
Almoçando sozinha, o jeito é reparar nos outros... Uma menininha de uns 5, 6 anos mostrava para o pai que ela era capaz de sentar-se sozinha naquelas cadeirinhas para crianças bem menores do que ela. E ela mostrou como conseguia subir sozinha e como também sabia descer. À distância, eu não contive o riso. O pai disse: Mas você já é grandinha, né?
E eu fiquei imaginando se ela, mesmo tão pequena, sentiu ali a angústia do tempo que passa. As crianças, de modo geral, querem logo crescer e ficar maiores do que são, mas naquele momento me pareceu que ela sentiu que já perdia alguma coisa por ter crescido. Já não podia mais ocupar uma cadeirinha tão charmosa.
Lembro quando meu filho era bem pequeno, devia ter uns quatro, cinco anos, sentado na cadeirinha no banco de trás do carro, saiu-se com esta:
- Eu não vou mais comer.
- Por que?
- Porque se eu comer eu vou crescer. E eu não quero crescer. Porque quando a gente cresce, fica velho e depois morre.
Fiquei preocupada, caramba, como é que pode desse tamanho já ficar angustiado com isso. Precisava pensar rápido e dar uma resposta que pusesse fim àquela idéia maluca de não comer mais.
- Mas se você não comer, você vai morrer também. De fome. E morrer, não tem jeito. Todos nós vamos. Mas vai demorar...
Não sei se resolvi a angústia dele. Mas fiquei intrigada ao perceber que a idéia da morte pode nos apavorar desde muito cedo. Será que tudo isso é só porque eu vou ficar mais velha em menos de um mês?
No Dia de Finados, o cemitério estava super movimentado, florido e barulhento. Havia uma missa ao ar livre. E o padre falava da morte e da ressurreição. Ele disse que nós vamos ressuscitar de corpo e alma. Me veio uma dúvida: com que idade? Nessa ressurreição, meu corpo terá que idade, a da minha morte? Se for com a idade da morte, é melhor morrer mais jovem, porque você terá uma vida eterna com mais disposição.