segunda-feira, outubro 25

As minhas vizinhas

Se existe anjo da guarda o meu tem sido generoso na escolha de minhas vizinhas. A primeira delas com mais de 70 anos foi a dona Odila. Viúva, morava sozinha. Éramos ela, o Ní e eu no último andar de um predinho, aqueles de quatro andares, sem elevador. Quando ela queria falar comigo, era bom ser rápida porque ela não tirava o dedo da campainha enquanto eu não a atendesse. Pelo menos eu já sabia que ela era e não me assustava mais.

O Ní tinha quatro-cinco anos e ela sempre tinha balas reservadas para ele. E avisava que não era para ele mostrar para as outras crianças do prédio. Quando fazia bolinhos, também gastava a campainha para nos chamar. O supermercado Jumbo-Eletro já não existia fazia tempo, mas ela ainda dizia que ia ao Jumbo para se referir ao supermercado perto de casa.

Nos últimos meses de sua vida, dona Odila estava fraquinha. Não saía mais da cama e tinha os cuidados de duas enfermeiras. Percebi que o caso era grave quando ela desceu de maca na primeira de suas internações. Fui ao seu velório. Finalmente ela ia se encontrar com seu finado marido, a quem sempre pedia para vir buscá-la. Uma vez ela me contou que perguntou ao padre se era pecado querer morrer. Ela tinha muitas saudades do marido, e até passou a vê-lo pela janela.

O apartamento ao lado ficou vazio e eu logo depois de mudei para outras bandas. Agora a vizinha era dona Iva, também viúva e mãe da minha amiga jornalista Karen. Quando havia festas familiares, nós éramos bem-vindos, e o Ní corria para lá nas noites em que eu saía para dar aulas. Ficavam os dois vendo tevê. Foi uma convivência curta porque logo eu também me mudei e fui para bem longe. E também senti saudades das coisas gostosas feitas pela dona Iva.

No meu retorno do cerrado, assim que me mudei fui saudada por outra vizinha, a dona Gilda, de 72 anos, que era separada do marido. Ela era enérgica, mas não menos generosa. Tinhas uns netinhos fofos que apareciam por lá. E dona Gilda me socorreu algumas vezes, com um aspersor de veneno, para matar as baratas que me aterrorizavam.

Depois de um intervalo de quase três anos, novamente sou agraciada por outro desses anjos. Agora é a dona Faryd, 81 anos, viúva e sem filhos. Mas a vida dela é agitadinha. É tia de muitos sobrinhos que a querem muito bem e fazem o papel de filhos. Talvez porque ela tenha feito o papel de mãe para eles.

Logo no dia da minha mudança, dona Faryd apareceu com água fresquinha para os rapazes que carregavam os móveis. Doce e acolhedora, ela já me ofereceu café quentinho e pão com manteiga muitas vezes. E eu gosto muito de ouvir as histórias que ela conta de seus pais, irmãos e do marido. Ela é muito alegre, risonha e prestativa.

Outro dia, fez questão que eu conhecesse sua irmã, Laura, de 91 anos, muito bonita, de olhos azuis e também muito sorridente. Cúmplices, elas riam a todo momento lembrando as histórias de infância e juventude.

Como a minha velhice também vai chegar, gosto de ter por perto essas vizinhas que me servem de inspiração.

(Ilustração de Mariana, publicada no blog ttp://manasedesenhos.blogspot.com/2007_08_01_archive.html)

terça-feira, outubro 19

Os meninos, o futebol e as meninas

Só sendo mãe de um filho menino homem para, na minha vida, eu assistir a um jogo de futebol americano. Não vou exagerar: assistir trechos muito esparsos de futebol americano. O comentarista pelo menos é engraçadinho na sua fala. Enquanto eu assistia, eu pensava (eu assisto sem me concentrar muito): o que as meninas mulheres poderiam estar assistindo na tevê? Perguntei então para o Ní o que as amigas dele assistem na tevê. Ele achou minha dúvida pertinente porque também não tinha resposta. Aos 16, as meninas não veem mais Superpoderosas nem High School Musical – que isso eu sei que são as de cinco anos que veem. Malhação não vale como resposta porque no horário do futebol americano não passa Malhação. Eu acho que as meninas estão estudando enquanto os meninos veem futebol e é por isso que elas são melhores alunas do que eles.

segunda-feira, outubro 18

Nossas prisões

Eu mais não li do que li nesta vida. Portanto, é muito fácil ser surpreendida por uma boa leitura. No mês passado, terminei o livro O Prisioneiro, de Érico Veríssimo, que estava esquecido na minha estante. A princípio, fiquei temerosa de que ele usasse uma linguagem difícil. Mas o livro é muito bom. Embora ele não dê os nomes, a história se passa na Guerra do Vietnan. São vários personagens, vítimas da guerra – os que estão do lado do dominador e os que estão sendo massacrados. E cada um carrega uma guerra interna, um conflito que o torna prisioneiro e do qual não consegue se libertar.

Veríssimo mergulha fundo na essência de cada personagem. Mostra como os militares americanos sofrem com seus dramas pessoais, e o tanto de sofrimento que causam nos nativos. Embora no final nos deparamos com O Prisioneiro, há muitos prisioneiros ao longo da história. Além da crítica que faz à guerra, Veríssimo nos faz pensar em nossas próprias prisões.

Poesia da mínima coisa

Mayumi Takahashi

No mínimo quero-te ao lado
Em passos curtos e leves
De mãos estendidas
à outra mão mutilada
Que a ansiedade fatia
pela pressa de viver.

No mínimo
quero a resistência dos bravos
A franqueza
e sinceridade dos derrotados
O vermelho de luta jamais esquecido.

No mínimo
A coisa é mínima.
E para além do mínimo
A urgência do delírio.
__________________________________________

(*) Mayumi Takahashi é professora do ensino fundamental em Foz do Iguaçu.

Peguei a poesia do site Guatá, do meu amigo e jornalista Sílvio Campana.

domingo, outubro 17

Tropa de Elite2

Eu já tinha gostado de Tropa de Elite, o primeiro. E hoje à tarde assisti o número dois. Gostei mais. No primeiro, muita gente achou que fosse apologia à violência da polícia. Eu não achei. Achei que era uma crítica. Agora, o Padilha "desenhou" e foi bastante explícito nessa crítica. Mas que dá medo, dá! Muito medo da polícia. É muita bandidagem! Os policiais querendo se livrar dos traficantes para eles poderem mandar! É o fim!
No Estadão de domingo, tem uma crítica de Luiz Zanin Oricchio. Não sei se o texto do blog dele é o mesmo publicado no jornal.

quinta-feira, outubro 7

A liberdade de expressão

No sábado, eu li a coluna da Maria Rita Kehl no Estadão e gostei muito. Acho que ela matou a pau as críticas que fazem aos programas sociais do governo. E hoje leio que ela perdeu o espaço que tinha no jornal justamente por manifestar sua opinião, que é diferente da do jornal. Ué, não é o governo Lula que é contra a liberdade de expressão? Ué, não cassaram a obrigatoriedade do diploma dos jornalistas porque o diploma representava o fim do direito da livre expressão? Esse fato só deixa mais claro aquilo que todos sabemos: a grande mídia defende a liberdade de expressão desde que essa expressão seja exatamente sobre o que ela pensa... Se alguém pensa diferente ou questiona o conteúdo dessa mídia é censura... Aqui, a entrevista da Maria Rita Kehl sobre sua demissão. E a tentativa do Estadão de se justificar...

O domingo

Inocente útil
Eu não votei no domingo porque estava viajando. Para presidente, meu voto iria para o Plínio de Arruda Sampaio. Eu não boto muita fé (já que a fé é o grande diferencial entre candidatos) na Marina Silva, assim como não acredito no Fernando Gabeira nem na Soninha Francine, e nem no PV. Eu imagino que a Marina saiba que o oba-oba que a grande mídia fez em torno da “onda verde” só aconteceu porque foi ela quem permitiu que o preferidinho da grande mídia, o Serra, fosse para o segundo turno. Se a Marina estivesse na posição da Dilma, ou seja, com condições de vencer o Serra, seria tão metralhada quanto a petista pela Veja, Estadão, Folha de S. Paulo e afins.

* *
Paulo Ubiratan
Em função da minha viagem, também não pude me despedir do jornalista Paulo Ubiratan. No domingo, na casa de um amigo, foi ele quem me disse ter ouvido no rádio sobre a morte de alguém da CBN de Londrina. Eu sabia que o Paulo estava na UTI, portanto, deduzi que era ele. No início de setembro, eu e a Benê fizemos uma visita ao Paulo que ainda estava em casa. Apesar de bastante debilitado, era o mesmo Paulo Ubiratan de sempre. Bravo, muito bravo, com sua doença. E ao mesmo tempo brincalhão.

No lançamento do livro dele, em dezembro de 2007, eu brinquei: - Sei não, hein, Paulo, gaúcho escrevendo poesia...Também fui à Câmara quando ele recebeu o título de cidadão honorário de Londrina. Ainda bem que pude compartilhar com ele esses momentos de alegria. E gostaria muito de ter ido ao seu velório no domingo.

Nos tempos de redação da Folha de Londrina, ele gostava de me provocar (o Nícolas ainda era pequeno): - Deixa comigo esse guri! Quando ele for maior, eu o levo pra conhecer as primas!
Eu respondia, brava: - Fique longe dele!!

Vou deixar o link pro texto que a Elsinha escreveu sobre o nosso amigo, e que foi publicado na Folha de Londrina de segunda e vale a pena ser lido.

quarta-feira, outubro 6

A caça nossa de cada dia!

Quando os homens viviam nas cavernas, o rango era garantido com a caça de algum animal. Com a agricultura, pecuária, geladeira, fogão e utensílios domésticos, ficou mais fácil se alimentar. Mas a caçada agora é outra. Caça ao dinheiro. Afinal, tudo custa dinheiro. E acho que eu sou mesmo comunista no coração. Porque eu acho o seguinte: seja lá no que você trabalha, todo dia você deveria ter direito a uma alimentação digna, à louça lavada e guardada, a uma sonequinha depois do almoço, sem distinção. Ou seja, todo mundo poderia comer o que quisesse sem se preocupar com o custo. Porque o simples fato de trabalhar lhe daria esse direito, fosse você um lixeiro ou um médico. Ah, mas são responsabilidades diferentes. Pois é, mas a sociedade precisa de todos os serviços e você pode escolher o que vai fazer – e eu duvido que quem quer ser médico ia escolher uma profissão mais fácil só porque ser médico não lhe garante ter mais direitos do que outro. Será que isso é papo de jornalista pobre?

segunda-feira, outubro 4

As mãos

Depois que desliguei o telefone percebi que, para ele, tanto fazia me ver ou não me ver, me ter ou não me ter, me agradar ou me desagradar. E fiquei com vergonha. Se tivesse alguém por perto, veria minhas faces vermelhas.

Então decidi ligar mais uma vez para desmarcar o encontro recém-marcado. Afinal, era preciso ter um pouco de dignidade. Me senti aliviada. E resolvi soltar minhas mãos das mãos dele. Pensei que se elas ainda estavam juntas era porque eu estava segurando as dele. E no dia seguinte eu senti que as minhas mãos estavam mais geladas do que sempre.

sexta-feira, setembro 24

A galinha de estimação

Na minha adolescência, havia uma galinha de estimação em casa. Não lembro bem como ela chegou. Era uma galinha pequenininha, de cor preta com um penachinho branco na cabeça. Era bem bonitinha. E era sozinha. Vivia pelo quintal, mas de manhã aparecia na porta da cozinha e falava “Cooooooo ca” meio baixinho. Então foi batizada de Coca.

Com a devida permissão da minha mãe, ela entrava na cozinha e caminhava pela casa. A minha mãe se afeiçoou a ela. E a Coca recebia um tratamento diferenciado. Minha mãe lhe dava banho de água quente e depois a secava com o secador de cabelos. Enrolada numa cobertinha, a Coca assistia TV no colo de minha mãe. E ainda havia os passeios de carro. Ela ia toda feliz...

Um tio meu, que é veterinário, quando tomou conhecimento da história, ficou indignado: Onde já se viu dar banho em galinha?

Quando meus pais resolveram se mudar, a Coca ficou com a vizinha. Com certeza, não recebeu o mesmo tratamento dispensado por minha mãe e morreu logo em seguida. Anos depois, já na faculdade, viajei para um evento em São José dos Campos. Ao ouvir meu sobrenome, um dos participantes veio me dizer que conhecia uns Paccola de Piraju e que já havia ido à minha casa. Eu tive a confirmação de que ele falava a verdade quando ele disse: A sua mãe tinha uma galinha...

segunda-feira, setembro 13

TRT suspende carteira de jornalista para quem não é jornalista

Na semana passada, a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, por unanimidade de votos, publicou acórdão tornando sem efeito a decisão em caráter liminar do juiz Rafael da Silva Marques, da 29ª Vara do Trabalho de Porto Alegre, que obrigava o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul a filiar duas pessoas não formadas em Jornalismo, o bacharel em Direito Edwin Rudyard Wolff Dick e a médica Elisete Pereira de Souza.

"É uma vitória para a categoria, e fortalece as PEC pró-jornalistas para chegarem ao plenário do Congresso Nacional", comemora o presidente do Sindicato, José Maria Rodrigues Nunes. "Segundo o Supremo Tribunal Federal, todos podem exercer a profissão de jornalista, mas no nosso entender nem todos são jornalistas - somente os diplomados. E a sindicalização e a carteira de jornalista jamais foram requisitos para exercer a profissão", explica.
O presidente da entidade viu o mandado de segurança como uma interferência jurídica dentro do associativismo, inadmissível em um país onde todos têm direitos sociais. "Conceder carteira a quem não é jornalista profissional banalizaria um documento civil com validade nacional, permitindo seu uso impróprio", aponta.

Para o advogado do Sindicato, Antonio Carlos Porto Junior, é a primeira decisão importante do TRT sobre um tema polêmico e problemático, que ajuda a desfazer a má interpretação entre trabalhar no Jornalismo e ser jornalista. "Foi decidido pelo STF que o Jornalismo pode ser exercido por quem não é bacharel, sendo possível trabalhar no Jornalismo sem ser jornalista, mas isso não faz a pessoa jornalista. Ao mesmo tempo, não pode haver sindicalização compulsória, e vale para ambos os lados. O Sindicato é de bacharéis em Jornalismo, e não pode ser obrigado a aceitar quem não é bacharel", explica Porto.

Agora, as carteiras expedidas para Dick e Elisete deverão ser recolhidas. "Ao conferir carteira de jornalista a quem não seja bacharel, está se cometendo uma ilegalidade brutal", declara o advogado.

Fonte: site do Sindicato dos Jornalistass do Rio Grande do Sul

quinta-feira, setembro 2

O fim do amor...

A Persistência da Memória, Salvador Dali

FUNERAL BLUES
de W.H. Auden

Pare os relógios, cale o telefone
Evite o latido do cão com um osso
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo.
Que os aviões voem em círculos, gemendo
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu.
Ponham laços pretos nos pescoços
brancos das pombas de rua
e que guardas de trânsito usem
finas luvas de breu.
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste
Meus dias úteis, meus finais-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite,
minha fala e meu canto.
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado
As estrelas não são mais necessárias;
apague-as uma por uma
Guarde a lua, desmonte o sol
Despeje o mar e livre-se da floresta
pois nada mais poderá ser bom como antes era.

Capital ecológica?

Gazeta do Povo, 2 de setembro: Pesquisa do IBGE mostra que cidades como São Paulo e Rio de Janeiro possuem as maiores concentrações médias de poluentes. Por outro lado, Curitiba tem o maior número de picos de poluição, apresentando grande número de violações dos limites tolerados.

quinta-feira, agosto 26

A Justiça do PR

A Folha de Londrina publica na edição de hoje (26 de agosto) matéria com o resultado da inspeção realizada na Justiça do paraná pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O corregedor Gilson Dipp disse que esperava que os problemas do Paraná fossem menores do que os encontrados em Estados pobres e menos organizados, como o Maranhão e o Piauí.

Ele destacou a falta de transparência nos pagamentos e as "gratificações que só existem no Paraná." E acrescenta: "A surpresa foi por ser um Estado rico, desenvolvido, do Sul do país, de imigração alemã, italiana. (...) há práticas consolidadas de pagamentos irregulares que já estão historicamente inseridos no patrimônio do servidor..."

quarta-feira, agosto 25

O drama dos mineiros chilenos

A história dos 33 mineiros chilenos que estão soterrados num espaço de 55 metros quadrados, desde o dia 5 de agosto, é uma das mais dramáticas que já ouvi. Eles ainda não sabem que a previsão de resgate é para o Natal quando será finalizado um túnel de 90 cm de diâmetro pelo qual serão içados. A mina é de ouro e cobre. Os trabalhadores estão recebendo alimentação e estão em contato com quem está na superfície, inclusive familiares, médicos, psicólogos. Disseram até que um especialista da Nasa se colocou à disposição porque eles têm experiência com confinamentos humanos.

Quando eu li a notícia, lembrei-me imediatamente dos 118 tripulantes do submarino russo Kursk que morreram após uma explosão no mar de Barents, em agosto de 2000. Da explosão, sobreviveram 23 homens que devem ter tido uma morte lenta e gradual nas 24 horas seguintes ou por afogamento ou por asfixia.

Entre os acidentes em minas da história, o máximo de tempo que ficaram até o resgate foi de 25 dias numa mina inundada na China. E eram três trabalhadores.

Eu desejo muito que todos sobrevivam!

quarta-feira, agosto 4

A letra C

No sonho, ele queria me provar que tinha me amado muito no passado. No momento, ninguém mais amava ninguém. Ou melhor, ele amava outra; e eu também não o amava mais fazia tempo, até tinha outro em meu coração, mas não era o caso de dizer. Ele chegou afetuoso e queria me mostrar um caderninho. Ali estaria a prova de seu amor no passado por mim. Ao olhar o caderno, vi o meu nome escrito numa caligrafia linda, muito bem desenhada. Reconheci a letra C da minha mãe. O C mais lindo que já vi era o da minha mãe. Eu até tentei e treinei bastante para copiar. Mas, incapaz de fazer aquelas voltinhas, adotei o meio círculo. Realmente a prova era contundente. Ele havia escrito meu nome muitas vezes no caderninho, sinal de que havia mesmo me amado. Mas a letra C, na caligrafia antiga, denunciava que era um amor passado.

Gentilezas

Chovia muito forte e meu carro estava estacionado próximo a uma área coberta do supermercado. Se ele estivesse parado de ré era só abrir o portamalas e eu não iria me molhar. Eu disse isso a dois homens que bebiam cerveja e conversavam perto do carro. Um deles se ofereceu então para entrar no meu carro e inverter a posição. Aceitei a gentileza. Para isso, ele se molhou bastante e eu fiquei bastante feliz. Afinal, minha alma estava precisando mesmo de um pouco de gentileza gratuita depois de receber algumas sovas verbais nas últimas semanas

segunda-feira, julho 26

Presentes e amores

No dia em que ele voltou para pegar o restante das roupas, ela já tinha secado as lágrimas. Por dentro era só dor, mas conseguiu se conter. Ele já tinha fechado a mala quando ela viu uma blusa esquecida. E mostrou para ele, que perguntou: - Essa blusa é minha? Passiva, ela respondeu: - Fui eu que comprei pra você. E imediatamente se sentiu uma idiota por ter gastado dinheiro com um presente que ele nem havia notado.

Essa cena lhe veio à memória cinco anos depois. Agora, esperava no carro enquanto o namorado subiu ao apartamento para se trocar. Ele havia dormido na casa dela e, quando saíam para almoçar fora, pediu para passar rapidamente no apartamento dele para trocar a camisa. Era uma camisa que ela havia comprado para ele seis meses antes. Mas ele já havia se esquecido disso. Ela percebeu quando ele comentou: - Sabe aquelas roupas que a gente não gosta muito...

E decidiu então que não ia mais comprar presente para namorado nenhum... Cada um que compre a própria roupa!!

segunda-feira, junho 28

Nossos vizinhos, os argentinos

Quando eu estava no colegial, houve a Guerra das Malvinas, e eu lembro que meu professor de História defendeu a Argentina. Por conta da análise dele, eu também fiquei “do lado” dos argentinos.

Depois, como boa brasileira, eu desenvolvi uma antipatia por nossos vizinhos, simplesmente por serem argentinos, e passei a classificá-los como arrogantes. Na disputa entre Pelé e Maradona, é claro que eu achava Pelé o máximo, e Maradona, o mínimo.

Quando estive a primeira vez em Buenos Aires, me surpreendi com a gentileza que encontrei nas ruas. Os argentinos eram muito atenciosos para passar informação. Teve um até que se ofereceu para completar os centavos que faltavam para comprar um bilhete de metrô, já que eu só estava com dólar no bolso e lá também não há “ônibus de graça”.

Também fiquei maravilhada com a possibilidade de andar pelas ruas portenhas à noite, com segurança, e encontrar muitos argentinos pelas ruas – senhoras simples, mas bem arrumadas, chegando aos teatros – e as livrarias abertas e sempre cheias.

Aos poucos, fui me simpatizando cada vez mais pela Argentina. Voltei a Buenos Aires uma segunda vez, e pretendo ainda voltar lá muitas vezes. As manifestações na Praça de Maio, o panelaço dos argentinos que, no final de 2001, derrubaram cinco presidentes em 12 dias e todos os protestos que levam o povo às ruas me fazem admirar cada vez mais os nossos vizinhos.

Maradona subiu no meu conceito. E confesso que, embora eu torça para que o Brasil ganhe esta Copa, eu gosto de ver os argentinos jogando.

Comecei a pensar nos nossos vizinhos depois de assistir “O Segredo dos Seus Olhos”, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro. É um drama que mistura crime e romance, ambientados na época da ditadura militar, e que tem bons momentos de humor. Uma história muito bem contada, surpreendente, com atores muito bons, principalmente Ricardo Darín, que já fez “O filho da noiva” e “Clube da Lua” – que já vi e gostei. O cinema argentino me parece mais centrado no homem e em seus dramas demasiadamente humanos do que o cinema brasileiro, mais focado nas questões sociais. Gosto de muitos filmes brasileiros, mas os argentinos me tocam mais.

domingo, junho 13

Eu odeio o frio!

O pior do frio é que todo ano ele volta. Estou com saudades de Brasília, onde o ar é até turvo de tão quente. Onde ninguém nunca pensa em comprar um aquecedor. O inverno nem começou oficialmente e eu já quero o verão. Eu não aguento mais o meu nariz escorrendo. E todo ano é a mesma coisa. Eu odeio o frio! Eu quero um Sol permanente sobre minha cabeça.