terça-feira, abril 12

Lobão, a mil

50 anos a mil é o título da autobiografia do músico Lobão. Assinado em conjunto com o jornalista Cláudio Júlio Tognoli, o livro tem uma forte oralidade e me fez entrar no ritmo acelerado da vida do Lobão. Realmente ele chegou aos 50 a mil por hora, e poderia também dizer que viveu mil anos em 50.

Eu já tinha uma admiração pelo músico por suas denúncias contra as gravadoras que sempre ditaram o que a gente pode ou não ouvir no rádio. Os detalhes que ele conta dão a dimensão dos interesses quase nunca nobres por trás do mercado fonográfico. E sempre admirei a autenticidade que sempre marcou suas manifestações.

O que mais me impressionou, no entanto, foram os detalhes da vida pessoal do Lobão. Aos 20 anos, ele já tinha passado poucas e boas. Esse cara deve ter uma estrutura interna muito forte para suportar todos os trancos e barrancos que lhe atravessaram a frente.

No domingo (10 de abril), assisti a uma entrevista com ele no programa Café Filosófico, da TV Cultura. O programa foi gravado antes do lançamento do livro e o tema era a Relação do Homem com o Sagrado e o Profano. Ele contou – como fez no livro – sua relação com a Umbanda. Mesmo criado numa família católica, teve seus momentos com as entidades do além, encaminhado por sua mãe. Ele teve uma mãe superprotetora e a relação entre os dois era conturbada. Ela se suicidou e deixou uma carta em que culpava Lobão por sua morte. Ainda bem que ele não deu a mínima para o recado. Aliás, acho que ele entendeu o recado desde cedo: se desse crédito à sua mãe, ele provavelmente não teria sobrevivido.

Na página 290, ele se define: "Eu sou um maluco que resolve. Qual é o problema do cara ser perneta se ele tem um bom drible? Maluco é o cara que tá malresolvido e não consegue dar cabo de seus intentos. Eu vou me cuidando como posso (...)". Ele realmente se conhece, sabe dos seus limites, suas loucuras e sua potencialidade. Ele é genial.

Na página 293, solta mais uma: "(...) Ultimamente tenho orado muito por Deus (...) Se Ele fosse onipotente e onisciente, não brincaria de erro com a humanidade (...) Em vez de pedirmos benefícios para nós, seria melhor pedir benefícios para Ele próprio, que se resolva logo e pare de brincar de autorama com a gente, por exemplo."

Lobão é um cara que torna a vida mais dinâmica e menos hipócrita. Adoro as confusões que ele causa. E acho muito legal que tenha encontrado uma companheira, Regina, que de fato o acompanha. Que ele viva outros 50, no ritmo que lhe convier.

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