quinta-feira, fevereiro 18

O avesso e o direito

Nem sempre eu mostro o meu avesso. No fundo, a gente só quer mesmo é mostrar o lado direito, sem nós, sem amarrações, sem pontas. Só o que é bom de se ver. Mas a gente conhece bem o nosso lado avesso, sabe quantos pontos tem que dar para que nada desate no lado direito.

O avesso às vezes é um emaranhado de sentimentos que tentamos alinhavar para que tudo faça sentido. E às vezes, mesmo com todo o nosso esforço, sabemos que o nosso direito não está assim tão direito, que é possível visualizar desordem e confusão.

E eu nem acho que o esforço é para manter as aparências, que queremos apenas mostrar para os outros o quanto somos “direitos”.

A tentativa de costurar, de não deixar pontas, é para nós mesmos, para não enlouquecermos. É sempre uma tentativa de mostrar a si mesmo que a vida é fácil de ser conduzida, basta manejar bem todas as agulhas.
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Acabei de ler O Avesso e o Direito, de Albert Camus. Ele escreveu o livro aos 22 anos de idade. Faz um prefácio belíssimo em que coloca grandes angústias humanas. Sob um sol escaldante, li Camus dizer que a pobreza na Argélia, onde cresceu, pode ser pior para os operários de países frios. Eu também acho que a vida sob o clima quente é mais feliz do que num clima frio.

quarta-feira, fevereiro 17

A vida....

Você fala que adora o calor até enfrentar temperaturas de 40ºC, com sensação térmica de 50ºC. Você pensa que os motoristas de ônibus de Brasília são loucos até conhecer os motoristas de ônibus do Rio. Até que aqueles de Brasília são educados...
Na sua estatística pessoal, os motoristas de táxi de modo geral são gente boa. Mas tem ali uns 10% que se puderem te passam a perna. Esses indicadores se invertem quando você toma táxi no Rio. Realmente ali há 10% de taxistas honestos.
Você tem um desejo secreto de comer biscoitos Globo, na praia. Por engano, compra biscoitos Extra e fica muito feliz com a aquisição. Quando percebe o erro e finalmente experimenta os originais, da marca Globo, conclui que bons mesmo são os Extra.
Seja no ponto de ônibus, na rodoviária, na padaria, na fila do aeroporto, há malas e mal-educados de todos os gêneros, idades e classes sociais.

quarta-feira, fevereiro 10

Para se casar com um jornalista

Recebi de uma amiga um link para um blog de Ariane Fonseca que apresenta 40 motivos para se casar com um jornalista. Nós, jornalistas, estamos mal, hein? Pô, precisamos de pelo menos 40 motivos para convencer alguém de que valemos a pena...

E tem alguns ali bem inverossímeis. O motivo 19, por exemplo: "Como trabalham muito, não têm tempo para beber demais, fumar, se envolver com drogas… Você terá um companheiro saudável". Realmente, nós jornalistas somos muito saudáveis...

Já o de número 3 é bem verdade: "Eles não ganham bem, mas isso é bom porque vocês podem aprender a economizar dinheiro". Daí a achar que isso é vantagem... é muito boa vontade.

Dói mesmo é apanhar!

Não nos conhecemos em toda a nossa profundidade. Assimilamos conhecimentos e sensações que nos moldam, mas de fato não sabemos quem somos. Às vezes levamos pauladas e nem sempre reagimos com pauladas. O corpo assimila essas marcas. Mesmo pauladas que não são físicas atingem o nosso corpo físico. Ele também se ressente. E devolve, seja em dores, em crises alérgicas, em falta de apetite. Ou então deixa lá essas dores guardadinhas, bem apertadas, que acabam refletindo em outros lugares e nem nos damos conta de tudo o que está por trás – ou por baixo – de cada ação e reação. Nossa! Difícil, hein?

segunda-feira, fevereiro 1

A casa queimada

Era sábado, mas ela havia trabalhado o dia todo. Combinaram de se encontrar no final da tarde. Era outono. Com cara de outono. Foram caminhando até o bar. O mesmo onde se conheceram.

No caminho, uma casa queimada. Em pé, mas toda queimada. Ele estava sereno e seguro. Havia pensado o dia todo.

No bar, a comunicação: estava tudo terminado. Assim, sereno e seguro. Ela, com vontade de chorar. Achou mesmo que nos últimos dias ele andava muito sereno e seguro. E distante. Ela não ia chorar ali, na frente dele. Não combinava com ela. Chamou um táxi.

No caminho, já não conseguia mais segurar as lágrimas. Em casa, ainda era cedo. Mesmo assim resolveu ir pra cama. Tinha que trabalhar cedo no dia seguinte, um domingo. Então era melhor dormir.