segunda-feira, janeiro 16

À cor da pele

As cores me comovem. Posso passar um bom tempo diante de uma tela admirando as cores, observando as pinceladas e aquela abundância de pigmentos. Não precisa ter uma forma definida. Nenhuma figura. Apenas cor. Não sei por qual canal se processa a minha relação com elas. Assim como uma música pode me imobilizar, tornando-me apenas respiração e sensação, as cores também têm este poder. Me causam maravilhamento.Uma paleta aparentemente tem um número limitado de cores, mas eu sei que elas são infinitas, que entre uma e outra há muitos tons e variações. Elas são indóceis. Talvez nunca se repitam nas mãos de um artista que se deleita em misturá-las e criar novas tonalidades. Quando aprendi sobre Yves Klein, um pintor francês, que criou um azul singular, hoje nomeado de Azul Klein, fiquei pensando como poderia ser isso, existir um azul tão singular. Logo em seguida, pude ver esta tela em exposição na Pinacoteca e fiquei em êxtase. Fiquei ali parada querendo penetrar naquela azul tão especial. Ora, mas não é apenas uma cor azul? Pois então, as cores são assim. Podem me tocar.
Em dezembro, no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba,  vi pela primeira vez as obras do artista Gonçalo Ivo, na exposição A Pele da Pintura (em exposição até 27 de fevereiro). Telas grandes, com cores tão lindas que me hipnotizaram. Não queria sair dali. Embora a curadoria apresente as obras “como uma superfície, que se confunde com uma pele rugosa, flácida, frágil ou reluzente”, a mim, a pintura que vejo ali não me remete a textura, mas toca a minha pele. Mais adiante leio no material de apresentação que Gonçalo Ivo transmite vida a uma condição imaterial. “Não lhe interessa a cor pela cor, mas a cor como coisa, como algo vivo pulsante, corpóreo”. É isso! Depois, leio ainda que ele é filho do escritor e poeta Lêdo Ivo. Caramba!








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