quinta-feira, fevereiro 18

O avesso e o direito

Nem sempre eu mostro o meu avesso. No fundo, a gente só quer mesmo é mostrar o lado direito, sem nós, sem amarrações, sem pontas. Só o que é bom de se ver. Mas a gente conhece bem o nosso lado avesso, sabe quantos pontos tem que dar para que nada desate no lado direito.

O avesso às vezes é um emaranhado de sentimentos que tentamos alinhavar para que tudo faça sentido. E às vezes, mesmo com todo o nosso esforço, sabemos que o nosso direito não está assim tão direito, que é possível visualizar desordem e confusão.

E eu nem acho que o esforço é para manter as aparências, que queremos apenas mostrar para os outros o quanto somos “direitos”.

A tentativa de costurar, de não deixar pontas, é para nós mesmos, para não enlouquecermos. É sempre uma tentativa de mostrar a si mesmo que a vida é fácil de ser conduzida, basta manejar bem todas as agulhas.
***
Acabei de ler O Avesso e o Direito, de Albert Camus. Ele escreveu o livro aos 22 anos de idade. Faz um prefácio belíssimo em que coloca grandes angústias humanas. Sob um sol escaldante, li Camus dizer que a pobreza na Argélia, onde cresceu, pode ser pior para os operários de países frios. Eu também acho que a vida sob o clima quente é mais feliz do que num clima frio.

4 comentários:

Marília Côrtes disse...

Oi Ca... adorei esse post, ainda mais porque sempre ando meio às avessas rsr. de fato, o prefácio da obra é um desbunde, mais do que a própria obra.

e se fôssemos aquele tipo de irmãs que não quer que a outra compre um vestido, um sapato, um lápis... ou qualquer coisa igual, eu iria correndo chorar pra minha mãe dizendo: buááá... a carina é "copiona" há há.

mas bem sabemos que seríamos ótimas irmãs, não só pelas nossas mais diversas afinidades, mas porque (sem saber) volta e meia percebemos e pensamos as mesmas coisas (conforme constatamos ontem). beijos

célia musilli disse...

Carina, vivo me esforçando para não perder o fio que me levará à saída dos labirintos..quando encontro, costuro bem, na tentativa de não perder as pontas, embora às vezes emaranhe tanto que dê uns nós...Difícil tecer a vida, né? Um beijo.

Fischer disse...

Você está escrevendo muito bem, sua cabeçuda.

carina paccola disse...

Oi,Marília, pois é. Não me lembrava do seu post sobre o mesmo livro - e tivemos a mesma impressão sobre o prefácio. beijos

Célia, de fato a vida não anda fácil, né? beijo

Rogê, cabeçudo é você. beijo