quarta-feira, janeiro 12

Encerrando ciclos

2011 começa e eu encerro um ciclo. Às vezes a gente sabe que é preciso terminar algo, mas ficamos apegados e relutamos. Talvez não aceitamos o fim porque o enxergamos como um fracasso. Que acaba se somando a outros finais que já estavam classificados no nosso arquivo mental como fracassos. Por que é tão difícil (google imagens) deixar ir embora quem na verdade já foi?

Por que queremos encontrar um sentido sagrado para coisas que vivemos e das quais devemos nos despedir?
Lembro de um relacionamento amoroso que eu sabia que tinha que terminar porque já não era mais para existir. Eu insistia em permanecer porque pensava que já tinha sofrido tanto por aquele amor, já tinha passado por tantas e boas, que não era possível que tudo haveria de ter sido em vão.

E então eu li a biografia do Kurosawa. Ele contava que em um de seus filmes havia demorado muito tempo para fazer umas cenas com uns cavalos. Ele esperou o sol pintar o céu da cor que ele queria para ter o cenário perfeito. E finalmente conseguiu. Quando editava o filme, percebeu que estava longo demais e seria necessário cortar umas cenas. Ele sabia que poderia cortar justamente as dos cavalos, mas estava apegado, afinal não era possível que tanto sacrifício fosse agora descartado. E ele pensou que, por mais que aquelas cenas houvessem sido feitas com muito cuidado, não era justo submeter o público a um filme longo demais. E cortou. Segundo Kurosawa, temos a tendência a dar valor a aspectos de nossa vida conforme o sofrimento porque passamos, e não porque são aspectos importantes de fato. Isso foi decisivo para eu fazer o corte naquela relação. Nunca me arrependi.

Então agora eu preciso deixar ir embora quem deve ir. E por mais doloroso é o que estou fazendo.

4 comentários:

Eliane disse...

Olá, Carina. Se pra (quase) todo mundo o começo de ano já é época de fazer balanços, planos, tempo de se desapegar de algumas coisas e se apegar a outras.. Para você deve ser em dobro, por comemorar aniversário também. Pois bem. Fico pensando em algo para dizer nesses dias e no que você escreveu... Me vem à cabeça algo mais pop que Kurosawa. Penso na música do Paul: "live and let die" às vezes é tão importante quanto o senso comum "live and let live". Ou, juntando os dois: viva, deixe viver, mas deixe morrer também, e deixe partir, e deixe viver... É, acho que tudo faz parte do processo louco pelo qual passamos neste mundo.

Carina, faz tempo que não nos vemos, mas saiba que continuo tendo muito carinho por você. Espero que hoje seja um dia bacana, e que os próximos mais ainda. Feliz aniversário e muitas, muitas alegrias em 2011. Beijos.

carina paccola disse...

Oi, Eliane, obrigada! Adorei o que vc disse. E vc tb tem boa memória para o meu aniversário. Eu tb tenho um grande carinho por você. Que 2011 seja muito legal pra vc. Um grande beijo

Patricia disse...

Carina, que dor e, ao mesmo tempo, que bom o desapego. O luto não tem jeito de não ser feito. Mas tenho certeza que outros bons encontros vão acontecer porque, talvez, seu espírito mais livre se permita a novos ventos. E a novos céus.
Beijos de quem te admira MUITO,
Patricia

Anônimo disse...

Que post bacana, intenso de reflexão adulta e sabedoria ! Vou levar algo dessas linhas pra minha própria vida.