quinta-feira, setembro 2

O fim do amor...

A Persistência da Memória, Salvador Dali

FUNERAL BLUES
de W.H. Auden

Pare os relógios, cale o telefone
Evite o latido do cão com um osso
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo.
Que os aviões voem em círculos, gemendo
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu.
Ponham laços pretos nos pescoços
brancos das pombas de rua
e que guardas de trânsito usem
finas luvas de breu.
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste
Meus dias úteis, meus finais-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite,
minha fala e meu canto.
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado
As estrelas não são mais necessárias;
apague-as uma por uma
Guarde a lua, desmonte o sol
Despeje o mar e livre-se da floresta
pois nada mais poderá ser bom como antes era.

Capital ecológica?

Gazeta do Povo, 2 de setembro: Pesquisa do IBGE mostra que cidades como São Paulo e Rio de Janeiro possuem as maiores concentrações médias de poluentes. Por outro lado, Curitiba tem o maior número de picos de poluição, apresentando grande número de violações dos limites tolerados.

quinta-feira, agosto 26

A Justiça do PR

A Folha de Londrina publica na edição de hoje (26 de agosto) matéria com o resultado da inspeção realizada na Justiça do paraná pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O corregedor Gilson Dipp disse que esperava que os problemas do Paraná fossem menores do que os encontrados em Estados pobres e menos organizados, como o Maranhão e o Piauí.

Ele destacou a falta de transparência nos pagamentos e as "gratificações que só existem no Paraná." E acrescenta: "A surpresa foi por ser um Estado rico, desenvolvido, do Sul do país, de imigração alemã, italiana. (...) há práticas consolidadas de pagamentos irregulares que já estão historicamente inseridos no patrimônio do servidor..."

quarta-feira, agosto 25

O drama dos mineiros chilenos

A história dos 33 mineiros chilenos que estão soterrados num espaço de 55 metros quadrados, desde o dia 5 de agosto, é uma das mais dramáticas que já ouvi. Eles ainda não sabem que a previsão de resgate é para o Natal quando será finalizado um túnel de 90 cm de diâmetro pelo qual serão içados. A mina é de ouro e cobre. Os trabalhadores estão recebendo alimentação e estão em contato com quem está na superfície, inclusive familiares, médicos, psicólogos. Disseram até que um especialista da Nasa se colocou à disposição porque eles têm experiência com confinamentos humanos.

Quando eu li a notícia, lembrei-me imediatamente dos 118 tripulantes do submarino russo Kursk que morreram após uma explosão no mar de Barents, em agosto de 2000. Da explosão, sobreviveram 23 homens que devem ter tido uma morte lenta e gradual nas 24 horas seguintes ou por afogamento ou por asfixia.

Entre os acidentes em minas da história, o máximo de tempo que ficaram até o resgate foi de 25 dias numa mina inundada na China. E eram três trabalhadores.

Eu desejo muito que todos sobrevivam!

quarta-feira, agosto 4

A letra C

No sonho, ele queria me provar que tinha me amado muito no passado. No momento, ninguém mais amava ninguém. Ou melhor, ele amava outra; e eu também não o amava mais fazia tempo, até tinha outro em meu coração, mas não era o caso de dizer. Ele chegou afetuoso e queria me mostrar um caderninho. Ali estaria a prova de seu amor no passado por mim. Ao olhar o caderno, vi o meu nome escrito numa caligrafia linda, muito bem desenhada. Reconheci a letra C da minha mãe. O C mais lindo que já vi era o da minha mãe. Eu até tentei e treinei bastante para copiar. Mas, incapaz de fazer aquelas voltinhas, adotei o meio círculo. Realmente a prova era contundente. Ele havia escrito meu nome muitas vezes no caderninho, sinal de que havia mesmo me amado. Mas a letra C, na caligrafia antiga, denunciava que era um amor passado.

Gentilezas

Chovia muito forte e meu carro estava estacionado próximo a uma área coberta do supermercado. Se ele estivesse parado de ré era só abrir o portamalas e eu não iria me molhar. Eu disse isso a dois homens que bebiam cerveja e conversavam perto do carro. Um deles se ofereceu então para entrar no meu carro e inverter a posição. Aceitei a gentileza. Para isso, ele se molhou bastante e eu fiquei bastante feliz. Afinal, minha alma estava precisando mesmo de um pouco de gentileza gratuita depois de receber algumas sovas verbais nas últimas semanas

segunda-feira, julho 26

Presentes e amores

No dia em que ele voltou para pegar o restante das roupas, ela já tinha secado as lágrimas. Por dentro era só dor, mas conseguiu se conter. Ele já tinha fechado a mala quando ela viu uma blusa esquecida. E mostrou para ele, que perguntou: - Essa blusa é minha? Passiva, ela respondeu: - Fui eu que comprei pra você. E imediatamente se sentiu uma idiota por ter gastado dinheiro com um presente que ele nem havia notado.

Essa cena lhe veio à memória cinco anos depois. Agora, esperava no carro enquanto o namorado subiu ao apartamento para se trocar. Ele havia dormido na casa dela e, quando saíam para almoçar fora, pediu para passar rapidamente no apartamento dele para trocar a camisa. Era uma camisa que ela havia comprado para ele seis meses antes. Mas ele já havia se esquecido disso. Ela percebeu quando ele comentou: - Sabe aquelas roupas que a gente não gosta muito...

E decidiu então que não ia mais comprar presente para namorado nenhum... Cada um que compre a própria roupa!!

segunda-feira, junho 28

Nossos vizinhos, os argentinos

Quando eu estava no colegial, houve a Guerra das Malvinas, e eu lembro que meu professor de História defendeu a Argentina. Por conta da análise dele, eu também fiquei “do lado” dos argentinos.

Depois, como boa brasileira, eu desenvolvi uma antipatia por nossos vizinhos, simplesmente por serem argentinos, e passei a classificá-los como arrogantes. Na disputa entre Pelé e Maradona, é claro que eu achava Pelé o máximo, e Maradona, o mínimo.

Quando estive a primeira vez em Buenos Aires, me surpreendi com a gentileza que encontrei nas ruas. Os argentinos eram muito atenciosos para passar informação. Teve um até que se ofereceu para completar os centavos que faltavam para comprar um bilhete de metrô, já que eu só estava com dólar no bolso e lá também não há “ônibus de graça”.

Também fiquei maravilhada com a possibilidade de andar pelas ruas portenhas à noite, com segurança, e encontrar muitos argentinos pelas ruas – senhoras simples, mas bem arrumadas, chegando aos teatros – e as livrarias abertas e sempre cheias.

Aos poucos, fui me simpatizando cada vez mais pela Argentina. Voltei a Buenos Aires uma segunda vez, e pretendo ainda voltar lá muitas vezes. As manifestações na Praça de Maio, o panelaço dos argentinos que, no final de 2001, derrubaram cinco presidentes em 12 dias e todos os protestos que levam o povo às ruas me fazem admirar cada vez mais os nossos vizinhos.

Maradona subiu no meu conceito. E confesso que, embora eu torça para que o Brasil ganhe esta Copa, eu gosto de ver os argentinos jogando.

Comecei a pensar nos nossos vizinhos depois de assistir “O Segredo dos Seus Olhos”, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro. É um drama que mistura crime e romance, ambientados na época da ditadura militar, e que tem bons momentos de humor. Uma história muito bem contada, surpreendente, com atores muito bons, principalmente Ricardo Darín, que já fez “O filho da noiva” e “Clube da Lua” – que já vi e gostei. O cinema argentino me parece mais centrado no homem e em seus dramas demasiadamente humanos do que o cinema brasileiro, mais focado nas questões sociais. Gosto de muitos filmes brasileiros, mas os argentinos me tocam mais.

domingo, junho 13

Eu odeio o frio!

O pior do frio é que todo ano ele volta. Estou com saudades de Brasília, onde o ar é até turvo de tão quente. Onde ninguém nunca pensa em comprar um aquecedor. O inverno nem começou oficialmente e eu já quero o verão. Eu não aguento mais o meu nariz escorrendo. E todo ano é a mesma coisa. Eu odeio o frio! Eu quero um Sol permanente sobre minha cabeça.

terça-feira, maio 25

Não existe ônibus de graça...

Quando era estudante, meu pai bancava todos os meus custos por aqui: moradia, alimentação, transporte e todas as necessidades básicas. Mas o orçamento era apertado. Para usar o dinheiro do ônibus com outras coisas – e também porque o ônibus era sempre apinhado e demorava muito – eu ia e voltava de carona todo dia da UEL. A não ser em dias de chuva. E quando havia greve no transporte coletivo, eu não ia à UEL, “afinal os ônibus estavam em greve” – o que era mais frequente naquela época, em meados de 1980.

Algumas vezes eu cheguei a pegar ônibus sem um tostão no bolso. A caminho da UEL, sempre encontrava um colega estudante que me cedia um passe. Por um período morei longe das rotas de carona, então pegava ônibus todo dia. Me lembro de um dia em que entrei no ônibus sem nenhum dinheiro e também não encontrei ninguém conhecido. Quando o busunga chegou no ponto do CCH, avisei o cobrador que eu ia pular a roleta porque estava sem dinheiro. Ele não gostou nada, nada. E eu, me achando a maior justa do mundo, disse: - Ah, o senhor não queria que eu faltasse à aula porque estava sem dinheiro, né?

Eu também já morei no prédio da Rádio Londrina, bem no centro, e o tanque da lavar roupas do apartamento estava com problema, então não podia ser usado. Um sábado de manhã eu precisava lavar umas peças de roupa e resolvi ir à república do meu irmão, que morava no Jardim Presidente. Mas eu só tinha o dinheiro de ida para o ônibus. Pensei: - Meu irmão financia a minha volta.

Naquela época as repúblicas não tinham telefone. Celular ainda não existia. Coloquei as roupas numa sacolinha e lá fui eu. Chegando na casa dele, não havia ninguém. Mas era livre o acesso aos fundos da casa. Entrei, lavei minha roupa, torci, dobrei e guardei de volta na sacolinha. Ia estendê-la no varal de casa que ficava numa sacada. Como eu já tinha know-how para pegar ônibus sem dinheiro, não tive dúvidas, entrei num amarelão da TCGL e não me lembro do final. Só sei que cheguei em casa sã e salva.

Alguns anos depois, já formada, eu trabalhava num jornal impresso. Numa sexta à noite fui a uma festa sem bolsa porque a que eu tinha não combinava com meu vestido. Deixei a carteira e a chave do apartamento – eu morava sozinha na av. Maringá – na bolsa de uma amiga. Ela foi embora antes e levou os meus pertences. Fiquei sem chave e sem dinheiro.

Acabei indo dormir na casa de outra amiga jornalista, que trabalhava numa rádio e morava com os pais. No dia seguinte, ela saiu antes de mim porque entrava mais cedo no trabalho e me emprestou uma roupa – porque afinal o meu vestido não combinava com o meu trabalho. Tomei café com a mãe dela, mas fiquei com vergonha de dizer que estava sem dinheiro para o ônibus.

E mais uma vez – a última – peguei o amarelão sem lenço nem documento – muito menos dinheiro. Ao chegar ao Terminal, falei para o cobrador que ia descer pela porta traseira porque estava sem dinheiro. Ele também não gostou nada, nada, mas não ia deixar isso assim. Falou que ia chamar o fiscal. Aí quem amarelou fui eu. Mas fui salva por uma senhora que havia ouvido a conversa e generosamente se ofereceu para pagar a minha passagem...

Quando lembro disso fico pensando que a minha cara-de-pau não tinha mesmo limite. Eu fiquei com vergonha de pedir dinheiro para a mãe da minha amiga, mas não tive vergonha do cobrador... É muita cara-de-pau!

segunda-feira, maio 24

Conselhos de mãe

Depois de falar pela terceira vez: – Filho, vai comer para não esfriar a comida!, ele respondeu me imitando, com voz feminina:
– Põe a blusa!
– Põe sapato!
– Põe a meia!
– Vai escovar os dentes!
– Passou fio dental?
– Desliga essa TV!
– Desliga o computador
– Vai dormir que já é tarde!
– Corta as unhas!
– Corta o cabelo!
E pra finalizar:
– Corta os pulsos!

terça-feira, maio 11

A Seleção

Já que não se fala em outra coisa neste País, eu vou dar o meu palpite. Nunca tinha ouvido falar em Felipe, que joga na Itália, mas como ele foi péssimo diante de uma pergunta-crítica de um repórter da ESPN acho que ele não deveria ter sido convocado.

Na minha Seleção, ia ter o goleiro Marcos, o Ronaldinho Gaúcho e também o Adriano – que na verdade eu nunca vi jogar, mas não gosto da ideia de o cara ser punido por mau comportamento. Eu sempre fico com pena daqueles jogadores que ficam na expectativa e não são chamados. Ainda bem que chamaram o Robinho, que é o único que eu conheço de fato. E assim a Seleção fica com pelo menos um jogador famoso - pelo menos para os ignorantes como eu.

quarta-feira, maio 5

Infância

Eu aprendi a ler aos cinco anos. E eu lia os gibis da Mônica. E eu tinha uma vizinha Mônica, que era um ano mais velha do que eu. E eu gostava muito de brincar com ela. Mas eu não entendia como o “menino” do gibi tinha nome de menina. É que como a Mônica do gibi batia nos meninos da rua, eu achava que era um menino com nome de menina.

E a minha irmã mais nova gostava muito de brincar comigo. Mas eu não queria brincar com ela. Queria só brincar com a Mônica. Então, um dia, enquanto minha irmã “batia a cara” no esconde-esconde, eu realmente me escondi na casa da Mônica e fiquei lá brincando a tarde inteira. Tudo para me esconder da minha irmã. E quando eu me lembro disso, mesmo depois de tanto tempo, me sinto bem culpada por ter feito isso com uma criança.

terça-feira, maio 4

Desilusão























Ilustração de Fero, do blog http://riscando7.blogspot.com

quinta-feira, abril 22

O gosto e o desgosto

(Ionut Dan Popescu 123RF)
O que é que nos atrai e o que é que nos repele?
Por que, com alguns, somos logo de cara simpáticos? O que vemos tão rapidamente no outro que já cria identidade? E o que é que, mal vemos, mas já sabemos que não dá liga?

Como é que nasce uma paixão? Por que é que com o tempo vai crescendo um gostar que parece não ter fim?
Como é que o pensamento pode ir tão longe para ficar tão perto de quem gostamos?
Até que ponto é um gosto gostado ou é um gosto construído?

E, depois, quando quebramos a cara, aí faz-se a história ao inverso. Pensa-se tudo ao contrário para inverter o gosto. O que é gosto deve virar desgosto. E isso dói. Porque tem que pegar tudo de bom e transformar em tudo de ruim para conseguir esquecer quem deve ser esquecido.

E em vez de olharmos só o que gostamos no outro, passamos a valorizar só o que é ruim. E aí a gente já nem entende como é que podíamos antes ter visualizado tanta coisa boa em quem parece que só tem coisa ruim.
E aí será que o desgosto é desgosto desgostado ou desgosto construído?
Uma coisa é certa: é mais gostoso gostar do que desgostar.

sexta-feira, abril 16

Se eu pudesse...

Faz muito tempo que eu não vejo um homem negro, que não tem as pernas, que se locomovia com a ajuda das mãos pelo Calçadão de Londrina. Ele praticamente se arrastava e dizia com uma voz bem forte: Se eu pudesse trabalhar eu trabalharia, mas como eu não posso... (não me lembro do fim da frase mas era um pedido de dinheiro).

Não sei onde ele não-anda não-trabalhando. Com aquela voz, ele teria potencial para ser locutor de rádio ou daquelas kombis tipo “pamonha, pamonha, pamonha...”

E eu tenho vontade de dizer: “Se eu pudesse não trabalhar, eu não trabalharia...”

quarta-feira, abril 14

Eu tenho muito medo...

Todas do site do UOL da tarde desta quarta-feira, 14 de abril:

“Subiu para 589 o número de mortos em decorrência do terremoto que atingiu nesta quarta-feira (14) a província ocidental de Qinghai, no noroeste da China, de acordo com balanço da agência estatal chinesa Xinhua.”

“Segundo o último balanço divulgado pelo Corpo de Bombeiros no início da tarde desta quarta-feira (14), subiu para 251 o número de mortes confirmadas em todo o Estado do Rio de Janeiro devido às chuvas da semana passada-- 165 mortes em Niterói, 66 no Rio, 16 em São Gonçalo, uma em Petrópolis, uma em Nilópolis, uma em Paracambi e uma em Magé. De acordo com os bombeiros, um corpo foi encontrado soterrado em um deslizamento ocorrido no bairro do Andaraí, no Rio, e o outro, também vítima de um deslizamento de terra, no bairro 340 em Niterói. O número de vítimas, entre mortos e feridos, chega a 412.”

“Pelo menos 110 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em uma tempestade que destruiu mais de 50 mil casas no estado indiano de Bengala e a limítrofe Bihar, informaram hoje fontes oficiais.
A tempestade começou ontem à noite de Dinajpur, com ventos de até 125 km/h que arrastaram grandes quantidades de areia. Mais tarde, a tempestade seguiu até os distritos de Araria e Purnia do estado contígua de Bihar, e afetou uma pequena área do estado de Assam, no nordeste indiano.”

“Uma erupção vulcânica na Islândia liberou fumaça preta e vapor branco nesta quarta-feira e derreteu parte de uma geleira, provocando uma forte inundação que ameaça danificar rodovias e pontes.
A nuvem de fumaça foi vista saindo da cratera abaixo de uma camada de 200 metros de gelo da geleira Eyjafjallajokull, próximo ao local de outra erupção que começou no mês passado e arrefeceu apenas na segunda-feira, segundo a rádio estatal islandesa.
A Autoridade de Defesa Civil Islandesa ordenou que 700 pessoas saíssem de suas casas e disse que o gelo que estava derretendo da geleira havia causado grandes inundações que ameaçavam danificar rodovias e diversas pontes, disse uma autoridade à Reuters.”

“Uma equipe de pesquisadores britânicos foi surpreendida por uma rachadura gigante no gelo logo abaixo de uma das barracas de seu acampamento, no Ártico. Os três integrantes da equipe Catlin Arctic Survey estão na região para uma pesquisa anual que avalia os efeitos das mudanças climáticas.
A pesquisadora Ann Daniels conta que os pesquisadores já tinham observado o gelo se movimentando. Na manhã seguinte, depois dos barulhos, o gelo começou a se abrir de repente.
A equipe de pesquisadores britânicos também está tendo que enfrentar outras dificuldades na região, como grandes extensões de águas abertas, gelo se movimentando rapidamente e placas de gelo deslizando umas sobre as outras.”

terça-feira, abril 13

A busca

Imagem de Fábia Belém em http://fabiabelem.blogspot.com/2009_09_01_archive.html
O marido não lhe dava o devido valor. Pelo contrário. Toda vez que podia a criticava sem dó nem piedade. Talvez para se autoafirmar. Talvez para esconder que na verdade ela era muito melhor do que ele. Talvez porque a competência dela realçasse a incompetência dele. E talvez porque se sentisse inferior por ser sustentado financeiramente por ela. Não por muito tempo.

Ele finalmente arrumou um emprego. Mas era bem longe de casa. E foi-se sozinho. Queria que ela o acompanhasse. Ela até pensou na hipótese. Chegou a visitá-lo na nova moradia. Mas não se enxergou naquele lugar. Aquele lugar não tinha nada a ver com ela. E, pensando bem, nem ele tinha mais nada a ver com ela. Mas, como estavam juntos havia muito tempo, resolveu segurar as pontas. Aí começaram as crises de ciúmes. Quando se encontravam, ela não podia mais nem cumprimentar antigos namorados que ele se corroía. Ela então passou a se sentir presa mesmo na ausência dele. Começou a perder a espontaneidade com medo das reações ciumentas. E viu que não valia mais a pena.

Libertou-se. Amou de novo. Mudou-se para o outro lado do mundo. Conheceu lugares e pessoas diferentes. Fez novos amigos. Mudou de novo para um lugar ainda mais longe. Uma cultura muito diferente da sua. Estava sozinha novamente. E voltou-se para dentro. Não no sentido egoísta. Mas para conhecer-se melhor. Para tentar entender as suas dores, angústias e tristezas e, quem sabe, encontrar momentos de felicidade.

sexta-feira, abril 9

As pulseirinhas do sexo

(foto de Albari Rosa, Gazeta do Povo)
Está cada vez mais ridícula a proibição do uso das “pulseirinhas do sexo” pelos Poderes Públicos. Primeiro, foi a Vara da Infância de Londrina, depois a Câmara, e agora estão querendo proibir em todo o Estado.

Ah, dá licença e faiz favor, como é que a Justiça pode proibir o uso de um adereço? Quem pode proibir uso de minissaia, pulseiras, piercing e etc. é pai e mãe. Como mãe, eu posso proibir meu filho de usar determinada roupa ou adereço. E não por muito tempo. Apenas enquanto ele estiver sob minha tutela. E escola também pode, sob a justificativa de que determinado objeto causa tumulto ou atrapalha as atividades de ensino. E só.

O pior é que a sociedade concorda com essas imposições. Até porque o significado que se dá às pulseirinhas pode ser transferido para qualquer outro objeto. Os adolescentes podem inventar que agora o significado de cada cor das pulserinhas vale também para as meias. Ou seja, se eu usar meia laranja é porque eu quero uma "dentadinha do amor". E aí? Vamos proibir as meias?

quinta-feira, abril 8

Onde isso vai parar?

Primeiro, eles aprendem a andar, depois transformam sons ininteligíveis em frases bem articuladas e passam a usar garfo e faca para comer. Não demora muito, ficam mais altos que você. E agora vêm com essa: vão votar pela primeira vez!

Então eu me pergunto: - Onde é que isso vai parar?

quarta-feira, abril 7

O reencontro




Rever meus amigos foi bem mais que divertido, foi emocionante. Eu não contava com isso. Não achei que fosse me emocionar. Depois de 20 anos, na verdade, mudamos pouco. Na essência continuamos os mesmos. Alguns engordaram, outros cortaram os cabelos, a barba, teve quem deixou de usar óculos, quem passou a usar, mas depois de 10 minutos de conversa dava para constatar: -Ah, realmente é ele mesmo!

A Vânia veio com a família. A filha é coisa de cinema de tão linda. A Vânia continua com o mesmo cabelo comprido, o mesmo estilo de se vestir, apenas a voz um pouco mais grave. Continua com uma visão esotérica do mundo, procurando sempre uma vida alternativa.

A Priscila trouxe as filhas num envelope: as fotos mostram que elas também são lindas. Moramos juntas numa república no Edifício Cínzia. Relembramos histórias, rimos muito. Toda vez que eu ouço “Ela vem toda de branco, toda molhada e despenteada....” me lembro da Prica. A Edra disse que é porque ela tinha um macacão branco. Deve ser, e também porque tem lindos cabelos enrolados.

O Luisinho veio com a esposa. Ele mais uma vez arrasou no palco com sua voz doce. Como pode depois de tanto tempo manter tanta doçura na voz e no jeito? Mostrei a ele uma foto em que estamos eu, ele e a Denise. Ele disse: - Meu filho se parece comigo.

Seu parceiro de palco, o Marco, continua magro e com cabelos pretos. Não sei porque, mas achei que ia encontrar o Marcão gordo e de cabelos grisalhos. Nada. Super moço ele está. E continua o mesmo querido de sempre.

A Ângela e o Tadeu trouxeram os filhos, dois rapazes que também são músicos.
O show de todos foi um grande presente. Tocaram Aurélio, Pedrinho, o Marcelo (irmão do Marco) e até o Ruizinho, que agora é médico. Também a Tetê, que canta, e o marido Jr., da bateria, que eram da Arquitetura.

Com a Sílvia Helena o encontro foi mais rápido. Mas não menos intenso.

O Ariel é sempre divertido. Passeando pela cidade, lembramos do Castelinho, do Café Set e do Sapo’s – bares da Higienópolis que não existem mais. Esqueci de falar pra ele do Jully Pop – que hoje virou loja de animais na esquina da JK com a Goiás.

E o Loyolla veio acompanhado de uma esposa linda e de um Loyollinha que é uma graça.
A filha da Carla se surpreendeu ao ver que todos nós temos a mesma idade. Alguns mais, ninguém menos. A Silvana comemorou o aniversário conosco. E quase chorou de emoção!
Teve ainda Cláudia, Mário Marins, Rogério, Horner, Sato, Ângelo, a Soniah Weill. Esqueço alguém?

Foi um reencontro muito legal. Às vezes até parecia um sonho reunir no mesmo tempo e espaço gente de outros tempos e que hoje ocupam outros espaços

terça-feira, março 30

As cores dos desenhos



Os mosaicos são coloridos. Uma cor mais linda que a outra. Depois de imaginar, tem que traçar o desenho. E escolher as cores. Para isso, é só brincar, colocar uma pedra colorida ao lado da outra e ver a combinação que mais te agrada. Depois, tem que cortar. Na forma do desenho. E colar. E colar. E recortar. E colar. É um trabalho lento. E enquanto você recorta e cola (e não é Control C Control V. É no braço!), mil imagens e pensamentos passam pela sua cabeça. E você sonha. E voa. E viaja. Pensa em mil desenhos e cores e em mil pessoas para quem você daria cada um daqueles vidrinhos coloridos em formatos de desenhos. E aí você pensa que gostaria de passar o resto da vida recortando e colando. Mas tem que parar para limpar a casa, fazer comida ou lavar a louça, ou para dormir porque já é tarde. E no outro dia, cedo, você tem que levantar para trabalhar. E não é nenhum trabalho colorido.

Eu sei o que você fez em 1984

Foto de autoria desconhecida e de domínio público: Graça, eu, Carla (camiseta preta),
Vânia (apoiada na árvore), Gelson (da Arquitetura, em pé), Loyola e Silvana

Faz 26 anos que vim para Londrina. Era 1984. Eu tinha 18 anos e vim pra cá fazer Jornalismo. Agora, no próximo final de semana, haverá um reencontro. “Eu sei o que você fez em 1984” é o nome da festa (se fosse o pessoal RP que estivesse organizando, seria evento), que pretende reunir colegas que se conheceram na UEL naquela época. Não precisa ser exatamente da turma 84/1. Até porque ao longo do curso havia uma mescla de turmas.

Não é por nada, não. Mas Páscoa eu gosto de passar em Piraju, com a minha família. E eu demorei pra sacar que a festa havia sido marcada bem no feriado. Reclamei. Mas aí já era tarde. E ouvi o seguinte argumento – que considero justo e convincente – é, difícil é organizar, criticar é fácil. Então cedi ao apelo do reencontro com velhos amigos e resolvi ficar.

Estou um pouco ansiosa. Tem os que nunca ficaram longe: Rogério Fischer, Dirceu Herrero, Aurélio Albano, Silvana Leão, Denise Gentil, Cláudia Romariz, Carla Sehn, Edra, Sílvia Duarte, o Alexandre Horner e o Rodrigo Garcia Lopes (acho que o Rodrigo não era 84/1, mas acabou sendo). Tem o pessoal de RP, a Stela Cavichioli, a Patrícia Urizzi.

Tem os que, mesmo longe, revi algumas vezes: Graça Milanez, Denise Sacco, Ariel Palacios, Cleuza. E tem a Marisa, com quem troquei email recentemente. O Luizinho também vi uma vez.
E há quem eu não veja há pelo menos 16 anos: Rose Castro, Vânia, Priscila, Marco Beato, Loyola, Pitágoras, Péricles e o César (nossa, este agora eu desenterrei).

E tem os que se foram logo no início do curso: Reinaldy, Carlos (o Massa) e o Mori. Desses, nunca mais tivemos notícia.
Não sei quantos virão, mas acredito que será divertido.

segunda-feira, março 29

Crimes e crimes

Como a maioria da sociedade brasileira, concordei com a condenação do casal Nardoni pela morte da menina Isabella. A versão deles sempre me pareceu inverossímel, e acredito que o trabalho da perícia foi convincente na produção de provas.

Mas o julgamento e a condenação – a poucos dias antes de o crime completar dois anos – me fizeram pensar que, se houvesse ocorrido em Londrina, muito provavelmente seria um crime sem solução – ou sem julgamento.

Basta lembrar que este ano faz 10 anos que a professora de música Estela Pacheco teve o corpo jogado pela sacada do apartamento de Mauro Janene, num prédio de alto padrão aqui em Londrina. Em sua versão, o agropecuarista disse que ela havia se jogado. Exames do IML mostraram que, quando o corpo de Estela foi jogado, ela já estava morta. Além de Mauro Janene, estavam no apartamento – dormindo – a mãe e a irmã dele. Nada aconteceu até agora.

Em 1993, a doméstica Cleonice Fátima Rosa foi degolada no corredor externo do apartamento da artista plástica Wanda Pepiliasco, que morava com o marido e dois filhos adolescentes. Este caso também nunca mais voltou à cena. Se fosse o contrário, se alguém da família Pepiliasco aparecesse morto, acredito que a Cleonice estaria presa até hoje – já julgada e condenada. Tanto é que, na época, a outra empregada que trabalhava e morava com Cleonice na casa dos patrões chegou a ser presa como suspeita. Depois verificou-se que ela havia sido torturada para confessar. Os suspeitos são da família...

E tem ainda o caso da enfermeira Suely que atirou em Jaqueline Lobo, que na época namorava o ex-marido da enfermeira, um médico ginecologista. A enfermeira foi presa em flagrante. A vítima morreu alguns dias depois. O crime foi cometido num escritório de advocacia ao lado da Folha de Londrina, onde a moça trabalhava. Isso foi há bem mais de 10 anos. A enfermeira aguarda até hoje o julgamento em liberdade.

O que os três crimes londrinenses têm em comum? Nos três casos, os acusados são mais ricos que as vítimas. Portanto, a chance dos Nardoni em Londrina de sair impune – imagine se eles seriam julgados em dois anos... – seria bem maior.

sexta-feira, março 19

Ai ai ai

Sobre o caso Bancoop: Vi o Mundo.

Hoje, 23/3, em resposta ao comentário do Rogério, faço o complemento:

No post do blog Vi o Mundo, há na íntegra a decisão do juiz Carlos Eduardo Lora Franco, do Departamento de Inquéritos Policiais e Corregedoria da Polícia Judiciária de São Paulo, em relação ao requerimento do promotor José Carlos Blat para bloqueio das contas do Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários).

Antes de apresentar sua decisão sobre o requerimento, o juiz argumenta:

“A manifestação apresentada pelo Ministério Público descreve uma série de fatos e circunstâncias, narrando como seria o suposto esquema de desvio de valores da Bancoop, inclusive para fins de financiamento ilícito de campanhas políticas.

Porém, não há em tal manifestação a indicação clara e precisa dos elementos de prova dos autos que sustentam tal narrativa, bem como os pedidos formulados.

E, sendo este um feito bastante complexo, já com 26 volumes (mais de 5.600 páginas), além de 59 anexos, como citado pelo próprio Ministério Público, é imprescindível que indique de forma discriminada e detalhada os elementos que sustentem cada uma de suas afirmações.

A manifestação cita, por exemplo, que “aproximadamente 40% da movimentação das contas correntes de titularidade da Bancoop tiveram recursos sacados em dinheiro na própria agência bancária” (fls. 5652), mas como base para tal alegação indica apenas um cheque, no valor de R$ 50.000,00, sem sequer citar em que volume ou apenso, e folha, consta tal informação. Cita, ainda, que numa avaliação, entre 2001 e 2008, teria constatado que os valores assim circulados chegariam a R$ 18.000.000,00, mas novamente não há indicação precisa da fonte de tais informações.

Tem-se, portanto, como imprescindível que os autos tornem ao Ministério Público para que indique com precisão quais os fundamentos de cada uma de suas afirmações que invoca como razões para os pedidos formulados.

E isso para que, como dito, fique bem claro para toda a sociedade que os pedidos e as decisões estão fundados apenas em elementos e razões contidas nos autos, e são efetivamente necessários e oportunos, neste momento.

E não é demais dizer que tal providência naturalmente incumbe ao órgão requerente. Os fatos, com respectivos fundamentos, devem ser apresentados pela parte ao Magistrado, para que então possa decidir.”

Antes de indeferir o pedido de bloqueio das contas, o juiz alerta sobre a importância do rigor e da cautela nos requerimentos do MP, principalmente em épocas eleitorais para que não haja exploração indevida do tema.

Na minha opinião, o Ministério Público tem feito muitas vezes mal sua lição de casa. Infelizmente, há situações em que o MP oferece denúncia sem ter feito a investigação devida, parecendo que suas manifestações são mais políticas do que bem fundamentadas. Tem sido comum promotores chamarem a imprensa, fazer barulho sem ter provas concretas sobre o que está denunciando. E a imprensa tem caído como um patinho (ou está mal-intencionada) – e às vezes até serve ao MP para a produção de provas.

O papel do MP é fundamental e houve um grande avanço com a Constituição de 1988 que passou a caracterizar o órgão como uma instituição permanente, autônoma, com as funções de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. No entanto, alguns integrantes do MP extrapolam seu poder. Disso eu tenho medo porque às vezes eles prendem e desprendem, sem a fundamentação devida. Muitas vezes apenas indícios de corrupção têm sido suficientes para condenar agentes públicos.

Depois, sem provas, não acontece nada contra os acusados – que já foram espinafrados publicamente. No caso do Bancoop, há vítimas, pessoas que pagaram o financiamento de imóveis que nunca foram entregues. Resta investigar – a fundo – para saber se são vítimas de gente que não sabe administrar ou se houve de fato desvio de dinheiro para favorecer gentes ou campanhas políticas.

quinta-feira, março 18

A herança de Aníbal Khoury

Hoje é aniversário do jornalista Pedro Livoratti. Uma das melhores notícias que ouvi foi da boca do Pedro, na rádio da UEL, quando ele anunciou a morte do deputado Aníbal Khoury. Embora a família deve ter sentido e sofrido com essa perda, considero que a morte dele, em 1999, foi bastante benéfica para o Paraná. Afinal, só mesmo morto para o cara largar o osso.

Ao ler ampla reportagem divulgada pelo jornal Gazeta do Povo - nas edições de ontem e hoje - vi que Aníbal Khoury deixou herdeiros. Num trabalho investigativo muito bem feito, a Gazeta aponta desvios milionários da Assembleia Legislativa, aparentemente comandados pelo diretor-geral da AL, Abib Miguel, indicado obviamente pelo velho amigo Aníbal.

São milhares de reais desviados para amigos, compadres e familiares de Bibinho - como carinhosamente o cara é chamado. A AL ainda não se pronunciou oficialmente sobre o que fazer com o "Bibinho", afinal, deve ser difícil mexer com o homem.

Os "Diários Secretos" revelados pela Gazeta mostram a vergonha da Assembleia do Paraná que publica edições avulsas do Diário Oficial, sem data, que nomeiam, desnomeias e fazem o que querem

Apesar de tudo - dos baixos salários e da constante tentativa de desvalorizar o trabalho dos jornalistas (como a decisão do STF de que qualquer um, sem nenhuma qualificação, pode exercer nossa profissão) - acredito que graças a essa reportagem é que alguma coisa será feita para impedir que essa quadrilhagem continue a agir na Assembleia do Paraná. Mas, devo confessar que, no fundo, no fundo, eu acredito que a publicação da investigação jornalística agora só foi possível com a morte do "Anibinho".

domingo, março 14

Foi um doido!!

Foi um doido que matou o Glauco. Que perda!!!

sexta-feira, março 12

Uma notícia muito triste

Ao ligar o computador, vi uma das notícias mais tristes de 2010: a morte do cartunista Glauco, assassinado, junto com seu filho, durante um assalto à sua casa. O cara, com seus cartuns, com o Geraldão, o Geraldinho, a Dona Marta e outros personagens, fazia mais pelo Brasil do que a grande maioria dos políticos. Eu não consigo deixar de pensar que esses bandidos poderiam ter assaltado a casa de um desses políticos que só esfolam o país. Roubam às pampas com a maior cara de pau, nunca são punidos, nunca devolvem nada aos cofres públicos, e ainda por cima servem de exemplo para os bandidinhos comuns, que ganham a vida assaltando casas e matam pessoas maravilhosas como o Glauco e seu filho. Dá uma dor no coração. O Brasil fica literalmente mais triste sem o grande talento de Glauco.

quinta-feira, fevereiro 18

O avesso e o direito

Nem sempre eu mostro o meu avesso. No fundo, a gente só quer mesmo é mostrar o lado direito, sem nós, sem amarrações, sem pontas. Só o que é bom de se ver. Mas a gente conhece bem o nosso lado avesso, sabe quantos pontos tem que dar para que nada desate no lado direito.

O avesso às vezes é um emaranhado de sentimentos que tentamos alinhavar para que tudo faça sentido. E às vezes, mesmo com todo o nosso esforço, sabemos que o nosso direito não está assim tão direito, que é possível visualizar desordem e confusão.

E eu nem acho que o esforço é para manter as aparências, que queremos apenas mostrar para os outros o quanto somos “direitos”.

A tentativa de costurar, de não deixar pontas, é para nós mesmos, para não enlouquecermos. É sempre uma tentativa de mostrar a si mesmo que a vida é fácil de ser conduzida, basta manejar bem todas as agulhas.
***
Acabei de ler O Avesso e o Direito, de Albert Camus. Ele escreveu o livro aos 22 anos de idade. Faz um prefácio belíssimo em que coloca grandes angústias humanas. Sob um sol escaldante, li Camus dizer que a pobreza na Argélia, onde cresceu, pode ser pior para os operários de países frios. Eu também acho que a vida sob o clima quente é mais feliz do que num clima frio.

quarta-feira, fevereiro 17

A vida....

Você fala que adora o calor até enfrentar temperaturas de 40ºC, com sensação térmica de 50ºC. Você pensa que os motoristas de ônibus de Brasília são loucos até conhecer os motoristas de ônibus do Rio. Até que aqueles de Brasília são educados...
Na sua estatística pessoal, os motoristas de táxi de modo geral são gente boa. Mas tem ali uns 10% que se puderem te passam a perna. Esses indicadores se invertem quando você toma táxi no Rio. Realmente ali há 10% de taxistas honestos.
Você tem um desejo secreto de comer biscoitos Globo, na praia. Por engano, compra biscoitos Extra e fica muito feliz com a aquisição. Quando percebe o erro e finalmente experimenta os originais, da marca Globo, conclui que bons mesmo são os Extra.
Seja no ponto de ônibus, na rodoviária, na padaria, na fila do aeroporto, há malas e mal-educados de todos os gêneros, idades e classes sociais.

quarta-feira, fevereiro 10

Para se casar com um jornalista

Recebi de uma amiga um link para um blog de Ariane Fonseca que apresenta 40 motivos para se casar com um jornalista. Nós, jornalistas, estamos mal, hein? Pô, precisamos de pelo menos 40 motivos para convencer alguém de que valemos a pena...

E tem alguns ali bem inverossímeis. O motivo 19, por exemplo: "Como trabalham muito, não têm tempo para beber demais, fumar, se envolver com drogas… Você terá um companheiro saudável". Realmente, nós jornalistas somos muito saudáveis...

Já o de número 3 é bem verdade: "Eles não ganham bem, mas isso é bom porque vocês podem aprender a economizar dinheiro". Daí a achar que isso é vantagem... é muito boa vontade.

Dói mesmo é apanhar!

Não nos conhecemos em toda a nossa profundidade. Assimilamos conhecimentos e sensações que nos moldam, mas de fato não sabemos quem somos. Às vezes levamos pauladas e nem sempre reagimos com pauladas. O corpo assimila essas marcas. Mesmo pauladas que não são físicas atingem o nosso corpo físico. Ele também se ressente. E devolve, seja em dores, em crises alérgicas, em falta de apetite. Ou então deixa lá essas dores guardadinhas, bem apertadas, que acabam refletindo em outros lugares e nem nos damos conta de tudo o que está por trás – ou por baixo – de cada ação e reação. Nossa! Difícil, hein?

segunda-feira, fevereiro 1

A casa queimada

Era sábado, mas ela havia trabalhado o dia todo. Combinaram de se encontrar no final da tarde. Era outono. Com cara de outono. Foram caminhando até o bar. O mesmo onde se conheceram.

No caminho, uma casa queimada. Em pé, mas toda queimada. Ele estava sereno e seguro. Havia pensado o dia todo.

No bar, a comunicação: estava tudo terminado. Assim, sereno e seguro. Ela, com vontade de chorar. Achou mesmo que nos últimos dias ele andava muito sereno e seguro. E distante. Ela não ia chorar ali, na frente dele. Não combinava com ela. Chamou um táxi.

No caminho, já não conseguia mais segurar as lágrimas. Em casa, ainda era cedo. Mesmo assim resolveu ir pra cama. Tinha que trabalhar cedo no dia seguinte, um domingo. Então era melhor dormir.

sexta-feira, janeiro 15

O Haiti

Menina em favela de Porto Príncipe em julho de 2007. (Foto: AP)
Foto de Alice Smeets, vencedora do prêmio Unicef em 2008.

Como cabe tanto sofrimento numa nação? Este artigo no site da BBC
http://www.bbc.co.uk/blogs/portuguese/2010/01/para_o_haiti_a_gota_dagua.shtml relata um pouco dessa história. História, aliás, a mesma que os europeus repetiram nos países africanos, sul-americanos e em todos os cantos do mundo. Esses caras se acham mesmo superiores. Eles vem, exploram todas as nossas riquezas, constroem maravilhas em suas terras e depois impedem a entrada de cidadãos que não sejam europeus. Cito uma amiga que cita outra pessoa que não lembro: eles são mesmo superiores - em crueldade!

quarta-feira, janeiro 13

A velhice

Imagem retirada de http://mareslunares.files.wordpress.com/2008/09/velhice11.jpg
A gente ri da falta de noção das crianças em relação à idade das pessoas. Mas quando eu tinha 18 anos eu lembro que fiz um comentário sobre os 50 anos de meu pai: “Nossa, como ele está velho! Meio século de vida é muuuito tempo”. E acho que a falta de noção do tempo nos acompanha por toda a vida.

Acho que a velhice é algo externo a nós, ou melhor, acho que a velhice é física. Não temos mais a mesma disposição para sair correndo por aí, brincando de pega-pega. Nem para alguns programas noturnos. (Na verdade, eu acho que desde a tenra idade nunca tive essa disposição...) e nem tudo nos cai bem no estômago.

O espelho nos mostra rugas de expressão que não mais se desmancham... Sentimos no corpo a velhice. Mas no íntimo não nos sentimos velhos. Não estou falando daquela resistência em assumir compromissos como se fôssemos adolescentes. Digo que a cabeça não constata: “Estou velho. Penso como um velho!” Por isso digo que a velhice é externa; olhamos o outro e dizemos: “Como está velho!” Dizemos isso porque só podemos ver a carcaça e nunca dentro do outro.

Fora a limitação física, nossos pensamentos continuam sempre vívidos e frescos. Isso é legal. E o tempo nós dá mais repertório, mais referências que podem deixar nossos pensamentos mais legais. Não acho que a ranzinzice seja característica da velhice. Acredito que há crianças, adolescentes e adultos ranzinzas. E o passar do tempo nos iguala. Até existem procedimentos estéticos que podem adiar os sinais do tempo, mas nada apaga tudo o que você viveu, ano a ano. Nada faz voltar o tempo e as escolhas que fazemos e que são determinantes para o que somos hoje. Feliz aniversário para mim!

quarta-feira, janeiro 6

Esperança

O meu primeiro texto de 2010 quer falar de esperança, apesar das tragédias ocorridas dias atrás.

Em dezembro, li na Folha de S. Paulo uma entrevista com o cineasta português Manoel de Oliveira, de quem nunca ouvira falar.

Ele concedeu a entrevista às vésperas de completar 101 anos. O primeiro filme de sua vida - um curta - foi lançado em 1931; mas foi aos 70 anos de idade, em 1978, que ele começou a sua principal fase artística.

A morte não o assusta. Ele diz que sente uma certa melancolia por ter visto tanta gente querida desaparecer: os pais, os irmaõs e os amigos. "Não tenho nenhum amigo da minha idade que diga: 'Ó, rapaz, lembra-se de quando tínhamos 17 anos e tal...' É uma melancolia muito forte".

Manoel de Oliveira é casado há 70 anos com dona Maria Isabel. E conta que cada um torce para que o outro morra primeiro só para garantir que alguém irá lhe fazer companhia no enterro.

Ah, o motivo da entrevista é o lançamento de seu último filme, "Singularidades de uma rapariga loura", baseado num conto de Eça de Queiroz e que ainda não chegou ao Brasil.

Eu não sei se este é um texto de esperança, mas gostei do cara. É inspirador.

terça-feira, dezembro 22

Please, stop!

Tirinha em http://thethales.wordpress.com/2007/03/06/028-mais-ferias/
Meu nome é cansaço! Eu tento diminuir o ritmo de trabalho, mas a demanda é incrível. Não parece que estamos a poucos dias de acabar o ano. Para mim, esse período que antecede o Natal e a passagem do ano pede naturalmente uma pausa, mas não tem sido assim. Por isso eu amo entrar em férias em janeiro. Infelizmente não vou poder fazer isso agora. Será que eu vou aguentar?

quarta-feira, dezembro 9

CANÇÕES DO ESTÚDIO REALIDADE, com Rodrigo Garcia Lopes, domingo


Texto do blog do Rodrigo (http://estudiorealidade.blogspot.com) - Foto: Carlos Bozelli

O poeta, cantor, violonista e compositor Rodrigo Garcia Lopes apresenta, neste domingo, às 22 horas, dentro da programação do Cabarezinho, na Vila Cultural Cemitério de Automóveis, o show Canções do Estúdio Realidade. No espetáculo, músicas inéditas, como "Fugaz", "Quaderna", "Vertigem", "New York", "Betty Blue" e outras que farão farão parte de seu próximo disco, a ser gravado em 2010.

Acompanhado de Eduardo Batistella (bateria) e Marco Scolari (teclados, acordeon), Rodrigo (voz e violão) também tocará canções de seu primeiro CD, Polivox, firmando um diálogo entre a canção brasileira e experimentos sonoros e ritmos como blues, jazz e funk, que tem sido a marca de seu trabalho.

O show traz também uma variedade de estilos musicais como o flamenco ("Paradoxos do Tempo", reggae (“Ruído do Vidro”), e funk em (“Clique, Plugue, Ligue”), rap ("New York"), comprovando a capacidade absortiva e antropofágica da música brasileira contemporânea, bem como a força da música produzida em Londrina.

Como escreveu o cantor e compositor Vitor Ramil, um dos maiores artistas da musica brasileira contemporânea,: "Rodrigo Garcia Lopes, autor de Polivox, é mesmo um cara de muitas vozes. Vozes dele, vozes de outros. Não é toda a hora que se encontra gente múltipla assim, que escreve poesia e ensaios, faz entrevistas, toca violão, compõe, canta. Tudo bem feito, claro. Para o público em geral, ávido de cultura, uma personalidade criativa e livre dessas por perto, nesta época de especializações, de nichos de mercado, de repetições e limitações, é motivo para comemorar".

Conheça algumas músicas do show no Myspace: http://www.myspace.com/ogirdor2009

Canções do Estúdio Realidade

Rodrigo Garcia Lopes (voz, violão)

Eduardo Batistella (bateria)

Marco Scolari (teclados, acordeon e efeitos eletrônicos).

Dia 13 de dezembro - 22 horas
Vila Cultural Cemitério de Automóveis
R. João Pessoa, 103, Londrina (PR)
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00

terça-feira, novembro 24

Control Z

Uma das funções mais úteis do computador, na minha opinião, é a que permite você retornar ao passo anterior: o Control Z. De vez em quando eu queria que a vida também tivesse um Control Z para apagar algumas frases mal-ditas ou rever algumas ações impensadas.

segunda-feira, novembro 23

Mãos de cebola

Minhas mãos nunca se pareceram com as da minha mãe. Ela sempre teve mãos bonitas. As minhas não são bonitas, mas me são bastante úteis. Eu gosto delas. Hoje elas me fizeram lembrar das mãos da minha mãe. É que estavam cheirando a tempero. E fiquei com saudades da minha mãe, de suas mãos e da sua comida.

quarta-feira, novembro 18

Estilingadas


já fui adepta do estilingue e devo ter causado pequenos machucados
quando me lembro das pequenas dores que provoquei
às vezes me penalizo e sofro como se o machucado fora em mim
isso acontece quando vejo que a vítima de minhas lanças também era alvo de meu amor
outras vezes me parece que minha estilingada tinha motivo justo
e me parece mais como uma malcriação
se pudesse voltar no tempo acho que eu mostraria apenas a língua

terça-feira, outubro 27

Carro novo


Sonhei que tinha trocado de carro. Como não entendo de carros, não sei que carro era, mas era bonito e bem melhor que o meu. Eu estava feliz no sonho! E eu sabia que o carro tinha custado 30 mil. Eu dei o meu, valendo 15 contos, e financiei o resto. Quando acordei, pensei: Putz, que pobreza! Nem no sonho eu consigo comprar um carro à vista...

segunda-feira, outubro 19

Às armas!


A opção pela luta armada por um grupo de jovens alemães, na década de 1960, é o tema do filme O grupo Baader-Meinhof, baseado em história real. Baader-Meinhof é como ficou conhecida a Facção Exército Vermelho (RAF), organização de esquerda que partiu para atos de terror na Alemanha para protestar contra o capitalismo, o imperialismo norte-americano, guerra no Vietnã e todas as justas causas então em pauta.

Andreas Baader era um dos líderes guerrilheiros e Ulrik Meinhof, uma jornalista que se envolveu com o plano de fuga de Baader. Ela conseguiu autorização para entrevistar Baader fora da prisão e facilitou a sua fuga. Por isso, Ulrik passou a ser procurada pela polícia também como liderança do RAF.

Em alguns momentos do filme, o jovem Baader se comporta como um menino mimado que não aceita ser contrariado. Algumas vezes, os rebeldes parecem filhinhos de papai que se divertem roubando carros e dando tiros para o alto. Depois, entram numa espiral de violência que não tem mais volta. Eles passam a corresponder à imagem de violentos retratada pela mídia.

A impressão que eu tenho é que quando se lança mão da violência – sejam as guerras oficiais, as guerrilhas urbanas, as execuções de traficantes por parte da polícia, as brigas de trânsito e as brigas domésticas – turva-se o caminho e não se alcança o objetivo. A violência nunca é razoável, embora haja momentos em que nos parecem que é o único caminho.

A namorada de Baarden, Gudrun Ensslin, justifica o uso da violência dizendo que é a única resposta para a violência do Estado. Ela ainda lembra que os alemães sempre serão cobrados por terem se mantidos passivos diante do nazismo e, portanto, era preciso reagir diante de tantas situações de opressão.

Depois de provocar muitas mortes e atentados, os integrantes do RAF foram mortos ou capturados pela polícia. Os líderes permanecem mais tempo na prisão à espera de julgamento. Numa de suas falas para se defender, a jornalista Ulrik diz que o incêndio de um carro é um crime, o incêndio de vários carros é um ato político.

Ulrik era quem redigia os manifestos do grupo. Gudrun ridicularizava a jornalista porque seus escritos eram apenas discursos; os atentados eram ações de fato. No entanto, nem as ações nem os discursos produziram os efeitos revolucionários que eles pretendiam.

Antes de terminado o julgamento, Ulrik foi encontrada morta em sua cela. A versão da polícia foi de que ela se suicidou. Os três líderes que ainda amargavam a prisão acusaram o Estado por assassinato. Numa tentativa de libertá-los, outros integrantes da Facção chegaram a sequestrar um líder empresarial alemão e um avião com 86 passageiros. Não surtiu efeito.

Nas últimas cenas do filme, os três líderes aparecem mortos em suas celas. A versão oficial novamente é de suicídio. Mas eu entendi que eles foram mortos pela própria Facção, a quem não interessava mais gastar munição para salvar três ícones. A luta pela Revolução era maior do que as vidas de seus líderes.

terça-feira, outubro 13

Que sono!!

E esse soninho que me acompanha... Quando eu tinha 16 anos, foi o último ano em que morei na casa dos meus pais. Com exceção do meu irmão mais novo, todos os outros estudavam fora. Eu ia à escola de manhã; meu irmão, de tarde. Morávamos a cerca de 100 metros do colégio. Ele reclamava que, na hora do intervalo, corria em casa para comer um lanche e encontrava, invariavelmente, eu e minha mãe dormindo na sala. Cada uma em um sofá.

Esse hábito de dormir após o almoço me acompanha desde os primórdios. É claro que agora não disponho mais da tarde toda. Pelo menos 15 minutos já me ajudam. Eu até coloco despertador para acordar porque eu apago de fato.

Eu pensava que Morfeu fosse o deus do sono, mas ele é o deus do sonho. O pai de Morfeu, Hipnos, é o deus do sono, na mitologia grega. Eu sou praticamente uma Hipnas porque sofro de uma espécie de sono crônico. O meu estado normal é ter sono.

Sou capaz de dormir no meio de uma festa, haja o barulho que houver. Isso virou piada entre amigos em Brasília. Era muito comum, enquanto a festa rolava solta na casa de alguém, eu dormir no sofá por uns 40 minutos. Aí eu acordava e continuava na festa.

É algo incontrolável. Quando vou para a cama dormir, em menos de um minuto estou em sono profundo. Se eu viajo de ônibus à noite, as primeiras balançadas já me fazem dormir, antes mesmo de o ônibus deixar a cidade.

Se eu estou num bar, numa festa, ou em qualquer reunião social à noite, e o meu sono comparece – aliás, ele nunca falha – eu vou ficando quieta, calada e muda. Os mais chegados começam a rir porque já sabem que não há remédio. Só a cama. Ou melhor, não é preciso cama, não; para dormir, eu só preciso fechar os olhos.

segunda-feira, agosto 10

O vento

O vento soprou tanto, tão forte e tão ruidoso, que me perguntei o que ele queria tanto afastar do céu. Tenho medo de chuvas e ventos fortes. Mesmo protegida, não consigo dormir tranqüila. Acordo a todo instante, vou conferir pela janela se está tudo em ordem do lado de fora. Vejo as árvores balançando. Nenhuma alma viva pela rua.

Quando o dia clareia, parece que tive pesadelos a noite toda. Confiro novamente a janela. Vejo que o cavalinho vermelho do play-ground foi parar na quadra de esportes. Fico com dó do cavalinho. Separou-se dos irmãos e está ali, jogado, sozinho.

Na área de serviço, recolho as toalhas de banho esticadas no varal. Todas sequinhas. Apanharam do vento a noite toda. Recolho uma por uma e penso o que foi que o vento tanto gritou durante a noite. Imagino que as palavras do vento estão escondidas na trama das toalhas e nunca entenderei seu significado.

Fico pensando o que a natureza pode querer me dizer: que eu varra com a força dos ventos o que me faz mal? Seja lá o que for, a única mensagem compreensível é que está muito frio lá fora e é melhor eu me agasalhar

segunda-feira, agosto 3

Machucados



De vez em quando eu levo uns tombos – literalmente. Não sei o que me acontece que eu caio, prancho no chão. E levanto rapidinho. Claro que sempre tem gente por perto para eu morrer de vergonha. Dias desses levei um tombaço, machuquei o cotovelo. Fez um machucadão mesmo, desses de criar casquinha e tudo. Isso porque eu estava com um casaco.
Meio chorosa, mostrei o machucado pro meu filho. Ele não deu muita importância e perguntou: – Mãe, você nunca teve machucado?
Acho que eu tinha esquecido como é. A minha mãe falava que quando começa a coçar é porque está sarando. Quando a gente cresce, os machucados deixam de ser visíveis e doem por dentro. Demoram mais a cicatrizar e nem dá para mostrar para os outros. Não há band-aid que resolva, só o tempo.

Nada a ver com meus machucados, mas acabei lembrando de um filme chileno, Machuca, que retrata a amizade entre dois meninos na década de 70, bem na transição entre o governo de Allende e a ditadura. Um menino rico e um pobre que viram grandes amigos. O filme revela as contradições com que convivemos no dia-a-dia. Ah, essas contradições também me machucam.

segunda-feira, julho 27

Essa chuva que não para

"A Chuva", Oswaldo Goeldi
E essa chuva que não para.
Nunca os vizinhos conversaram tanto no elevador. Também, com tanta água caindo, não está faltando assunto.

Ainda não permitiram a falta ao trabalho por motivo de chuva que não para. Mas a máquina de lavar está trabalhando menos. Ninguém arrisca ficar com cheiro de cachorro molhado.

E eu tive que tomar chuva no meio da rua porque meu guarda-chuva alaranjado se desmontou quando eu mais precisei dele, o danado! Não tive saída a não ser atirá-lo na lata de lixo na calçada, afinal, não queria pagar mico me molhando com um guarda-chuva na mão.

E o medo de acordar cheio de escamas?
E o medo de a chuva revelar mofo onde não supúnhamos que existia?

Tanta água assim e me veio à mente Macondo, de Cem Anos de Solidão. Preciso reler este livro. E lembrei do filme “O Veneno da Madrugada” (uma adaptação de um outro livro de García Márquez que nunca li), onde também a chuva não para. Por que será que García Márquez põe tanta água em suas histórias?

E uma vez eu estava triste e estava chovendo. E eu via as gotas escorrendo pelo vidro da janela. E eu não sabia se chovia mais lá fora ou dentro de mim. As minhas lágrimas se confundiam com as lágrimas do céu.
E essa chuva que não para!

Jogo de sinuca

Na minha época de TV – há 20 anos – éramos eu, um cinegrafista, um operador de VT e um motorista. Ficávamos longe, numa cidadezinha pequena, e tínhamos que percorrer a região atrás de matérias. Havia um horário para enviar a matéria para Londrina, via malote. Então depois do expediente, a próxima parada era um boteco com uma mesa de sinuca.

Eu e o cinegrafista contra o operador e o motorista. Eu era café-com-leite. Mas havia boa vontade dos meus colegas. Eles me ensinavam como me posicionar, apontavam a melhor bola para mim e diziam até a intensidade com que eu devia jogar. Meu principal instrutor era o motorista, meu adversário. E todos comemoravam os meus acertos.

Às vezes eu errava tanto que meu parceiro perdia a paciência. Eu só ria. Uma vez, lá estávamos num botecão perto de uma grande empresa. Logo em seguida o bar encheu-se de operários. Naquele dia, especialmente, meu parceiro reclamava muito das minhas jogadas. Ele estava mesmo sem paciência.

Eu fui ficando constrangida porque quanto mais ele falava mais eu errava. Até que um dos operários me chamou para ser parceira dele. É claro que eu aceitei. O melhor é que o cara era tão bom que jogava por mim e por ele. Então, mesmo quando eu errava, ele salvava. A nossa dupla ficou imbatível. Ninguém nos tirava da mesa. Nem mesmo o cinegrafista. Eu estava vingada...

quinta-feira, julho 23

Cada coisa...

Quando chove assim, eu gosto só de ficar em casa. Pena que não posso. Eu li num jornal que o incêndio naquele prédio em Londres, onde morreram três paranaenses, foi causado por um aparelho de TV antigo. Fui ler a matéria e vi que o televisor (se é antigo tem que ser televisor, né?) tinha mais de dez anos. Hahaha. Agora, televisores com mais de 10 anos são antigos. Tenha dó, né? Notícia mal apurada... Imagino que com as instalações elétricas do tal prédio qualquer aparelho ligado na tomada poderia provocar um incêndio. Lembrei que quando meu computador tinha sete anos eu fui fazer um upgrade (é isto?) e um aluno meu disse: Nossa, professora, que computador antigo, hein? Pelo menos não causou nenhum incêndio.

Voltando às apurações de notícias. Li no Estadão de ontem (22) que em São Paulo haviam morrido seis pessoas de gripe A (a suína), entre elas uma grávida. Fui ler a matéria e lá estava que a grávida morreu dia 14 e ela havia tido o bebê no dia 9. Bem, então ela não estava mais grávida quando morreu, né?

E toda notícia que leio sobre alguém que morre de câncer, está lá: a fulana “lutava” contra um câncer fazia sete anos ou sei lá há quanto tempo. Por que não se diz apenas que a pessoa tinha câncer ou que a causa da morte foi um câncer? Como é que se luta contra um câncer? E se a pessoa não lutou, se entregou... O repórter foi lá e pegou informações sobre o tratamento? Se estava em tratamento então estava “lutando”? Não gosto disso.

Mas eu continuo achando que sem diproma tudo pode piorar...

E o Sarney, hein? A coisa tá podre mas não cai... Inda mais agora com o Lula sustentando...

Ah, eu queria ler uma entrevista com o Abílio Medeiros para ele contar como consegue acertar todas as fotos que são publicadas no JL às segundas. Eu nunca acertei nenhuma. Fico pensando se ele se reúne logo cedo com todos os corretores que trabalham na imobiliária dele e avisa: até as 10h, alguém tem que trazer a resposta pra ele. Ou será que é ele mesmo que acerta? O JL poderia fazer uma matéria, né? Tem um cara que trabalha comigo, o Gabriel, que agora está acertando também. Outro dia pedi pra ele me explicar como é que ele faz isso. E ele explicou, mas eu não vou contar aqui porque a explicação requer a presença da foto. Vou tentar usar a metodologia na próxima...

terça-feira, julho 7

O poncho vermelho

Eu tenho um poncho vermelho que ganhei da avó de um menino. Essa avó tem mãos hábeis que entrelaçam fios de lã até transformá-los em peças quentinhas e aconchegantes. É um poncho muito bonito.

Mas além de embelezar, ele protege contra o frio. E quando eu o visto tenho vontade de agasalhar nele o menino Nestor que vende oito pares de meias por dez reais, da marca que o freguês quiser: Nike, Adidas, Puma. Todas iguaizinhas. Só muda a logo. O menino tem 14 anos. Não sei se ele tem uma avó que lhe faria um poncho. Talvez ele só tenha as meias contra o frio e contra a pobreza.

No meu poncho, eu também queria abrigar aquela mulher que chora porque tem medo de que a sua mãe vá embora para sempre. A sua mãe nunca lhe fez um poncho. Pelo contrário. A sua mãe sempre lhe dirigiu palavras duras e frias. Mas ela é a sua mãe, e ela achou que sua mãe fosse eterna.

Acho que no meu poncho também cabe outra mulher, que lamenta todas as escolhas amorosas feitas até agora. Todas erradas. E se pergunta se a dor da solidão sozinha é a mesma dor da solidão acompanhada. Será que no poncho ela vai se sentir assim tão só?

Poderiam ser aconchegados no poncho alguns meninos adolescentes que vão para a escola e não aprendem o que os professores ensinam. Eles não sabem se eles não aprendem porque os professores não sabem ensinar ou se são eles que não sabem aprender. E quando eles lêem números e letras tudo se confunde e parece sem sentido. Eu queria aconchegá-los no meu poncho e dizer-lhes que há ainda muito tempo para aprender.

E eu ainda queria guardar no meu poncho, bem apertadinho, um homem de cabelos de anjo, olhar e fala doces. Este homem tem as mãos tão hábeis que são capazes de desenhar notas musicais e compor lindas canções, que poderiam embalar todos os habitantes do meu poncho.

domingo, junho 21

Diploma não foi "presente" dos militares


A mídia brasileira sempre manipula qualquer discussão acerca do funcionamento dos meios de comunicação no Brasil e também sobre a profissão dos jornalistas. Basta lembrar como os veículos trataram a questão do Conselho Federal dos Jornalistas e como eles abordam qualquer tema de interesse da categoria profissional.

Em relação ao diploma foi a mesma coisa. A mídia apresenta apenas seus argumentos, e de maneira falaciosa. Isso é só uma demonstração de que a tal propalada “liberdade de expressão” só vale para um lado.

Por exemplo, quando apresenta que a obrigatoriedade do diploma ocorreu com o decreto de 1969, a mídia fala que foi um “presente” dos militares na tentativa de amordaçar a imprensa, de limitar a liberdade de expressão.

A história não é bem essa. Bem antes do regime militar, os jornalistas brasileiros já lutavam por melhorias na nossa profissão e reivindicavam a regulamentação profissional e uma formação específica para trabalhar na área.

Num artigo do jornalista José Carlos Torves, que é diretor da Fenaj, ele lembra: “É bom voltarmos no tempo para que a história faça justiça com os jornalistas, que lutaram e lutam, há 70 anos, na defesa da regulamentação profissional e da formação, como forma de acesso ao exercício do jornalismo.” Aqui dá para ler o artigo completo do Torves, que está muito bem fundamentado. Foi publicado no site do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.

sexta-feira, junho 19

Ainda o diploma!




A decisão do STF foi um retrocesso para o país. Alguns amigos tentam me consolar dizendo que eu sou talentosa, que sou ótima profissional e que não preciso me preocupar. Sou formada há 21 anos, tenho pelo menos 15 anos de experiência em jornalismo diário, sou concursada numa empresa de economia mista e, sinceramente, não estou nem um pouco preocupada com o meu caso em particular. E, se eu sou uma profissional competente, eu devo à minha formação universitária.

Em 1991, quando concorri a uma vaga na Folha de S. Paulo, depois de uma peneirada, sobramos eu e um engenheiro (afinal a Folha sempre foi a precursora na luta contra o diploma, algo que eu repudio. E eu gostaria de saber, o que a Folha nunca divulga, é qual o percentual de jornalistas formados e não-formados dentro da redação do jornalóide paulistano. Eu imagino que os formados ganhem de goleada). Na época eu estava formada fazia três anos e tinha três anos de trabalho em jornal diário. É óbvio que eu passei no concurso da Folha e não o engenheiro.

É claro que os profissionais que passam por uma faculdade de jornalismo são melhor preparados do que qualquer outro profissional com formação em outra área. Eu desafio qualquer profissional (engenheiro, advogado, médico, professor de filosofia, de letras, de história, do escambau) a fazer um texto jornalístico. O meu vai ficar melhor. Não estou falando de artigo opinativo (cometo a redundância porque nem todos sabem que artigos são opinativos). E a matéria pode ser na área de atuação desse profissional. E é claro que todos esses profissionais têm espaço nos veículos de comunicação para expressarem suas opiniões. Isso já contraria a tese de que o diploma impede a liberdade de expressão.

Fico muito irritada com o uso deste argumento por aquela Corte de juízes (e nem vou entrar no mérito da integridade moral de alguns deles ali que dá até vontade de vomitar). A minha irritação aumenta quando eles citam Carlos Drummond de Andrade, Manoel de barros e outros grandes escritores e poetas que um dia exerceram o jornalismo, sem terem cursado uma faculdade.

Primeiro que eu imagino que o Drummond não fazia matéria de polícia ou buraco de rua. Se fazia, transformava em crônicas. O problema é que esses grandes talentos do mundo das letras são exceções. E, se existem as exceções, qual é o problema de esses iluminados irem para uma faculdade de jornalismo obter um diploma para ter o devido registro profissional, se eles quiserem trabalhar como repórter, editor ou outra função de jornalista?

Mesmo que uma pessoa extremamente talentosa chegue à redação, ela não sabe fazer jornalismo, pode até ter um ótimo texto, mas vai ter que aprender como é o jornalismo. E hoje em dia, qualquer repórter sabe, é praticamente impossível, contar com a ajuda do editor ou do colega do lado para aprender o jornalismo. Ah, vai aprender na prática, mas vai errar muito até aprender. Se ele passar por uma faculdade antes, com certeza, isso fica mais fácil.

E, na minha opinião, entre os que comemoram a decisão do STF há mais semi-letrados que não querem fazer faculdade e nunca devem ter lido um livro do que os virtuoses.

Se há 40 anos já era exigido o diploma, como pode a sociedade acreditar que agora, sem diploma, o jornalismo vai ficar melhor porque alcançamos a "liberdade". Está garantido o livre acesso de analfabetos, semi-analfabetos e todos à profissão de jornalismo. Nossa, que conquista, hein?

O Aguinaldo eu sei que defende a formação autodidata para qualquer profissão. Ora, em que país estamos? Somos um país que lê pouco, muito pouco, que as escolas já são fracas, e ele quer contar com a boa vontade e o desempenho individual? Se for na linha do raciocínio dele, essa abertura então deveria acontecer com todas as profissões, e não apenas com o jornalismo. Aquela Corte acataria a sugestão para os advogados?

Ah, mas então a minha defesa é corporativista? É, também é. Os salários pagos aos jornalistas são vergonhosos. Sem a obrigatoriedade do diploma, a tendência é piorar. Afinal, se eu vou contratar um profissional de nível médio ou até fundamental (como bem lembrou o ministro Marco Aurélio), o salário será mais baixo. Para que isso não acontece, os sindicatos terão que se fortalecer muito - isso significa a categoria se mobilizar.

O Paulo defende que um curso técnico daria conta de formar jornalistas. Mas jornalismo não é só técnica. Há outras áreas que complementam a formação. Como alguém pode imaginar que uma pessoa que não passou pela faculdade tenha as mesmas condições de trabalhar do que outra que tenha passado por essa formação, que tenha participado de discussões e debates dentro de uma faculdade, tenha recebido aula de ética?

Parece piada...

quinta-feira, junho 18

Quero ser Juiz de Direito (Sem exigência de diploma)


Gadelha Neto, jornalista

A decisão do STF, que dispensa o diploma de Jornalismo para o exercício da profissão, me abre um mundo novo: a possibilidade de ser Juiz de Direito e, quem sabe, até alçar voo rumo ao próprio Supremo.

Sim, porque a decisão deixou claro que a minha profissão não exige diploma porque não são necessários conhecimentos técnicos ou científicos para o seu exercício. Disse mais: que o direito à expressão fica garantido a todos com tal “martelada”.

Tampouco a respeitabilíssima profissão de advogado e o não menos respeitável exercício do cargo de juiz pressupõem qualquer conhecimento técnico ou científico. Portanto me avoco o direito (e, mesmo, a obrigação), já que assim está decidido, de defender a sociedade brasileira diante dos tribunais e na própria condução de julgamentos.

Além de ser alfabetizado e, portanto, apto a ler, entender, decorar e interpretar nossos códigos e leis, tenho 52 anos (o que me dá experiência de vida e discernimento sobre o certo e o errado) e estudei – durante o curso de jornalismo (!) – filosofia, direito, psicologia social, antropologia e ética – entre outras disciplinas tão importantes quanto culinária ou moda: redação em jornalismo, estética e comunicação de massa, radiojornalismo, telejornalismo, jornalismo impresso etc.

Com essa bagagem e muita disposição, posso me dedicar aos estudos e concorrer às vagas de juiz pelo Brasil afora, em pé de igualdade com os colegas advogados. Também posso pagar e me dedicar aos cursos especializados em concursos públicos para o cargo, se eu julgar necessário. E não é justo que me exijam, em momento algum, qualquer diploma ao candidatar-me ao cargo.

Afinal, se a pena de um jornalista não pode causar mal à sociedade (!!?), a de um juiz também não teria este poder de fogo. As leis – e elas são justas em si – existem para serem cumpridas e cabe a um juiz, tão somente – usando da simplicidade do STF – seguir a “receita de bolo” descrita pelos nossos códigos. Assim sendo, um juiz não pode causar mal algum a ninguém, se seguir, estritamente, o que determina a lei. Concordamos?

Data venia, meus colegas advogados, por quem nutro o devido respeito (minha mãe, cunhada, irmão e sobrinha – por favor, compreendam), quero ser juiz porque é um direito meu, assegurado pelo STF, e o salário de jornalista não está lá estas coisas.

terça-feira, junho 16

Diploma de Jornalista

Nesta quarta-feira, o STF vai finalmente julgar um recurso que questiona a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. No site da Fenaj, dá para conhecer melhor esta história.
Alguns argumentos da Fenaj, com os quais eu concordo:

1) Não será a ausência de diploma que irá garantir ao cidadão acesso às emissoras de rádio e TV, aos sites da internet, ou às colunas de “cartas do leitor” existentes nos enésimos cadernos de nossos diários impressos.

2) Tampouco será a inexistência de diploma que permitirá aos cidadãos e autoridades, acusados em manchetes espalhafatosas de primeira página, verem suas respostas ou suas razões publicadas, quando muito, em minúsculas notas de rodapé de páginas perdidas no interior dos cadernos;

3) É certo que o diploma, por si só, não evita a ocorrência de abusos. Contudo, mais certo é que a ausência de formação técnica e noções de ética profissionais potencializam enormemente a possibilidade de os abusos ocorrerem.

4) Efetivamente não é o diploma que impede o cidadão de exercer a liberdade de manifestação do pensamento e de imprensa nos veículos de comunicação social no País. Verdadeiramente não é. O que impede o exercício desses direitos fundamentais é a concentração da mídia em poucos grupos; é a orientação editorial dos veículos de comunicação; é a ditadura dos anunciantes ou a ditadura do mercado que privilegia a venda de jornais ou a obtenção de “pontos no ‘ibope’”, em vez da verdade, da informação isenta, ou do respeito às pessoas e autoridades.

5) Com a existência da internet, a possibilitar a qualquer cidadão expressar seu pensamento por intermédio dos infindáveis meios (páginas pessoais, blogs, orkuts, e-mails, e tantos outros), sem qualquer controle, também se torna absoltamente relativo, sem razoabilidade e desprovido de qualquer força o argumento de que a exigência de diploma para a obtenção do registro profissional impede a livre expressão do pensamento ou de imprensa.

E existem ainda os argumentos técnicos e legais que contestam que a obrigatoriedade seja inconstitucional.

quinta-feira, junho 4

O inverno e o Sol

Todo inverno eu reclamo do inverno. Todo verão eu me lembro do inverno para não reclamar do calor. Durmo pelo menos 15 minutos todos os dias após o almoço. Nesses dias frios, escolho um sofá exposto ao Sol. Cubro minha cabeça e durmo. Antes disso, minha memória vai até Piraju, na minha adolescência. Nos dias frios, depois do almoço, eu ia para o quintal, me deitava no chão duro: corpo no Sol, cabeça na sombra. Perto, um rádio à pilha cor de laranja sintonizado na Rádio Cultura AM de São Paulo. E essas ondas sonoras traziam meu sono.
Tela de Nela Vicente (Golden Feelings)

terça-feira, junho 2

Os desconhecidos2

Niquel Nausea









(tirinha enviada por Shahine)

segunda-feira, junho 1

Os desconhecidos

Na nossa pele convivem centenas de bactérias – é o que dizem os cientistas americanos, conforme matéria da Folha de S.Paulo. E elas estão no corpo todo. Na parte em que há mais – o antebraço! – são 44 de tipos diferentes. E na parte onde há menos, atrás da orelha, “apenas” 15. E os cientistas avisam que não adianta tomar mais banho porque elas não vão sair, afinal, nós sempre convivemos com elas.

Se nós sempre convivemos com elas, por que esses cientistas têm que divulgar esses dados? Eles deveriam manter essas informações restritas ao mundo científico. Afinal, a pesquisa é para entender melhor as doenças dermatológicas e nós, leigos, não podemos ajudar em nada. Eu não tenho esse tipo de curiosidade e prefiro continuar ignorante sobre esse mapeamento.

Tenho uma certa anti-curiosidade em relação aos mundos invisíveis. Eu me sinto melhor em não saber que sou hospedeira de bactérias e que o ar que eu respiro é povoado de micro-organismos.

Uma vez, um amigo meu, que é espírita, me disse que ao nosso redor existem centenas de espíritos. Em todos os lugares aonde vamos, lá estão eles. Essa ideia também me desagrada. Prefiro ignorar se ao meu redor há espíritos ou não. Afinal, estou ocupada tentando conviver melhor com os seres reais e concretos que estão ao meu lado. Invisíveis? Tô fora!

quinta-feira, maio 14

O desconhecido

(Imagem em: http://comocontrolarereduzircustos.files.wordpress.com/2009/02/labirinto.jpg)
Quando ouço alguém descrever algum lugar longínquo e que provavelmente eu nunca vou conhecer, fico imaginando o quanto de lindeza existe no mundo e que eu nunca nunca vou ver. Uma amiga que morou na França uma vez me contou de Toulouse, que é uma cidade linda, com telhados vermelhos, e eu nunca esqueci isso. Toulouse não é um lugarejo perdido no mundo, é um ponto turístico, quem sabe até um dia eu possa conhecer. Mas existem inúmeros outros lugares lindos e charmosos e bucólicos e exuberantes dos quais nunca ouvi falar e nunca vou conhecer porque o mundo é muito grande e a vida é muito curta – assim como o dinheiro que poderia me levar a vários lugares.

E mesmo que eu fosse riquíssima e desde muito criança viajasse todos os dias da minha vida ainda assim eu nunca descobriria todos os encantos de construções e mares e rios e vielas e vegetações e areias e cachoeiras e de tudo belo que há.

Assim também acontece com as pessoas. Existem muitas pessoas legais e interessantes e inteligentes e espirituosas e bem-humoradas em todos esses lugares que nunca conhecerei. Não conhecerei nem os lugares nem as pessoas que os habitam ou que passeiam por lá. E são pessoas com as quais passaria horas e dias conversando e rindo porque têm muitas histórias para contar. E eu ia me divertir e me emocionar ao lado dessas pessoas.

Eu já morei em 10 cidades diferentes – sem falar na cidade onde nasci porque lá é o único lugar em que não conheci ninguém porque eu saí de lá quando ainda era muito pequena – e em todas elas conheci ao menos uma pessoa legal. Em Brasília eu trabalhei num lugar onde havia o maior número de pessoas legais por metro quadrado que eu já vi em todas as minhas andanças. E só por isso valeu a pena morar em Brasília.

E eu nem vou entrar no mérito das obras produzidas pelo homem e que apenas uma única vida não me permite conhecer, como as artes plásticas, as músicas, os livros. E aí eu penso que tudo é mais desconhecido do que conhecido. E penso que eu também sou assim: deve haver em mim mais coisas que desconheço do que as que conheço sobre mim mesma.