quarta-feira, abril 29

Em defesa dos jornalistas e do jornalismo

Quando a gente entra na faculdade de jornalismo – e eu defendo o diploma de jornalismo para o exercício da profissão – , uma das coisas que nos ensinam é desconfiarmos sempre da primeira versão que nos oferecem sobre um fato. E aprendemos que temos que ser críticos.

Com o tempo e o treino, isso vai se tornando prática cotidiana. E é claro que esse senso crítico extrapola a atividade profissional. Às vezes eu me canso de ser assim tão crítica. Quando percebo, já estou apontando falhas e defeitos, como se quisesse denunciar tudo o tempo todo.

O salário de jornalista é muito baixo. O piso salarial no Paraná está pouco acima de R$ 1.900,00 por cinco horas diárias de trabalho, seis dias na semana. É o piso mais alto do país. No Rio de Janeiro, está em torno de R$ 800,00. No interior do Piauí, paga-se um salário mensal de R$ 700,00 para um jornalista. Sem falarmos nas inúmeras situações em que as empresas não pagam nem o piso.

Se compararmos com outras categorias profissionais, o nosso salário é sempre um dos mais baixos. Com o tempo, percebemos que é muito difícil aumentar nossos rendimentos. É só comparar os bens de um jornalista com os de qualquer outro profissional adquiridos ao longo de 20 anos de experiência profissional numa redação e fazer as contas.

Outra grande desvantagem em relação a outras profissões é que, com o passar dos anos, quanto mais experiente e melhor for o jornalista, menos chances de trabalhar em redação ele tem. Os patrões não titubeiam em demitir os jornalistas mais “velhos” de casa e que ganham um pouco a mais – por conta do anuênio garantido em convenção coletiva, uma vez que as empresas raramente têm planos de cargos e salários – e substitui-los por recém-formados. O problema não está em contratar recém-formados, mas em ter uma redação com perfil de recém-formados.

Tenho grandes amigos e colegas, ótimos profissionais, afastados de redação com chances cada vez mais reduzidas de novamente conseguirem uma vaga nesse mercado.

Essa disputa por um lugar na redação acaba agravando também a já complicada relação entre o Sindicato dos Jornalistas e as empresas. A cada investida do Sindicato, por melhores salários e condições de trabalho, a reação é grande, exagerada às vezes. As empresas acabam pressionando os jornalistas empregados a ficarem contra o sindicato, com ameaças de demissões e outras retaliações.

Ou seja, os jornalistas devem ser críticos somente em relação aos órgãos públicos e a outras instâncias da sociedade, não no local de trabalho. Se não, é chumbo na certa!

A nossa profissão, portanto, é uma das mais desvalorizadas: pelo patrão e pela sociedade, que agora quer permitir que qualquer pessoa, sem uma qualificação específica, possa exercer o jornalismo. E temos um papel muito importante a cumprir. Se com o olhar vigilante da mídia a corrupção corre solta neste país, sem a atuação desses profissionais seria ainda pior.

4 comentários:

Aguinaldo Pavão disse...

Bah, era um namorico de nada.

carina paccola disse...

Aguinaldo, você sempre erra na sua análise sobre meu liberalismo. Em relação ao IR, pra vc ficar mais horrorizado, eu defendo não pagar imposto por ganhar muito pouco. Já quem ganha muito...

Aguinaldo Pavão disse...

Ok. Talvez eu tenha errado na análise do “teu” liberalismo. Mas não estou convencido que teu post sobre IR não possa ser entendido como imbuído de um espírito liberal. Se o pagamento de impostos desestimula a atividade econômica, ou seja (no teu caso), os serviços prestados a fundações e instituições, então precisamos reconhecer que a redução de estímulo à atividade econômica está ligada ao que deve ser considerado, no fundo, um confisco indevido dos frutos do teu trabalho. E se dermos mais um passo, necessário na verdade, perceberemos que a atividade econômica é simplesmente uma das esferas em que os indivíduos exercem sua liberdade. Assim, a coerção estatal resta como obstáculo à liberdade. E se o desestímulo vale para os que ganham pouco, valerá também para os que ganham muito. Felizmente, há muitos estímulos e desestímulos que entram em cena quando se trata de ponderar as motivações humanas. Por conseguinte, a coerção exercida pelo Estado por meio de impostos abusivos não é um contra-incentivo necessariamente fatal.

carina paccola disse...

E quem ganha muito sonega MUITO. Os assalariados já têm confiscado o IR na fonte, não tem nem jeito. Mas temos pontos de vista bem diferentes com relação ao papel do Estado. Eu defendo a cobrança de imposto, sim, e mais pesado para quem ganha mais (e concordo é claro que quem ganha mais tb se sente desestimulado). O problema é o nosso imposto sustentar viagens de parlamentares, familiares e amigos e promover outras "festinhas" restritas a poucos.