Abaixo reproduzo artigo escrito por mim e publicado na Folha de Londrina de ontem, dia 5. É uma constestação a uma entrevista da promotora da Vara da Infância de Londrina, Édina Maria de Paula, sobre trabalho infantil. A entrevista da promotora pode ser lida no endereço (eu não consegui fazer o link): http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=670LINKCHMdt=20070703
O professor de Filosofia da UEL Aguinaldo Pavão escreveu um post em seu blog comentando o meu artigo (e contestando algumas posições minhas). O endereço do blog dele é http://agguinaldopavao.blogspot.com/. Eu pretendo depois responder às questões apresentadas por ele, nos meus comentários.
A coluna Informe Folha, da edição de hoje (dia 6), traz algumas notas de apoio à opinião da promotora. E uma especialmente dedicada a mim (intitulada Preconceito Ideológico) que, na minha opinião, faz um julgamento leviano acerca dos motivos que me levam a ser contra o trabalho infantil. Acho que o debate deveria ser mais sério. Nos comentários, depois, vou responder ao Aguinaldo e espero expor melhor minha opinião.
Não ao trabalho infantil (artigo publicado na Folha de Londrina, dia 5)
Carina Paccola
Entendo que a promotora da Vara da Infância e Juventude de Londrina, Édina Maria de Paula, enfrente em seu cotidiano situações que a levem a pensar numa solução rápida para os problemas da infância brasileira. Mas tenho que discordar de sua posição que defende que crianças a partir dos 12 anos não só possam como devam trabalhar (‘‘Deixe o adolescente trabalhar’’, Opinião, pág. 3, 3/7).
Parece-me que esse pensamento só vale para as crianças pobres, que deveriam ajudar no orçamento doméstico. Ou esse pensamento também vale para os filhos de classe média e classe alta?
Não é à toa que o trabalho infantil é mais intenso em países mais pobres e nas regiões também mais pobres no Brasil.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outros organismos nacionais e internacionais mostram que o trabalho infantil traz prejuízo ao rendimento escolar, à saúde e ao convívio familiar e social da criança.
Para a promotora, a legislação parte de uma situação ideal em que crianças teriam atendidos seus plenos direitos. Como não é este o caso do Brasil, a solução apontada por ela é que se mude a legislação e as crianças possam trabalhar - e assim ficar longe das ruas, das drogas, da violência.
Acredito que, em vez de a sociedade se mobilizar para mudar a legislação, por que então não mobilizar a sociedade para que sejam assegurados às todas as crianças os outros direitos - ensino de qualidade, esportes, lazer, cultura, alimentação adequada?
Discordo também da afirmação da promotora que associa a proibição do trabalho infantil ao aumento da violência no País. A pesquisa Mapa da Violência, coordenada pela Unesco, mostra que os jovens são as grandes vítimas da violência no País. Não se pode culpabilizá-los pelo crescimento da violência.
O Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos) também já divulgou que o desemprego entre os jovens é pelo menos duas vezes maior do que entre os adultos. Ou seja, se não há empregos dignos para os jovens, que tipo de trabalho será destinado a crianças a partir dos 12 anos?
O país deveria se mobilizar para garantir condições para o pleno desenvolvimento das crianças, sem que elas tenham que assumir responsabilidades de adultos numa fase em que elas ainda têm muito que brincar e aprender.
CARINA PACCOLA é jornalista em Londrina
sexta-feira, julho 6
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6 comentários:
Oi Carina!
Puxa, li seu blog inteiro, de uma só vez! Me identifiquei muito com muitas as estórias que você escreveu!
Seu blog será parada obrigatória, de agora em diante!
Bjs! Selma
Olá, Selma, fico feliz que tenha gostado do blog. Eu também gostei muito do seu. É uma experiência interessante essa... A gente acaba lendo relatos de pessoas que estão distantes, mas com quem nos identificamos. Seja bem-vinda.
Bjs
Carina
Comecei a trabalhar com 15 anos, numa fábrica de malhas. Como aprendiz (mas registrada em carteira) ganhava meio salário-mínimo, porém trabalhava o mesmo tanto que qualquer outra operária. Voltava à noite do colégio, dormia umas quatro horas mais ou menos e saía de madrugada pro serviço que começava antes das seis e ia até o começo da tarde. Sempre havia um fiscal marcando nossa produção e éramos revistadas na saída da empresa. Isso foi nos anos 80 e eu adorava ter dinheiro pra poder comprar alguma coisa pra mim: uma roupa, uma revista, um lanche diferente... coisas que eu não conseguiria sem meu meio salário-mínimo. Mas é óbvio que isto era um absurdo: uma garota se submeter a esse tipo de trabalho que, com todo o respeito pelas operárias, não acho que me enobreceu em nada. Na minha opinião, não faz diferença um adolescente poder trabalhar com 14 ou 16 anos. O problema é a necessidade de se trabalhar tanto, por tão pouco, e em coisas com tão pouco sentido pro futuro.
Eliane, seu depoimento resume o que eu penso sobre o trabalho de crianças e adolescentes. Concordo integralmente com a idéia de que se submeter a certos abusos não torna ninguém mais digno. Em alguns casos, dependendo do tipo de exploração, é muito prejudicial à formação do indivíduo. E quando se é criança e adolescente, isso é ainda pior.
Um abraço
Concordo, concordo, concordo!
Carina, tenho orgulho de ser sua amiga.
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