segunda-feira, março 29

Crimes e crimes

Como a maioria da sociedade brasileira, concordei com a condenação do casal Nardoni pela morte da menina Isabella. A versão deles sempre me pareceu inverossímel, e acredito que o trabalho da perícia foi convincente na produção de provas.

Mas o julgamento e a condenação – a poucos dias antes de o crime completar dois anos – me fizeram pensar que, se houvesse ocorrido em Londrina, muito provavelmente seria um crime sem solução – ou sem julgamento.

Basta lembrar que este ano faz 10 anos que a professora de música Estela Pacheco teve o corpo jogado pela sacada do apartamento de Mauro Janene, num prédio de alto padrão aqui em Londrina. Em sua versão, o agropecuarista disse que ela havia se jogado. Exames do IML mostraram que, quando o corpo de Estela foi jogado, ela já estava morta. Além de Mauro Janene, estavam no apartamento – dormindo – a mãe e a irmã dele. Nada aconteceu até agora.

Em 1993, a doméstica Cleonice Fátima Rosa foi degolada no corredor externo do apartamento da artista plástica Wanda Pepiliasco, que morava com o marido e dois filhos adolescentes. Este caso também nunca mais voltou à cena. Se fosse o contrário, se alguém da família Pepiliasco aparecesse morto, acredito que a Cleonice estaria presa até hoje – já julgada e condenada. Tanto é que, na época, a outra empregada que trabalhava e morava com Cleonice na casa dos patrões chegou a ser presa como suspeita. Depois verificou-se que ela havia sido torturada para confessar. Os suspeitos são da família...

E tem ainda o caso da enfermeira Suely que atirou em Jaqueline Lobo, que na época namorava o ex-marido da enfermeira, um médico ginecologista. A enfermeira foi presa em flagrante. A vítima morreu alguns dias depois. O crime foi cometido num escritório de advocacia ao lado da Folha de Londrina, onde a moça trabalhava. Isso foi há bem mais de 10 anos. A enfermeira aguarda até hoje o julgamento em liberdade.

O que os três crimes londrinenses têm em comum? Nos três casos, os acusados são mais ricos que as vítimas. Portanto, a chance dos Nardoni em Londrina de sair impune – imagine se eles seriam julgados em dois anos... – seria bem maior.

9 comentários:

Anônimo disse...

Carina:
Seguindo o mesmo padrão de analogia, eu me espanto com o fato de que os casos de corrupção e roubalheira na política só resultem em mandados de prisão e atos de protesto na medida em que não envolvam o partido mais poderoso do país. O PT, a exemplo dos criminosos ricos, está blindado. Nos tribunais e nas passeatas.

Paulo Briguet. (Desculpe, não consegui assinar com minha conta do Google).

carina paccola disse...

concordo com você. E acho isso horrível também! É a mesma bandalheira, sempre!

Fischer disse...

Tem o caso Panissa. Tem o Beto Youssef. Tem... Vixe!

carina paccola disse...

É, e no caso Panissa ele já foi julgado e condenado e está "foragido"...
E lembrei que o caso Balbino, que matou o diretor da Cipasa, mais recente do que todos esses, está andando. É que desta vez a vítima é mais rica, entonces...

Aguinaldo Pavão disse...

Carina. Muito interessante o teu post. Eu concordaria contigo se você oferecesse mais elementos a fim de justificar a tua inferência (se o acusado for mais rico que a vítima, em Londrina a justiça demorará mais para julgá-lo). Os 3 casos que você cita são todos casos em que há um acusado (não ficou claro se isso vale para o primeiro caso)? Se você pudesse oferecer exemplos de casos em que o acusado, sendo mais pobre que a vítima, foi mais rapidamente julgado seria interessante. Outra coisa: acho que 3 casos é um número insuficiente para dar alguma corroboração estatisticamente forte ao teu argumento. Abraço.

Anônimo disse...

No caso da Estela, teve um início de ``reviravolta´´ nas investigaçoes há uns 5 anos quando um casal apareceu para depor afirmando que também estava no apartamento no momento da morte de Estela, o que foi omitido por Janene (por que será que pessoas com esse sobrenome, em Londrina, são sempre suspeitas e nada lhes acontece seja na área policial ou no mundo da política?). E na lista de casos mais recentes não solucionados, coloque aí os sinistros assassinatos da balconista de farmácia Celina e da estudante da Unopar.

carina paccola disse...

Aguinaldo, no primeiro caso, o suspeito é o Mauro Janene porque eles haviam se encontrado antes, num bar, e depois foram juntos para o apartamento dele. Já era madrugada. A mãe e a irmã dele disseram na época que estavam dormindo e não ouviram nada. Ou seja, o Mauro é o principal suspeito. O Anônimo lembrou aí de um casal que chegou a depor na polícia. Eu não me lembro disso. Abraços

Eliza Pacheco disse...

Carina, você faz a diferença e trás a esperança de que crimes bárbaros e sem solução, nunca sejam esquecidos. Agradeço por sua vida e por seu blog, que fatos como a morte de minha irmã Maria Estela Correa Pacheco, jamais sejam esquecidos, pode passar 10 anos, 11 anos, 12 anos, mas, um dia a justiça dos homens terá que se pronunciar, mesmo que assumindo sua incompencia de representar seu cidadão.

carina paccola disse...

Imagino que a dor da perda seja agravada por essa situação de não julgamento. Um abraço