As cores me comovem. Posso passar um bom tempo diante de uma
tela admirando as cores, observando as pinceladas e aquela abundância de
pigmentos. Não precisa ter uma forma definida. Nenhuma figura. Apenas cor. Não
sei por qual canal se processa a minha relação com elas. Assim como uma música
pode me imobilizar, tornando-me apenas respiração e sensação, as cores também
têm este poder. Me causam maravilhamento.Uma paleta aparentemente tem um número
limitado de cores, mas eu sei que elas são infinitas, que entre uma e outra há
muitos tons e variações. Elas são indóceis. Talvez nunca se repitam nas mãos de
um artista que se deleita em misturá-las e criar novas tonalidades. Quando
aprendi sobre Yves Klein, um pintor francês, que criou um azul singular, hoje
nomeado de Azul Klein, fiquei pensando como poderia ser isso, existir um azul
tão singular. Logo em seguida, pude ver esta tela em exposição na Pinacoteca e
fiquei em êxtase. Fiquei ali parada querendo penetrar naquela azul tão especial.
Ora, mas não é apenas uma cor azul? Pois então, as cores são assim. Podem me
tocar.
Em dezembro, no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, vi pela primeira vez as obras do artista Gonçalo
Ivo, na exposição A Pele da Pintura (em exposição até 27 de fevereiro). Telas
grandes, com cores tão lindas que me hipnotizaram. Não queria sair dali. Embora
a curadoria apresente as obras “como uma superfície, que se confunde com uma
pele rugosa, flácida, frágil ou reluzente”, a mim, a pintura que vejo ali não
me remete a textura, mas toca a minha pele. Mais adiante leio no material de
apresentação que Gonçalo Ivo transmite vida a uma condição imaterial. “Não lhe
interessa a cor pela cor, mas a cor como coisa, como algo vivo pulsante,
corpóreo”. É isso! Depois, leio ainda que ele é filho do escritor e poeta Lêdo
Ivo. Caramba!
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