
2011 começa e eu encerro um ciclo. Às vezes a gente sabe que é preciso terminar algo, mas ficamos apegados e relutamos. Talvez não aceitamos o fim porque o enxergamos como um fracasso. Que acaba se somando a outros finais que já estavam classificados no nosso arquivo mental como fracassos. Por que é tão difícil
(google imagens) deixar ir embora quem na verdade já foi?
Por que queremos encontrar um sentido sagrado para coisas que vivemos e das quais devemos nos despedir?
Lembro de um relacionamento amoroso que eu sabia que tinha que terminar porque já não era mais para existir. Eu insistia em permanecer porque pensava que já tinha sofrido tanto por aquele amor, já tinha passado por tantas e boas, que não era possível que tudo haveria de ter sido em vão.
E então eu li a biografia do Kurosawa. Ele contava que em um de seus filmes havia demorado muito tempo para fazer umas cenas com uns cavalos. Ele esperou o sol pintar o céu da cor que ele queria para ter o cenário perfeito. E finalmente conseguiu. Quando editava o filme, percebeu que estava longo demais e seria necessário cortar umas cenas. Ele sabia que poderia cortar justamente as dos cavalos, mas estava apegado, afinal não era possível que tanto sacrifício fosse agora descartado. E ele pensou que, por mais que aquelas cenas houvessem sido feitas com muito cuidado, não era justo submeter o público a um filme longo demais. E cortou. Segundo Kurosawa, temos a tendência a dar valor a aspectos de nossa vida conforme o sofrimento porque passamos, e não porque são aspectos importantes de fato. Isso foi decisivo para eu fazer o corte naquela relação. Nunca me arrependi.
Então agora eu preciso deixar ir embora quem deve ir. E por mais doloroso é o que estou fazendo.