sábado, agosto 26


Nossas barbeiragens cotidianas!

A garagem do meu prédio é horrível. Todos os carros ficam estacionados em 45 graus e há pouco espaço para manobrar (Introdução para justificar a barbeiragem...).

Pois bem. Segunda-feira de noite estava um frio que era motivo suficiente para ficar em casa. Todos os sensatos moradores do prédio fizeram isso. E deixaram seus carros lá paradinhos, guardadinhos em suas vagas. Eu fui atender gosto de criança que queria ir ao cinema.

Na volta, cansada, com sono e com frio, só notei que não tinha feito todas as contorções e destorções necessárias quando ouvi o barulho da pancada. Não é que tinha um pilar mal-posicionado? Desfiei todo o meu rol de palavrões e fui conferir o estrago. Estava lá na porta traseira o carimbo branco da barbeiragem.

Isso me chateou além da conta. No dia seguinte, enquanto dirigia, parecia que todos os motoristas que cruzavam o meu caminho estavam reparando naquele raspão de tinta branca. Eu era um misto de vergonha e raiva. Como os trajetos que percorro são longos, eu tinha tempo para remoer meus sentimentos. Fiquei matutando, tentando entender por que eu ficava, assim, com tanta vergonha de mostrar pra todo mundo a minha falta de habilidade na direção.

Fiquei pensando que me falta é habilidade para aceitar o erro. Eu imaginava que, com o passar dos anos, a gente lidasse melhor com nossas imperfeições. Mas não! Lá estão elas todos os dias a nos incomodar, a lembrar que temos que nos sujeitar a nós mesmos, aos nossos erros, tão simples e tão nossos!

Ainda bem que na sexta-feira a zeladora lavou a garagem e mandou pro ralo o pozinho branco que circundava o pilar. Junto foi um pouco da minha vergonha.

sábado, agosto 19

Diferenças urbanas

Em Brasília, não há pombas. Ou melhor, elas existem, mas não chegam a incomodar. Nos quase dois anos em que morei lá, meu carro nunca foi alvo dos pombinhos. Nem minha cabeça. Talvez porque haja predadores em abundância. Também não me lembro de ter visto naquele céu qualquer ave de rapina. Já outros seres hábeis na rapinagem estão concentrados numa famosa praça - afinal, em Brasília, tudo tem o seu devido lugar.

Além do número reduzido de pombas, também me alegrava que no trânsito quase não circulam motocicletas. Há poucos motoqueiros em Brasília. Nossa! Será que existe alguma relação entre motos e pombas?

Em compensação, é assustador o modo como dirigem os motoristas das vans e dos ônibus dentro da cidade. Parecem uns loucos. Eles saem dos pontos de parada sem nem olhar se vem vindo, por acaso, algum outro veículo. Dá muita raiva! Isso me incomodava tanto que mudei o trajeto de retorno à minha casa, na hora do almoço, usando uma via onde eles não podem circular. Aumentava um pouquinho a distância mas eu me sentia super esperta por ter encontrado uma saída para evitá-los.

Agora o que me deixava mesmo mais feliz de tudo é o fato de que em Brasília não existe zona azul. Quando você estaciona seu carro, não aparece ninguém com um bloquinho na mão perguntando quanto tempo você vai demorar. Eu fiquei sabendo que, quando o governo do DF tentou implantar o sistema de cobrança para estacionar na via pública, os motoristas boicotaram a medida: ninguém parava o carro nos locais de pagamento obrigatório. Os motoristas entupiram com seus carros as quadras residenciais causando tantos transtornos para os moradores que o governo teve que voltar atrás.

É claro que existem flanelinhas. Mas eles são diferentes. Primeiro, que você pode pagar 25 centavos que ninguém reclama. Ou ainda, se você disser que está sem grana, eles também não se queixam. Eu deixava meu carro estacionado em frente ao trabalho o dia todo e, no final do dia, deixava um real para o guardador e estava tudo certo. Na área de estacionamento havia pelo menos 15 guardadores - todos adultos. Da mais absoluta confiança. Com o tempo, aprendi a enxergar a linha imaginária que divide a área de cuidado de cada um. Eu, particularmente, gostava sempre de parar meu carro perto de um senhor de cabelos brancos, bigode e chapéu. Para lavar meu carro uma vez por mês, ou eu deixava a chave ou eu deixava as portas destrancadas. Nunca tive nenhum problema.

Havia alguns mais abusados. O Antônio, por exemplo. Ele já vinha abrindo a porta do carro - eu não gostava disso. E, mesmo que eu estacionasse fora da área de sua jurisdição, ele vinha ao meu encontro para pedir dinheiro para um café. Falava sempre na terceira pessoa: - paga um cafezinho pro Antônio. Muitas vezes eu pagava. Ele era gente boa, mas eu preferia o velhinho que era mais discreto. Uma vez, sumiu o Antônio. Passaram-se vários dias e nada de vê-lo. Devo confessar que até gostei porque às vezes eu o achava meio inconveniente. Um dia, no trabalho, descobrimos a razão do sumiço. Alguém apareceu com um recorte de jornal estampando a notícia de um crime e a foto do Antônio: ele havia matado seu irmão com uma faca. Alguns dias depois, lá estava ele de volta. Agimos como se nada tivesse acontecido. Ele continuou com suas gentilezas que nem sempre me agradavam e eu continuei pagando alguns de seus cafezinhos.

No meu último dia de trabalho em Brasília, saí muito tarde e não encontrei mais o senhor dos cabelos brancos. Fiquei chateada porque queria ter me despedido dele. Na manhã seguinte, um sábado, quando eu viajaria definitivamente de volta a Londrina, deixei o carro no posto para fazer revisão antes da viagem. Enquanto isso, a Gabi levou o Nícolas e eu para, finalmente, tomarmos o que ela considera a melhor vitamina de Brasília - e realmente é muito boa. Afinal, ela dizia, não era possível que nós fôssemos embora sem ter experimentado tal vitamina. Na volta, pedi a ela para passarmos no estacionamento do meu trabalho. Lá estava ele, com seu chapéu. Foi uma despedida rápida, mas que deixou meu coração mais leve para o retorno.

quinta-feira, agosto 17


Problemas urbanos

Isso não está me cheirando bem... Ando preocupado. Você se lembra de como começou essa lenga-lenga das pombas? Primeiro, as reclamações eram individuais, ali, no plano familiar, entre os amigos. Ninguém assumia, assim, que tinha levado uma cagada na cabeça. Parar o carro sob uma árvore, era cagada na certa. Todo motorista aprendeu que cocô de pomba corrói a tinta do carro. Depois, alguém resolveu contar quantos são esses seres sobrevoando por nossas cabeças. O número é assustador: 170 mil aves - uma para cada três londrinenses. As reclamações cresceram. O tema entrou na mídia. Os ecologistas defenderam os pobres animais dizendo que a reprodução descontrolada é conseqüência da devastação ambiental: acabaram com os predadores das pombas. Outros gritaram que elas transmitem doenças e as comparam a ratos voadores. Uns apelaram para a religião: são criaturas de Deus e representam a paz! Até que resolveram reunir todos os entendidos para buscar uma solução. O resultado está aí: extermínio! E você viu como... Não gosto nem de pensar. Agora, eles se voltaram contra nós. Os nossos desafetos aproveitaram a notícia de que uns e outros estavam traficando drogas para dizer que há uma superpopulação de mototaxistas. Há os que nos defendem, dizendo que somos conseqüência do desemprego e da falta de crescimento econômico. Todo mundo quer dar pitaco. Uns alegam que furamos o sinal vermelho, que costuramos e somos muito barulhentos. Engraçado. Faz tempo que não vejo carro com adesivo "Eu respeito motocicleta". Pronto! Agora essa... Audiência pública para debater o problema dos mototaxistas. E na Câmara. Você já reparou que aqui só estamos os mototaxistas. Cadê todo mundo? Ei, você não está sentindo um cheirinho de gás...

quarta-feira, agosto 16

Meus primeiros passos

este é apenas um teste. vou tentar manter um blog como exercício literário. até hoje sempre escrevi ou textos jornalísticos ou acadêmicos (em número bem pequeno). aos 40, me sinto mais à vontade para traçar minhas próprias linhas sem seguir pautas alheias. para mim, será um desafio. mas estou disposta a encarar. afinal, eu penso muito, sobre todas as coisas. quero descobrir como é que essas idéias vão se transformar em letras.