quarta-feira, dezembro 15

Os 103 anos de Niemeyer

Foto de Sérgio Lima/Folhapress
Antes que o dia termine, hoje Niemeyer completa 103 anos. No site do UOL, dá pra votar na obra favorita projetada pelo arquiteto. Eu gosto mais da Catedral de Brasília e gosto de ter morado lá só pra ter visto muitas vezes de perto algumas de suas obras.

sexta-feira, dezembro 10

Bits soltos pelo espaço

De novo do site http://punkjazz.tv/bologs/, de Mauro Dahmer

Depois de 7 anos no Congresso o PL 29 dificilmente será aprovado nesta legislatura e os telejornais estão fazendo um esforço danado para pressionar senadores e desinformar suas audiências. Para atender as Teles o governo liberou o mercado de TV à cabo aumentando ainda mais a barafunda mas provavelmente vamos continuar pagando caro por uma salada de canais sem muita graça. Não é à toa que o IBOPE cai… A estratégia da Mídia Clássica – usando a expressão de Caio Túlio Costa – foi acusar o governo de atacar a liberdade de imprensa e com isso conseguiram enrolar, além do peixe, até mesmo seus próprios jornalistas e leitores, deixando para Sarney – pergunte se ele é dono de televisão no Maranhão – o veredito final dos donos do bolicho. Nisso não se mexe neste ano! O caso é grave e devido à falta de informações termina provocando burrice. Tanto que um amigo publicitário quase me chamou de Chavista quando eu tentava explicar que na verdade nós é que vivíamos numa espécie de anacronismo cubano de poucas e mesmas empresas desde os anos 70 – apesar da revolução digital – e que isso era tão anticapitalista quanto uma única Telebrás vendendo telefones. Sem falar na bagunça de uma lei que nos obriga a pagar caro para zappear entre vendedores de tapetes persas e canais de religião … Putz! Lula é mais capitalista do que essa gente que só pensa em vender sabonetes!
Vale considerar que se mesmo tendo Hélio Costa como Ministro das Comunicações, a ABERT e a ANJ gastaram um estoque de paranoias gigante acusando o governo de disfarçar interesses autoritários, isso tende a funcionar menos com um Congresso mais independente e sem um ministro “da casa” no governo… Sei lá, pode estar acontecendo algo parecido com aquilo que aconteceu com a indústria fonográfica na década passada, que de tanto ver inimigos em todos os lados não conseguiu enxergar na web um transformação e desafio inevitável e desapareceu… Um cabo é apenas um cabo…

sexta-feira, dezembro 3

O fim do silêncio

“Não há silêncio que não termine” é o título do livro em que Ingrid Betancourt relata os quase sete anos em que ficou nas mãos das Farc, na selva colombiana. A brutalidade dos guerrilheiros, as condições desumanas na selva e a hostilidade de seus colegas no cativeiro, que chegavam a invejar o fato de Ingrid ser uma refém “ilustre”, são surpreendentes.

É admirável como essa mulher conseguiu manter a dignidade e sobreviver diante de tanta barbárie. Sua atitude de nunca se submeter irritava os guardas e os outros reféns, tão vítimas quanto ela. Ela nunca perdia de vista que estar ali, presa, era uma situação injusta contra a qual ela devia lutar o tempo todo. “Não sofri da Síndrome de Estocolmo”, diz, num dado momento. Mesmo sofrendo punições depois de ser recapturada em suas várias fugas, ela não deixava de arquitetar um modo de ser livre novamente.

Ingrid Betancourt relata o quanto procurava melhorar como ser humano e refletia o tempo todo para não se tornar um animal. Era constante o esforço dela em compreender os motivos das ações de cada um, mesmo daqueles que lhe faziam mal. Ela não se faz de vítima nem de heroína. É uma mulher que vê em cada situação um motivo para se tornar melhor, para se superar e continuar viva.

Não se pode ficar indiferente à narrativa. Há momentos em que vem um nó na garganta ou falta o ar só de imaginar a dor que a atinge, algumas vezes vem o riso por pequenas vitórias cotidianas e muitas vezes vem um sentimento de impotência e angústia por saber o quanto de crueldade existe. No capítulo em que ela narra sua liberação, não há como conter o choro. Apesar do final feliz, teria sido melhor se fosse apenas uma história de ficção.

sábado, novembro 20

Esta sou eu...

Mulher chefe de família é a que trabalha mais, em casa e no emprego, diz Ipea

Elas têm mais anos de estudo, se dividem entre o trabalho e os cuidados com a casa, ganham menos e trabalham mais. Este é o retrato das mulheres chefes de família traçado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), por meio do cruzamento de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) 2009, divulgados este ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo o estudo, de 2001 a 2009 a proporção de famílias chefiadas por mulheres no Brasil subiu de aproximadamente 27% para 35% do total. São 21.933.180 o número de famílias que identificaram como principal responsável uma mulher no ano de 2009.

Este é o início de matéria publicada no UOL dia 11 de novembro da jornalista Rosanne D'Agostino.

Quando eu era criança via a minha mãe dona de casa, tendo que cozinhar para marido e sete filhos, e pensava que eu não queria esse destino. Por isso, eu sabia que iria trabalhar fora e não seria dona de casa... Trinta anos depois, eu trabalho fora e sou dona de casa!!

segunda-feira, novembro 15

Vivendo e aprendendo

Na infância
- Filho, não é leite conlensado. É leite condensado.
- Condensado?
- Isso.
- Mãe, não tem palavra que criança fala errado que é melhor do que a palavra verdadeira?
- ...

Na adolescência
- Filho, chegou o livro com a biografia do Kurt Corbain...
- Mãe, é Cobain!
- É???
- É.
- Mas você não acha que Kurt Corbain combina mais do que Cobain?
- ...

terça-feira, novembro 9

São Longuinho, São Longuinho...

De reza ela entendia. Formada numa família católica, conhecia muitos santos e sabia dirigir o pedido daquilo que queria para o santo específico. A vela de Santo Antônio não apagava nunca na esperança de encontrar um namorado e depois um bom marido.

Rezou todas as novenas que lhe caíram nas mãos e misturou com simpatias feitas religiosamente a cada 13 de junho. Botou a imagem do Santo de ponta-cabeça num copo com água, escreveu o nome de possíveis amados em papeizinhos, contou sete estrelas, amarrou uma fita azul no pé do Santo e até chegou a colar a foto dela e a de um namorado atrás da foto de Santo Antônio. E nada aconteceu. Até aconteceu, mas nada que durasse pra sempre.

Chegou a experimentar outro santo. Afinal, Santo Expedito não é o santo das causas perdidas?

Depois passou por uma fase zen e entendeu que a mente também é poderosa e, enquanto entoava um mantra, passou a mentalizar o amado, envolto em todas as cores existentes.

Na fase tecnológica, repassou todas as correntes que recebeu por email, sempre pensando na chegada de um grande amor. Também não deu certo, mas ela não perdeu a fé.

E eis que um belo dia veio uma inspiração. Como não havia pensado nisso antes? Achou até que a ideia poderia ser fruto de todas as suas rezas. Agora, ela já prometeu alguns pulinhos para São Longuinho se ele lhe der o amor perdido. Afinal, se tem santo com credibilidade é o São Longuinho. Ele já a ajudou a encontrar o boleto do aluguel, o título de eleitor e a chave do carro...

sexta-feira, novembro 5

A Bolsa Família dos americanos

Do site http://www.viomundo.com.br
42.389.619 de americanos dependem do Bolsa Família para comer

By Sara Murray, Wall Street Journal

Um grande número de domicílios americanos ainda depende da assistência do governo para comprar comida, no momento em que a recessão continua a castigar famílias.

O número dos que recebem o cupom de comida [food stamps, a versão americana do Bolsa Família] cresceu em agosto, as crianças tiveram acesso a milhões de almoços gratuitos e quase cinco milhões de mães de baixa renda pediram ajuda ao programa de nutrição governamental para mulheres e crianças.

Foram 42.389.619 os americanos que receberam food stamps em agosto, um aumento de 17% em relação a um ano atrás, de acordo com o Departamento de Agricultura, que acompanha as estatísticas. O número cresceu 58,5% desde agosto de 2007, antes do início da recessão.

Em números proporcionais, Washington DC [a capital dos Estados Unidos] tem o maior número de residentes recebendo food stamps: mais de um quinto, 21,1%, coletaram assistência em agosto. Washington foi seguida pelo Mississipi, onde 20,1% dos moradores receberam food stamps, e pelo Tennessee, onde 20% dos residentes buscaram ajuda do programa de nutrição.

Idaho teve o maior aumento no número de recipientes no ano passado. O número de pessoas que receberam food stamps no estado subiu 38,8%, mas o número absoluto ainda é pequeno. Apenas 211.883 residentes de Idaho coletaram os cupons em agosto.

O benefício nacional médio por pessoa foi de 133 dólares e 90 centavos em agosto. Por domicílio, foi de 287 dólares e 82 centavos.

Os cupons se tornaram um refúgio para os trabalhadores que perderam emprego, particularmente entre os estadunidenses que já exauriram os benefícios do seguro-desemprego. Filas nos supermercados à meia-noite do primeiro dia do mês demonstram que, em muitos casos, o benefício não está cobrindo a necessidade das famílias e elas correm antes da chegada do próximo cheque.

Mesmo durante as férias de verão as crianças retornaram às escolas para tirar proveito da merenda, onde ela estava disponível. Cerca de 195 milhões de almoços foram servidos em agosto e 58,9% deles foram de graça. Outros 8,4% foram a preço reduzido. Este número vai aumentar quando os dados do outono forem divulgados já que as crianças estarão de volta às escolas. Em setembro passado, por exemplo, mais de 590 milhões de almoços foram servidos, quase 64% de graça ou com preço reduzido.

Crianças cujas famílias tem renda igual ou até 130% acima da linha da pobreza — 28 mil e 665 dólares por ano para uma família de quatro pessoas — podem ter acesso a almoços gratuitos. As famílias que tem renda entre 130% a 185% acima da linha da pobreza — 40 mil e 793 dólares para uma família de quatro — podem receber refeições a preço reduzido, não mais que 40 centavos de dólar de desconto.

quinta-feira, novembro 4

Minha vó Maria

Agora que me dei conta de que minha avó Maria, mãe da minha mãe, teria feito 100 anos em 2010. Faz 12 que ela se foi. Tinha 88 anos. E os olhos azuis.

Desta avó, só tenho boas lembranças. Quando meu avô ainda era vivo, eles moravam num sítio, em São Manoel, interior de São Paulo. Nós íamos lá com freqüência. Quando meu avô morreu, eu tinha seis anos, mas me lembro muito bem do sítio.

Eu e a Luciana ficávamos lá sozinhas com os dois. Criança não tem muita noção do tempo, mas para mim eram muitos dias. De manhã meu avô tirava o leite da vaca que nós bebíamos nuns copos grandes de plástico. Ela criava galinhas. E nós íamos com meu avô de carroça até uma venda onde ele nos comprava doces. Uma vez, perguntei a minha avó se ela estava grávida. Ela riu e disse que sim, que estava grávida. Esse meu tio nunca nasceu!

Nos meus aniversários, ela sempre me presenteava com um vidro de doce de leite feito por ela. Daqueles de comer de colher. Era muito bom, tanto que nunca esqueci. E uma vez ela fez umas roupinhas de crochê que transformavam em bonequinhos os potes de yakult.

Depois que nasceu meu filho, ela sempre me perguntava: – Cadê os outros cinco? É porque eu dizia que queria ter seis filhos. Ela sabia que eles nunca viriam. Depois que minha avó se foi, minha mãe sempre falava que estava com saudades da mãe dela. E agora eu tenho saudades das duas.

quarta-feira, novembro 3

Do nordeste, do preconceito e da eleição

Matéria da Gazeta do Povo do dia 2 mostra que, mesmo que não fossem computados os votos do Norte e do Nordeste do País, Dilma venceria só com os votos do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Os votos do Norte e Nordeste consolidaram a ampla vantagem de 12 milhões de votos que Dilma teve sobre Serra, segundo a matéria de Heliberton Cesca. Mas, os votos do Sul, Sudeste e Centro-Oeste dariam a vitória à petista que teve nessas regiões 50,21% contra 49,79%.

A democracia e a comunicação

O axioma tolo da Segunda-feira
(do blog http://punkjazz.tv/bologs/, de Mauro Dahmer)

Segundo Luiz Felipe Pondé publicou na FolhaSP desta Segunda-feira, a Democracia é uma palavra desgastada por TODO MUNDO e como TODO MUNDO é tolo, é um crime democratizar a mídia…Puff! Pondé não só é livre para dizer o que pensa quanto para não entender, não ler ou não comentar, que a vida e as opiniões numa república são menos maniqueístas e mais diversas que as guerras pessoais que cada um escolhe… Vale dizer que essa paranóia sobre uma possível ameaça à liberdade de imprensa é só paranóia. Tem gente querendo botar a mão na cumbuca mas isso é coisa da democracia. De resto, não há a mínima ameaça à liberdade de imprensa no Brasil. Existem sim leis ultrapassadas e concentração de players que provocam um anacronismo que ameaça o direito à informação mas sobre a opinião todo mundo é livre! Fica a impressão de que o autor escreve para agradar o dono da empresa em que trabalha…

sexta-feira, outubro 29

Quinzinho ou JR?

As primeiras eleições de que tenho memória foram as de 1972, para prefeito. Eu tinha seis anos de idade. Estava brincando no quarto, quando fui interrompida por uma pesquisa eleitoral Ibope-Lucila-Luciana, com sete e cinco anos.
– Você é Quinzinho ou JR? – me perguntaram
– O que é isso? – devolvi.
– Você tem que escolher, Quinzinho ou JR?
– Quinzinho – chutei.
Aí, elas riram muito e tiraram sarro de mim:
– A Carina é Quinzinho... A Carina é Quinzinho...
Em seguida, elas revelaram que eram JR e mostraram folhetos com a propaganda do candidato delas.
Imediatamente eu mudei meu voto. Eu também era JR. Com aqueles cabos-eleitorais, jamais o Quinzinho receberia um voto meu.
E foi assim que eu descobri que havia eleições e que havia prefeitos. Imagino que o JR, o médico José Ribeiro, fosse do MDB, e o Quinzinho Camargo, da Arena. Preciso me informar sobre quem ganhou aquelas eleições. Imagino que tenha sido o Quinzinho Camargo porque sei que ele foi prefeito de Piraju. José Ribeiro também foi prefeito, mais de uma vez, mas aí eu era mais velha.

Dois anos depois, em 1974, eu tinha então oito anos, e me lembro de que o Quércia era candidato ao Senado pelo MDB. E o candidato da Arena era o Carvalho Pinto. De manhã, na escola, ficamos sabendo que haveria um comício do Quércia em frente à Igreja. Os meus colegas contaram que os pais iam votar no Quércia. O meu pai ia votar no Carvalho Pinto. Bem, ele era funcionário público, o Carvalho Pinto havia sido governador e nós vivíamos ainda na ditadura militar. Imagino que meu pai não ia declarar se fosse votar na oposição.

Só sei que eu fui ao comício do Quércia e o achei lindo (argh!!). Em comparação com o Carvalho Pinto ele era realmente um pão (adjetivo mais apropriado para aquela época). E o meu candidato derrotou a Arena – foi uma das primeiras derrotas do regime militar nas urnas.

quarta-feira, outubro 27

Malacacheta

Enquanto isso, em Malacacheta (MG), uma mulher colocou veneno no café do marido por ter apanhado dele. Tá certo que ele merecia uma malacachetada, mas veneno mata, né? Poderia ter sido uma malacachetada mais leve. Ela poderia ter feito as malas (cachetas) e ter ido embora. Deixasse o homem malacachetando sozinho. Agora, ela vai dizer o quê pra polícia? Que as malacachetadas do marido encheram as malacachetas dela e ela não pensou direito? Acho que ela já se arrependou porque foi ela quem levou o homem para o pronto socorro quando ele começou a passar mal. Quem sabe agora tudo se resolve. Ele pensa direito e para de malacachetar a mulher. Há malacachetas que vem para o bemacachetas...

segunda-feira, outubro 25

As minhas vizinhas

Se existe anjo da guarda o meu tem sido generoso na escolha de minhas vizinhas. A primeira delas com mais de 70 anos foi a dona Odila. Viúva, morava sozinha. Éramos ela, o Ní e eu no último andar de um predinho, aqueles de quatro andares, sem elevador. Quando ela queria falar comigo, era bom ser rápida porque ela não tirava o dedo da campainha enquanto eu não a atendesse. Pelo menos eu já sabia que ela era e não me assustava mais.

O Ní tinha quatro-cinco anos e ela sempre tinha balas reservadas para ele. E avisava que não era para ele mostrar para as outras crianças do prédio. Quando fazia bolinhos, também gastava a campainha para nos chamar. O supermercado Jumbo-Eletro já não existia fazia tempo, mas ela ainda dizia que ia ao Jumbo para se referir ao supermercado perto de casa.

Nos últimos meses de sua vida, dona Odila estava fraquinha. Não saía mais da cama e tinha os cuidados de duas enfermeiras. Percebi que o caso era grave quando ela desceu de maca na primeira de suas internações. Fui ao seu velório. Finalmente ela ia se encontrar com seu finado marido, a quem sempre pedia para vir buscá-la. Uma vez ela me contou que perguntou ao padre se era pecado querer morrer. Ela tinha muitas saudades do marido, e até passou a vê-lo pela janela.

O apartamento ao lado ficou vazio e eu logo depois de mudei para outras bandas. Agora a vizinha era dona Iva, também viúva e mãe da minha amiga jornalista Karen. Quando havia festas familiares, nós éramos bem-vindos, e o Ní corria para lá nas noites em que eu saía para dar aulas. Ficavam os dois vendo tevê. Foi uma convivência curta porque logo eu também me mudei e fui para bem longe. E também senti saudades das coisas gostosas feitas pela dona Iva.

No meu retorno do cerrado, assim que me mudei fui saudada por outra vizinha, a dona Gilda, de 72 anos, que era separada do marido. Ela era enérgica, mas não menos generosa. Tinhas uns netinhos fofos que apareciam por lá. E dona Gilda me socorreu algumas vezes, com um aspersor de veneno, para matar as baratas que me aterrorizavam.

Depois de um intervalo de quase três anos, novamente sou agraciada por outro desses anjos. Agora é a dona Faryd, 81 anos, viúva e sem filhos. Mas a vida dela é agitadinha. É tia de muitos sobrinhos que a querem muito bem e fazem o papel de filhos. Talvez porque ela tenha feito o papel de mãe para eles.

Logo no dia da minha mudança, dona Faryd apareceu com água fresquinha para os rapazes que carregavam os móveis. Doce e acolhedora, ela já me ofereceu café quentinho e pão com manteiga muitas vezes. E eu gosto muito de ouvir as histórias que ela conta de seus pais, irmãos e do marido. Ela é muito alegre, risonha e prestativa.

Outro dia, fez questão que eu conhecesse sua irmã, Laura, de 91 anos, muito bonita, de olhos azuis e também muito sorridente. Cúmplices, elas riam a todo momento lembrando as histórias de infância e juventude.

Como a minha velhice também vai chegar, gosto de ter por perto essas vizinhas que me servem de inspiração.

(Ilustração de Mariana, publicada no blog ttp://manasedesenhos.blogspot.com/2007_08_01_archive.html)

terça-feira, outubro 19

Os meninos, o futebol e as meninas

Só sendo mãe de um filho menino homem para, na minha vida, eu assistir a um jogo de futebol americano. Não vou exagerar: assistir trechos muito esparsos de futebol americano. O comentarista pelo menos é engraçadinho na sua fala. Enquanto eu assistia, eu pensava (eu assisto sem me concentrar muito): o que as meninas mulheres poderiam estar assistindo na tevê? Perguntei então para o Ní o que as amigas dele assistem na tevê. Ele achou minha dúvida pertinente porque também não tinha resposta. Aos 16, as meninas não veem mais Superpoderosas nem High School Musical – que isso eu sei que são as de cinco anos que veem. Malhação não vale como resposta porque no horário do futebol americano não passa Malhação. Eu acho que as meninas estão estudando enquanto os meninos veem futebol e é por isso que elas são melhores alunas do que eles.

segunda-feira, outubro 18

Nossas prisões

Eu mais não li do que li nesta vida. Portanto, é muito fácil ser surpreendida por uma boa leitura. No mês passado, terminei o livro O Prisioneiro, de Érico Veríssimo, que estava esquecido na minha estante. A princípio, fiquei temerosa de que ele usasse uma linguagem difícil. Mas o livro é muito bom. Embora ele não dê os nomes, a história se passa na Guerra do Vietnan. São vários personagens, vítimas da guerra – os que estão do lado do dominador e os que estão sendo massacrados. E cada um carrega uma guerra interna, um conflito que o torna prisioneiro e do qual não consegue se libertar.

Veríssimo mergulha fundo na essência de cada personagem. Mostra como os militares americanos sofrem com seus dramas pessoais, e o tanto de sofrimento que causam nos nativos. Embora no final nos deparamos com O Prisioneiro, há muitos prisioneiros ao longo da história. Além da crítica que faz à guerra, Veríssimo nos faz pensar em nossas próprias prisões.

Poesia da mínima coisa

Mayumi Takahashi

No mínimo quero-te ao lado
Em passos curtos e leves
De mãos estendidas
à outra mão mutilada
Que a ansiedade fatia
pela pressa de viver.

No mínimo
quero a resistência dos bravos
A franqueza
e sinceridade dos derrotados
O vermelho de luta jamais esquecido.

No mínimo
A coisa é mínima.
E para além do mínimo
A urgência do delírio.
__________________________________________

(*) Mayumi Takahashi é professora do ensino fundamental em Foz do Iguaçu.

Peguei a poesia do site Guatá, do meu amigo e jornalista Sílvio Campana.

domingo, outubro 17

Tropa de Elite2

Eu já tinha gostado de Tropa de Elite, o primeiro. E hoje à tarde assisti o número dois. Gostei mais. No primeiro, muita gente achou que fosse apologia à violência da polícia. Eu não achei. Achei que era uma crítica. Agora, o Padilha "desenhou" e foi bastante explícito nessa crítica. Mas que dá medo, dá! Muito medo da polícia. É muita bandidagem! Os policiais querendo se livrar dos traficantes para eles poderem mandar! É o fim!
No Estadão de domingo, tem uma crítica de Luiz Zanin Oricchio. Não sei se o texto do blog dele é o mesmo publicado no jornal.

quinta-feira, outubro 7

A liberdade de expressão

No sábado, eu li a coluna da Maria Rita Kehl no Estadão e gostei muito. Acho que ela matou a pau as críticas que fazem aos programas sociais do governo. E hoje leio que ela perdeu o espaço que tinha no jornal justamente por manifestar sua opinião, que é diferente da do jornal. Ué, não é o governo Lula que é contra a liberdade de expressão? Ué, não cassaram a obrigatoriedade do diploma dos jornalistas porque o diploma representava o fim do direito da livre expressão? Esse fato só deixa mais claro aquilo que todos sabemos: a grande mídia defende a liberdade de expressão desde que essa expressão seja exatamente sobre o que ela pensa... Se alguém pensa diferente ou questiona o conteúdo dessa mídia é censura... Aqui, a entrevista da Maria Rita Kehl sobre sua demissão. E a tentativa do Estadão de se justificar...

O domingo

Inocente útil
Eu não votei no domingo porque estava viajando. Para presidente, meu voto iria para o Plínio de Arruda Sampaio. Eu não boto muita fé (já que a fé é o grande diferencial entre candidatos) na Marina Silva, assim como não acredito no Fernando Gabeira nem na Soninha Francine, e nem no PV. Eu imagino que a Marina saiba que o oba-oba que a grande mídia fez em torno da “onda verde” só aconteceu porque foi ela quem permitiu que o preferidinho da grande mídia, o Serra, fosse para o segundo turno. Se a Marina estivesse na posição da Dilma, ou seja, com condições de vencer o Serra, seria tão metralhada quanto a petista pela Veja, Estadão, Folha de S. Paulo e afins.

* *
Paulo Ubiratan
Em função da minha viagem, também não pude me despedir do jornalista Paulo Ubiratan. No domingo, na casa de um amigo, foi ele quem me disse ter ouvido no rádio sobre a morte de alguém da CBN de Londrina. Eu sabia que o Paulo estava na UTI, portanto, deduzi que era ele. No início de setembro, eu e a Benê fizemos uma visita ao Paulo que ainda estava em casa. Apesar de bastante debilitado, era o mesmo Paulo Ubiratan de sempre. Bravo, muito bravo, com sua doença. E ao mesmo tempo brincalhão.

No lançamento do livro dele, em dezembro de 2007, eu brinquei: - Sei não, hein, Paulo, gaúcho escrevendo poesia...Também fui à Câmara quando ele recebeu o título de cidadão honorário de Londrina. Ainda bem que pude compartilhar com ele esses momentos de alegria. E gostaria muito de ter ido ao seu velório no domingo.

Nos tempos de redação da Folha de Londrina, ele gostava de me provocar (o Nícolas ainda era pequeno): - Deixa comigo esse guri! Quando ele for maior, eu o levo pra conhecer as primas!
Eu respondia, brava: - Fique longe dele!!

Vou deixar o link pro texto que a Elsinha escreveu sobre o nosso amigo, e que foi publicado na Folha de Londrina de segunda e vale a pena ser lido.

quarta-feira, outubro 6

A caça nossa de cada dia!

Quando os homens viviam nas cavernas, o rango era garantido com a caça de algum animal. Com a agricultura, pecuária, geladeira, fogão e utensílios domésticos, ficou mais fácil se alimentar. Mas a caçada agora é outra. Caça ao dinheiro. Afinal, tudo custa dinheiro. E acho que eu sou mesmo comunista no coração. Porque eu acho o seguinte: seja lá no que você trabalha, todo dia você deveria ter direito a uma alimentação digna, à louça lavada e guardada, a uma sonequinha depois do almoço, sem distinção. Ou seja, todo mundo poderia comer o que quisesse sem se preocupar com o custo. Porque o simples fato de trabalhar lhe daria esse direito, fosse você um lixeiro ou um médico. Ah, mas são responsabilidades diferentes. Pois é, mas a sociedade precisa de todos os serviços e você pode escolher o que vai fazer – e eu duvido que quem quer ser médico ia escolher uma profissão mais fácil só porque ser médico não lhe garante ter mais direitos do que outro. Será que isso é papo de jornalista pobre?