Não me lembro da casa e da cidade onde nasci. Quando me dei por gente, já morava na casa velha. A casa velha nem era tão velha; passamos a chamá-la de velha quando nos mudamos para a casa nova. Mas, se pensar bem, a casa velha era mais nova do que a casa nova.
Então, na casa velha eu não alcançava os lugares. Uma vez, na tentativa de apertar a campainha, subi na bicicleta e levei um tombo. O quarto das meninas era imenso sob o pequeno alcance da minha visão. Acima de cada cama, havia um quadrinho do batismo de cada uma. Me queixei ao meu pai de que ele havia pregado o quadro muito alto para mim. Eu queria beijar o quadrinho toda noite, antes de dormir, e não conseguia. Ele me tranquilizou: - Não precisa beijar o quadro. Já pensou se a gente quisesse beijar os santos da Igreja? O padre ia ter que arrumar uma escada...
No dia da mudança para a casa nova, quando saí pela última vez do meu quarto, ergui os pés e consegui apagar a luz. Eu havia crescido.
Hoje, quem cresceu foi meu filho. Não posso mais usar a estratégia de deixar doces e chocolates no alto do armário para controlar o consumo de porcarias. Ele, com suas pernas compridas, é quem me socorre quando meus braços são muito curtos.
sexta-feira, agosto 26
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