segunda-feira, dezembro 31

A vida segue

Um dos melhores momentos do meu 2007 foi o lançamento do Ades sabor banana. Eu adorei muito, muito. Só estou preocupada porque na embalagem está escrito que a edição é limitada. Se realmente o Ades banana sumir das prateleiras, eu vou escrever uma carta para o fabricante para que o sabor volte e seja eterno. Sou uma ávida consumidora de sucos Ades – gosto dos de uva, maçã, pera, laranja e abacaxi (o abacaxi com côco é intragável). E depois que experimentei o Ades banana, deixei os outros um pouco de lado.

Pra finalizar 2007, lembro uma história de minha querida sobrinha mais velha, a Sha, que hoje é uma moça de 21 anos. Ela era bem pequena, sei lá, tinha uns 3, 4 anos, e estávamos na virada do ano, quando ela saiu-se com essa: “Eu quero ver o Ano Novo!” E foi bem insistente. Ela queria porque queria ver o Ano Novo. Acho que é porque ela ouvia dizer que o Ano Novo estava ali, havia até uma festa pra chegada do dito cujo, e cadê ele? Eu desejo, então, que o Ano Novo chegue com muitas esperanças de que a nossa vida siga da melhor maneira possível.

sexta-feira, dezembro 28

A falta

Minha mãe sempre rezou muito. Tem uma ladainha de Nossa Senhora que a chama de Refúgio dos Pecadores. Este foi o primeiro Natal sem minha mãe. Correu tudo bem. Nos reunimos com meu pai, teve o tradicional amigo secreto, a ceia, o almoço de Natal. Tudo correu muito bem. Tinha árvore com luzinhas, presépio, não faltou abacaxi em calda de que minha mãe gostava tanto. A mesma farofa retirada do velho livro de receitas.

Mas faltou a minha mãe. Mesmo que ultimamente ela já não participava dos preparativos das festas em família, era bom saber que ela estava ali por perto. Todos os anos tínhamos que ir ao Correio enviar seus cartões de Natal, e depois correr de porta em porta para levar presentes para suas amigas, afilhadas, vizinhas, comadres.

Não foi disso que eu senti falta. Ela fez falta. Parece que o Natal tinha uma outra dimensão apenas com a sua presença. Porque ela nem falava muito. Mas sempre podíamos ir ao seu quarto, deitar ao seu lado, e ficar ali, caladas. Podíamos ir ali, com nossas dores, nossos segredos, e não havia qualquer confidência. Eu nunca dizia o que estava me afligindo. Nem precisava. Só estar perto dela me dava um grande conforto. Só a sua presença era um conforto. Como se ela fosse o Refúgio dos Pecadores.

Meu Natal nunca mais será o mesmo. Sempre haverá uma falta.

sexta-feira, dezembro 21

A vida que o tempo leva


Almoçando sozinha, o jeito é reparar nos outros... Uma menininha de uns 5, 6 anos mostrava para o pai que ela era capaz de sentar-se sozinha naquelas cadeirinhas para crianças bem menores do que ela. E ela mostrou como conseguia subir sozinha e como também sabia descer. À distância, eu não contive o riso. O pai disse: Mas você já é grandinha, né?

E eu fiquei imaginando se ela, mesmo tão pequena, sentiu ali a angústia do tempo que passa. As crianças, de modo geral, querem logo crescer e ficar maiores do que são, mas naquele momento me pareceu que ela sentiu que já perdia alguma coisa por ter crescido. Já não podia mais ocupar uma cadeirinha tão charmosa.

Lembro quando meu filho era bem pequeno, devia ter uns quatro, cinco anos, sentado na cadeirinha no banco de trás do carro, saiu-se com esta:
- Eu não vou mais comer.
- Por que?
- Porque se eu comer eu vou crescer. E eu não quero crescer. Porque quando a gente cresce, fica velho e depois morre.

Fiquei preocupada, caramba, como é que pode desse tamanho já ficar angustiado com isso. Precisava pensar rápido e dar uma resposta que pusesse fim àquela idéia maluca de não comer mais.
- Mas se você não comer, você vai morrer também. De fome. E morrer, não tem jeito. Todos nós vamos. Mas vai demorar...

Não sei se resolvi a angústia dele. Mas fiquei intrigada ao perceber que a idéia da morte pode nos apavorar desde muito cedo. Será que tudo isso é só porque eu vou ficar mais velha em menos de um mês?

No Dia de Finados, o cemitério estava super movimentado, florido e barulhento. Havia uma missa ao ar livre. E o padre falava da morte e da ressurreição. Ele disse que nós vamos ressuscitar de corpo e alma. Me veio uma dúvida: com que idade? Nessa ressurreição, meu corpo terá que idade, a da minha morte? Se for com a idade da morte, é melhor morrer mais jovem, porque você terá uma vida eterna com mais disposição.

terça-feira, dezembro 18

Viagem a Darjeeling

Eu amo cinema. A infinidade de opções para assistir a bons filmes é uma das coisas de que sinto falta de Brasília. Em Londrina, a programação é muito pobre. Dá até dó. Eu evito consultar na internet os filmes em cartaz em Brasília pra não me sentir mal.

Quando eu viajo fico escolhendo a dedo algum filme que sei que nunca passará nas grandes telas londrinenses. Assisti a Viagem a Darjeeling, que conta a história de três irmãos malucos que viajam juntos de trem pela Índia. O mais velho (que quer controlar tudo) organizou a viagem para eles reencontrarem a mãe (Anjélica Houston), que os abandonou e virou monja. Mas, no transcorrer da história, eles vão é tentando reencontrar a si mesmos. É lindo o filme. No início, tem um curta maravilhoso, do encontro de um dos irmãos com a mulher que ele ama. É lindo: o diálogo entre os dois amantes; o silêncio. Tudo é lindo. O filme tem ótimos diálogos. Tem situações engraçadas. E também momentos dolorosos, mas que não deixam o filme pesado. A trilha sonora também é maravilhosa. Eu queria um cd com essa trilha sonora.

(Eu sei que jamais seria crítica de cinema porque meus comentários limitam-se a dize:r É lindo. É maravilhoso...)

Eu gostei tanto do filme que desisti de assistir a mais um, em seguida, como eu e minhas amigas havíamos planejado. É que eu estava tomada de tanta beleza que queria reter por mais tempo a história e a música em minha mente. Eu queria amar ainda mais um pouco o filme. E não trocá-lo por outro assim imediatamente.

quinta-feira, dezembro 13

Brasília, meu amor

O céu ainda era escuro quando eu passava de uma asa à outra. Aproveitei que a cidade ainda dormia e deixei que me escorressem lágrimas pelo rosto. Por que chorava eu?

Seriam as lembranças de quando cheguei aqui e logo me atirei - como uma adolescente - aos braços desta terra árida? Brasília mostrou a mim uma aridez sem refresco. Para o meu coração, não houve época das águas.

Vencer aqui significa armar-se de concreto. É preciso resistência para ver as cores dos canteiros. E há quem resista. Esses tocaram o meu coração. São como flores do cerrado. Suportam a seca e florescem com uma delicadeza que dói. Aprenderam a viver na aridez da terra e do concreto. Tocam o meu coração.

Brasília tem dessas coisas. Me expulsei daqui por causa dessa estranha aridez. E quando retorno para cá, sou assim tão bem acolhida e amada e querida que quase me envergonho por não ser uma flor do cerrado, por não ter a resistência dos fortes.

A redenção ou a perdição?











Não houve nessa terra amor de homem que me derrubasse...


Por que, agora, Brasília?
Por que, Brasília, o cenário de uma promessa de amor?
O virtual aqui se concretiza?
Ou, Brasília, você só quer desbaratinar minha cabeça?
Ou, então, quer mesmo é me pirar?
Que lógica é essa, Brasília, que confunde a minha lógica?
Por que, Brasília, o cenário?
Um amor estranho, com um estranho, precisa de uma terra estranha?
Acredito nesse presente, ou o futuro não vê a hora de me mostrar que, ora, onde já se viu, acreditar num amor em Brasília?
Brasília, esta é a sua redenção ou a minha perdição?