terça-feira, maio 25

Não existe ônibus de graça...

Quando era estudante, meu pai bancava todos os meus custos por aqui: moradia, alimentação, transporte e todas as necessidades básicas. Mas o orçamento era apertado. Para usar o dinheiro do ônibus com outras coisas – e também porque o ônibus era sempre apinhado e demorava muito – eu ia e voltava de carona todo dia da UEL. A não ser em dias de chuva. E quando havia greve no transporte coletivo, eu não ia à UEL, “afinal os ônibus estavam em greve” – o que era mais frequente naquela época, em meados de 1980.

Algumas vezes eu cheguei a pegar ônibus sem um tostão no bolso. A caminho da UEL, sempre encontrava um colega estudante que me cedia um passe. Por um período morei longe das rotas de carona, então pegava ônibus todo dia. Me lembro de um dia em que entrei no ônibus sem nenhum dinheiro e também não encontrei ninguém conhecido. Quando o busunga chegou no ponto do CCH, avisei o cobrador que eu ia pular a roleta porque estava sem dinheiro. Ele não gostou nada, nada. E eu, me achando a maior justa do mundo, disse: - Ah, o senhor não queria que eu faltasse à aula porque estava sem dinheiro, né?

Eu também já morei no prédio da Rádio Londrina, bem no centro, e o tanque da lavar roupas do apartamento estava com problema, então não podia ser usado. Um sábado de manhã eu precisava lavar umas peças de roupa e resolvi ir à república do meu irmão, que morava no Jardim Presidente. Mas eu só tinha o dinheiro de ida para o ônibus. Pensei: - Meu irmão financia a minha volta.

Naquela época as repúblicas não tinham telefone. Celular ainda não existia. Coloquei as roupas numa sacolinha e lá fui eu. Chegando na casa dele, não havia ninguém. Mas era livre o acesso aos fundos da casa. Entrei, lavei minha roupa, torci, dobrei e guardei de volta na sacolinha. Ia estendê-la no varal de casa que ficava numa sacada. Como eu já tinha know-how para pegar ônibus sem dinheiro, não tive dúvidas, entrei num amarelão da TCGL e não me lembro do final. Só sei que cheguei em casa sã e salva.

Alguns anos depois, já formada, eu trabalhava num jornal impresso. Numa sexta à noite fui a uma festa sem bolsa porque a que eu tinha não combinava com meu vestido. Deixei a carteira e a chave do apartamento – eu morava sozinha na av. Maringá – na bolsa de uma amiga. Ela foi embora antes e levou os meus pertences. Fiquei sem chave e sem dinheiro.

Acabei indo dormir na casa de outra amiga jornalista, que trabalhava numa rádio e morava com os pais. No dia seguinte, ela saiu antes de mim porque entrava mais cedo no trabalho e me emprestou uma roupa – porque afinal o meu vestido não combinava com o meu trabalho. Tomei café com a mãe dela, mas fiquei com vergonha de dizer que estava sem dinheiro para o ônibus.

E mais uma vez – a última – peguei o amarelão sem lenço nem documento – muito menos dinheiro. Ao chegar ao Terminal, falei para o cobrador que ia descer pela porta traseira porque estava sem dinheiro. Ele também não gostou nada, nada, mas não ia deixar isso assim. Falou que ia chamar o fiscal. Aí quem amarelou fui eu. Mas fui salva por uma senhora que havia ouvido a conversa e generosamente se ofereceu para pagar a minha passagem...

Quando lembro disso fico pensando que a minha cara-de-pau não tinha mesmo limite. Eu fiquei com vergonha de pedir dinheiro para a mãe da minha amiga, mas não tive vergonha do cobrador... É muita cara-de-pau!

Nenhum comentário: