Criança, li que pessoas de olhos claros não são confiáveis. Dona de olhos castanhos e ensanduichada entre duas irmãs loiras, uma de olhos azuis e outra de olhos verdes, quis logo aderir à idéia. Seria a vingança da confiabilidade contra a primazia da estética. Depois, concluí que isso só poderia ter sido escrito por alguém de olhos escuros que, valendo-se de sua suposta credibilidade, atestada pela cor de sua íris, pensou sentenciar como verdade sua tolice.E então eu penso no mar. Nos olhos do mar. No azul do mar. Num azul tão lindo, que às vezes é verde, e às vezes um azul tão claro e tão límpido, que é calmaria. Às vezes, um azul escuro, profundo. É um azul tão imenso que se confunde com o azul do céu, de um azul tão claro que deixa passar a luz do sol. E então é um azul que ilumina. Ou é um azul tão escuro, e aí já não há mais certeza. Só mistério. Um azul tão negro que anuncia tempestades. E a hora de recolher-se. Ou um azul tão escuro e translúcido que deixa passar a luz das estrelas. Aí é sabedoria. Mas eu sei que são apenas olhos, que não me canso de olhar. Que me ficam retidos na retina. E eu posso fechar os meus olhos que eu ainda vejo esse azul.


