E então eu penso no mar. Nos olhos do mar. No azul do mar. Num azul tão lindo, que às vezes é verde, e às vezes um azul tão claro e tão límpido, que é calmaria. Às vezes, um azul escuro, profundo. É um azul tão imenso que se confunde com o azul do céu, de um azul tão claro que deixa passar a luz do sol. E então é um azul que ilumina. Ou é um azul tão escuro, e aí já não há mais certeza. Só mistério. Um azul tão negro que anuncia tempestades. E a hora de recolher-se. Ou um azul tão escuro e translúcido que deixa passar a luz das estrelas. Aí é sabedoria. Mas eu sei que são apenas olhos, que não me canso de olhar. Que me ficam retidos na retina. E eu posso fechar os meus olhos que eu ainda vejo esse azul.
domingo, março 25
Azul
E então eu penso no mar. Nos olhos do mar. No azul do mar. Num azul tão lindo, que às vezes é verde, e às vezes um azul tão claro e tão límpido, que é calmaria. Às vezes, um azul escuro, profundo. É um azul tão imenso que se confunde com o azul do céu, de um azul tão claro que deixa passar a luz do sol. E então é um azul que ilumina. Ou é um azul tão escuro, e aí já não há mais certeza. Só mistério. Um azul tão negro que anuncia tempestades. E a hora de recolher-se. Ou um azul tão escuro e translúcido que deixa passar a luz das estrelas. Aí é sabedoria. Mas eu sei que são apenas olhos, que não me canso de olhar. Que me ficam retidos na retina. E eu posso fechar os meus olhos que eu ainda vejo esse azul.
sexta-feira, março 16
Os amores que se vão...
E eis que um belo dia, que nem precisa ser belo de verdade, pode ser até um dia cinzento, chuvoso, em que você se olha no espelho e nem se sente assim bonita, em que você nota que sua cara já traduz a sua idade. Pois bem, até mesmo nesse dia, você se dá conta de que aquele amor, aquele que quando se foi você pensou que fosse morrer (não, você não pensou isso porque você já sabia que havia perdido muitos outros amores e que não morreu, felizmente, nenhuma vez), mas de qualquer forma, aquele amor que arrancou muitas lágrimas, uivos e gemidos, finalmente se foi. E não porque apareceu outro pra substitui-lo, mas porque ele apagou, definhou e sumiu. Evaporou. Porque não havia sido alimentado e porque esse é o destino dos amores que não são mais alimentados.
Ufa! Que bom!
domingo, março 4
As noites de domingo
Eu não gosto das noites de domingo. Os domingos, de modo geral, são os dias mais melancólicos para mim. À noite parece que esse sentimento se agrava. É como se as noites de domingo fossem mais escuras do que as outras.
O silêncio e o vazio das ruas, durante o dia, me tocam de uma forma dolorosa. As tardes se parecem com as cidadezinhas pequenas, pacatas, sem movimento. Eu gosto das cidadezinhas pequenas apenas de passagem. Não para moradia. Se as tardes já se revestem de melancolia, o que as noites vão nos reservar?
As noites de domingo se parecem com despedidas. É quando os estudantes se despedem da casa dos pais para pegar o ônibus e partir para outros lugares. Os lugares onde eles já não são mais filhos. É quando os namorados se abraçam e se beijam, já com saudades, porque cada um sabe que tem que se preparar para cuidar de seus afazeres.
As noites de domingo são o prenúncio da separação. Da retomada da rotina longe de quem se ama. Do retorno à vida produtiva. De dias corridos em busca da sobrevivência.
Nas noites de domingo, é hora de ativar o despertador do relógio. Porque na segunda o sol nasce mais cedo do que nas manhãs de domingo. As manhãs da segunda são aguardadas ansiosamente, porque aí se sabe, se tem certeza, de que o domingo finalmente findou-se. E então já não há mais domingo, já não há mais melancolia, só há a esperança de que os dias corram, cada vez mais rápido, para mais uma vez se nascer e morrer.
sábado, fevereiro 24
Hummmmm!!!!
Estava lotada a sala. Homens e mulheres de todas as idades. Sentei-me ao lado de dois mocinhos - 18 cada um, chutando alto. E, coincidência, o cozinheiro (será gourmet?) é um amigo meu. As receitas de hoje eram um molho de maracujá para acompanhar salada e pasta ao molho pesto. O melhor é que no final a gente pode experimentar.
O moço (o meu amigo) fica explicando tudo com um microfone. Fica um espelho acima dele pra que a gente que está sentada mais longe possa acompanhar tudo. Adorei. Parece programa de televisão. Ele já deixa tudo cortadinho, bem bonitinho.
Quando ele falou um ingrediente, um tal de "endro", pronto, já comecei a ficar nervosa. Primeiro, eu entendi "endo", depois achei que fosse "endro" mesmo, mas como eu nunca tinha ouvido falar fiquei pensando: Será que é "coentro"?
Ainda bem que ao meu lado estavam os dois mocinhos e eles tiraram minha dúvida. Bem, eu nunca devo ter comido nada com esse tempero, se não acho que eu saberia... Antes de ir embora, aproveitei que ele é meu amigo e pedi pra ver de perto o tal endro. É da culinária alemã.
Durante a aula, fiquei um pouco apreensiva com o meu amigo. Fiquei preocupada com a possibilidade de não dar certo a receita. Mas aí lembrei que não era eu que estava fazendo e se ele estava ali é porque ele sabia fazer e ia dar tudo certo. Deu tudo certo. Ficou ótimo o macarrão ao pesto. Agora preciso fazer. E temperar a salada com endro.
quarta-feira, fevereiro 21
Na quitanda
Uma vez, em Curitiba, eu e a minha super-amiga-irmã Cristiana (que está fazendo aniversário hoje) fomos a um supermercado e começamos a reparar num cara que estava escolhendo tomates. Parecia que ele observava todos os detalhes de cada tomate antes de colocar na sacolinha. Nós escolhemos os nossos, fomos comprar outras coisas e, quando passamos novamente na banca dos tomates, ele ainda estava lá. Até ficamos com vontade de puxar papo pra elogiar o cuidado com que ele escolhia os frutos vermelhos.
Eu gosto de fazer comentários com donas-de-casa em supermercado. Como eu nunca fui uma dona-de-casa exemplar parece que puxando um papinho eu me sinto mais inserida nesse universo de panelas. Mas nem sempre elas dão trela, né? Uma vez, eu estava escolhendo cebolas e elas estavam horríveis. Havia um homem e uma mulher na mesma banca. E eu comentei: Nossa, essas cebolas estão feias, né? Eles me ignoraram completamente.
As donas-de-casa mais velhas são mais atenciosas. Dá até pra perguntar se o bom é levar a beringela mais dura ou mais mole. Ou então se aquela folhinha verde é rúcula ou agrião. Elas ensinam sempre com a maior boa vontade. E eu nunca aprendo.
terça-feira, fevereiro 20
Dias de folga
Alugamos uma casa longe do centro da cidade, que concentra o barulho dos turistas. Bem cedo, íamos pras cachoeiras antes que chegasse a moçadinha que tinha farreado a noite toda. Quando eles estavam chegando, nós já estávamos pegando o rumo de volta. Na casinha, tinha piscina e rede. Jogávamos War e conversa fora. Um autêntico Carnaval de gente da meia idade.
Em 2006, meu Carnaval já estava mais sexy. Como diria o finado Carlos Silva, mais "sexigenário", em referência aos 60 e poucos anos que ele tinha. Sozinha em Brasília, minha programação foi assistir filmes no cinema e em DVD. Carnaval mesmo, nem na tevê.
Hoje, cheguei do meu Carnaval de Piraju. Piraju já teve um animado Carnaval de rua. Década de 80. Este ano, também mantive distância das festas dos clubes. Foram dias de encontro com meus irmãos e sobrinhos. Dias de lembranças e de saudades. E sobretudo de saber que contamos uns com os outros. E que estamos juntos.
sábado, fevereiro 10
A primeira visita a um campo de futebol
A TV mantinha uma secretária, eu como repórter, um cinegrafista, um operador de câmara e um motorista. Bons tempos aqueles. Eu morava num hotelzinho no “calçadão” da cidade. Depois do trabalho, nós íamos jogar sinuca nos bares da cidade. De noite, eu jogava baralho com os hóspedes do hotel. Eram viajantes. Eu era bem relacionada.
Foi lá também a primeira vez em que pisei em um campo de futebol. Fui cobrir um jogo do campeonato paranaense. Eu avisei o cinegrafista da minha ignorância sobre o tema. Ele prometeu me ajudar.
A cada lance importante, ele me avisava e eu anotava a jogada, o número do jogador e o momento em que havia ocorrido o fato. E assim passou o tempo. Mais precisamente, assim se passaram dois tempos de 45 minutos além do intervalo.
Findo o jogo, eu teria que gravar um texto para que o material fosse enviado para Londrina. O cinegrafista perguntou: Como foi o primeiro lance? Bem, o jogador havia cobrado uma falta e a bola tinha batido na trave. Aí ele quis saber o impossível: Mas como foi a falta? Eu não tinha resposta.
O cinegrafista era um cara legal. Com paciência, resolveu pedir ajuda para um radialista. Lá veio um rapaz, também cheio de boa vontade, para colaborar com a matéria. E tascou: A bola cruzou o segundo pau e... Antes que ele terminasse, eu já não conseguia mais prestar atenção.
Eu não fazia a menor idéia do que poderia ser um pau dentro de um campo, imagine, então, dois paus? Fiquei apavorada e comecei a chorar. Literalmente. E disse pro cinegrafista: Eu não vou fazer esse texto. Você manda as imagens sem texto. Eles podem me demitir, mas este texto eu não faço.
Eles não me demitiram e eu tive que cobrir todos os jogos do campeonato paranaense que foram realizados naquele ano no Norte Velho. É claro que eu torcia bravamente para que todos os times daquela região fossem desclassificados. O Platinense caiu fora logo; depois foi a vez do Matsubara, de Cambará; mas, a despeito da minha torcida, o União de Bandeirantes foi para a final contra o Coritiba. E eu tive que cobrir todos os jogos realizados em Bandeirantes.
Como cobrir futebol, sem entender do assunto
Cobrir um campeonato de futebol não significa apenas ir aos estádios em dias de jogo. É preciso também fazer matéria sobre os treinos. E isso não é tudo.
Há ainda o coletivo-apronto: o último treino antes do jogo. Ali, um repórter fica sabendo quem provavelmente vai ser escalado para a partida e, se for esperto, qual será o esquema tático do time. Quando você pensa que acabou, você ainda pode ser pautada para entrevistar o técnico do time fora do campo.
Como é que eu, que até hoje não sei nada sobre esquema tático, poderia ser capaz de fazer apenas uma perguntinha para um técnico? A saída foi contar com um assessor.
Um radialista aposentado, muito gente fina, o Dorico, se dispôs a me ajudar quando a pauta fosse futebol.
Ele amava futebol e ia conosco a todos os treinos, coletivo-apronto, jogos e entrevistas. Me ajudava nos textos e soprava as perguntas que eu tinha que fazer. Uma vez um técnico até elogiou: Você está aprendendo, hein?
O Dorico já morreu. Eu continuo sem entender de futebol. E quando vejo uma repórter mulher cobrindo futebol na tevê eu me pergunto: Como é que ela consegue?
segunda-feira, janeiro 1
Todas as minhas mães
Quando eu era pequena, tive muitas vezes crises de bronquite. Me lembro de algumas noites, com febre, em que minha mãe se deitava comigo em minha cama. Eu via umas figuras grandes que me assustavam. Perguntava se ela estava vendo também. Ela dizia que não, que eu estava delirando. E ela dizia, docemente, que gostaria de sentir minha dor em meu lugar, para que eu não sentisse nada. Isso me trazia um grande conforto.
Quando eu estava na faculdade, uma doença a deixou com grandes seqüelas. A princípio eu a rejeitei. Queria minha mãe de volta. Como era antes. Com o tempo, aprendi a conviver com esta outra mãe. E meu amor se renovou.
Ela passou ainda por outros momentos difíceis que mudaram novamente sua vida. Sempre me aparecia uma nova mãe. Eu sempre sentia saudades da anterior. E tive que readequar o meu amor tantas vezes quantas foram necessárias. Ela nunca arredou pé do seu amor por mim.
Agora, mais uma vez, uma outra mãe. Junto com as saudades, sinto medo. Medo porque sei que ainda vou sentir falta desta mãe que, apesar de tudo, ainda mantém sua doçura, seu amor e sua queridez.
quarta-feira, dezembro 20
Jogo rápido
Hoje eu fiquei com pena da Renata Sorrah. Além de ter o filho seqüestrado e um marido banana, teve que agüentar as palavras de consolo da Regina Duarte e daquela chata da personagem da Deborah Evelyn. Credo! Ninguém merece essa vizinhança.
Eu bem que me esforcei pra sair hoje. Afastei todos os pensamentos que tentavam me convencer a ficar em casa, caprichei no visual, passei perfume, mas quando eu cheguei à garagem notei que estava chovendo... Peguei o elevador de volta, sem o menor constrangimento. Insistir em sair seria ir contra a natureza. Eba! Adoro ficar em casa quando está chovendo...
Piraju é uma linda cidade. Perfeita pra descansar. Em três dias, três livros: Os Jornalistas (Balzac), chato de ler; O Segredo de Joe Gould (de um jornalista americano, que conta a história de um mendigo de Nova York - muito bem escrito); e Canto dos Malditos (que deu origem ao filme Bicho de 7 Cabeças).
Quando assisti ao filme, eu tinha a sensação de estar levando um soco no estômago. O livro parece que foi escrito numa sentada só, como se o autor estivesse contando oralmente o inferno que viveu nos manicômios. Tudo bem que cada um carrega suas dores na vida, mas algumas pessoas passam por situações de sofrimento tão grande que fogem à nossa compreensão.
Em Piraju, nadei dois dias seguidos no rio Paranapanema. Gelado de arrepiar. É o rio da minha infância. Lindo ele. Quando eu estava na quinta série, houve uma tentativa de uma fábrica de celulose, a Braskraft, se instalar na cidade. Lembro que na escola tomamos conhecimento de que aquela fábrica iria poluir o rio. Houve uma grande mobilização na cidade para impedir a vinda da fábrica. Fizemos cartazes. Só sei que a Braskraft teve que procurar outro lugar. Será que foi nesse episódio que aprendi a me rebelar?
Amanhã volto pra Piraju e pro Paranapanema. Londrina, só em 2007.
domingo, dezembro 10
Dois fimes e um comercial
Jack Nicholson, quase setentão, continua lindo e charmoso, além obviamente de ser ótimo ator. E Leonardo diCaprio está muito bem. Esse menino me surpreendeu já em Prenda-me se for capaz. Conseguiu se dissociar da imagem de bom moço, com cara de anjo (argh!), que arrancou suspiros e gritinhos das mocinhas em Titanic.
Também conferi Crash – No Limite, que ganhou Oscar de melhor filme em 2006. Perdi no cinema, mas vi
Para concluir, a propaganda da Schincariol que mostra uma mulher que vai consultar um guru para saber como agir diante da traição do marido (aquela do colarinho sujo de batom) é uma das mais idiotas que já vi nos últimos tempos. Fico cá pensando que um publicitário tem que ser muito idiota para “bolar” uma propaganda como aquela. É um atentado à inteligência e ao bom senso de qualquer pessoa. Talvez seja pra combinar com a cerveja Schincariol, que também é um atentado ao bom gosto. Ainda bem que no cinema não tem propaganda no meio dos filmes...
terça-feira, novembro 28
"QUEM TEM FAMA DEITA NA CAMA"
Guilherme Paccola
Ontem a mídia anunciou a morte de JECE VALADÃO, conhecido no filme mostrado ontem na GLOBO, denominado o CAFAJESTE, como sendo sua característica e ser tachado de machão. No Aurélio cafajeste significa ‘indivíduo de baixa condição’, ‘indivíduo sem maneiras, vulgar’, ‘indivíduo infame, desprezível’.
Coitado do JECE... pois anunciaram que ele participou de mais de 100 peças como ator, tanto no teatro, no cinema, como na televisão. Adoro ler e ver notícias e não me lembro de vê-lo envolvido em alguma confusão no dia-a-dia, muito menos alguma notícia de que agredira algum ser humano. Pelo contrário, fiquei até surpreso em saber que tivera 09 (nove) filhos.
Pelo seu histórico particular não senti cafajestada alguma. Pelo contrário, vi uma notícia que até se tornou evangélico e se redimiu ao assumir que foi ausente para com seus filhos. Ser ausente não é sinônimo de cafajeste. Nunca tive conhecimento nem o vi envolvido em nenhuma operação tipo sanguessuga, vampiro, muito menos com dinheiro sujo. O coitado ainda era portador de diabetes e sofria com problemas decorrentes do cigarro.
Não estou aqui para defendê-lo, pois todos temos telhado de vidro, mas apenas achei engraçado uma pessoa que não me parece ter feito mal algum à sociedade, a não ser a si mesmo (o que também não posso ter certeza disso), e ao morrer, ser intitulado ‘o cafajeste’. Vários reeleitos foram e são bem piores que ele, com certeza, e estão e estarão mais 04 anos nos representando como legisladores e punidores com suas metralhadoras denominadas CPIs.
segunda-feira, novembro 27
Transações monetárias na infância
Meu irmão de 10 anos tinha um cofrinho muito bonitinho. Era uma casinha. As moedas eram colocadas pela chaminé. Para tirar o dinheiro, era só abrir a portinha da casa com uma chave. Eu descobri essa chave.
Durante alguns dias, quando passava o sorveteiro na porta de casa, eu ia até o cofrinho, retivara umas moedas e comprava dois picolés: um pra mim e outro pra minha irmã. Até que chegou um dia em que o dinheiro só foi suficiente para um sorvete, que nós duas repartimos.
Era um sábado quando meu irmão descobriu que fora roubado. Ele chorou. E, inocentemente, contei que eu havia comprado sorvete com aquelas moedas. Minha mãe me deu um tapa rápido. Eu fiquei com pena do meu irmão. Mas eu tinha apenas 5 anos e não havia a menor possibilidade de ressarcimento.
Um tempo depois - eu devia ter uns 8 ou 9 anos, quando ganhei um maço de calendários. Hoje em dia não há mais calendários como aqueles. Eram pequenos. De bolso. De um lado, uma foto; do outro, a propaganda de alguma loja e um quadro com os meses do ano.
Era um maço grande. Acho que havia uns 50. Mostrei para meus dois irmãos, alguns anos mais velhos, e que colecionavam calendários. Logo eles fizeram uma proposta para comprar os meus. Eu aceitei.
Fui toda feliz mostrar para minha mãe o dinheiro que havia recebido com a venda. Ela olhou e disse: Esse dinheiro é antigo, não vale mais! (Provavelmente era dinheiro de alguma outra coleção dos meninos).
Eu fui lá reclamar meus direitos. Eles nem deram bola. Argumentaram que eu havia vendido e não tinha mais jeito.
Mais tarde um pouco, eu e minhas duas irmãs (com idades de 9 a 12, acredito) fomos convidadas pelo meu irmão, de 13, a participar de um clubinho que ele havia fundado. Tinha até uma musiquinha. Ele pegou uma música de um programa do Silvio Santos e colocou uma letra que dizia como o tal clubinho era bom.
Nós nos associamos e, obviamente, tínhamos que pagar uma mensalidade pra ele, que era o presidente. Devia ser uma mensalidade compatível com a nossa renda - algumas moedas. De qualquer modo, isso durou pouco. Nós percebemos a tempo que aquele clubinho era uma enganação e ficamos inadimplentes.
Ainda bem que nós crescemos e paramos de fazer esses negócios...
domingo, novembro 26
Cremes, cores e cheiros
Ao lado da cama, uma penteadeira. Ali, vários potes e tubos de cremes. De todas as formas, cores e cheiros. Uns, terapêuticos; outros, com funções estéticas. Todos os dias, após o banho, ela me pede para passar os cremes em seu corpo. Tem uma seqüência que eu nunca decoro, e que ela pacientemente repete a cada ritual.
Começamos pelo rosto, pote branco, cheiro de erva doce. Percorro a testa, as bochechas, o queixo, nariz e o pescoço. Depois, vamos para as pernas. Creme para circulação. Aproveito para massagear. Ela gosta.
Em seguida, os pés. Faço movimentos firmes. Começo pelos calcanhares, peito do pé, sola, dedos. Me detenho um pouco. Sei como é bom quando alguém nos massageia os pés.
Na hora dos braços, peito e costas, há duas opções: creme rosa, de morango, e marrom, de chocolate. Durante o dia, chocolate; antes de dormir, morango. Não é uma escolha aleatória. Ela explica: tem medo de dormir com o cheiro de chocolate no corpo e atrair algum bicho. Eu dou risada. Digo que os cremes não têm açúcar. Ela também ri. Acredita
Hoje temos um novo creme: arnica com mentol. Para pernas e pés. Eu sugiro aguardar que os outros acabem para começar este. Ela pergunta: Será? Eu cedo ao seu apelo: Afinal, por que resistir àquele gel, de um verde claro translúcido tão refrescante?
(Imagem: Lúcia Marques - título Figura Feminina)
sábado, novembro 25
Niemeyer X Liberdade
Depois dessas manifestações chamando o Niemeyer de stalinista, fui conferir se existem declarações dele sobre o regime de Stalin. Confesso que fiquei estarrecida porque realmente, por trechos de entrevista que encontrei na internet, vi que ele concorda com as execuções levadas a cabo tanto por Stalin, como por Fidel. Ele chegou a declarar que Stalin foi um homem fantástico e que os fuzilamentos que ordenou foram necessários... O mesmo disse com relação a Fidel. Estou boquiaberta! Sinceramente, eu achei que quando diziam que Niemeyer era stalinista fosse uma forma de ofendê-lo. Quero deixar claro que considero abominável qualquer forma de violência contra quem quer que seja, simplesmente por pensar diferente. E, portanto, discordo totalmente de Niemeyer. Caramba! Mas eu continuo gostando dos prédios da Catedral, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional...
domingo, novembro 19
"A vida é um sopro"
Leio na Folha que Niemeyer, às vésperas de completar 99 anos, acaba de se casar com sua secretária, de 60 anos, que trabalha pra ele há 30. O jornal conta ainda que o casamento de Oscar Niemeyer com sua primeira mulher durou 76 anos, até a morte dela.
Então me lembrei do documentário A vida é um sopro, sobre a vida de Niemeyer, que foi o filme escolhido para a abertura do Festival de Cinema de Brasília no ano passado.
No documentário, Niemeyer conta com muita simplicidade como concebeu alguns de seus vários projetos que viraram grandes monumentos no mundo todo: as inúmeras obras de Brasília, a sede da ONU em Nova York e muitos outros. Rascunhava num papel as curvas, as colunas, os arcos que marcam seu trabalho. Ele contava tudo, que idéias tinha quando pensava num projeto. Falava de um jeito que dava até a impressão que aquilo tudo era muito fácil.
O documentário revela um homem que conseguiu ao longo de sua vida colocar no concreto, literalmente, idéias que uniam estética e funcionalidade. O seu modo de ver o mundo se faz presente em cada projeto que desenha. Ele vê seu ofício como função social, quer projetar espaços que aproximem os homens.
Reconhecido mundialmente como um dos maiores arquitetos modernos, o Niemeyer que se mostra no documentário é um homem simples, fiel às suas crenças, muito lúcido diante dos problemas que afligem a humanidade. Reconhece que não passou de um sonho uma Brasília, sem muros, que integrasse ricos e pobres. No entanto, para ele, o sonho é fundamental para a vida, apesar da fragilidade do ser humano.
Ateu e comunista, concebeu vários templos religiosos. Numa entrevista, disse que ao projetar uma igreja sempre pensa nos que crêem em Deus e ali se recolhem cheios de esperança. Quando desenhou a Catedral de Brasília - belíssima, na minha opinião - imaginou que os espaços transparentes entre os vitrais que cobrem a igreja deveriam servir para que os mais devotos sentissem ali a presença de Deus.
Quando saí da sessão no Teatro Nacional, fiquei pensando na frase dita por Niemeyer e que dá o título ao documentário: "A vida é um sopro". Além do domínio técnico sobre seu trabalho, Niemeyer é movido pela paixão pela arquitetura, pela busca da beleza. "Minha paixão é criar. Desfruto da arquitetura e faço o que gosto. Não concebo nem busco uma arquitetura ideal. O dia em que existir uma só arquitetura, será o reino da monotonia e da repetição. Não quero saber a opinião dos outros sobre meu trabalho. Eu creio na intuição, minha arquitetura é uma proposta baseada na intuição".
terça-feira, novembro 7
Barbeiragem 3: A Lembrança
Este post é dedicado ao Rafael, que me deu a primeira frase para contar essa história:
Lá pelos idos de 2005, mais precisamente no mês de maio, eu andava exausta de tanto trabalhar. Todos os dias, eu ultrapassava em muito a minha jornada de 8 horas. O motivo era um relatório que minha equipe tinha que terminar num prazo apertadíssimo. Num final de semana, extrapolamos. Trabalhamos sexta até as 23h; sábado e domingo, de manhã, de tarde e de noite.
Na segunda-feira, logo cedo eu já estava a caminho do trabalho. O trânsito de Brasília, para quem mora no Plano Piloto, é muito tranqüilo. Raramente há congestionamentos. O trajeto da 109 Norte, onde eu morava, para o Conic, prédio do meu ex-emprego, era percorrido em sete ou oito minutos.
Eu estava saindo da quadra e aguardava uma brecha para entrar na via W, chamada de eixinho, que é preferencial. Quando vi que o trânsito estava liberado, acelerei e... o carro não andava. Imediatamente eu pensei: Nossa, será que estou com o freio de mão puxado? Verifiquei e estava tudo certo. Acelerei de novo, sem sucesso. Isso tudo ocorreu em segundos.
Quando olhei adiante, vi que havia um carro parado bem na minha frente, que também ia pegar o eixinho. Aí eu percebi que as tentativas de fazer meu carro andar foram frustradas porque aquele bendito veículo estava segurando o meu. Ou seja, a cada acelerada, eu empurrava o carro da frente.
Olhei para a cara do motorista, que estava muito bravo. Com toda razão. Então, eu fiz aquela expressão de "sinto muito" e fiz alguns gestos pedindo desculpas. O homem estava enfurecido. Eu juntei as mãos implorando desculpas. Ele gesticulava me mandando à merda (eu acho).
Aí ele deu um espacinho, eu o ultrapassei e entrei no eixinho. Entendi essa atitude dele como: Sua louca, está com pressa? Então, pode ir! Fiquei observando pelo retrovisor. Ele entrou na via e, logo que apareceu um recuo, parou o carro para observar se havia algum estrago.
Eu sabia que não. Afinal, foram só uns empurrõezinhos. Mas, então, caiu minha ficha que quando ele deu aquele espaço era para que nós dois descêssemos para verificar o que tinha acontecido. Ele deve ter me xingado muito. E eu caí no choro.
Quando contei no trabalho, todo mundo riu muito. Eu nunca consegui descrever que carro era. Só sei que era preto e importado. Uns queriam saber a marca e o modelo. Mas, caramba, se eu não fui capaz nem de ver que havia um carro à frente, imagine se eu vou saber esses detalhes...
quarta-feira, novembro 1
Barbeiragem 2: O Retorno!
Como eu sou uma mulher que gosta de reclamar fui até o balcão formalizar a queixa, uma vez que saquei que a mocinha não ia transmitir meu recado. Repeti: "Olhe, eu fiquei 22 minutos esperando. Acho que é tempo demais para um suco ficar pronto."
A outra mocinha, que anota os pedidos, justifica: "Ah, é que tinha muita gente na sua frente. Eu retruquei: Nesse caso, você deve avisar antes."
Pra piorar o meu humor, a dona do quiosque se defende: "O nosso suco demora mesmo e os nossos clientes já sabem disso". Eu, como sou chata, vou adiante: "Pois é. Mas numa rodoviária onde passa gente de tudo quanto é canto seria bom vocês avisarem da demora". E ela, mais chata ainda: "É, mas a maior parte de nossa clientela é da cidade mesmo e eles sempre sabem". Eu digo que também sou da cidade e vou embora – prometendo a mim mesma nunca mais beber daquele suco.
Na hora de pagar o estacionamento, faço confusão com o dinheiro e digo pro Nicolas: "Nossa, eu estou muito passada".
Vinte metros depois, enfio o carro naqueles obstáculos amarelos, fazendo um barulho estrondoso. 19h30. Rodoviária cheia. Todo mundo olha. Desço do carro, pneu estourado. Aparecem uns quatro taxistas para ajudar. Empurram daqui, dali, mas o carro não sai do lugar. E interditou a única pista de saída do estacionamento. Os funcionários da rodoviária arrumam um desvio.
Os taxistas me aconselham a chamar o guincho. E desaparecem. Lá vem o funcionário da rodoviária e me avisa: "Precisa tirar o carro. A senhora está vendo o transtorno que está causando?" Eu não o mando à merda, mas digo: "O senhor deve imaginar que não é de propósito, né?"
Aparecem outros dois ao lado dele. Enquanto eu tento, em vão, encontrar o telefone do corretor de seguros, eles pegam o macaco, o estepe e trocam o pneu. Fico agradecida pela gentileza. Peço desculpas pelo nervosismo.
Logo chega uma amiga a quem havia pedido socorro. Ela não faz idéia de como esse gesto é capaz de compensar as indelicadezas anteriores. Nem fico com raiva de mim mesma. Obrigada, Marília.
terça-feira, outubro 31
Dê a resposta certa!
E uma moça ligou com uma pauta sobre um determinado supermercado da cidade. Ficamos uns bons cinco minutos ao telefone: ela, com suas perguntas precisas, e eu, louca para dar minha opinião sobre disposição de produtos, atendimento, fila e falta de balança para pesar frutas no caixa.
Bem, foi a primeira vez que pude fazer muitas críticas sobre um determinado serviço sem ter que ouvir do outro lado pedidos de desculpas ou justificativas. E ela nem ficou ofendida.
Agora, estou terminando um frila (trabalho temporário) sobre uma pesquisa Top de Marcas. É por isso que ando sem tempo para escrever neste blog.
Fico pensando que a glória para um entrevistado é responder o Top de Marcas. São mais de 70 itens, entre produtos e serviços, em que você tem que dizer o primeiro nome que lhe vem à cabeça.
No começo, imagino que o alvo titubeie. Depois, ele acaba se rendendo, como se fosse um jogo. Antes que o outro termine a pergunta, ele já apresenta a resposta. E deve voltar pra casa se perguntando por que diabos citou aquela marca de cerveja que ele detesta ou então falou de um sabão em pó que ele nem compra por causa do preço?
O pior é que nunca vou poder participar da brincadeira. Se um dia um pesquisador me parar na rua com uma pesquisa dessas, eu vou ter que me considerar impedida porque agora eu já decorei todas as marcas vencedoras.
Imagem: www.verbo21.com.br
sexta-feira, outubro 13
A difícil arte de entender futebol

Esse primeiro parágrafo foi puro exibicionismo. É que eu sempre acho o máximo como os rapazes guardam informações relacionadas a futebol. Eles sabem contar com detalhes um gol feito não sei quanto tempo atrás. Eles sabem dizer que a jogada começou por tal jogador, que passou a bola não sei de que jeito pra outro, que driblou não sei quantos outros ainda, até pegar o goleiro de calças curtas (bem, eles sempre estão de calças curtas...).
Na Folha de Londrina, quando eu editava uma seção do jornal que ia para as escolas, às sextas-feiras eu passava em todas as editorias para definir qual fato da semana havia sido mais interessante para mostrar pra garotada. E aí eu tinha que fazer alguns links entre a notícia e acontecimentos históricos para que a escola pudesse trabalhar os temas de forma mais contextualizada. Adorava fazer isso.
Sem dúvida, o mais divertido era conversar com o povo do Esporte. Aqueles meninos sabiam tudo, sobre todos os times, todas as escalações, todos os jogadores, todos os campeonatos, todos os resultados. Eles eram enciclopédias ambulantes sobre futebol.
Estou contando tudo isso só pra dizer que hoje de manhã meu filho me chamou para ver na tevê uma partida de futsal entre o Brasil e o Timor Leste. Eu não demonstrei nenhum interesse em ver tal jogo até ele me dizer que os brasileiros estavam ganhando de
Os brasileiros golearam, sem dó nem piedade, os timorenses. O placar final foi de
Primeiro, minha curiosidade inicial transformou-se
Mas, a cada gol marcado, o narrador brasileiro dizia que a equipe do Timor também marcava um ponto por seu espírito esportivo. Isso me causou certa irritação. Como assim: espírito esportivo? E deduzi que talvez “espírito esportivo” seja agüentar firme a derrota, sem sair correndo, nem derramar uma lágrima. Ou seja, talvez eu não tivesse esse espírito esportivo evocado pelo narrador.
Depois, comecei a reclamar que os brasileiros poderiam relaxar mais e deixar os timorenses fazerem um gol. Sempre me compadeço dos perdedores. Obviamente que, a essa altura, eu já estava torcendo pra eles. Fiquei imaginando que seria o gol mais comemorado da face da Terra. Meu filho explicou que os timorenses não iam gostar se o Brasil fizesse corpo mole porque, aí sim, se sentiriam menosprezados.
Passei, então, a ponderar que talvez, para os timorenses, jogar contra o Brasil fosse uma grande oportunidade de aprender mais sobre futebol, sobre dribles e sobre gols. E, no final, comecei a questionar se não deveria haver uma regra que determinasse que, quando o placar chegasse a
Ou seja, é muito difícil entender um jogo de futebol. É claro que eu não sou capaz de descrever como é que foi feito nenhunzinho dos gols a que assisti ou de dizer o nome de apenas um jogador nosso, o artilheiro, por exemplo. Eu queria é estar sentada ali ao lado da ilha de Esportes e ouvir os comentários dos meus colegas.
Foto publicada no site www.futsal.terra.com.br.
sábado, outubro 7
Tem dias que a vida é uma bosta. E tem outros que, mesmo sem motivo aparente, transcorrem de tal modo que quase te convencem de que a felicidade existe. Logo cedo já fiquei animadinha com o calor. Sempre acho que nasci para viver no verão. Até levei, sem reclamar, meu filho ao camelódromo. Como uma verdadeira Poliana, enquanto ele escolhia games, aproveitei e fui logo ali ao lado tomar a melhor vitamina de Londrina.
Mais tarde, nem o almoço feito por mim foi capaz de tirar o meu bom-humor. Resolvi ligar a tevê e estava começando o filme Bossa Nova, inédito para mim. O Antônio Faguntes (lindo como sempre) redescobre a paixão com a atriz americana Amy Irving. Pronto! Fiquei toda sorridente com o final feliz.
Às 16h, fui sozinha ao shopping ver O diabo veste Prada. De novo, adorei o filme. O meu lado Poliana me pegou mesmo hoje. Me identifiquei bastante com a mocinha e me lembrei de quando decidi pedir demissão da Folha de S. Paulo que, ainda no começo da profissão, julgava ser o melhor emprego do mundo. E fui repassando todas as escolhas feitas até agora que, muitas vezes, aos olhos dos outros, parecem insanas e, no entanto, fazem todo sentido para mim.
E não é que no céu ainda despontou uma linda e cheia lua? Há dias em que realmente a vida vale a pena!