terça-feira, julho 7

O poncho vermelho

Eu tenho um poncho vermelho que ganhei da avó de um menino. Essa avó tem mãos hábeis que entrelaçam fios de lã até transformá-los em peças quentinhas e aconchegantes. É um poncho muito bonito.

Mas além de embelezar, ele protege contra o frio. E quando eu o visto tenho vontade de agasalhar nele o menino Nestor que vende oito pares de meias por dez reais, da marca que o freguês quiser: Nike, Adidas, Puma. Todas iguaizinhas. Só muda a logo. O menino tem 14 anos. Não sei se ele tem uma avó que lhe faria um poncho. Talvez ele só tenha as meias contra o frio e contra a pobreza.

No meu poncho, eu também queria abrigar aquela mulher que chora porque tem medo de que a sua mãe vá embora para sempre. A sua mãe nunca lhe fez um poncho. Pelo contrário. A sua mãe sempre lhe dirigiu palavras duras e frias. Mas ela é a sua mãe, e ela achou que sua mãe fosse eterna.

Acho que no meu poncho também cabe outra mulher, que lamenta todas as escolhas amorosas feitas até agora. Todas erradas. E se pergunta se a dor da solidão sozinha é a mesma dor da solidão acompanhada. Será que no poncho ela vai se sentir assim tão só?

Poderiam ser aconchegados no poncho alguns meninos adolescentes que vão para a escola e não aprendem o que os professores ensinam. Eles não sabem se eles não aprendem porque os professores não sabem ensinar ou se são eles que não sabem aprender. E quando eles lêem números e letras tudo se confunde e parece sem sentido. Eu queria aconchegá-los no meu poncho e dizer-lhes que há ainda muito tempo para aprender.

E eu ainda queria guardar no meu poncho, bem apertadinho, um homem de cabelos de anjo, olhar e fala doces. Este homem tem as mãos tão hábeis que são capazes de desenhar notas musicais e compor lindas canções, que poderiam embalar todos os habitantes do meu poncho.

7 comentários:

Cristiana Soares disse...

owmmmmm... eu quero ir para debaixo do seu poncho tb...

carina paccola disse...

Tá bom. Pode vir.... bjs

Marília Côrtes disse...

Ich... também quero, tô babando de vontade... bjs

Gabi Goulart Mora disse...

Eu conheço uma mulher forte e carinhosa que tem mãos hábeis capazes de entrelaçar idéias e letras até transformá-las em textos lindos como o Poncho Vermelho que ela ganhou da avó de um menino.

célia musilli disse...

Ah! Carina..tb quero um poncho vermelho, vc acendeu a vontade em todos nós...agora, pode começar a tricotar...rs beijo grande!

Paulo Briguet disse...

Oi, Carina.
Vim aqui só para agradecer pela mensagem no meu aniversário.
Vivam as diferenças de opinião. Viva a civilidade.
Um forte abraço e tudo para você (e para o Nícolas).

Anônimo disse...

È por essas e outras que Lobato já disse: "A mente do caboclo é mais impenetrável que uma moita de taquaruçu".