quarta-feira, abril 25

Inadequações

Ele entrou na sala falando alto. Irritantemente alto. Nossa, doeram os ouvidos. Notei, então, que o que ele queria era chamar a atenção da mocinha nova, tão bonita, tão doce, tão meiga. E tão alheia a ele. Cada palavra que saía de sua boca reverberava forte em meus ouvidos. Primeiro, analisei o conteúdo. Eram palavras sem nexo. De um assunto que não interessava a ninguém na sala. Muito menos à mocinha. Porque na verdade as palavras dele não exprimiam o que estava em seu coração. Eram significantes sem significados. Depois pensei que o tom tão elevado era pra mostrar a potência de sua voz. Voz grave. Palavras bem articuladas. Ele continuava falando e ela não lhe deu a mínima. Ele queria que ela o achasse o máximo. E ela não lhe dirigiu um mínimo olhar, nem um tímido oi. Nada. Talvez tenha sentido raiva, assim como eu, por termos nosso silêncio e concentração invadidos por aquela explosão de voz e potência e vazio. Diante da hostilidade dela, minha raiva transformou-se em compaixão. Acho que uma compaixão por mim mesma. Por todas as vezes em que elevei o tom para me mostrar o máximo, e eu era o mínimo. E lembrei da triste história do moço que levou um bombom para a menina mais linda da sala, que ele achava o máximo, e ela não lhe deu a mínima. Nem se lembrou de levar o bombom embora.

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