quinta-feira, abril 22

O gosto e o desgosto

(Ionut Dan Popescu 123RF)
O que é que nos atrai e o que é que nos repele?
Por que, com alguns, somos logo de cara simpáticos? O que vemos tão rapidamente no outro que já cria identidade? E o que é que, mal vemos, mas já sabemos que não dá liga?

Como é que nasce uma paixão? Por que é que com o tempo vai crescendo um gostar que parece não ter fim?
Como é que o pensamento pode ir tão longe para ficar tão perto de quem gostamos?
Até que ponto é um gosto gostado ou é um gosto construído?

E, depois, quando quebramos a cara, aí faz-se a história ao inverso. Pensa-se tudo ao contrário para inverter o gosto. O que é gosto deve virar desgosto. E isso dói. Porque tem que pegar tudo de bom e transformar em tudo de ruim para conseguir esquecer quem deve ser esquecido.

E em vez de olharmos só o que gostamos no outro, passamos a valorizar só o que é ruim. E aí a gente já nem entende como é que podíamos antes ter visualizado tanta coisa boa em quem parece que só tem coisa ruim.
E aí será que o desgosto é desgosto desgostado ou desgosto construído?
Uma coisa é certa: é mais gostoso gostar do que desgostar.

sexta-feira, abril 16

Se eu pudesse...

Faz muito tempo que eu não vejo um homem negro, que não tem as pernas, que se locomovia com a ajuda das mãos pelo Calçadão de Londrina. Ele praticamente se arrastava e dizia com uma voz bem forte: Se eu pudesse trabalhar eu trabalharia, mas como eu não posso... (não me lembro do fim da frase mas era um pedido de dinheiro).

Não sei onde ele não-anda não-trabalhando. Com aquela voz, ele teria potencial para ser locutor de rádio ou daquelas kombis tipo “pamonha, pamonha, pamonha...”

E eu tenho vontade de dizer: “Se eu pudesse não trabalhar, eu não trabalharia...”

quarta-feira, abril 14

Eu tenho muito medo...

Todas do site do UOL da tarde desta quarta-feira, 14 de abril:

“Subiu para 589 o número de mortos em decorrência do terremoto que atingiu nesta quarta-feira (14) a província ocidental de Qinghai, no noroeste da China, de acordo com balanço da agência estatal chinesa Xinhua.”

“Segundo o último balanço divulgado pelo Corpo de Bombeiros no início da tarde desta quarta-feira (14), subiu para 251 o número de mortes confirmadas em todo o Estado do Rio de Janeiro devido às chuvas da semana passada-- 165 mortes em Niterói, 66 no Rio, 16 em São Gonçalo, uma em Petrópolis, uma em Nilópolis, uma em Paracambi e uma em Magé. De acordo com os bombeiros, um corpo foi encontrado soterrado em um deslizamento ocorrido no bairro do Andaraí, no Rio, e o outro, também vítima de um deslizamento de terra, no bairro 340 em Niterói. O número de vítimas, entre mortos e feridos, chega a 412.”

“Pelo menos 110 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em uma tempestade que destruiu mais de 50 mil casas no estado indiano de Bengala e a limítrofe Bihar, informaram hoje fontes oficiais.
A tempestade começou ontem à noite de Dinajpur, com ventos de até 125 km/h que arrastaram grandes quantidades de areia. Mais tarde, a tempestade seguiu até os distritos de Araria e Purnia do estado contígua de Bihar, e afetou uma pequena área do estado de Assam, no nordeste indiano.”

“Uma erupção vulcânica na Islândia liberou fumaça preta e vapor branco nesta quarta-feira e derreteu parte de uma geleira, provocando uma forte inundação que ameaça danificar rodovias e pontes.
A nuvem de fumaça foi vista saindo da cratera abaixo de uma camada de 200 metros de gelo da geleira Eyjafjallajokull, próximo ao local de outra erupção que começou no mês passado e arrefeceu apenas na segunda-feira, segundo a rádio estatal islandesa.
A Autoridade de Defesa Civil Islandesa ordenou que 700 pessoas saíssem de suas casas e disse que o gelo que estava derretendo da geleira havia causado grandes inundações que ameaçavam danificar rodovias e diversas pontes, disse uma autoridade à Reuters.”

“Uma equipe de pesquisadores britânicos foi surpreendida por uma rachadura gigante no gelo logo abaixo de uma das barracas de seu acampamento, no Ártico. Os três integrantes da equipe Catlin Arctic Survey estão na região para uma pesquisa anual que avalia os efeitos das mudanças climáticas.
A pesquisadora Ann Daniels conta que os pesquisadores já tinham observado o gelo se movimentando. Na manhã seguinte, depois dos barulhos, o gelo começou a se abrir de repente.
A equipe de pesquisadores britânicos também está tendo que enfrentar outras dificuldades na região, como grandes extensões de águas abertas, gelo se movimentando rapidamente e placas de gelo deslizando umas sobre as outras.”

terça-feira, abril 13

A busca

Imagem de Fábia Belém em http://fabiabelem.blogspot.com/2009_09_01_archive.html
O marido não lhe dava o devido valor. Pelo contrário. Toda vez que podia a criticava sem dó nem piedade. Talvez para se autoafirmar. Talvez para esconder que na verdade ela era muito melhor do que ele. Talvez porque a competência dela realçasse a incompetência dele. E talvez porque se sentisse inferior por ser sustentado financeiramente por ela. Não por muito tempo.

Ele finalmente arrumou um emprego. Mas era bem longe de casa. E foi-se sozinho. Queria que ela o acompanhasse. Ela até pensou na hipótese. Chegou a visitá-lo na nova moradia. Mas não se enxergou naquele lugar. Aquele lugar não tinha nada a ver com ela. E, pensando bem, nem ele tinha mais nada a ver com ela. Mas, como estavam juntos havia muito tempo, resolveu segurar as pontas. Aí começaram as crises de ciúmes. Quando se encontravam, ela não podia mais nem cumprimentar antigos namorados que ele se corroía. Ela então passou a se sentir presa mesmo na ausência dele. Começou a perder a espontaneidade com medo das reações ciumentas. E viu que não valia mais a pena.

Libertou-se. Amou de novo. Mudou-se para o outro lado do mundo. Conheceu lugares e pessoas diferentes. Fez novos amigos. Mudou de novo para um lugar ainda mais longe. Uma cultura muito diferente da sua. Estava sozinha novamente. E voltou-se para dentro. Não no sentido egoísta. Mas para conhecer-se melhor. Para tentar entender as suas dores, angústias e tristezas e, quem sabe, encontrar momentos de felicidade.

sexta-feira, abril 9

As pulseirinhas do sexo

(foto de Albari Rosa, Gazeta do Povo)
Está cada vez mais ridícula a proibição do uso das “pulseirinhas do sexo” pelos Poderes Públicos. Primeiro, foi a Vara da Infância de Londrina, depois a Câmara, e agora estão querendo proibir em todo o Estado.

Ah, dá licença e faiz favor, como é que a Justiça pode proibir o uso de um adereço? Quem pode proibir uso de minissaia, pulseiras, piercing e etc. é pai e mãe. Como mãe, eu posso proibir meu filho de usar determinada roupa ou adereço. E não por muito tempo. Apenas enquanto ele estiver sob minha tutela. E escola também pode, sob a justificativa de que determinado objeto causa tumulto ou atrapalha as atividades de ensino. E só.

O pior é que a sociedade concorda com essas imposições. Até porque o significado que se dá às pulseirinhas pode ser transferido para qualquer outro objeto. Os adolescentes podem inventar que agora o significado de cada cor das pulserinhas vale também para as meias. Ou seja, se eu usar meia laranja é porque eu quero uma "dentadinha do amor". E aí? Vamos proibir as meias?

quinta-feira, abril 8

Onde isso vai parar?

Primeiro, eles aprendem a andar, depois transformam sons ininteligíveis em frases bem articuladas e passam a usar garfo e faca para comer. Não demora muito, ficam mais altos que você. E agora vêm com essa: vão votar pela primeira vez!

Então eu me pergunto: - Onde é que isso vai parar?

quarta-feira, abril 7

O reencontro




Rever meus amigos foi bem mais que divertido, foi emocionante. Eu não contava com isso. Não achei que fosse me emocionar. Depois de 20 anos, na verdade, mudamos pouco. Na essência continuamos os mesmos. Alguns engordaram, outros cortaram os cabelos, a barba, teve quem deixou de usar óculos, quem passou a usar, mas depois de 10 minutos de conversa dava para constatar: -Ah, realmente é ele mesmo!

A Vânia veio com a família. A filha é coisa de cinema de tão linda. A Vânia continua com o mesmo cabelo comprido, o mesmo estilo de se vestir, apenas a voz um pouco mais grave. Continua com uma visão esotérica do mundo, procurando sempre uma vida alternativa.

A Priscila trouxe as filhas num envelope: as fotos mostram que elas também são lindas. Moramos juntas numa república no Edifício Cínzia. Relembramos histórias, rimos muito. Toda vez que eu ouço “Ela vem toda de branco, toda molhada e despenteada....” me lembro da Prica. A Edra disse que é porque ela tinha um macacão branco. Deve ser, e também porque tem lindos cabelos enrolados.

O Luisinho veio com a esposa. Ele mais uma vez arrasou no palco com sua voz doce. Como pode depois de tanto tempo manter tanta doçura na voz e no jeito? Mostrei a ele uma foto em que estamos eu, ele e a Denise. Ele disse: - Meu filho se parece comigo.

Seu parceiro de palco, o Marco, continua magro e com cabelos pretos. Não sei porque, mas achei que ia encontrar o Marcão gordo e de cabelos grisalhos. Nada. Super moço ele está. E continua o mesmo querido de sempre.

A Ângela e o Tadeu trouxeram os filhos, dois rapazes que também são músicos.
O show de todos foi um grande presente. Tocaram Aurélio, Pedrinho, o Marcelo (irmão do Marco) e até o Ruizinho, que agora é médico. Também a Tetê, que canta, e o marido Jr., da bateria, que eram da Arquitetura.

Com a Sílvia Helena o encontro foi mais rápido. Mas não menos intenso.

O Ariel é sempre divertido. Passeando pela cidade, lembramos do Castelinho, do Café Set e do Sapo’s – bares da Higienópolis que não existem mais. Esqueci de falar pra ele do Jully Pop – que hoje virou loja de animais na esquina da JK com a Goiás.

E o Loyolla veio acompanhado de uma esposa linda e de um Loyollinha que é uma graça.
A filha da Carla se surpreendeu ao ver que todos nós temos a mesma idade. Alguns mais, ninguém menos. A Silvana comemorou o aniversário conosco. E quase chorou de emoção!
Teve ainda Cláudia, Mário Marins, Rogério, Horner, Sato, Ângelo, a Soniah Weill. Esqueço alguém?

Foi um reencontro muito legal. Às vezes até parecia um sonho reunir no mesmo tempo e espaço gente de outros tempos e que hoje ocupam outros espaços