Minha mãe sempre rezou muito. Tem uma ladainha de Nossa Senhora que a chama de Refúgio dos Pecadores. Este foi o primeiro Natal sem minha mãe. Correu tudo bem. Nos reunimos com meu pai, teve o tradicional amigo secreto, a ceia, o almoço de Natal. Tudo correu muito bem. Tinha árvore com luzinhas, presépio, não faltou abacaxi em calda de que minha mãe gostava tanto. A mesma farofa retirada do velho livro de receitas.
Mas faltou a minha mãe. Mesmo que ultimamente ela já não participava dos preparativos das festas em família, era bom saber que ela estava ali por perto. Todos os anos tínhamos que ir ao Correio enviar seus cartões de Natal, e depois correr de porta em porta para levar presentes para suas amigas, afilhadas, vizinhas, comadres.
Não foi disso que eu senti falta. Ela fez falta. Parece que o Natal tinha uma outra dimensão apenas com a sua presença. Porque ela nem falava muito. Mas sempre podíamos ir ao seu quarto, deitar ao seu lado, e ficar ali, caladas. Podíamos ir ali, com nossas dores, nossos segredos, e não havia qualquer confidência. Eu nunca dizia o que estava me afligindo. Nem precisava. Só estar perto dela me dava um grande conforto. Só a sua presença era um conforto. Como se ela fosse o Refúgio dos Pecadores.
Meu Natal nunca mais será o mesmo. Sempre haverá uma falta.
sexta-feira, dezembro 28
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2 comentários:
chuif...
Carina, só agora li este texto. Por uma pessoa diferente, mas eu sei exatamente o que é isto. Nossa, exatamente mesmo.
Sônia Lenira
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