Quando avistei o pastor alemão uns metros à minha frente, diminuí o ritmo da caminhada e pensei em como fazer para me desviar do cão. Não foi preciso. Ele quis desviar antes de mim. E começou a atravessar a rua. Uma rua movimentada.
O sinal estava fechado; os carros reduziram a velocidade e esperaram o cachorro passar. Aí eu vi que seus passos eram trôpegos. Dava a impressão de que as duas patas traseiras estavam vacilantes e que ele não agüentaria ir em frente. Alcançou a outra calçada e parou. Sentou-se.
Eu não conseguia tirar mais meus olhos dele. A sensação de medo transformou-se em comoção. Fiquei comovida com aquele cachorro. Um homem começou a conversar com ele. Eu fiquei estática.
É como se aquele cão representasse a fragilidade humana. Um pastor alemão: uma raça forte, que inspira medo, agora não inspirava mais do que piedade. E os meus olhos se encheram de água.
Eu me via naquele cão. Ali estava o sinal da deterioração inexorável. O tempo se encarregará de nos transformar em seres trôpegos, vacilantes, que vão despertar piedade e comoção.
terça-feira, junho 19
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4 comentários:
Carina, o texto tá lindo. Mas não concordo com essa frase:
"Eu me via naquele cão. Ali estava o sinal da deterioração inexorável."
Será que já estamos assim?? (sim, porque se vc tiver eu tb estou)
Um beijo, minha lindinha.
Cris
Cris, a deterioração que está por vir...
beijos
Uau! Tocante esse texto, Carina. Fala de bichos, fala do que nos tornamos quase sem nos darmos conta (e sem haver muito o que fazer), fala de sensibilidade, fragilidade... Adorei.
Eliane, que bom que vc gostou. E seu blog? Por que sumiu?
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