sexta-feira, março 27
A crueldade de Bahuan
Sentindo o golpe, ela recolheu-se ao seu quarto. Foi duro demais. Para mim, Bahuan foi de uma crueldade descabida. Eu sempre torci para que Maya ficasse com Bahuan – mas é porque eu gosto mais do casal Raj-Duda. Então para dar certo Raj-Duda, Maya teria que ficar com Bahuan.
Mas esse gesto cruel me faz pensar que ela se livrou de um mal. Eu não confio nas pessoas que são capazes de gestos cruéis com a pessoa amada. A crueldade, para mim, deixa marcas que não se apagam jamais. E quem é capaz de ser cruel com quem ama é capaz de tudo. Eu até posso voltar a cumprimentar alguém que tenha sido cruel comigo, mas nunca mais vou confiar nessa pessoa. Não dá mais para acreditar em seus sentimentos.
A crueldade só se justifica se você quiser deixar claro para o outro o quanto ele lhe é indiferente e insignificante. E aí não se pode blefar. Porque não dá para ser cruel, e depois pedir desculpas, alegando que foi uma ação passional. Para mim, há limites até para a passionalidade.
Quando não existem limites, aí sim se mata por “amor”. Ou seja, quem acha possível agir com crueldade com o ser amado é até capaz de matá-lo. Não se mata por amor. Mata-se por egoísmo, por não admitir perder a pessoa amada. Porque quando se ama você é capaz de deixar o outro livre. Mesmo que isso doa bem fundo. Eu já perdi grandes amores. Já tive que arrancar a fórceps sentimentos de dentro de mim porque o outro não me queria mais. Mas esta grande dor que fica em quem é abandonado não lhe dá o direito de agir com crueldade ou de matar o ser amado.
Algumas pessoas costumam devolver presentes no final de uma relação. Eu não faço isso, mas acho aceitável. No entanto, quando ganhou a pulseira, Bahuan deu a ela um significado especial. Disse a Maya que aquela pulseira representava o elo de ligação entre eles. Com ela no pulso, ele nunca se sentiria longe de Maya. Se ele guardasse a pulseira na gaveta, ou até jogasse no lixo, eu entenderia. Ou então, numa discussão, que ele arrancasse a pulseira e jogasse em Maya, dizendo: “Nunca mais vou usar isso”. Eu também entenderia. Mas devolvê-la à casa da nova família da noiva foi muito humilhante. Isso não se faz.
Eu não acredito que haja coerência no perfil psicológico dos personagens da novela. Se houvesse, acredito que Bahuan ainda seria capaz de gestos piores. Mas como novela é novela, ele e Maya ainda serão muito felizes.
quinta-feira, março 26
O futebol verde
Meu chefe balbuciou alguma coisa sobre se o Londrina perdesse a culpa era nossa. Eu não entendi. De noite, meu filho voltou do jogo no VGD e contou que, apesar da vitória, o Londrina havia sido rebaixado para a terceira divisão.
Hoje, ao levá-lo para a escola, contei do comentário do chefe sobre o verde do Palmeiras. E meu filho, palmeirense: - Mãe, ele estava se referindo ao uniforme do Coritiba que rebaixou o Londrina!
Ai, essa minha ignorância futebolística não me permite entender algumas piadas...
segunda-feira, março 2
Idéias ou Ideias?
sexta-feira, fevereiro 27
Qual a medida do amor?

Quando se ama alguém, a sensação é que os amores passados não chegam aos pés do novo amor.
E os futuros... Ah! Não existe amor possível no futuro quando se ama no presente.
É difícil medir o amor. Nos momentos arrebatadores, flutuamos, nada nos atinge...
Nos momentos de vazio, parece até que nem existe mais o amor!
E quando é preciso amar em silêncio?
Seguir em frente, assobiando, como se não amasse...
O melhor mesmo é amor com amasso!
terça-feira, fevereiro 17
De pertinho
Estava em Curitiba de passagem. Ia ficar apenas uma noite. Coincidentemente minha amiga Suzana também estava lá, já fazia alguns dias. Ela me avisou do show da Olivia byington, no Teatro da Caixa, a uma quadra do hotel onde eu estava.
Nos encontramos na porta. Ingressos esgotados. Mas eu sou tão cara-de-pau que o aviso de ingressos esgotados não me tira a esperança de ver o show. Tentei convencer o cara do Teatro a nos deixar entrar, se faltasse gente. Ele foi irredutível: - Quem comprou ingresso tem direito de chegar até a última hora...
Uma boa alma ouviu a conversa e ofereceu dois ingressos para nós. Ficamos numa felicidade! No palco, uma mulher linda, um cenário iluminado com velas, uma voz afinadíssima, um repertório maravilhoso. Tudo entremeado por histórias de sua vida que ela ia contando, assim como quem conversa com amigos. O nome do show é A Vida é Perto! E ela canta, assim, bem pertinho de cada um.
Eu assisti ao show sorrindo como quem recebe um presente. Os artistas são gentis! Compartilham com os outros suas dádivas e nos fazem mais felizes, mesmo que seja por alguns momentos. Obrigada!
segunda-feira, janeiro 26
Nur na escuridão
Salim Miguel é escritor premiado, reconhecido como grande pela crítica literária e autor de muitos outros livros. Este foi o primeiro dele que li. Fui fisgada logo nas primeiras linhas. Estava em uma livraria em São Paulo com alguns títulos de Salim Miguel. Tinha que escolher apenas um. Já não me lembro quais eram os outros - que ainda pretendo ler -, mas achei que devia começar com Nur na escuridão talvez porque aqui o escritor nos presenteia com sua origem.
Ele relata a linda história de amor de seus pais e a determinação de partir do Líbano, contrariando toda a família que fica, em busca de uma vida melhor. As dificuldades que enfrentam logo na viagem e durante toda a vida no Brasil me fazem pensar se a partida do Líbano os levou realmente a uma vida melhor. Mas foi o que escolheram. Nunca mais voltaram à terra natal.
Salim Miguel costura muito bem sua narrativa, num vaivém entre passado e presente. A história é apaixonante. Ele mostra como a vida é interessante mesmo nos cafundó. Revela o olhar de um menino atento que descobre personagens trágicos, engraçados, comuns, que talvez existem e não existem em qualquer lugar.
Os detalhes ajudam a compor personagens únicos, pessoas que às vezes nos parecem tão simples e tão comuns. Vai nos apresentando um a um aqueles que compuseram o universo de sua infância, sem fazer nenhum juízo de valor. Vamos descobrindo uma beleza intrínseca a cada um.
Nur na escuridão me fez voltar à minha infância, à convivência com tantos "turcos" que povoam Piraju até hoje. A leitura me fez visualizar a dona Latife, as famílias Cury, Sahyun, Assaf, José. Ah, as esfihas da dona Helena José. Tantos anos de convivência, tantos costumes repartidos e nunca me dei conta de imaginar quantas dificuldades talvez os antepassados dessas famílias passaram em busca de um mundo novo, tão distante no espaço e na cultura. O livro é realmente uma luz, que vai iluminando características de um povo tão presente entre nós.
Os pais de Salim Miguel poderiam ter aportado nos Estados Unidos - o primeiro destino sonhado - e com certeza teriam lá também construído sua família e sua história, mas teriam nos privado de um escritor tão fascinante.
quinta-feira, janeiro 15
As mulheres e os cabelos

Caminhando a esmo, me deu uma vontade súbita de cortar os cabelos. Ignorei o fato de que não fazia ainda uma semana do último corte.
Quem sabe na cidade grande eu encontraria o corte ideal!
Entrei num salãozinho quase vazio. A cabeleireira começou a mexer nos meus fios, enquanto perguntava o que eu queria. Me mostrou aquelas revistas com cortes variados. A fala mansa me acariciava os ouvidos. Logo outra cabeleireira se aproximou e as duas fizeram uma avaliação do meu cabelo. Apontaram para mim duas alternativas.
Eu expliquei que na verdade estava com muita dúvida. Então, a primeira aconselhou: - Na dúvida, é melhor não cortar. E a outra, sábia, emendou: - Enquanto a gente não resolve o que se passa aqui (e apontou o próprio peito), não adianta mexer aqui (mostrou os cabelos). E ela deu exemplo: - Tem cada uma que chega aqui... Outro dia veio uma que havia cortado em casa a própria franja... Às vezes nem dá para arrumar.
Agradeci e saí com os mesmos cabelos com que havia entrado. E me senti um pouco mais confortada.
segunda-feira, dezembro 8
Os homens e o pudim de Leite Moça

Falando em mãe, aí está a explicação por tal preferência. Os caras não resistem porque o pudim de leite Moça os remete à sobremesa preferida na infância, feita carinhosamente pelas mães aos domingos.
As mães também faziam doce de abóbora, arroz doce e outros doces caseiros, mas o pudim de leite condensado, não sei, justamente por ter como ingrediente principal um produto industrializado acaba funcionando como um marco que inaugura a era das sobremesas com produtos industrializados.
Por isso, os rapazes mais novos não têm essa quedinha por pudim de Leite Moça. O leite condensado já era carne de vaca quando eles eram crianças. Quase toda sobremesa hoje leva leite condensado. Eu, por exemplo, nunca fiz um pudim de Leite Moça e meu filho não vê a menor graça nesse doce.
A minha avó materna, que me presenteava todo aniversário com um vidro de doce de leite maravilhoso feito por ela, toda vez que se deparava com uma receita que levava leite condensado dizia: “Bem, com leite condensado todo doce fica bom...”. Ela dizia isso como se esse ingrediente desse um toque mágico a qualquer doce. Ou seja, nem precisava ser boa cozinheira para fazer um doce gostoso se na receita estava incluso o leite da latinha.
Os homens e a moda
Eu gosto de homens desapegados à moda. Aqueles que se vestem de maneira casual, com bom gosto, mas sem muita frescura. E eu tenho uma grande admiração quando eles abrem as portas de seus armários e, ao se depararem com meia dúzia de camisas, nunca reclamam. Eles olham uma a uma, como se tivessem muitas alternativas a escolher. E mesmo que haja apenas duas camisas, eles ainda se detêm um pouco e fazem a opção, satisfeitos. Bem diferente de nós que, diante de uma quantidade infinitamente maior de roupas, lamentamos todas as manhãs: Ai, não tenho uma roupa pra vestir... E minha admiração por eles aumenta ainda mais quando vestimos aquele vestidinho já bem manjado e eles perguntam: Roupa nova? Eu namorei um cara que não sabia a diferença entre saia e vestido. E meu filho, bem pequeno, uma vez me disse: - Mãe, você está bonita com essa saia, esse sapato e essa perna no meio...
quarta-feira, dezembro 3
Homens e Mulheres
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Masagão obtém depoimentos muito interessantes. Eu ri muito quando uma espevitada garota compara os homens a um cão pit-bull e fala da dificuldade dos homens de manifestarem suas emoções.
É curioso que o documentário apresente duas cabeleireiras com pensamentos tão distintos. Uma defende que as mulheres têm que ser dissimuladas - que é uma característica feminina, segundo ela - e deixar que os homens acreditem que são poderosos. E a outra refere-se provavelmente a uma relação do passado em que ela percebia que o homem se sentia melhor quando ela se apresentava frágil. "Mas eu não sou fraca. Eu sou forte. E não podia disfarçar isso" - ela diz algo assim.
O delegado da cidade diz que 100% dos crimes que acontecem em Cunha são cometidos por homens. E um preso reflete: "A honra atrai três tipos de coisa: hospital, cadeia e cemitério". O que nos faz pensar na rigidez masculina (epa!) em não recuar em suas posições em nome da honra, mesmo que isso lhe custe talvez a saúde, a liberdade ou a vida!
E eu fico pensando como homens devem sofrer para manter às vezes posições ou falas ditas num impulso e que depois, com a cabeça mais fresca, poderiam ser revistas. No entanto, em nome da honra isso não é possível.
Será que as mulheres são mais livres nesse sentido? Havia uma rigidez maior no papel esperado das mulheres no passado e isso está mudando. Na época em que à mulher só era permitido ser mãe e dona-de-casa quantas enlouqueceram ou então morreram de depressão por ter que desempenhar um papel que não desejavam. Me faz lembrar do filme "As Horas".
E este último filme do Woody Allen ("Vicky Cristina barcelona") também mostra os conflitos que povoam nossas mentes femininas diante de tantas escolhas possíveis. Parece que vivemos num eterno conflito. Num momento queremos ser livres, leves e soltas, sem que ninguém nos diga o que fazer. Em outro, queremos um homem do nosso lado para nos acompanhar em tudo. Enquanto trabalhos o dia todo, estamos também com a cabeça nas crianças que ficaram na escola e no cardápio do almoço.
Os homens (adoráveis!) conseguem compartimentar melhor as coisas. Ou melhor, eles só conseguem pensar numa coisa de cada vez. E, nós, realmente somos incompreensíveis e fascinantes.
quinta-feira, outubro 23
Um cafezinho
Sou tomadora de café e leitora assídua do site da BBC, mas agora estou ficando confusa. Em agosto de 2007, o site anunciou um estudo que afirma que a cafeína pode atrasar a deterioração mental
Em abril de 2008, fiquei ainda mais contente porque a BBC publicou texto sobre outro estudo, agora divulgado na revista científica Journal of Neuroinflammation, que dizia que a cafeína pode proteger o cérebro contra os danos causados por dietas ricas em colesterol e prevenir doenças como o mal de Alzheimer
Mas eis que a BBC noticiou hoje (23/10) uma pesquisa suíça, publicada na revista científica British Journal of Câncer, que sugere que o consumo de café em excesso pode provocar uma diminuição no tamanho dos seios de algumas mulheres. Essa diminuição ocorreria por conta de uma variação genética que atinge cerca 50% das mulheres e apenas entre aquelas que tomam três ou mais xícaras de café por dia e não usam pílulas anticoncepcionais.
Minha dúvida agora é escolher entre morrer demente ou de seios reduzidos...
domingo, outubro 12
Eleições
Os eleitores do belinati, de cujos princípios eu desconfio, vão me fazer agir contra um dos meus princípios: o de não votar no psdb.
* * *
O bom de ter um pai é que, quando você conta alguma dificuldade que está tendo em relação a seu filho, ele tem experiência suficiente (pelo menos multiplicada por sete, no caso do meu pai) pra te dizer que é só ter paciência que essa fase passa...
Vida de repórter 2
Eu não quero dar busca no google para saber com exatidão quando isso aconteceu. Eu era repórter de Economia, mas estava fazendo pauta para a editoria de Cidades – não lembro se foi numa época em que a Folha de Londrina inventou que os repórteres teriam que fazer rodízio entre as editorias – uma dessas idéias de jerico que não deram certo e tudo voltou como dantes.
Só sei que eu tinha que cobrir uma reunião de moradores com um juiz que analisava o caso da licitação para concessão do serviço de transporte coletivo na cidade. O prefeito (nem lembro quem era) queria renovar a concessão com a TCGL sem abrir licitação e a polêmica era grande. O tal juiz recebeu os moradores que reclamavam dos serviços da TCGL. Eram moradores simples. E o juiz começou a tratá-los com uma certa arrogância.
Lembro que se alguém falasse: “Ah, o meu ônibus está sempre lotado!”, o juiz interrompia e corrigia: “Ah, o ônibus é seu? Você então tem um ônibus?” Qualquer deslize na fala dos moradores era corrigido pelo juiz. Se alguém mais afoito cortasse a fala do juiz, ele chamava a atenção; no entanto, o próprio juiz interrompia a fala dos moradores. A um dado momento o juiz atendeu o telefone celular no meio da reunião. E eu ali, incomodada.
De repente, o magistrado pegou aquele objeto que abre carta e começou a limpar as unhas. Aí eu não agüentei. Fiz sinal para o fotógrafo – acho que era o Marinho – flagrar aquele momento. Saí da reunião indignada. Cheguei à redação e contei para o Rogério, que era o editor de Cidades, o que tinha acontecido. E ele disse para eu fazer um box com esse relato.
No dia seguinte, o jornal estampava uma foto enorme do juiz fazendo aquele gesto, de limpar as unhas, e com uma cara de enfado. E o meu box tinha o título: “Os maus modos do senhor juiz”, com a minha história.
Eu não sei se foi em função da matéria, mas alguns dias depois o juiz deixou o caso alegando se sentir impedido de continuar. Ele nunca reclamou da matéria, até porque tudo aconteceu na presença de muitas testemunhas. E eu nem guardei a página...
quarta-feira, outubro 1
Vida de repórter
Então, eu resolvi contar uma história que aconteceu nos idos de 1988, quando eu já estava no meu segundo emprego de jornalista, num jornal diário do Oeste Paulista. Vou omitir nomes. Um dia, antes de sair do jornal para cumprir minha pauta, que era a cobertura de um evento não me lembro sobre-o-quê, o editor disse que eu provavelmente encontraria no local o presidente da Câmara Municipal. Era para eu cobrar do cara o balanço da gestão dele na presidência da Câmara. O editor contou que já estava pedindo isso fazia algum tempo e essa seria a última cobrança. Se mais uma vez ele negasse, o jornal iria publicar a matéria dizendo que o vereador não prestava contas.
Eu era recém-chegada à cidade, ao jornal e à profissão. Encontrei o tal vereador, que era dentista, e cobrei o balanço. Ele disse que não tinha. E saiu de perto. Em vez de eu ficar caladinha, imprudentemente, fiz um comentário em voz alta: “Ah, mas a matéria vai sair mesmo assim...” E voltei lá para o evento.
Estava sentadinha ouvindo e anotando as falas, quando senti um cutucão nos ombros. Era o presidente da Câmara que pedia para eu me levantar. Fui atrás dele e ele me passou uma descompostura. Enquanto ele falava, num tom áspero, eu fui ficando vermelha de vergonha. Fiquei muito envergonhada por ter feito um comentário inapropriado. E minha pressão foi caindo, caindo, até que eu desmaiei. Na frente dele. O homem ficou apavorado. Me socorreu. E ainda me levou de carro ao jornal. Mais tarde, ligou lá para saber se eu estava bem.
Tive que agüentar a tiração de sarro na redação. E toda vez que eu saía para cumprir uma pauta, era obrigada a ouvir do editor: – Não vá desmaiar, hein?
terça-feira, setembro 9
O Sol de Londrina

Foto "Amanhecer em Londrina" do meu amigo Pedro Wagner
Quando vejo esse fogo que inunda o céu logo cedo me lembro do vermelho que incendeia a terra de Londrina.
Me pergunto se é o mesmo vermelho que tinge a terra e o céu.
Imagino os pioneiros, nos dias em que não aparecia a bola de fogo, a amarrarem correntes de ferro nas rodas dos carros para se movimentarem nas ruas enlameadas.
Logo que cheguei aqui, sandálias nos pés, as ruas já calçadas, eu me incomodava com aquele pó vermelho. Não queria essa terra a me fertilizar os pés.
Lembro que, toda vez que entrava em casa, ia correndo lavá-los.
Com o tempo, acostumei-me com essa vermelhidão.
Lembro que quando voltava à casa da minha mãe, mala cheia de roupa suja, ela dizia que estava tudo encardido. E havia ainda um estudante de medicina que, ao chegar em São Paulo para fazer residência, percebeu que as suas roupas não eram tão brancas como ele pensava...
Será o mesmo vermelho da terra e do Sol?
Eu ainda prefiro o Sol escaldante ao ar gelado. Muitas vezes, fugindo do frio, eu e Marília nos sentávamos sob o Sol e desfiávamos nossas lamentações, talvez querendo aquecer também nosso coração.
* * * * * * * * *
Ciúmes tardio
Sonhei outra noite com um ex-namorado. No sonho, ele também era meu ex-namorado. Do que eu me lembro, a conversa era sobre meus ciúmes. Aí eu lhe disse:
– Mas como é que eu poderia saber se quando você dizia Carina você estava dizendo mesmo Carina ou se dizia Karina...
E ele respondeu:
– É, aí fica realmente difícil te convencer...
segunda-feira, setembro 8
Cadê o Estado mínimo?
(...)
"O jornal 'The New York Times' publicou reportagem afirmando que as empresas maquiaram seus balanços inflando artificialmente o valor de reservas que teriam para cobrir perdas por inadimplência. Essa contabilidade problemática acabou sendo um dos fatores principais para que o governo federal decidisse intervir de uma vez para evitar uma crise generalizada no mercado (...)"
Pergunto eu: - Essas empresas não são as maiores defensoras do Estado mínimo? Na hora do vamos ver, quem tem que socorrer é o Estado... Cadê os liberais para condenar essa ação?
Num artigo na página 4 do caderno Dinheiro, no mesmo jornal, o jornalista Vinicius Torres Freire afirma que, com essa ação, "o governo americano tem agora 80% das ações preferenciais das duas maiores empresas do ramo, botou para fora seus diretores, nomeou os novos, cancelou os dividendos dos acionistas e, divertidíssimo, as proibiu de fazer lobby no Congresso. Qual o nome disso? Se fosse na Venezuela, seria estatização, certo?" - pergunta o jornalista.
Por que, em grande escala (em grande, não, né, em imensa escala), o governo pode socorrer as grandes para não criar uma crise no mercado? Por que, no varejo, o governo não pode criar programas de educação, de saneamento, de habitação, voltados para os pequenos (numa escalinha assim bem pequena...), se a sobrevivência deles ou o acesso a bens básicos de saúde depende disso?
terça-feira, setembro 2
A letra B
Fonte: http://brasil.indymedia.org/images/2005/02/307685.jpg
Tem dias que é melhor ficar com o crachá pendurado no pescoço para não ter dúvidas sobre quem eu sou.
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Do meu filho, após ouvir que a tevê ia interromper a programação para entrar o Horário Eleitoral Gratuito:
- Ah, gratuito!! Era só o que faltava: a gente ter que pagar para assistir horário eleitoral...
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A letra B
Faz pelo menos cinco meses que a letra b do meu teclado não funciona.
Assim que ligo meu computador, trato logo de entrar no www.gmail.com e buscar qualquer e-mail de amigos. O bom é que sempre me mandam beijos. Vou atrás desse beijo para dar um Control C na letra b. E então posso começar a escrever. Quando preciso de um b maiúsculo, eu escrevo brasil para que o corretor transforme o b em B. Pronto. Tenho o B.
Logo que o teclado ficou manco de b, veio um rapaz da Sercomtel fazer um serviço para aumentar a velocidade da banda larga. Meu filho o atendeu. Por coincidência, o mouse andava às cegas. Foi difícil para o rapaz usar o mouse. Quando ele foi testar se o serviço estava funcionando, no momento de digitar o endereço da Sercomtel, o b falhou. Aí meu filho mostrou que era só fazer um Control C Control V. O rapaz perguntou: Você faz isso toda vez? E riu.
Agora meu filho tem computador novo. Eu continuo com o meu teclado manquitola.
Tenho este teclado há 11 anos. Do pacote que veio junto, já fiz dois up-grades, troquei monitor, impressora. Mouse, já perdi a conta de quantos foram. O único inteirinho era o teclado. Ergonômico. Robusto. Criei um certo apego.
Em toda loja que entro, não encontro nada parecido. Resolvi comprar um novo pela internet. O mesmo Correio que o trouxe, o levou de volta. Fiquei decepcionada quando abri o pacote. Os ícones nas teclas pareciam carimbos mal-feitos. Devolvi.
E faz mais de um mês comprei um bem baratinho – daqueles flexíveis. Pensei em ficar com ele enquanto não acho o teclado dos meus sonhos. Mas não tenho vontade de fazer a troca. O novo está lá empacotadinho (ele vem enrolado feito rocambole) e o meu, manquitolinha, continua aqui. Pelo menos todos os bês que mando têm origem em beijos...
sexta-feira, agosto 29
A vida é desconfortável
Quando você está apaixonada acorda feliz e sorri sozinha ao pensar no ser amado. Aliás, seja lá o que tiver que fazer parece que tudo é leve. E ao se encontrar com o ser amado, então, é só alegria. É toda risinhos. Mas quando se está longe, é uma catástrofe. Ou quando é uma paixão incorrespondida ou inviável, daria tudo para não ter aquele sentimento. Aí, em vez de te impulsionar, a paixão te derruba. Eu quero minha mãe!
domingo, julho 20
Unhas vermelhas

Foto: Nícolas Paccola Rezende
Ao contrário dos outros bebês, ele reconhecia a sua mãe pelas unhas pintadas de vermelho. Enquanto os outros se acalmavam ao sentir o cheiro da mãe, ele se sentia reconfortado quando via as unhas vermelhas.
Essa sensação sempre o acompanhou. Adorava ir com a mãe à manicure e ficava maravilhado diante de tantos tons de vermelho nos vidrinhos transparentes de esmalte. Na escola, gostava mais das professoras que tinham as unhas pintadas de vermelho.
Não conseguia disfarçar o fascínio que sentia pelas mulheres que tinham sangue nas unhas. Todas as que namorou tinham isso em comum. Mas na hora de escolher uma para se casar, surpreendeu todos: Casou-se com uma manicure que não pintava as próprias unhas. Ela era dona de um salãozinho de beleza do bairro. Foram morar nos fundos do salão.
A mãe dele era quem mais estranhava a nora, que tinha as unhas bem feitas, mas incolores. E ele demonstrava sempre uma grande paixão pela mulher. Assim que terminava o expediente, voltava logo para casa.
A mulher, quando o via, dispensava as últimas clientes. Então podia se dedicar ao seu cliente mais especial: era com muito esmero que ela, à noite, esmaltava de vermelho as unhas do marido. E com mais atenção ainda, na manhã seguinte, limpava com acetona todos os cantinhos da unha para não deixar nenhum vestígio da cor de sangue. Ambos esperam ansiosamente a noite seguinte para repetir o ritual.