultura (ele). Era ótimo trabalhar ao lado dele. Ele tinha um senso de humor fantástico. Eu usava umas saias curtíssimas e ele brincava: Você compra suas roupas na Mirex?

Um dia veio a notícia de que o França ia passar por um transplante de rim. E ele não queria receber visitas. Era como se a saúde dele não interessasse a ninguém. Nunca ouvi nenhuma reclamação dele sobre isso. O seu retorno à redação foi muito feliz.

Ele, que amava o teatro e o cinema, viajava às vezes num final de semana pra São Paulo apenas para ver uma peça em cartaz. Quando eu comentei que achava demais ele fazer essas viagens
tão rápidas e a lugares não tão próximos, ele me explicou que nunca pôde viajar muito por causa das sessões de hemodiálise que antes precisava fazer.

Aí eu comecei a entender melhor o França. Vi que ele via a vida numa dimensão diferente de quem acredita que tem muito pela frente. Ele vivia com intensidade. Isso o tornava especial. Com seu humor sarcástico, ele era profundo em tudo.

Não lembro quanto tempo depois ele precisou passar por uma cirurgia, grave, no intestino. Fui visitá-lo no hospital. Ele precisava caminhar pelo quarto. Apoiou-se em mim e eu ia carregando o soro. Aí fiquei com uma vontade terrível de dar risada porque parecia que nós dois estávamos numa procissão, eu carregando o mastro, e comecei a rir e a cantar "A bandeira do Divino...". Ele também riu e reclamou: Carina, não me faça rir porque dói. Mas não teve muito jeito, nós rimos um bocadinho.

Fazia uns dois anos, acredito, que eu não o via. Estava acompanhando notícias dele nos jornais sobre a produção de seu filme. Isso me deixou feliz por saber que, apesar de tudo, ele continuava produzindo. Aproveitou cada momento que teve para fazer o que gostava. A imagem que me vem é sempre do França sorrindo e fazendo algum comentário engraçado. É essa imagem que me conforta.

terça-feira, setembro 5


Esses seres irracionais

Nunca me apeteceu a idéia de ter um animal doméstico. Eu tenho um certo medo de gatos e cachorros. Não gosto de pegar no colo, nem mesmo os filhotinhos, que são tão fofos. Tenho uma certa dificuldade de lidar com esses seres irracionais. Sempre acho que uma hora ou outra eles vão me atacar. Então sempre mantenho uma distância segura.

Meu filho, ao contrário, adora bichos. Não sei como ele aprendeu isso. E obviamente sempre quis ter um animalzinho em casa. Uma vez ele me convenceu de que poderíamos ao menos tentar ter um gatinho. Uma vizinha do prédio que tinha um monte de filhos e de gatos ofereceu um filhote. Lá veio o Rajadinho.

Arrumamos uma caminha na área de serviço. Eu estipulei que, de noite, o gato só podia circular pela cozinha e área de serviço. Eu tinha tanto medo que evitava ir à cozinha no meio da noite. Sei lá. Vai que ele resolvesse me atacar.

No terceiro dia, quando cheguei do trabalho, cansada, havia lá uns cocôs pra eu limpar. Aí eu desisti. Falei pro meu filho que infelizmente eu não conseguia conviver com um gato dentro de casa. Era eu ou ele. A vizinha aceitou o Rajadinho de volta; e meu filho, que já freqüentava a casa, sempre ia lá brincar com o bicho.

No Natal passado, ele ganhou um peixinho de presente. Um Beta. Pôs o nome de Frito. Peixe, eu achei que podia ser uma boa idéia. Afinal, o espaço dele já está bem delimitado, ele já sabe que é ali mesmo que faz as refeições e os cocôs, e não tem como atacar ninguém.

Nós estávamos de férias em Londrina e tínhamos que voltar pra Brasília. Antes, dar uma passadinha na casa da minha mãe no interior de São Paulo. O Frito, então, viajou de carro até a casa da minha mãe, de ônibus até São Paulo e de avião até Brasília. E se comportou muito bem. Não foi barrado no detector de metal. E, o que é melhor, não morreu.

No início eu nem lembrava que ele existia. Se deixassem comigo a incumbência de lhe dar comida, ele passava fome. Mas, com o tempo, não é que eu fui me afeiçoando ao bichinho? E ele nem é daqueles peixes bonitos, coloridos. É até sem graça. Às vezes eu até puxava um papo. Ele, sempre muito discreto, nunca emitiu um som.

Na viagem de volta a Londrina, de carro, o Frito agüentou firme os 1.200 km. Eu cuido melhor dele agora e às vezes fico pensando como é que a gente pode gostar de um peixinho... Ainda mais um desmemoriado. Meu filho descobriu na internet que o tempo de memória de um Beta é de três segundos.

Esses dias, o Frito começou a apresentar um comportamento estranho. Parou de comer. Ficava imóvel no aquário. Estava completamente macambúzio, taciturno e sorumbático, como diria o Aurélio (o Albano, meu amigo, e não o Buarque de Holanda). Será que a hora dele estava chegando? Nova pesquisa na internet informou que um Beta vive de 2 a 3 anos. Então, ele ainda tinha tempo. O que seria?

Numa loja de bichos, a moça explicou que podia ser o frio. Eu pensava que peixe nem tinha essa de sentir frio nem calor, afinal, ele nasce dentro d'água e fica molhado a vida toda. Mas achamos que era uma boa explicação. Compramos um aquecedorzinho de oito reais (quatro vezes o preço de um peixe, diria meu lado totalmente racional). E não é que o Frito voltou a ser feliz? O bichinho, coitado, estava com frio. Voltou a comer e a saracotear. E até já esqueceu que um dia passou frio.

sábado, agosto 26


Nossas barbeiragens cotidianas!

A garagem do meu prédio é horrível. Todos os carros ficam estacionados em 45 graus e há pouco espaço para manobrar (Introdução para justificar a barbeiragem...).

Pois bem. Segunda-feira de noite estava um frio que era motivo suficiente para ficar em casa. Todos os sensatos moradores do prédio fizeram isso. E deixaram seus carros lá paradinhos, guardadinhos em suas vagas. Eu fui atender gosto de criança que queria ir ao cinema.

Na volta, cansada, com sono e com frio, só notei que não tinha feito todas as contorções e destorções necessárias quando ouvi o barulho da pancada. Não é que tinha um pilar mal-posicionado? Desfiei todo o meu rol de palavrões e fui conferir o estrago. Estava lá na porta traseira o carimbo branco da barbeiragem.

Isso me chateou além da conta. No dia seguinte, enquanto dirigia, parecia que todos os motoristas que cruzavam o meu caminho estavam reparando naquele raspão de tinta branca. Eu era um misto de vergonha e raiva. Como os trajetos que percorro são longos, eu tinha tempo para remoer meus sentimentos. Fiquei matutando, tentando entender por que eu ficava, assim, com tanta vergonha de mostrar pra todo mundo a minha falta de habilidade na direção.

Fiquei pensando que me falta é habilidade para aceitar o erro. Eu imaginava que, com o passar dos anos, a gente lidasse melhor com nossas imperfeições. Mas não! Lá estão elas todos os dias a nos incomodar, a lembrar que temos que nos sujeitar a nós mesmos, aos nossos erros, tão simples e tão nossos!

Ainda bem que na sexta-feira a zeladora lavou a garagem e mandou pro ralo o pozinho branco que circundava o pilar. Junto foi um pouco da minha vergonha.

sábado, agosto 19

Diferenças urbanas

Em Brasília, não há pombas. Ou melhor, elas existem, mas não chegam a incomodar. Nos quase dois anos em que morei lá, meu carro nunca foi alvo dos pombinhos. Nem minha cabeça. Talvez porque haja predadores em abundância. Também não me lembro de ter visto naquele céu qualquer ave de rapina. Já outros seres hábeis na rapinagem estão concentrados numa famosa praça - afinal, em Brasília, tudo tem o seu devido lugar.

Além do número reduzido de pombas, também me alegrava que no trânsito quase não circulam motocicletas. Há poucos motoqueiros em Brasília. Nossa! Será que existe alguma relação entre motos e pombas?

Em compensação, é assustador o modo como dirigem os motoristas das vans e dos ônibus dentro da cidade. Parecem uns loucos. Eles saem dos pontos de parada sem nem olhar se vem vindo, por acaso, algum outro veículo. Dá muita raiva! Isso me incomodava tanto que mudei o trajeto de retorno à minha casa, na hora do almoço, usando uma via onde eles não podem circular. Aumentava um pouquinho a distância mas eu me sentia super esperta por ter encontrado uma saída para evitá-los.

Agora o que me deixava mesmo mais feliz de tudo é o fato de que em Brasília não existe zona azul. Quando você estaciona seu carro, não aparece ninguém com um bloquinho na mão perguntando quanto tempo você vai demorar. Eu fiquei sabendo que, quando o governo do DF tentou implantar o sistema de cobrança para estacionar na via pública, os motoristas boicotaram a medida: ninguém parava o carro nos locais de pagamento obrigatório. Os motoristas entupiram com seus carros as quadras residenciais causando tantos transtornos para os moradores que o governo teve que voltar atrás.

É claro que existem flanelinhas. Mas eles são diferentes. Primeiro, que você pode pagar 25 centavos que ninguém reclama. Ou ainda, se você disser que está sem grana, eles também não se queixam. Eu deixava meu carro estacionado em frente ao trabalho o dia todo e, no final do dia, deixava um real para o guardador e estava tudo certo. Na área de estacionamento havia pelo menos 15 guardadores - todos adultos. Da mais absoluta confiança. Com o tempo, aprendi a enxergar a linha imaginária que divide a área de cuidado de cada um. Eu, particularmente, gostava sempre de parar meu carro perto de um senhor de cabelos brancos, bigode e chapéu. Para lavar meu carro uma vez por mês, ou eu deixava a chave ou eu deixava as portas destrancadas. Nunca tive nenhum problema.

Havia alguns mais abusados. O Antônio, por exemplo. Ele já vinha abrindo a porta do carro - eu não gostava disso. E, mesmo que eu estacionasse fora da área de sua jurisdição, ele vinha ao meu encontro para pedir dinheiro para um café. Falava sempre na terceira pessoa: - paga um cafezinho pro Antônio. Muitas vezes eu pagava. Ele era gente boa, mas eu preferia o velhinho que era mais discreto. Uma vez, sumiu o Antônio. Passaram-se vários dias e nada de vê-lo. Devo confessar que até gostei porque às vezes eu o achava meio inconveniente. Um dia, no trabalho, descobrimos a razão do sumiço. Alguém apareceu com um recorte de jornal estampando a notícia de um crime e a foto do Antônio: ele havia matado seu irmão com uma faca. Alguns dias depois, lá estava ele de volta. Agimos como se nada tivesse acontecido. Ele continuou com suas gentilezas que nem sempre me agradavam e eu continuei pagando alguns de seus cafezinhos.

No meu último dia de trabalho em Brasília, saí muito tarde e não encontrei mais o senhor dos cabelos brancos. Fiquei chateada porque queria ter me despedido dele. Na manhã seguinte, um sábado, quando eu viajaria definitivamente de volta a Londrina, deixei o carro no posto para fazer revisão antes da viagem. Enquanto isso, a Gabi levou o Nícolas e eu para, finalmente, tomarmos o que ela considera a melhor vitamina de Brasília - e realmente é muito boa. Afinal, ela dizia, não era possível que nós fôssemos embora sem ter experimentado tal vitamina. Na volta, pedi a ela para passarmos no estacionamento do meu trabalho. Lá estava ele, com seu chapéu. Foi uma despedida rápida, mas que deixou meu coração mais leve para o retorno.

quinta-feira, agosto 17


Problemas urbanos

Isso não está me cheirando bem... Ando preocupado. Você se lembra de como começou essa lenga-lenga das pombas? Primeiro, as reclamações eram individuais, ali, no plano familiar, entre os amigos. Ninguém assumia, assim, que tinha levado uma cagada na cabeça. Parar o carro sob uma árvore, era cagada na certa. Todo motorista aprendeu que cocô de pomba corrói a tinta do carro. Depois, alguém resolveu contar quantos são esses seres sobrevoando por nossas cabeças. O número é assustador: 170 mil aves - uma para cada três londrinenses. As reclamações cresceram. O tema entrou na mídia. Os ecologistas defenderam os pobres animais dizendo que a reprodução descontrolada é conseqüência da devastação ambiental: acabaram com os predadores das pombas. Outros gritaram que elas transmitem doenças e as comparam a ratos voadores. Uns apelaram para a religião: são criaturas de Deus e representam a paz! Até que resolveram reunir todos os entendidos para buscar uma solução. O resultado está aí: extermínio! E você viu como... Não gosto nem de pensar. Agora, eles se voltaram contra nós. Os nossos desafetos aproveitaram a notícia de que uns e outros estavam traficando drogas para dizer que há uma superpopulação de mototaxistas. Há os que nos defendem, dizendo que somos conseqüência do desemprego e da falta de crescimento econômico. Todo mundo quer dar pitaco. Uns alegam que furamos o sinal vermelho, que costuramos e somos muito barulhentos. Engraçado. Faz tempo que não vejo carro com adesivo "Eu respeito motocicleta". Pronto! Agora essa... Audiência pública para debater o problema dos mototaxistas. E na Câmara. Você já reparou que aqui só estamos os mototaxistas. Cadê todo mundo? Ei, você não está sentindo um cheirinho de gás...

quarta-feira, agosto 16

Meus primeiros passos

este é apenas um teste. vou tentar manter um blog como exercício literário. até hoje sempre escrevi ou textos jornalísticos ou acadêmicos (em número bem pequeno). aos 40, me sinto mais à vontade para traçar minhas próprias linhas sem seguir pautas alheias. para mim, será um desafio. mas estou disposta a encarar. afinal, eu penso muito, sobre todas as coisas. quero descobrir como é que essas idéias vão se transformar em letras.