segunda-feira, dezembro 8

Os homens e o pudim de Leite Moça

Os homens que não gostam muito de comer doces geralmente acabam fazendo uma exceção quando a sobremesa é pudim de leite condensado. Pelo menos é o que se nota nas mesas de sobremesa em restaurantes self-service. Essa minha teoria vale para os homens com mais de 40 anos. O cara quase nunca tem vontade de comer doce, mas quando vê o tal pudim, ele nem vacila. É nessa travessa que ele vai meter a colher (Já reparou que só a mãe da gente fala travessa?).

Falando em mãe, aí está a explicação por tal preferência. Os caras não resistem porque o pudim de leite Moça os remete à sobremesa preferida na infância, feita carinhosamente pelas mães aos domingos.

As mães também faziam doce de abóbora, arroz doce e outros doces caseiros, mas o pudim de leite condensado, não sei, justamente por ter como ingrediente principal um produto industrializado acaba funcionando como um marco que inaugura a era das sobremesas com produtos industrializados.

Por isso, os rapazes mais novos não têm essa quedinha por pudim de Leite Moça. O leite condensado já era carne de vaca quando eles eram crianças. Quase toda sobremesa hoje leva leite condensado. Eu, por exemplo, nunca fiz um pudim de Leite Moça e meu filho não vê a menor graça nesse doce.

A minha avó materna, que me presenteava todo aniversário com um vidro de doce de leite maravilhoso feito por ela, toda vez que se deparava com uma receita que levava leite condensado dizia: “Bem, com leite condensado todo doce fica bom...”. Ela dizia isso como se esse ingrediente desse um toque mágico a qualquer doce. Ou seja, nem precisava ser boa cozinheira para fazer um doce gostoso se na receita estava incluso o leite da latinha.

Os homens e a moda


Eu gosto de homens desapegados à moda. Aqueles que se vestem de maneira casual, com bom gosto, mas sem muita frescura. E eu tenho uma grande admiração quando eles abrem as portas de seus armários e, ao se depararem com meia dúzia de camisas, nunca reclamam. Eles olham uma a uma, como se tivessem muitas alternativas a escolher. E mesmo que haja apenas duas camisas, eles ainda se detêm um pouco e fazem a opção, satisfeitos. Bem diferente de nós que, diante de uma quantidade infinitamente maior de roupas, lamentamos todas as manhãs: Ai, não tenho uma roupa pra vestir... E minha admiração por eles aumenta ainda mais quando vestimos aquele vestidinho já bem manjado e eles perguntam: Roupa nova? Eu namorei um cara que não sabia a diferença entre saia e vestido. E meu filho, bem pequeno, uma vez me disse: - Mãe, você está bonita com essa saia, esse sapato e essa perna no meio...

quarta-feira, dezembro 3

Homens e Mulheres2

Casal Neuras, do Glauco, na edição de hoje da Folha de S. Paulo

Homens e Mulheres

Qual a diferença entre o homem e a mulher? Esta é a pergunta-guia do documentário "Nem gravata. Nem honra", de Marcelo Masagão. Os personagens são moradores da pequena cidade de Cunha, na divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro, que vão desfiando suas opiniões sobre o tema.

Masagão obtém depoimentos muito interessantes. Eu ri muito quando uma espevitada garota compara os homens a um cão pit-bull e fala da dificuldade dos homens de manifestarem suas emoções.

É curioso que o documentário apresente duas cabeleireiras com pensamentos tão distintos. Uma defende que as mulheres têm que ser dissimuladas - que é uma característica feminina, segundo ela - e deixar que os homens acreditem que são poderosos. E a outra refere-se provavelmente a uma relação do passado em que ela percebia que o homem se sentia melhor quando ela se apresentava frágil. "Mas eu não sou fraca. Eu sou forte. E não podia disfarçar isso" - ela diz algo assim.

O delegado da cidade diz que 100% dos crimes que acontecem em Cunha são cometidos por homens. E um preso reflete: "A honra atrai três tipos de coisa: hospital, cadeia e cemitério". O que nos faz pensar na rigidez masculina (epa!) em não recuar em suas posições em nome da honra, mesmo que isso lhe custe talvez a saúde, a liberdade ou a vida!

E eu fico pensando como homens devem sofrer para manter às vezes posições ou falas ditas num impulso e que depois, com a cabeça mais fresca, poderiam ser revistas. No entanto, em nome da honra isso não é possível.

Será que as mulheres são mais livres nesse sentido? Havia uma rigidez maior no papel esperado das mulheres no passado e isso está mudando. Na época em que à mulher só era permitido ser mãe e dona-de-casa quantas enlouqueceram ou então morreram de depressão por ter que desempenhar um papel que não desejavam. Me faz lembrar do filme "As Horas".

E este último filme do Woody Allen ("Vicky Cristina barcelona") também mostra os conflitos que povoam nossas mentes femininas diante de tantas escolhas possíveis. Parece que vivemos num eterno conflito. Num momento queremos ser livres, leves e soltas, sem que ninguém nos diga o que fazer. Em outro, queremos um homem do nosso lado para nos acompanhar em tudo. Enquanto trabalhos o dia todo, estamos também com a cabeça nas crianças que ficaram na escola e no cardápio do almoço.

Os homens (adoráveis!) conseguem compartimentar melhor as coisas. Ou melhor, eles só conseguem pensar numa coisa de cada vez. E, nós, realmente somos incompreensíveis e fascinantes.