segunda-feira, maio 21
Eu, empacotada
Tem dias que é bom pensar num grande pacote e colocar ali tudo em mim que me incomoda, que me tira o sono. Meu cérebro, rapidamente, só seleciona as últimas cenas péssimas de minha vida. A retrospectiva mental dos piores momentos mais recentes. Assunto mal escolhido numa roda de amigos; comentários dispensáveis; contação de histórias idiotas; lembranças que não deviam ter sido compartilhadas; atitudes equivocadas. E, fio a fio, me sinto a pior da humanidade. Pra desocupar minha mente desse auto-julgamento, vou colocando tudo num pacote, num grande pacote, que fica cada vez maior. Quero preencher logo o pacote pra me livrar dele o mais rápido possível. Passo a me lembrar o tempo todo de que isso faz parte da minha humanidade, de que todos esses defeitos são possíveis apenas porque sou humana. Tento me consolar com a consciência da minha composição humanóide. Largo, enfim, o pacote, vencida pelo peso do sono. Fecho mentalmente os já fechados olhos. Quando acordo novamente, vejo que uma luz fraca ameaça entrar no ambiente. O sol, mesmo escondido entre nuvens, aquece um pouco meu coração e me anima a pular da cama. Sei lá se ao longo do dia vou conseguir me desfazer definitivamente dos meus defeitos ou se, na próxima noite, eles estarão lá a me assombrar.
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Um comentário:
Oi Carina!
Caso teus defeitos amanheçam ou anoiteçam contigo amanhã, espero que não te assombrem. E que teu pacote esteja mais leve... Ou tenha sido esquecido em alguma curva de uma avenida esquecida de Londrina.
[ ] Juliana.
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