terça-feira, setembro 9

O Sol de Londrina


Foto "Amanhecer em Londrina" do meu amigo Pedro Wagner

Quando vejo esse fogo que inunda o céu logo cedo me lembro do vermelho que incendeia a terra de Londrina.
Me pergunto se é o mesmo vermelho que tinge a terra e o céu.
Imagino os pioneiros, nos dias em que não aparecia a bola de fogo, a amarrarem correntes de ferro nas rodas dos carros para se movimentarem nas ruas enlameadas.
Logo que cheguei aqui, sandálias nos pés, as ruas já calçadas, eu me incomodava com aquele pó vermelho. Não queria essa terra a me fertilizar os pés.
Lembro que, toda vez que entrava em casa, ia correndo lavá-los.
Com o tempo, acostumei-me com essa vermelhidão.

Lembro que quando voltava à casa da minha mãe, mala cheia de roupa suja, ela dizia que estava tudo encardido. E havia ainda um estudante de medicina que, ao chegar em São Paulo para fazer residência, percebeu que as suas roupas não eram tão brancas como ele pensava...

Será o mesmo vermelho da terra e do Sol?

Eu ainda prefiro o Sol escaldante ao ar gelado. Muitas vezes, fugindo do frio, eu e Marília nos sentávamos sob o Sol e desfiávamos nossas lamentações, talvez querendo aquecer também nosso coração.

* * * * * * * * *
Ciúmes tardio

Sonhei outra noite com um ex-namorado. No sonho, ele também era meu ex-namorado. Do que eu me lembro, a conversa era sobre meus ciúmes. Aí eu lhe disse:
– Mas como é que eu poderia saber se quando você dizia Carina você estava dizendo mesmo Carina ou se dizia Karina...
E ele respondeu:
– É, aí fica realmente difícil te convencer...

segunda-feira, setembro 8

Cadê o Estado mínimo?

Manchete da Folha de S.Paulo de hoje (8/9): "O governo dos Estados Unidos anunciou um pacote de salvamento de até US$ 200 bilhões para as duas empresas que dominam o setor de crédito imobiliário do país, a Fannie Mae e a Freddie Mac". Quem dá a notícia é o repórter Fernando Rodrigues, enviado especial a N.York. Outros trechos: "Essa operação de resgate deve ser a maior da história dos EUA. (...) Ainda não está claro o custo final, para os contribuintes, do salvamento (...)."
(...)
"O jornal 'The New York Times' publicou reportagem afirmando que as empresas maquiaram seus balanços inflando artificialmente o valor de reservas que teriam para cobrir perdas por inadimplência. Essa contabilidade problemática acabou sendo um dos fatores principais para que o governo federal decidisse intervir de uma vez para evitar uma crise generalizada no mercado (...)"

Pergunto eu: - Essas empresas não são as maiores defensoras do Estado mínimo? Na hora do vamos ver, quem tem que socorrer é o Estado... Cadê os liberais para condenar essa ação?

Num artigo na página 4 do caderno Dinheiro, no mesmo jornal, o jornalista Vinicius Torres Freire afirma que, com essa ação, "o governo americano tem agora 80% das ações preferenciais das duas maiores empresas do ramo, botou para fora seus diretores, nomeou os novos, cancelou os dividendos dos acionistas e, divertidíssimo, as proibiu de fazer lobby no Congresso. Qual o nome disso? Se fosse na Venezuela, seria estatização, certo?" - pergunta o jornalista.

Por que, em grande escala (em grande, não, né, em imensa escala), o governo pode socorrer as grandes para não criar uma crise no mercado? Por que, no varejo, o governo não pode criar programas de educação, de saneamento, de habitação, voltados para os pequenos (numa escalinha assim bem pequena...), se a sobrevivência deles ou o acesso a bens básicos de saúde depende disso?

terça-feira, setembro 2

A letra B


Fonte: http://brasil.indymedia.org/images/2005/02/307685.jpg


Tem dias que é melhor ficar com o crachá pendurado no pescoço para não ter dúvidas sobre quem eu sou.

* * * * * *

Do meu filho, após ouvir que a tevê ia interromper a programação para entrar o Horário Eleitoral Gratuito:
- Ah, gratuito!! Era só o que faltava: a gente ter que pagar para assistir horário eleitoral...

* * * * * *
A letra B

Faz pelo menos cinco meses que a letra b do meu teclado não funciona.

Assim que ligo meu computador, trato logo de entrar no www.gmail.com e buscar qualquer e-mail de amigos. O bom é que sempre me mandam beijos. Vou atrás desse beijo para dar um Control C na letra b. E então posso começar a escrever. Quando preciso de um b maiúsculo, eu escrevo brasil para que o corretor transforme o b em B. Pronto. Tenho o B.

Logo que o teclado ficou manco de b, veio um rapaz da Sercomtel fazer um serviço para aumentar a velocidade da banda larga. Meu filho o atendeu. Por coincidência, o mouse andava às cegas. Foi difícil para o rapaz usar o mouse. Quando ele foi testar se o serviço estava funcionando, no momento de digitar o endereço da Sercomtel, o b falhou. Aí meu filho mostrou que era só fazer um Control C Control V. O rapaz perguntou: Você faz isso toda vez? E riu.

Agora meu filho tem computador novo. Eu continuo com o meu teclado manquitola.

Tenho este teclado há 11 anos. Do pacote que veio junto, já fiz dois up-grades, troquei monitor, impressora. Mouse, já perdi a conta de quantos foram. O único inteirinho era o teclado. Ergonômico. Robusto. Criei um certo apego.

Em toda loja que entro, não encontro nada parecido. Resolvi comprar um novo pela internet. O mesmo Correio que o trouxe, o levou de volta. Fiquei decepcionada quando abri o pacote. Os ícones nas teclas pareciam carimbos mal-feitos. Devolvi.

E faz mais de um mês comprei um bem baratinho – daqueles flexíveis. Pensei em ficar com ele enquanto não acho o teclado dos meus sonhos. Mas não tenho vontade de fazer a troca. O novo está lá empacotadinho (ele vem enrolado feito rocambole) e o meu, manquitolinha, continua aqui. Pelo menos todos os bês que mando têm origem em beijos...

sexta-feira, agosto 29

A vida é desconfortável

Na barriga da mãe, a vida é muito boa, quentinha e confortável (não que eu me lembre, mas é o que dizem). Depois, quando a gente já tem idade pra fazer escolhas, nem sempre é possível se pautar pelo conforto. Nem sempre, é exagero. Quase nunca. Será que o conforto está em nossa memória dos tempos da barriga materna? E a gente vive uma busca constante pelo retorno ao quentinho? Diante de apenas duas opções, pode ser que nenhuma escolha traga conforto. E não dá pra fingir de morto.

Quando você está apaixonada acorda feliz e sorri sozinha ao pensar no ser amado. Aliás, seja lá o que tiver que fazer parece que tudo é leve. E ao se encontrar com o ser amado, então, é só alegria. É toda risinhos. Mas quando se está longe, é uma catástrofe. Ou quando é uma paixão incorrespondida ou inviável, daria tudo para não ter aquele sentimento. Aí, em vez de te impulsionar, a paixão te derruba. Eu quero minha mãe!

domingo, julho 20

Unhas vermelhas


Foto: Nícolas Paccola Rezende

Ao contrário dos outros bebês, ele reconhecia a sua mãe pelas unhas pintadas de vermelho. Enquanto os outros se acalmavam ao sentir o cheiro da mãe, ele se sentia reconfortado quando via as unhas vermelhas.

Essa sensação sempre o acompanhou. Adorava ir com a mãe à manicure e ficava maravilhado diante de tantos tons de vermelho nos vidrinhos transparentes de esmalte. Na escola, gostava mais das professoras que tinham as unhas pintadas de vermelho.

Não conseguia disfarçar o fascínio que sentia pelas mulheres que tinham sangue nas unhas. Todas as que namorou tinham isso em comum. Mas na hora de escolher uma para se casar, surpreendeu todos: Casou-se com uma manicure que não pintava as próprias unhas. Ela era dona de um salãozinho de beleza do bairro. Foram morar nos fundos do salão.

A mãe dele era quem mais estranhava a nora, que tinha as unhas bem feitas, mas incolores. E ele demonstrava sempre uma grande paixão pela mulher. Assim que terminava o expediente, voltava logo para casa.

A mulher, quando o via, dispensava as últimas clientes. Então podia se dedicar ao seu cliente mais especial: era com muito esmero que ela, à noite, esmaltava de vermelho as unhas do marido. E com mais atenção ainda, na manhã seguinte, limpava com acetona todos os cantinhos da unha para não deixar nenhum vestígio da cor de sangue. Ambos esperam ansiosamente a noite seguinte para repetir o ritual.

sexta-feira, junho 13

"Quem disse que só se morre uma vez?"

Morreu, no final de maio, Austregésilo Carrano, autor do livro Canto dos Malditos, que inspirou o filme Bicho de 7 Cabeças, de Laís Bodansky. Quando assisti ao filme, fiquei com a sensação de ter levado um soco no estômago. Aos 17 anos, Carrano foi internado pelo pai num hospital psiquiátrico. O pai havia descoberto que o filho fumava maconha. Carrano recebeu eletrochoques e muita medicação. Até os 20 anos passou por várias instituições psquiátricas. Essa terrível experiência marcou para sempre a vida de Carrano.

Ele tentava na Justiça receber reparação pelos danos sofridos. Mas, em 2002, a Justiça proibiu a venda de seu livro, a pedido da família de um médico psiquiatra (um dos responsáveis pela clínica onde o autor foi internado e sofreu maus tratos).

Logo depois, num evento em Londrina contra a luta antimanicomial, entrevistei Carrano e comprei o livro proibido. Ele era um homem muito bonito. Ficou com seqüelas físicas e emocionais. Li o livro anos depois. O relato é chocante. Carrano morreu de câncer aos 51 anos.

O livro foi liberado em 2004. Abaixo reproduzo trechos de um poema escrito por ele, que está nas primeiras páginas.

Seqüelas... e ... seqüelas

Austregésilo Carrano

Seqüelas não acabam com o tempo. Amenizam.

Quando passam em minha mente as horas de espera, sinceramente, tenho dó de mim. Nó na garganta, choro estagnado, revolta acompanhada de longo suspiro.

(...)

Esta espera, oh Deus! É como nunca pagar o pecado original. É ser condenado à morte várias vezes.

Quem disse que só se morre uma vez?

(...)

A todo custo, quero entrar na parede. Esconder-me, fazer parte do cimento do quarto. Olhos na abertura da porta, rodam a fechadura. Já não sei quem e o que sou. Acuado, tento fuga alucinante. Agarrado, imobilizado... escuto parte do meu gemido.

Quem disse que só se morre uma vez?

(Poema das 4 horas de espera para ser eletrocutado... – aplicação da eletroconvulsoterapia)

segunda-feira, junho 2

Três dias. E adeus, cigarro*

Rogério Fischer
Jornalista de O Diário


Até hoje – três anos e meio depois de eu ter largado o dito cujo – os amigos me alugam: “Pô, se você, que comia com farinha, conseguiu parar, qualquer um consegue”. Há tempos estava com a idéia de parar. Idéia, não; necessidade. A qualidade de sono havia caído sensivelmente. Sentia, na cama, que o ar ia faltar. Estático, presumivelmente relaxado, respirava fundo e, mesmo assim, parece que o peito não enchia. Às vezes, acordava abruptamente, assustado, sem que fosse pesadelo. Só podia, então, ser ele, o cigarro, conjugado com estresse.

O fato é que levei uma sorte danada. Deve ter sido reza de mãe, sei lá, essas coisas que Deus deve respeitar mais que outras. Estávamos em casa, eu e dois colegas de república, também jornalistas d'O Diário, fazendo o que nove em cada dez jornalistas fazem quando saem do trabalho: bebendo e discutindo o jornal.

Lá pelas tantas, alguém foi buscar algo para comer. Como já era de madrugada, voltou apenas com uma daquelas caixinhas de bombons, comprada em conveniência de posto. Esfomeados, devoramos os chocolates, junto com o que restava de cerveja e pinga.

Resultado: na manhã seguinte, parecia que uma ninhada de gatos havia passado a madrugada brincando na garganta. Naquele dia, não consegui fumar. E olha que, para mim, isso nunca foi problema. Aos vinte e poucos anos de idade, lembro que, ao sair da Santa Casa da minha cidade, onde acabara de ter constatado um princípio de pneumonia, a primeira coisa que fiz foi acender um cigarro, como se nada tivesse acontecido.

Tirando o sono nosso de cada dia e algumas transas que valiam a pena, eu dificilmente ficava mais de 15 minutos sem fumar. Mas, naquele dia, com a garganta em frangalhos, simplesmente não consegui. Acordei no outro dia e decidi que, naquela manhã, pelo menos, não fumaria, para não castigar a garganta logo cedo. À tarde, segurei também. À noite, em vez de cair na farra, fui pra cama cedo.

No terceiro dia, no final da manhã, já no trabalho, pensei: “Ué, ainda não fumei”. Daí me toquei que a abstinência daquele curto período não havia me feito tanta falta como poderia supor. Imaginava que, se tivesse que ficar um tempo sem fumar, por qualquer motivo, subiria pelas paredes. Mas não. Estava surpreendentemente tranqüilo. Tomei, então, a decisão: não ia mais fumar. Estava com 39 anos e havia fumado, desregradamente, exatos dois terços da minha vida. E, de lá para cá, nunca mais fumei mesmo.

As pessoas ainda ficam constrangidas em fumar perto de mim. Logo as tranqüilizo. Podem fumar à vontade. Não me importo nem um pouquinho. Até curto uma fumacinha próxima. Hoje, na Redação, brinco com os amigos, tiro cigarro deles, levo ao nariz, digo “ah, trem bão!” e devolvo ao maço.

Nem vou falar no que melhorou, porque, tenham certeza, tudo, mas tudo mesmo, melhora muito.

Quando me perguntam, como se eu fosse um expert no assunto, o segredo de eu ter largado o cigarro, me limito a relatar minha experiência, mas sempre reforço, com convicção, que a pessoa tem de ficar três dias sem fumar. Ela vai sentir um bem-estar tão grande que os caminhos vão ficar muito claros: se não fumar, esse bem-estar vai ficar ainda melhor; se fumar, retornará àquela vidinha de antes – a de tosses, pigarros, quase nenhum fôlego, baixa potência sexual, etc, etc, etc.

Aí, meu irmão, a escolha é sua.

* Texto publicado originalmente no jornal O Diário, de Maringá, do meu amigo jornalista Rogério Fischer


terça-feira, maio 27

Uma voz dissonante

Em agosto de 2004, participei em Brasília de um seminário sobre Mìdia e Drogas, que debatia de que forma o tema drogas é abordado pela mídia. Um dos palestrantes era o senador Jéfferson Perez, que morreu sexta passada. Eu nunca tinha prestado atenção nele. E gostei muito. Tanto que, depois, passei a me interessar pela opinião dele sobre qualquer assunto. Sempre que ele era fonte de alguma matéria, eu lia para ver o que ele pensava.

Naquele encontro, ele posicionou-se favorável à liberação do uso de drogas – não sem antes deixar claro que não fazia uso de nenhum tipo de droga ilícita. Eu achei engraçada a preocupação dele. Afinal, seria mais difícil ele convencer alguém de que era usuário de drogas. Digo isso com base no estereótipo de que alguém, com um visual tão conservador, não consumiria drogas.

Ele fez ponderações importantes. Disse que não acredita que a liberação faria aumentar o número de usuários de drogas. Deu como exemplo o consumo de bebidas alcoólicas. Embora seja liberado, a grande maioria dos brasileiros não bebe nem é dependente de álcool. Por outro lado, quem usa drogas não deixa de usar porque é proibido. Se assim fosse, não haveria o narcotráfico.

Para ele, há uma ligação direta entre a proibição e a violência. O narcotráfico só existe porque há proibição.

No entanto, ele defendia que a legalização no Brasil deveria ocorrer junto com outros países, em escala universal. “Se todos os países legalizassem as drogas, eles poupariam o dinheiro que gastam na repressão sem êxito. Reduziriam a corrupção que o narcotráfico promove. A polícia, o poder judiciário, o meio político, o sistema penitenciário, tudo é corrompido pelo narcotráfico. Com a legalização, a briga entre quadrilhas, a ‘queima’ de arquivos, a corrupção com o aparato estatal e a violência de modo geral, diminuiriam. E ainda poderia se cobrar um imposto sobre a produção de drogas que seria revertido no tratamento a dependentes químicos e em campanhas educativas, embora eu não acredite nelas.” Essa citação eu peguei numa entrevista, de 2003, dada a Karine Muller, no site Baseado em Fatos.

E ele falou também que o Estado não tem o direito de reprimir quem queira consumir drogas. Naquele encontro, o senador fez suas colocações com tanta clareza e seriedade que virei sua fã. Lamentei a sua morte. Era um político íntegro, sério e comprometido, embora fosse de um partido que não me inspira o menor respeito. Ele era maior que o partido. E me faz pensar mais uma vez na importância de que nossas ações sejam coerentes com nossos princípios. Isso nos permite ser livres.

quinta-feira, abril 17

De novo, o futebol


Ilustração do design gráfico Paulo Jales (http://paulojales.wordpress.com)

Os homens sempre reclamam que é difícil entender as mulheres. Pois eu digo que difícil mesmo é entender de futebol. E acho até que eles não nos entendem porque gastam seus neurônios para entender as peripécias da bola, dos pés e a confusão dos campeonatos.

De vez em quando eu peço alguma informação para o meu filho sobre o Palmeiras, sobre o seu desempenho no campeonato para eu não ser assim tão ignorante sobre o meu time. Mas ele já desistiu e disse que não vai falar mais nada.

A queixa dele é que como eu não entendo nada não adianta passar informação. Porque aí fica uma explicação sem fim, e ele se cansa.

Hoje a confusão foi sobre os campeonatos. Na hora do almoço, ele falou que não sabia o resultado do jogo do Corinthians de ontem porque foi dormir cedo. E que até um amigo dele que é corintiano também não sabia.

Então, a entendida aqui tascou:
- Nossa, coitado do Corinthians, só porque está na segunda divisão ninguém nem acompanha mais os resultados...

Meu filho explicou que o jogo de ontem não tinha nada a ver com a segunda divisão.

Aí eu, que sei que o Palmeiras está na final do Paulistão e que vai ganhar domingo contra o São Paulo, fui além:
- Ah, ontem foi jogo do Paulistão, né?

Ele se desespera:
- Ai, mãe, nada a ver. É Copa do Brasil!

- Ah, e Copa do Brasil não tem segunda divisão?

- Não, mãe.

- Então, até o time do Londrina pode participar?

- Vai depender do resultado do campeonato estadual. Depende da classificação no campeonato...

- Ué, mas o campeonato paulista nem acabou, como é que já começou a Copa do Brasil?

- Mãe, é com o resultado do ano passado!

Ou seja, definitivamente é difícil de entender porque eles fazem tantos campeonatos desse jeito. Para facilitar a compreensão das mulheres, eles deviam fazer um único apenas.

Imagino que eles fazem vários porque querem ver jogos o ano inteiro. Então, um único campeonato começaria em janeiro e o resultado só sairia em dezembro. E todo mundo jogaria com todo mundo, quantas vezes eles achassem necessário.

Assim, quando a gente quisesse uma informação sobre o resultado de um jogo saberia sempre que se trata de um único campeonato. Porque no fundo eu só quero saber se o Palmeiras ganhou, perdeu ou se está na frente.

terça-feira, abril 15

A Espiã e A Vida dos Outros

No último mês, assisti a dois filmes que me fizeram pensar sobre o indivíduo e suas ações dentro do coletivo.

Vi os dois no cinema (aqui em Londrina, tudo vem com atraso), mas já deve ter em dvd. Primeiro, A Espiã, do diretor holandês Paul Verhoeven. A história se passa na Segunda Guerra Mundial. Depois de sobreviver a um ataque de uma patrulha alemã, que matou toda sua família, uma cantora judia se junta a um grupo da Resistência. Para se infiltrar na Gestapo, atrás de informações, acaba se envolvendo com um oficial alemão (Ele é lindo. Não é um alemão loiro. E eu prefiro os morenos). O ator é Sebastian Koch.

Pois bem. O tal do alemão age de forma ética, dentro do possível. É claro que o filme não mostra o currículo que o credenciou a ocupar o seu posto. E como ele e a mocinha passam a se amar de verdade, é inevitável não torcer para que os dois fiquem juntos. Eu até fiquei achando que o filme é marmelada porque como é que pode um nazista ser “do bem”?

Depois, vi A vida dos outros, produção alemã que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007. É um retrato de um tempo mais recente. Década de 1980. Alemanha Oriental. Agora, os vilões são os comunistas.

Um agente do serviço secreto alemão passa a vigiar a casa de um dramaturgo para saber se ele é um traidor das idéias do regime. Há escutas por toda a casa, onde ele vive com a companheira, uma atriz de teatro. (Não é que o dramaturgo é o mesmo lindo Sebastian Koch?)

O agente secreto é um solitário. Sua vida é servir o governo, o que ele faz com muita eficiência.No entanto, ao acompanhar a vida do casal, acaba se comovendo com a história dos dois. Ele é testemunha do romance e também da corrupção dos dirigentes comunistas. A uma certa altura, passa a proteger o casal. Eu não vou contar o fim do filme.

A Vida dos Outros é muito superior ao filme A Espiã. É mais sensível. Os dois mostram indivíduos inseridos em governos autoritários, e a serviço desses regimes, mas em determinado ponto agem de acordo com suas consciências.

Nenhum dos dois personagens é herói, até porque nas duas histórias está próxima a derrocada tanto do Nazismo como do comunismo alemão.

Então não é possível saber de que forma se daria um rompimento deles com os sistemas que passam a condenar. De qualquer forma as histórias me fizeram pensar sobre as nossas atitudes cotidianas e a capacidade do ser humano de fazer a diferença em seus atos individuais, esteja onde estiver.

sábado, março 15

Viva 2008!


As notícias de deportações - ou seja lá que nome dão à proibição de estrangeiros circularem livremente - principalmente de brasileiros no aeroporto de Madri mostram que ainda estamos longe de exercer o direito de ir e vir no mundo. As fronteiras deveriam ser liberadas no mundo todo. Ora, cada um que vá aonde quiser e pelo motivo que quiser. Sem ter que ficar dando satisfação de sua vida.

É um absurdo que ao chegar num local alguém tenha que dizer a que veio (ou foi, né), se tem dinheiro, e onde vai ficar. E se eu quiser circular sem dinheiro por aí e ficar sem dormir, vagando de bar em bar, apenas porque quero?

Quando a pauta é o mercado, aí não pode ter fronteiras, nem regras muito rígidas, nem proteção aos produtos nacionais. Agora, se eu quiser baixar por lá, muda a conversa. Eu tenho que ter cartão de crédito, dinheiro, hospedagem já paga, endereço certo e uma carinha muito lindinha. E tenho que explicar direitinho o que eu pretendo fazer lá.

O tratamento de reciprocidade que os espanhóis começam a receber nos aeroportos brasileiros nos faz sentir um pouco melhor. Afinal, se eles nos humilham por lá, vamos humilhá-los por aqui - embora o tratamento por aqui seja bem melhor, os caras embarcam de volta apenas algumas horas depois que chegaram.

O governo brasileiro até conseguiu colocar essa questão na agenda dos espanhóis. Um acordo entre os dois países deverá amenizar por ora esta crise. Mas continuará em vigor a política européia de que nós só podemos entrar lá se faltar mão-de-obra para os serviços que eles não querem fazer. Se não, au revoir.

segunda-feira, dezembro 31

A vida segue

Um dos melhores momentos do meu 2007 foi o lançamento do Ades sabor banana. Eu adorei muito, muito. Só estou preocupada porque na embalagem está escrito que a edição é limitada. Se realmente o Ades banana sumir das prateleiras, eu vou escrever uma carta para o fabricante para que o sabor volte e seja eterno. Sou uma ávida consumidora de sucos Ades – gosto dos de uva, maçã, pera, laranja e abacaxi (o abacaxi com côco é intragável). E depois que experimentei o Ades banana, deixei os outros um pouco de lado.

Pra finalizar 2007, lembro uma história de minha querida sobrinha mais velha, a Sha, que hoje é uma moça de 21 anos. Ela era bem pequena, sei lá, tinha uns 3, 4 anos, e estávamos na virada do ano, quando ela saiu-se com essa: “Eu quero ver o Ano Novo!” E foi bem insistente. Ela queria porque queria ver o Ano Novo. Acho que é porque ela ouvia dizer que o Ano Novo estava ali, havia até uma festa pra chegada do dito cujo, e cadê ele? Eu desejo, então, que o Ano Novo chegue com muitas esperanças de que a nossa vida siga da melhor maneira possível.

sexta-feira, dezembro 28

A falta

Minha mãe sempre rezou muito. Tem uma ladainha de Nossa Senhora que a chama de Refúgio dos Pecadores. Este foi o primeiro Natal sem minha mãe. Correu tudo bem. Nos reunimos com meu pai, teve o tradicional amigo secreto, a ceia, o almoço de Natal. Tudo correu muito bem. Tinha árvore com luzinhas, presépio, não faltou abacaxi em calda de que minha mãe gostava tanto. A mesma farofa retirada do velho livro de receitas.

Mas faltou a minha mãe. Mesmo que ultimamente ela já não participava dos preparativos das festas em família, era bom saber que ela estava ali por perto. Todos os anos tínhamos que ir ao Correio enviar seus cartões de Natal, e depois correr de porta em porta para levar presentes para suas amigas, afilhadas, vizinhas, comadres.

Não foi disso que eu senti falta. Ela fez falta. Parece que o Natal tinha uma outra dimensão apenas com a sua presença. Porque ela nem falava muito. Mas sempre podíamos ir ao seu quarto, deitar ao seu lado, e ficar ali, caladas. Podíamos ir ali, com nossas dores, nossos segredos, e não havia qualquer confidência. Eu nunca dizia o que estava me afligindo. Nem precisava. Só estar perto dela me dava um grande conforto. Só a sua presença era um conforto. Como se ela fosse o Refúgio dos Pecadores.

Meu Natal nunca mais será o mesmo. Sempre haverá uma falta.

sexta-feira, dezembro 21

A vida que o tempo leva


Almoçando sozinha, o jeito é reparar nos outros... Uma menininha de uns 5, 6 anos mostrava para o pai que ela era capaz de sentar-se sozinha naquelas cadeirinhas para crianças bem menores do que ela. E ela mostrou como conseguia subir sozinha e como também sabia descer. À distância, eu não contive o riso. O pai disse: Mas você já é grandinha, né?

E eu fiquei imaginando se ela, mesmo tão pequena, sentiu ali a angústia do tempo que passa. As crianças, de modo geral, querem logo crescer e ficar maiores do que são, mas naquele momento me pareceu que ela sentiu que já perdia alguma coisa por ter crescido. Já não podia mais ocupar uma cadeirinha tão charmosa.

Lembro quando meu filho era bem pequeno, devia ter uns quatro, cinco anos, sentado na cadeirinha no banco de trás do carro, saiu-se com esta:
- Eu não vou mais comer.
- Por que?
- Porque se eu comer eu vou crescer. E eu não quero crescer. Porque quando a gente cresce, fica velho e depois morre.

Fiquei preocupada, caramba, como é que pode desse tamanho já ficar angustiado com isso. Precisava pensar rápido e dar uma resposta que pusesse fim àquela idéia maluca de não comer mais.
- Mas se você não comer, você vai morrer também. De fome. E morrer, não tem jeito. Todos nós vamos. Mas vai demorar...

Não sei se resolvi a angústia dele. Mas fiquei intrigada ao perceber que a idéia da morte pode nos apavorar desde muito cedo. Será que tudo isso é só porque eu vou ficar mais velha em menos de um mês?

No Dia de Finados, o cemitério estava super movimentado, florido e barulhento. Havia uma missa ao ar livre. E o padre falava da morte e da ressurreição. Ele disse que nós vamos ressuscitar de corpo e alma. Me veio uma dúvida: com que idade? Nessa ressurreição, meu corpo terá que idade, a da minha morte? Se for com a idade da morte, é melhor morrer mais jovem, porque você terá uma vida eterna com mais disposição.

terça-feira, dezembro 18

Viagem a Darjeeling

Eu amo cinema. A infinidade de opções para assistir a bons filmes é uma das coisas de que sinto falta de Brasília. Em Londrina, a programação é muito pobre. Dá até dó. Eu evito consultar na internet os filmes em cartaz em Brasília pra não me sentir mal.

Quando eu viajo fico escolhendo a dedo algum filme que sei que nunca passará nas grandes telas londrinenses. Assisti a Viagem a Darjeeling, que conta a história de três irmãos malucos que viajam juntos de trem pela Índia. O mais velho (que quer controlar tudo) organizou a viagem para eles reencontrarem a mãe (Anjélica Houston), que os abandonou e virou monja. Mas, no transcorrer da história, eles vão é tentando reencontrar a si mesmos. É lindo o filme. No início, tem um curta maravilhoso, do encontro de um dos irmãos com a mulher que ele ama. É lindo: o diálogo entre os dois amantes; o silêncio. Tudo é lindo. O filme tem ótimos diálogos. Tem situações engraçadas. E também momentos dolorosos, mas que não deixam o filme pesado. A trilha sonora também é maravilhosa. Eu queria um cd com essa trilha sonora.

(Eu sei que jamais seria crítica de cinema porque meus comentários limitam-se a dize:r É lindo. É maravilhoso...)

Eu gostei tanto do filme que desisti de assistir a mais um, em seguida, como eu e minhas amigas havíamos planejado. É que eu estava tomada de tanta beleza que queria reter por mais tempo a história e a música em minha mente. Eu queria amar ainda mais um pouco o filme. E não trocá-lo por outro assim imediatamente.

quinta-feira, dezembro 13

Brasília, meu amor

O céu ainda era escuro quando eu passava de uma asa à outra. Aproveitei que a cidade ainda dormia e deixei que me escorressem lágrimas pelo rosto. Por que chorava eu?

Seriam as lembranças de quando cheguei aqui e logo me atirei - como uma adolescente - aos braços desta terra árida? Brasília mostrou a mim uma aridez sem refresco. Para o meu coração, não houve época das águas.

Vencer aqui significa armar-se de concreto. É preciso resistência para ver as cores dos canteiros. E há quem resista. Esses tocaram o meu coração. São como flores do cerrado. Suportam a seca e florescem com uma delicadeza que dói. Aprenderam a viver na aridez da terra e do concreto. Tocam o meu coração.

Brasília tem dessas coisas. Me expulsei daqui por causa dessa estranha aridez. E quando retorno para cá, sou assim tão bem acolhida e amada e querida que quase me envergonho por não ser uma flor do cerrado, por não ter a resistência dos fortes.

A redenção ou a perdição?











Não houve nessa terra amor de homem que me derrubasse...


Por que, agora, Brasília?
Por que, Brasília, o cenário de uma promessa de amor?
O virtual aqui se concretiza?
Ou, Brasília, você só quer desbaratinar minha cabeça?
Ou, então, quer mesmo é me pirar?
Que lógica é essa, Brasília, que confunde a minha lógica?
Por que, Brasília, o cenário?
Um amor estranho, com um estranho, precisa de uma terra estranha?
Acredito nesse presente, ou o futuro não vê a hora de me mostrar que, ora, onde já se viu, acreditar num amor em Brasília?
Brasília, esta é a sua redenção ou a minha perdição?

sexta-feira, novembro 30

Meus muitos irmãos

A família (Tarsila do Amaral)

Quando eu nasci, já tinha quatro irmãos; depois, vieram mais dois. Eu sempre digo que a gente só entende os pais depois que tem filhos. Mas até hoje eu não sei como meus pais conseguiram educar sete crianças. Houve época em que consumíamos dez litros de leite por dia; é muita comida, muito barulho, muito limite pra dar pra tanta gente ao mesmo tempo.

Na maior parte das vezes a gente recebia por parte dos meus pais uma atenção meio diluída, meio repartida, dividida. E eu me pergunto se era por isso que eu inventava de ficar sempre doente, porque aí eu acordava à noite, com febre, todo mundo estava dormindo, e minha mãe podia dar um pouco de atenção exclusiva para mim.

Uma vez namorei um cara filho único. E ele reclamava que eu não dava assim tanta atenção para ele. Eu era atenciosa, mas não na quantidade que ele dizia precisar. Depois que o namoro acabou, eu pensei que desde cedo aprendi a repartir atenção. A saber que nunca nada era tudo pra mim.

Eu gosto de ter crescido com muitos irmãos. Gosto de ter morado numa casa cheia de crianças. Se há momentos em que os pais não estão ali monitorando tudo o tempo todo, os próprios irmãos se encarregam de ensinar coisas fundamentais nas relações humanas.

Se um invadisse o espaço do outro ou tentasse ser espertinho, a reação era rápida. A gente aprendia a resolver problemas com mais autonomia, acabava se virando meio sozinha, afinal, não dava pra esperar pai ou mãe.

Na adultice, ter muitos irmãos também é muito bom. De certa forma, você se sente menos só no mundo. Mesmo que um esteja longe do outro, é bom saber que eles existem. E que se você gritar tem alguém pra responder.

terça-feira, novembro 27

Eu uso óculos


Comecei a usar óculos aos 26 anos, quando estava morando em São Paulo. Notei que já não enxergava como antes num ponto de ônibus. Eu só conseguia ler o destino do ônibus quando ele já estava muito próximo. O exame no oftalmo constatou miopia leve. No início, ele recomendou óculos para o cinema. O mais difícil foi acostumar a ver tudo dentro de uma moldura. Com o tempo, seu olhar abstrai e consegue ir além dos aros.

Já tentei usar lentes de contato, mas no teste não consegui colocar sozinha aquelas películas dentro dos olhos. Como eu me conheço razoavelmente bem, desisti; afinal, seria muito provável eu ficar irritadíssima pela manhã tentando conciliar destreza e paciência – o que não me é muito comum. Já imaginei que num rompante de impaciência eu iria engolir as lentes, não sem antes mastigá-las, é claro.

Existem alguns inconvenientes ao usar óculos. Primeiro, lavar as lentes. Às vezes, quando se está muito absorta no trabalho ou na própria vida, demora um pouco para perceber que não é a vida que está ensebada.

Eu também não gosto de usar óculos quando estou toda arrumada para uma festa, por exemplo, e antes de sair de casa tenho que colocar aquele acessório no rosto. Acho que não combina, mas prefiro não arriscar. Seria desastroso deixar de cumprimentar algum amigo querido ou então paquerar um homem errado por falta de visão.

Outro dia eu estava, sem óculos, vendo um programa na tevê em que aparecia Tom Jobim falando de sua parceria com Vinicius de Moraes. Meu filho disse que nunca tinha visto Tom Jobim – e constatou que o músico era mais velho do que ele pensava. Aí eu tive que contar, assim, a seco, que Tom Jobim já não estava mais entre os vivos. Ele morreu no mesmo ano em que meu filho nasceu. Eu me lembro bem daquele dia. Num gesto amoroso, meu filho perguntou: “Mãe, quer que eu pegue seus óculos?” E me trouxe lá minhas lentes para que eu pudesse remexer minhas lembranças com mais nitidez.

domingo, outubro 21

Tropa de Elite

Caramba! Tropa de Elite é de arrebentar. Adorei o filme. Do começo ao fim. Depois do cinema, demorou um tempão pra baixar a adrenalina. O filme mostra o que acontece hoje no combate à criminalidade no Rio. É uma guerra. E cada um defende o seu. Não tem como ver o filme e não ficar pensando se existe alguma solução para a guerra entre traficantes e Polícia. Em violência, os dois lados são parecidos. O Wagner Moura arrebenta como Capitão Nascimento. Ele humaniza o policial. E isso é que é maluco. Você vê este outro lado. O dos caras que morrem de medo de subir o morro, que têm família, que ganham uma miséria. Mostra a bandidagem dentro da Polícia. E também que entre eles há quem seja honesto. Acredito que a única solução para acabar com essa guerra é liberar o uso de drogas. Usa quem quer. Afinal, ninguém deixa de usar drogas hoje porque é crime. Se não, não haveria o tráfico. Quem não usa não vai começar a usar só porque liberaram. Ou mesmo que haja um aumento no consumo, não significa que todos os usuários vão ficar dependentes. Isso já acontece com o álcool. Existem os dependentes – e é um caso de saúde pública. Mas nem todo mundo que bebe é dependente. Inclusive é uma minoria. O governo deveria liberar e investir em política de redução de danos. Lendo os comentários sobre o filme, eu desconfiava que era bom. Mas é muito bom.