Eu e o Rogério Fischer somos amigos há mais de 20 anos, desde quando entramos juntos no curso de Jornalismo da UEL. Depois trabalhamos na Folha de Londrina na mesma época. Esses dias ele disse que não se lembra de mim na Folha. Acho que é a idade (dele). Então comecei a contar umas histórias para ver se rememorava a memória dele. E extrapolei para outras, em outros jornais. Aí ele disse: "Por que você não publica isso no seu blog, já que você nunca atualiza aquela joça?"
Então, eu resolvi contar uma história que aconteceu nos idos de 1988, quando eu já estava no meu segundo emprego de jornalista, num jornal diário do Oeste Paulista. Vou omitir nomes. Um dia, antes de sair do jornal para cumprir minha pauta, que era a cobertura de um evento não me lembro sobre-o-quê, o editor disse que eu provavelmente encontraria no local o presidente da Câmara Municipal. Era para eu cobrar do cara o balanço da gestão dele na presidência da Câmara. O editor contou que já estava pedindo isso fazia algum tempo e essa seria a última cobrança. Se mais uma vez ele negasse, o jornal iria publicar a matéria dizendo que o vereador não prestava contas.
Eu era recém-chegada à cidade, ao jornal e à profissão. Encontrei o tal vereador, que era dentista, e cobrei o balanço. Ele disse que não tinha. E saiu de perto. Em vez de eu ficar caladinha, imprudentemente, fiz um comentário em voz alta: “Ah, mas a matéria vai sair mesmo assim...” E voltei lá para o evento.
Estava sentadinha ouvindo e anotando as falas, quando senti um cutucão nos ombros. Era o presidente da Câmara que pedia para eu me levantar. Fui atrás dele e ele me passou uma descompostura. Enquanto ele falava, num tom áspero, eu fui ficando vermelha de vergonha. Fiquei muito envergonhada por ter feito um comentário inapropriado. E minha pressão foi caindo, caindo, até que eu desmaiei. Na frente dele. O homem ficou apavorado. Me socorreu. E ainda me levou de carro ao jornal. Mais tarde, ligou lá para saber se eu estava bem.
Tive que agüentar a tiração de sarro na redação. E toda vez que eu saía para cumprir uma pauta, era obrigada a ouvir do editor: – Não vá desmaiar, hein?