domingo, outubro 12
Vida de repórter 2
Eu não quero dar busca no google para saber com exatidão quando isso aconteceu. Eu era repórter de Economia, mas estava fazendo pauta para a editoria de Cidades – não lembro se foi numa época em que a Folha de Londrina inventou que os repórteres teriam que fazer rodízio entre as editorias – uma dessas idéias de jerico que não deram certo e tudo voltou como dantes.
Só sei que eu tinha que cobrir uma reunião de moradores com um juiz que analisava o caso da licitação para concessão do serviço de transporte coletivo na cidade. O prefeito (nem lembro quem era) queria renovar a concessão com a TCGL sem abrir licitação e a polêmica era grande. O tal juiz recebeu os moradores que reclamavam dos serviços da TCGL. Eram moradores simples. E o juiz começou a tratá-los com uma certa arrogância.
Lembro que se alguém falasse: “Ah, o meu ônibus está sempre lotado!”, o juiz interrompia e corrigia: “Ah, o ônibus é seu? Você então tem um ônibus?” Qualquer deslize na fala dos moradores era corrigido pelo juiz. Se alguém mais afoito cortasse a fala do juiz, ele chamava a atenção; no entanto, o próprio juiz interrompia a fala dos moradores. A um dado momento o juiz atendeu o telefone celular no meio da reunião. E eu ali, incomodada.
De repente, o magistrado pegou aquele objeto que abre carta e começou a limpar as unhas. Aí eu não agüentei. Fiz sinal para o fotógrafo – acho que era o Marinho – flagrar aquele momento. Saí da reunião indignada. Cheguei à redação e contei para o Rogério, que era o editor de Cidades, o que tinha acontecido. E ele disse para eu fazer um box com esse relato.
No dia seguinte, o jornal estampava uma foto enorme do juiz fazendo aquele gesto, de limpar as unhas, e com uma cara de enfado. E o meu box tinha o título: “Os maus modos do senhor juiz”, com a minha história.
Eu não sei se foi em função da matéria, mas alguns dias depois o juiz deixou o caso alegando se sentir impedido de continuar. Ele nunca reclamou da matéria, até porque tudo aconteceu na presença de muitas testemunhas. E eu nem guardei a página...
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6 comentários:
Faz bem para o ego lembrar que já fizemos Jornalismo algumas vezes na vida. Beijo.
Ah como assim não guardou a página? Que bom ver que ainda dá pra exercer bom jornalismo...
que orgulho de você!
Gustavo, sempre é possível, né?
Edenilson, um beijo pra vc
SENSACIONAL!!!!
Maravilha...eu também me orgulho de ser seu amigo...
Beijo.
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