segunda-feira, setembro 8

Cadê o Estado mínimo?

Manchete da Folha de S.Paulo de hoje (8/9): "O governo dos Estados Unidos anunciou um pacote de salvamento de até US$ 200 bilhões para as duas empresas que dominam o setor de crédito imobiliário do país, a Fannie Mae e a Freddie Mac". Quem dá a notícia é o repórter Fernando Rodrigues, enviado especial a N.York. Outros trechos: "Essa operação de resgate deve ser a maior da história dos EUA. (...) Ainda não está claro o custo final, para os contribuintes, do salvamento (...)."
(...)
"O jornal 'The New York Times' publicou reportagem afirmando que as empresas maquiaram seus balanços inflando artificialmente o valor de reservas que teriam para cobrir perdas por inadimplência. Essa contabilidade problemática acabou sendo um dos fatores principais para que o governo federal decidisse intervir de uma vez para evitar uma crise generalizada no mercado (...)"

Pergunto eu: - Essas empresas não são as maiores defensoras do Estado mínimo? Na hora do vamos ver, quem tem que socorrer é o Estado... Cadê os liberais para condenar essa ação?

Num artigo na página 4 do caderno Dinheiro, no mesmo jornal, o jornalista Vinicius Torres Freire afirma que, com essa ação, "o governo americano tem agora 80% das ações preferenciais das duas maiores empresas do ramo, botou para fora seus diretores, nomeou os novos, cancelou os dividendos dos acionistas e, divertidíssimo, as proibiu de fazer lobby no Congresso. Qual o nome disso? Se fosse na Venezuela, seria estatização, certo?" - pergunta o jornalista.

Por que, em grande escala (em grande, não, né, em imensa escala), o governo pode socorrer as grandes para não criar uma crise no mercado? Por que, no varejo, o governo não pode criar programas de educação, de saneamento, de habitação, voltados para os pequenos (numa escalinha assim bem pequena...), se a sobrevivência deles ou o acesso a bens básicos de saúde depende disso?

2 comentários:

Aguinaldo Pavão disse...

Carina.
Se você me permitir, eu gostaria de dizer que tive a impressão de uma ligeira confusão entre (1) uma tese teórica, o Estado mínimo, e (2) interesses, empiricamente detectáveis, de empresários, pessoas, ou grupo de pessoas em geral. Acho que é preciso distinguir as coisas. Em geral, capitalistas (sejam pequenos, médios ou grandes) não são discípulos de Nozick. E, se fossem, teríamos apenas incoerência de pessoas, não necessariamente incoerência ou fragilidade conceitual da teoria. Ser capitalista não implica ser liberal.
Beijo.

carina paccola disse...

Aguinaldo, você tem sempre permissão para seus comentários (mesmo que sejam detonando o que eu penso...)
Essas grandes empresas sempre defendem o Estado mínimo, não querem regras, querem o "livre mercado" sem nenhuma interferência do Estado. E eu acredito que eles defendem o livre mercado sem nenhuma base teórica. E eu não tenho embasamento também para discutir a fundo essa questão, só estou apontando uma incoerência desses senhores.
beijo