segunda-feira, janeiro 31

Tum tum!

Meu coração é tão discreto, que mal combina comigo. Mal ouço suas palpitações. Só sei que ele funciona porque estou aqui, Vivinha da Silva. A não ser é claro quando estou em perigo: seja porque avistei uma barata seja porque vi um grande amor. Aí meu coração escandaliza. Acelera tão forte que não tem como não saber que estou Vivona da Silva.

Mas no dia a dia, ele vai dando suas batidinhas imperceptíveis. O problema é que, numa aula de atividade física, a professora quer que a gente conte os batimentos cardíacos. Mostrei minha dificuldade. Ela me ensinou como e onde colocar o dedo no pescoço. E perguntou: Conseguiu? Inúmeras vezes. Até eu mentir que havia conseguido pra ela não pensar que eu havia morrido ou que sou mesmo idiota.

Eu estou lá, cumprindo com os exercícios, mas na hora da contagem eu entro em pânico. Um pânico interno. Ninguém percebe. E na hora de falar o número de batimentos eu não sei se eu inventei ou se eu ouvi mesmo aquilo. Está sempre abaixo da média do grupo. Às vezes eu adiciono por conta umas três unidades para não ficar tão chato.

Imagem: http://www.gartic.com.br/harry_potter/gallery/732686

terça-feira, janeiro 25

Ou... ou...

Ou eu durmo cedo ou eu acordo no meio da noite. Ou eu acordo com sono ou eu perco a hora. Ou eu tiro o carro da garagem ou eu perco a vaga. Ou capricho na comida ou tiro uma sonequinha após o almoço. Ou escovo os dentes ou tomo um cafezinho. Ou eu sou feliz ou eu trabalho. Ou eu trabalho ou eu passo fome. Ou eu amo e dane-se o resto ou eu me amo e não me dano.

sexta-feira, janeiro 21

Unhas azuis

Pintei as unhas de azul. Não azul caneta Bic, mas azul celeste. E pensei que fazia tempo que não falava azul celeste. Se tivesse uma filha colocaria o nome de Celeste. Decidi agora. E acho que todos ao falarem o nome dela se lembrariam do céu, não um céu como hoje, carregado de nuvens cinzas que despencam várias vezes ao dia, mas de um azul ensolarado. E a imagem desse azul já seria suficiente pra fazer as pessoas sorrirem. Então, o nome dela seria ensolarado e provocaria sorrisos! E mesmo os dias chuvosos seriam leves e alegres. E eu gosto de olhar as minhas unhas que provocam uma estranheza em quem olha. Menos em mim, que afinal foi quem escolheu a cor.

E quando eu morava longe eu pintei as unhas dos pés e das mãos de azul escuro. E estava no MSN com minha irmã e contei sobre o esmalte. Ela sentenciou: - Saia de meias!!

quarta-feira, janeiro 12

Encerrando ciclos

2011 começa e eu encerro um ciclo. Às vezes a gente sabe que é preciso terminar algo, mas ficamos apegados e relutamos. Talvez não aceitamos o fim porque o enxergamos como um fracasso. Que acaba se somando a outros finais que já estavam classificados no nosso arquivo mental como fracassos. Por que é tão difícil (google imagens) deixar ir embora quem na verdade já foi?

Por que queremos encontrar um sentido sagrado para coisas que vivemos e das quais devemos nos despedir?
Lembro de um relacionamento amoroso que eu sabia que tinha que terminar porque já não era mais para existir. Eu insistia em permanecer porque pensava que já tinha sofrido tanto por aquele amor, já tinha passado por tantas e boas, que não era possível que tudo haveria de ter sido em vão.

E então eu li a biografia do Kurosawa. Ele contava que em um de seus filmes havia demorado muito tempo para fazer umas cenas com uns cavalos. Ele esperou o sol pintar o céu da cor que ele queria para ter o cenário perfeito. E finalmente conseguiu. Quando editava o filme, percebeu que estava longo demais e seria necessário cortar umas cenas. Ele sabia que poderia cortar justamente as dos cavalos, mas estava apegado, afinal não era possível que tanto sacrifício fosse agora descartado. E ele pensou que, por mais que aquelas cenas houvessem sido feitas com muito cuidado, não era justo submeter o público a um filme longo demais. E cortou. Segundo Kurosawa, temos a tendência a dar valor a aspectos de nossa vida conforme o sofrimento porque passamos, e não porque são aspectos importantes de fato. Isso foi decisivo para eu fazer o corte naquela relação. Nunca me arrependi.

Então agora eu preciso deixar ir embora quem deve ir. E por mais doloroso é o que estou fazendo.